The Path escrita por Scarlet


Capítulo 4
Flores.




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“Ela era uma mancha brilhante de vida. Amava e respeitava tudo que era vivo acima de qualquer outra coisa. Defendia com unhas e dentes qualquer coisa que respirava e crescia. Sua paixão era ver a vida se desenrolando ao seu redor, modificando e transformando tudo que tocava. Só existia uma coisa que ela amava mais do que aquilo. O sorriso de um maculado mago negro. E, ironicamente ao passo que ela era vida, ele era morte. E a pessoa que apagara sua presença da face da terra. Mas isso não importava para ela. Nem mesmo culpá-lo ela podia. Seu coração ainda sentia por ele o mesmo que sentira em toda sua vida. Apenas o mais inocente amor.”

Seus passos não faziam barulho nenhum. Nem mesmo o mais leve ruído traía sua presença. Ela atravessou correndo pela vegetação, um borrão brilhante entre as árvores. O longo cabelo dourado dançava ao seu redor como um rio de ouro que parecia não ter começo nem fim. As vestes um tanto quanto diferentes agitavam-se enquanto ela corria de pés descalços, um sorriso no rosto. Adorava aquilo. Sentir o vento da noite batendo em seu rosto e erguendo seu longo cabelo. Sentir a terra úmida e repleta de vida debaixo de seus pés. Observar a vida que se desenrolava nas sombras da noite. Aquilo tudo era o máximo para ela.

Parou somente muito a frente de onde dera início àquela corrida. Diante de si estendia-se um campo repleto de pequenas flores brancas que pareciam quase prateadas à luz da lua. Cuidadosamente, passo por passo, ela entrou naquela extensão que parecia infinita. Nem mesmo uma pequena planta era esmagada em seu caminho graças à delicadeza com que ela caminhava. Interrompeu os passos e agachou-se ao chão, abraçando os próprios joelhos e observando um pequeno botão de flor. Quase podia sentir e ouvir a vida correndo por dentro daquelas finas gavinhas, lentamente fazendo com que aquele simples botão dali a alguns dias se tornasse uma bela flor como todas as outras que havia ali. E aquilo a fez sorrir.

Com cuidado esticou as pernas e encostou as costas contra o chão acabando por estar deitada no meio daquele campo. Acima de si as estrelas brilhavam forte e a lua imensa iluminava praticamente tudo, transformando as sombras em lugares iluminados por uma luz que para ela parecia quase mágica. Aos poucos o sorriso que tinha no rosto se apagou. Lembrou-se das vezes que passara deitada sobre um campo qualquer observando aquelas mesmas estrelas na companhia dele.

Suspirou baixinho e franziu a testa. Ele não era lá a melhor companhia do mundo. Sempre com o semblante triste raramente conseguia sorrir de verdade. E isso sempre a incomodara de uma maneira terrível. Por que aquele projeto de mago não podia simplesmente desanuviar a face e tentar se divertir de verdade pelo menos às vezes ao invés de ficar dizendo que não merecia aquelas simples alegrias? Desejou naquele instante que ele estivesse ali apenas para poder lhe dar um soco como sempre fazia quando ele começava com aquelas ladainhas irritantes.

Apesar disso, às vezes ela tinha sucesso e conseguia desanuviar aquela face um tanto quanto sofredora de seu leal companheiro. E era naqueles momentos que ela se sentia mais recompensada. O ver sorrir era uma das melhores coisas que ela podia querer para si. Seu pequeno coração dançava e pulava de alegria quando via aqueles sorrisos se desenharem naquela face tão triste.

A verdade é que ela sabia que entre todas as lágrimas sempre existiria um sorriso. E ele não era exceção. Não importava o passado tortuoso, não importava a vida desesperadora que ele levara, não importava nada, sempre existiria um sorriso pronto para surgir naquele rosto. E ela tinha certa habilidade em fazer isso.

E eram aqueles momentos que ela considerava a coisa mais bela do mundo. Ela própria sorria apenas em se lembrar disso. Aquele simples erguer de lábios de seu projeto depressão fazia todo o seu dia valer a pena. Todo seu esforço era recompensado se ele apenas risse com ela. E ela amava aquilo.

Ergueu a mão à frente do rosto, examinando os dedos que pareciam desprender uma leve luz dourada e franziu a testa pensativa. Talvez devesse ir logo atrás daquela praga que com certeza ainda estava se culpando por ela. E ela detestava ver ele daquela maneira.

Não o culpava. Não, não, ela não era culpa ou responsabilidade dele. Sabia no fundo do coração que seu tom escuro nunca desejara aquilo para ela. Ele era apenas uma vítima de uma maldade que não o pertencia. E a única coisa que ela desejara a vida inteira era conseguir apagar dele aquela mancha negra que maculava aquela alma.

Porém ela não conseguira. E no fim fora vítima de seu próprio fracasso. Isso a entristecia como nada mais conseguia. Fechou os olhos por um instante e então se ergueu de um pulo ajeitando as vestes compridas. Espantou aqueles pensamentos de sua cabeça e então saiu caminhando praticamente aos pulos. Ela podia ter pensamentos adultos, mas ainda era uma garota jovem e um tanto quanto alegre.

Uma garota que sabia onde era seu lugar. Ao lado daquela mancha negra que a muito se tornara uma das coisas mais importantes para ela.

Riu baixinho quando se aproximou dele. Com certeza ele levaria um belo susto quando a visse ali. E esse era seu plano desde o começo quando sentira ele aparecer naquela ilha e então passara a segui-lo por todo lugar que apenas para encontrar o momento certo de lhe pregar uma bela peça. E agora ela tinha uma bela chance.

No mesmo silêncio que era craque em manter ela caminhou até estar parada ao lado daquela nuvem negra e observar aquele rosto transtornado e assustado erguido na sua direção. E então ela riu.

Realmente sentira falta daquelas expressões.


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Notas finais do capítulo

E então? Reviews?