- É a segunda vez que eu entro no seu quarto e ele continua a mesma bagunça. – Lucas disse se jogando na minha cama sem nenhuma cerimônia, apesar de ser a segunda vez que ele estava ali, como o ruivo tinha acabado de falar.

- Se você não calar essa sua boquinha, essa vai ser a segunda e última vez que você vai entrar no meu quarto. – Respondi enquanto eu procurava a minha mochila listrada.

- Quer ajuda? – Ele perguntou ignorando a minha ultima frase.

- Me lembro muito bem de te mandar calar a boca alguns segundos atrás Lucas, por que será que você ainda não fez isso? – Falei encarando o rosto dele.

Ele tombou a cabeça pro lado e me deu um daqueles olhares “ Serio? Serio mesmo que você vai ficar ironizando com a minha cara?”

- Precisa de ajuda ou não?

- Pega o carregador do meu celular na gaveta do criado mudo e depois vai no banheiro e pega o shampoo de embalagem preta que está lá. -  Não tive tempo de olhar ele saindo do me quarto porque eu tinha acabado de avistar um pontinho cheio de listrinhas azuis e brancas em baixo da minha cama. Agarrei a minha mochila e comecei a jogar algumas roupas dentro dela.

O porque deu estar jogando delicadamente varias roupas dentro da minha mochila? Eu estava indo dormir na casa do ruivo.

Agora, antes que a minha personalidade tarada nível maximum seja ativada eu só estou fazendo isso porque todos lá me obrigaram. Vamos assistir uma pancada de filmes até sabe lá que horas e vamos comer pipoca até que um de nós passe mal.

Além do mais, fiz Lucas prometer que ele não iria me estuprar nem nada.

Fiz ele prometer isso porque, na verdade, eu sou insegura pra caralho em relação ao ruivo. Já faz quase três semanas dês da virada do ano. Tenho passado a maior parte do meu tempo na Casa dos Smiths com Lucas, que esta sempre cheio de amor pra dar e vive me roubando beijos. Só que com essa minha maravilhosa autoconfiança é claro que eu estou sempre com um pé atrás.

- Por que é que você usa um shampoo diferente? – Lucas disse assim que voltou para o quarto.

- Porque o cabelo é meu! – Respondi agarrando o shampoo e colocando ele dentro da mochila junto com toda a minha tralha que já estava enfiada ali dentro.

- Ta de TPM? – Ele perguntou cruzando os braços.

- Não to não! – Dei um tapa no braço esquerdo dele, que ficou um pouco vermelho.

- Ta sim! – Ele respondeu fingindo espanto. – Olha isso. – Apontou para onde ele tinha levado um tapa.

Mostrei a língua pra ele, - só porque sou muito madura – enquanto colocava uma das alas da mochila no meu ombro e logo após isso agarrei o pulso dele e o puxei para fora do quarto fechando a porta com força no meio do caminho.

Estávamos indo a pé, como sempre. Acabei me distraindo no meio do caminho e comecei a pensar no dia do ano novo. Eu tinha explodido naquele dia. Tinha ficado mais feliz do que o Voldemort quando ainda tinha nariz. Mas um pouquinho depois o meu lado medroso tinha entrado em ação e eu virei esse esquilinho que esta morrendo de aflição por dentro.

- Helena! – Fui puxada com força para trás. – Você ta louca?

- Por que? – Perguntei voltando á realidade.

- Porque você praticamente se jogou na frente de um carro alguns instantes atrás. – Lucas respondeu claramente irritado e preocupado.

- Desculpa, eu não tava prestando muita atenção. – Cocei a minha nuca, meio encabulada.

- Deu pra perceber, sua retardada, imagina como que eu ia ficar se o carro de pegasse!

- Ouvir isso do cara que foi atropelado no Natal pode ser considerado um mini paradoxo. – Respondi voltando completamente ao normal e tirando uma com a cara do ruivo, que pareceu se tranqüilizar.

*****

- Quais são os filmes que nós vamos assistir? – Pedro jogava um colchão delicadamente escada abaixo.

-Velozes e furiosos cinco. – Felipe levantou uma capinha com o Vin Diesel e Brian O’conner estampados nela.

-Zumbilândia. – Gabrielle apareceu  na porta da cozinha falando a escolha dela.

-Fúria de titãs dois. – Lucas arrancou um dvd pirata de uma das gavetas do móvel onde a Tv ficava.

- Jogos Vorazes e Harry Potter. – Mostrei os dois Dvd que eu tinha escolhido. – Qual filme você escolheu Pedro?

- Resident Evil três! – Ele arrumou o colchão entre as poltronas e a mesinha de centro que tinha sido afastada para esquerda.

(n/a : Créditos pra Gabriela e pra Christiane que escolheram os filmes.)

- Quem vai fazer a pipoca? – Felipe perguntou enquanto recolhia todos os dvd’s.

- Eu vou utilizar das minhas maravilhosas habilidades culinárias e fazer pipoca pra vocês. – O ruivo disse e desapareceu pela porta da cozinha.

- E qual é o filme que vamos assistir primeiro? – Perguntei para qualquer um.

- O meu! Zumbilândia. – Gabrielle já ficou de prontidão ao lado do Dvd para garantir quer ninguém iria colocar outro filmes antes que ela percebesse.

Subimos rapidamente enquanto Lucas fazia pipoca e traficamos alguns cobertores do armário gigante que ficava no quarto de Jorge e sua mulher. Também roubamos todos os travesseiros da casa.

O Sol ainda entrava pela janelas, então fechamos as cortinas e nos preparamos com nossos copos de coca e nossa pipoca banhada em manteiga.

*****

Assistimos todos os filmes, mas em compensação, quando terminamos já passava das seis da manhã.

Subi junto de Lucas para o quarto dele onde eu iria tomar um banho bem rápido.

- Posso te fazer um pedido totalmente indecente e tarado? – O ruivo perguntou assim que eu fechei a porta do banheiro dele depois do meu banho de cinco minutinhos.

- Estou com medo dessa pergunta, mas vá em frente. – Respondi jogando as roupas que eu estava antes de entrar no banheiro dentro da minha mochila.

- Dorme comigo?

Senti uma sensação gelada subir pela minha espinha e recebi várias agulhadas na batata da perna.

- O-o que? – Perguntei me virando para ele, que estava sentado na beirada da cama.

- Não! Sem malicia alguma! Eu te prometi antes, não prometi? – Ele disse ficando vermelho até a ponta do dedo mindinho. – Eu só estava falando pra você dormir aqui comigo.. Sabe... Ficar aqui, do meu lado.

- Lucas... Tem certeza? – Perguntei sentindo as pontas dos dedos tremerem.

- Absoluta.

Ele se levantou da cama e foi se aproximando calmamente. Ele segurou as minhas mãos com tanta delicadeza e fervor que eu me senti uma peça rara entalhada com diamantes. Ele inclinou a cabeça na minha direção, o que acabou provocando uma reação bem inesperada. Eu recuei.

- Helena? – Ele soltou as minhas mãos e me encarou com um olhar tão produto que eu meio que desabei.

- Por quê eu?

- Hã?

- Por quê eu? – Perguntei novamente com medo da resposta. Eu já estava sendo consumida pouco a pouco pela minha velha amiga, a insegurança. – Por quê você não escolheu uma menina inteligente, que tenha algum talento, bonita e que realmente acrescente alguma coisa na sua vida?

Ele finalmente pareceu se tocar do que eu estava falando e de como eu me sentia.

- Porque essa é você. Não é obvio? Você é a pessoa mas inteligente, talentosa e bonita que eu conheço. Além de ser única! Afinal, que tipo de menina come um limão na cara dura? –  Ele me deu a resposta que eu menos esperava e segurou novamente as minhas mãos. – E você é quem acrescenta tudo á mim.

Senti aquela sensação do dia da virada, cara partícula do meu corpo explodia em fogos de artificio verdes e azuis, minhas pernas estavam dormentes e meus olhos estavam tão abertos que a minha cara no momento poderia ser considerada cosplay de sapo.

Sorri involuntariamente e fui puxada fortemente até o ruivo, que me tomou nos braços e fez com que cada partícula do meu corpo explodisse quinhentas vezes mais rápido. Eu podia sentir o gosto de pasta de dente na boca dele , pois não muito tempo atrás ele tinha escovado os mesmos. E eu também sentia uma passagem só de ida para o paraíso abrindo em baixo dos meus pés.

Depois de um longo tempos nós finalmente nos separamos, mas isso não foi motivo para toda a agitação que estava ocorrendo dentro de mim cessar. Ela insistia em ficar maior a cada instante que eu passava ao lado daquele idiota.

- Vai dormir aqui comigo ou vai me abandonar? – Ele perguntou fazendo carinho lentamente na minha bochecha.

Corri até a cama de casal dele me joguei sem cerimonia nenhuma.

- Assim esta bom? – Perguntei forcando uma pose nada sensual e batendo na cama, sinalizando que era pra ele se deitar.

- Nossa! Mas hoje você ta assanhada! – Lucas disse se jogando ao meu lado e nos enfiando em baixo do cobertor.

- Hoje eu não vou dar, eu vou distribuir! – Ele me olhou com uma cara de incredulidade misturada com malicia. – Brincadeira. Não tente se aproveitar de mim.

- Claro. – Ele beijou minha testa carinhosamente e me forçou á virar para o outro lado, deixam a minha cintura livre para que ele pudesse abraça-la.

O Sol tentava penetrar pela cortina escura enquanto eu fechava os olhos e adormecia quase que mediatamente.

Não sei o que eu sonhei naquele dia, mas nada me abalou.

Eu poderia sair nadando pelo mar com um biquíni rosa fluorescente que não me abalaria nem um pouco. Quer dizer, essa era a ideia.