Os Três Escolhidos - 1 - A Sombra Da Noite escrita por HenryDixon, Rflpires, Pedro 2Mz


Capítulo 2
Lucas




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Imagine você estar dormindo, então você acorda, abre os olhos e vê a cara de um zumbi na sua frente. O susto, bem, podemos dizer, foi grande. E é desse jeito que você costuma acordar no Chalé 7, o chalé de Apolo.

Esfrego os meus olhos e caio na gargalhada junto com meus irmãos. Aqui é assim, todo mundo de boa, ninguém se estressa um com o outro. A criatura abençoada que me deu o susto, é claro, foi o Kin. Ele é um dos mais antigos do Chalé 7, e foi ele que me acolheu quando eu cheguei ao Acampamento e fui proclamado.

– Deixa você Kin, o que vem, sempre volta! Guarde essas palavras! – Jogo para ele, rindo.

– Que foi? Você não gosta dessas coisas de zumbis?

– Sim, mas não é por isso que eu tenho que ser acordado por um né?!

Me levanto, ainda rindo. Pego uma toalha e me dirijo ao banheiro para me arrumar. Saio do chalé. Um dia ótimo. Fresco, e com um sol que da até vontade de sentar na porta do chalé e ficar ali, tocando um violão e vendo as pessoas o dia todo. Como quase todo filho e filha de Apolo, só de ouvir uma música, o dia já melhora. Apolo é o deus do sol, mas também da medicina, dos solteiros e da música. Quando eu toco, me sinto próximo ao meu pai, e isso para mim é ótimo. Eu simplesmente adoro o meu pai. Em minha opinião, ele é um dos melhores olimpianos. Pensa em um pai super de boa, que não fica enchendo o seu saco com coisa de namoradinha e essas coisas... Esse é Apolo.
– Não vou perder essa chance! – Falo e volto correndo para dentro do meu chalé. Saiu de novo para fora e me sento na escada da entrada do chalé com meu violão –um presente de meu pai- e começo a tocar.

She will be loved. Essa é a música que eu começo a tocar. Logo depois de eu começar a cantar, uma voz feminina se junta a minha. Liz. Uma menina simplesmente linda, perfeita, filha de Hermes, irmã de Rafael, meu melhor amigo. Desde que eu cheguei aqui junto com o Rafael, ela nos ajudou e virou nossa amiga, principalmente minha amiga. Não há um dia sequer que nós não conversamos.

Ela senta do meu lado, ombro a ombro. Hoje ela estava mais bonita ainda, se é que isso é possível. Seus cabelos negros flutuavam com o vento. A pele branca, bem clara, brilhando com o sol. Seus olhos castanhos claros estavam delineados com um tal de Kohl , um delineador egípcio, bem forte. Simplesmente linda, como sempre.

– Liz, qual o seu segredo? – Pergunto depois de acabar a música.

– Segredo? Que segredo menino?

– Para ser tão linda assim meu! – E ela ri como se fosse uma piada. Eu rio também, mas na verdade não gostei dela ter rido, isso só mostra que eu estou na, como dizem, friendzone com ela.

–Hoje o dia está lindo né?! – Ela me pergunta, e eu concordo apenas com um gesto com a cabeça. – Acho que eu vou lá no Chalé de Atena, vou ver a Isa, tá?

– Sim senhora! Vou aproveitar e ir lá acordar o preguiçoso do seu irmão! – Ambos rimos, mas isso é verdade, ele é muito dorminhoco e preguiçoso, e nisso somos muito parecidos.

Ela me encara, olho a olho. Meu coração começa a bater mais e mais rápido. Então ela apenas ri, como se soubesse o que eu estava sentindo e achasse engraçado, me dá um beijo rápido na bochecha – Te vejo mais tarde, idiota. – E sai correndo.

Sim, eu fiquei feliz. Então guaro o meu violão, e vou lá no Chalé 11, o de Hermes. Tento de tudo para acordar o bendito. Não consigo. “Já sei como... Muahahahahaha” Eu penso. Saio correndo do chalé, pego um balde vazio e encho de água extremamente gelada. Chego do lado do Rafael, que estava babando no travesseiro e viro o balde. Swaap.

– Por que diabos você fez isso? – Ele gritou, pulando da cama.

– Calma, calma, sou eu, o Lucas, você não vai me bater com o seu caduceu não né?! – Perguntei. Minha barriga doendo de tanto rir. Um hobby meu? Assustar as pessoas.

– Cara, foi mal, mas isso é jeito de acordar alguém?

– Sei lá Rafael, deu vontade! – E eu começo a rir que nem um doido, e ele também. – Vou sair daqui de dentro para você se trocar, já está quase na hora do almoço, vai rápido aí. – E sai de lá. Ele falou alguma coisa, mas não prestei atenção.

Parei no meio do caminho para o refeitório, quando vi, do outro lado do lago, o Jhoan Shadow, conselheiro-chefe do Chalé 13. Não somos, bem, amigos, mas eu entendo bem o cara. Sozinho, quase sem amigos e muito sinistro. Por incrível que parece, eu era assim antes de saber que era um semideus. Minha mãe era chata, meu pai então nem se fala. Eu me sentia a ovelha negra da família. Minha irmã mais velha, totalmente linda, e divertida –às vezes chata, e muito, muito lenta- e minha irmã do meio era, como sempre, a queridinha da família, aquela que todo mundo gosta, que nunca ficou de recuperação e não tem nenhum problema, e que, quando fica triste e chora, a culpa vem toda para os outros –vulgo, eu- e se safa de tudo.

Quando percebi que eu era um fracassado, por assim dizer, simplesmente não tentei mais fazer amigos ou sequer puxar assunto com os outros. Me exclui de todos e só ouvia eles falando de mim pelas costas. Até que um dia, cheguei da casa de um colega meu e não tinha ninguém em casa. Apenas um bilhete na geladeira escrito: “Bem, eu e sua mãe conversamos muito Lucas, e decidimos ir embora. Já estava tudo planejado. Sentimos muito. Mas essa é a verdade. Você não é filho meu. E minhas filhas não serão consumidas por sua doença e essa gente do seu tipo. Adeus.” Não derramei nenhuma lágrima e nem fiquei triste, pelo contrário. Não me identificava mais com eles mesmo.

Mas de repente, uma névoa prateada começou a aparecer na casa, saindo do meu quarto. Cheguei lá e dei de cara com uma menina, provavelmente com uns 11 ou 12 anos, de olhos prateados e um cabelo longo, todo negro. Essa menina na verdade era minha tia, Ártemis. Ela me contou toda a verdade, e então me mandou para o Acampamento Meio-Sangue, disse que lá eu faria amigos com quem me identifico e que eu tinha um grande futuro pela frente. Depois que saí de casa, no meio do caminho, encontrei o Rafael e juntos, fomos para o Acampamento.

Fui almoçar. De tarde treinei arquearia e vi uma luta entre o Rafa e o Téo, o diretor do acampamento. Depois da janta, fomos para a fogueira, e o chalé de Apolo, meu chalé, liderou a cantoria e a música, fazendo com que a fogueira cresce e brilhasse muito forte. Depois de tocar algumas músicas, decidi sair de lá e fui para o lago. Uma dor de cabeça enorme me consumia. Sentei na beira do lago, e fiquei olhando as náiades, trançando os cabelos umas das outras. Olhei para o lado avistei de longe a Liz, que estava indo em minha direção. Minha cabeça piorou nesse momento, parecia que ia explodir, que eu estava em chamas, e caí dentro lago, sem consciência.

Tive um pesadelo, e não foi dos melhores não. Nele eu estava em uma sala escura e húmida. Ao longe eu escutava o som de uma queda d’água. Eu estava, provavelmente, em uma gruta ou caverna, atrás de uma cachoeira ou algo do tipo, por que o barulho da água caindo era muito forte, ensurdecedor.

Mais para dentro da caverna vinha um barulho, quase como algum animal tentando cantar –sim eu conheço esse barulho, eu convivo com o Rafael- mas parecia mais que ele estava era sendo maltratado do que cantando. Então eu percebi que na verdade ele não estava cantando nem chorando, e sim fazendo algum tipo de ritual, em uma língua que eu não consegui identificar.

Então a criatura rugiu e uma luz azul iluminou toda a caverna, me deixando cego na hora, mas consegui ver de relance o bicho. Todo negro, enorme, com olhos vermelhos cor de sangue e presas maiores que o meu dedo mindinho. Na hora, tentei sacar meu arco e meter uma flechada no focinho dele, mas lembrei que eu estava sem ele, e que estava em um pesadelo.

“Ele está conseguindo libertar o seu chefe.” – Disse uma voz feminina em meu sonho, me dando um susto. Mas não era, com toda certeza, aquela criatura da caverna.

“Quem está falando?” – Pensei, já que eu não conseguia soltar um ruído sequer.

“Não importa quem, apenas que você e seus amigos ajeitem as coisas... Ou senão, vai haver uma guerra muito grande. Lembre-se disso rapaz. Você pode achar que não, mas o que Ártemis falou é verdade. Você tem um futuro grande pela frente, só que você ainda não descobriu como será.”

“Não acredito mesmo! A única coisa grande que já fiz até hoje foi ir para o Acampamento... Na verdade, a única coisa realmente boa além de ir para o AMS, foi descobrir que a mitologia grega e romana existe.”

“Pobre filho de Apolo, não sabe quase nada... Se realmente acredita que apenas a mitologia grega e a romana realmente existe... Já falei de mais! Apenas espere, porque é quando agente menos espera, que as coisas extraordinárias acontecem.”

“Espere! Quem é ele, ou isso?” – E a voz fez um barulho como se estivesse triste por ter que dizer a resposta.

“Não importa quem ele é. Para mim não é mais nada, além de uma sobra no passado.”

“E você, não vai mesmo me dizer quem é?” – Perguntei, depois de um tempo em silêncio.

“Você provavelmente não deve me conhecer. E isso também não importa.” – Eu queria gritar com ela, mas resolvi deixar quieto. - “Ah, mais um conselho: saber esperar é o maior segredo para tudo se resolver, até mesmo o amor... Mas agora vá, sua amiga está preocupada. Eu te espero nas Terras Desconhecidas, meu herói!”

Depois disso, tudo ficou preto, mas consegui escutar uma risada, daquelas que os vilões em historinhas de crianças dão, e me arrepiei. “Esse é o meu inimigo?!” Pensei comigo mesmo. Então eu abri os olhos e me vi encarando um par de olhos castanhos claros delineados com Kohl me olhando fixamente, provavelmente preocupados e fiquei sabendo que eu estava com problemas com a Liz.

– Nunca mais me assuste desse jeito Lucas! - Ela falou, mais gritando do que realmente falando. Seus olhos estavam um pouco vermelhos.

– Sentiu minha falta?! – Falo e rio, mas ela me encara com uma cara que cheguei a desejar não ter feito a piada. – Que foi? Cadê o senso de humor?

– Senso de humor?! Eu quase entrei em total desespero quando te tirei do lago e você estava queimando, com a pressão super alta e com os batimentos cardíacos bem fracos! E você me pergunta cadê o meu senso de humor?!

– Hey, hey, calma, foi só uma brincadeira... Desculpe – E então ela me abraça, om os olhos marejando. Queria poder dizer para ela que eu nunca iria partir e deixa-la sozinha, mas as palavras não saíram da minha boca.

– Nunca mais faça isso comigo, serio! – E me deu um beijo no rosto. Acho que minha cara deve ter sido hilária, porque ela começou a rir.

– É, tá certo... Mas eu tenho péssimas notícias... Chame o Téo, o Quíron e o Rafa e me encontre aqui na Casa Grande, lá na sala, em quinze minutos. – A encarei sério, e ela percebeu que eu não estava brincando. Saiu correndo para chamar os outros e eu fiquei pensando no que a voz falou. “Você tem um futuro grande pela frente, só que você ainda não descobriu como será.” Será mesmo isso verdade? Pensei comigo mesmo. Depois me lembrei de outra coisa que ela falou: “Ah, mais um conselho: saber esperar é o maior segredo para tudo se resolver, até mesmo o amor...” Ela estava falando de amor de amizade e fraternidade, ou o amor mesmo? Decidi pela segunda resposta. Não importava quanto tempo eu tinha que esperar, eu esperaria pela Liz, definitivamente.

Parei de pensar nesse assunto quando escutei barulho de passos na Casa e fui para sala. Encontrei lá o Rafael, que estava com uma cara péssima, como de quem já tinha tido suas notícias ruins para um dia todo. Téo me encarava com uma cara de expectativa. Liz entrou correndo e foi para o meu lado. Quíron entrou depois dela, com sua “bunda de cavalo” enorme –ele é um centauro- e todos me encaram, impacientes.

– Tenho uma péssima notícia... E logo de um pesadelo que eu tive – E o Rafael fez uma cara tão feia que eu soube na hora que ele teve um também.

– Bem vindo ao clube – Ele me disse, e trocamos um olhar que nós dois já sabíamos que estávamos extremamente encrencados, ou, se preferir a expressão, fudidos.


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