Aurora escrita por Rafaella Dovhepoly
Notas iniciais do capítulo
ESTÁ AÍ, LIAMDO, PERVO, IDIOTA, SURREAL, IMBECIL, ESTÚPIDO, MAS LIAMDO. (:~ADRI.
Era canela. E pinheiro. Canela e pinheiro. Meu nariz roçou algo aveludado e macio e o cheiro de canela e pinheiro se intensificou. Minha mente estava anuviada, mas logo começou a clarear e eu me lembrei da última noite. Jarey, Alice, vampiros, mortes... Sentei-me na cama, arfando. Olhei para cima e um par de olhos negros, fundos e sem alma, me encaravam.
– Achei que nunca ira acordar. – reclamou ele. Perto demais, ele estava perto demais. Engoli em seco e tento reconhecer o quarto sem sucesso. Não era o quarto de Alice, muito menos o meu. Eu nunca tinha estado ali antes. Era um quarto grande e espaçoso. Uma lareira crepitava, enchendo o cômodo de calor; a cama era enorme e antiga, com entalhes na madeira de lei em formas de rosas. Uma poltrona vermelha vinho com detalhes em dourado adornava um canto perto da lareira.
– Onde estou? – perguntei rouca.
– Minha casa. – falou Jarey.
– Ah, certo... – Alice, Alice, Alice... Sua estúpida, idiota! Quando eu pusesse as mãos nela...
– Muito bem... – falei e virei o rosto para o lado. Minha mãe deveria estar desesperada nessas horas, mas eu não ligava... Assim como ela não ligava pra mim. Uma cortina de veludo negro, pesado e grosso cobria toda a parede; franzi a testa. Era provável que uma janela ficasse ali. A única luz que existia era a da que vinha da lareira. Virei o rosto para Jarey, esperando encontra-lo na minha frente, ainda me encarando, mas ele não estava. Meus olhos correram pelo quarto e pararam na poltrona. Jarey estava sentado, espojado e completamente à vontade, como se desde o começo estivesse naquela poltrona e nunca tivesse se mexido. Meu coração deu um salto mortal dentro do peito.
– Como... Como...? – ele deu um sorriso sarcástico. Agora eu estava com raiva e medo.
– Alice. – grunhi. – Onde ela está?
Ele cruzou os braços atrás da cabeça e os músculos do braço se flexionaram. A princípio eu gostei do que via... Segundos depois, não mais. Um arrepio percorreu minha espinha. Uma torcida desses braços em um pescoço e adeus. Meu coração acelerou mais ainda.
– O que... – Deus, eu pensei, ele é um... É um...
– Vampiro. – ele saboreou a palavra, rindo. Como Alice pode? Depois de quase sermos mortas na porcaria de um beco por vampiros ela me prende em uma casa com um? Como ela pode fazer isso comigo? Agarrei-me nos lençóis.
– Você... Não... V-vai...
– Machucar você? – ele pendeu a cabeça para o lado. – Prometi a Alice que não tocaria em você... De nenhuma forma. – eu me encolhi. Ele riu e se levantou tão rápido que eu quase não o vi.
– Bom... Se o interrogatório inútil acabou vou dormir. Sua amiga gosta de estender meus horários de serviço. – ele bocejou – E de me mandar presentinho de vez em quando. – ele me lançou um olhar divertido. Ele estava quase chegando à porta quando eu o chamei.
Ele parou e olhou por cima do ombro.
– Sim?
Eu reuni toda, toda, minha coragem e sussurrei:
– Quantos anos você têm? – ele olhou por cima do ombro e eu vi um sorriso sarcástico e maldoso brincar em seus lábios.
– Vinte. – ele respondeu e se encaminhou para a porta, lenta e preguiçosamente.
– Há quantos anos tem vinte?
Ele parou e se virou pra mim, franzindo a testa... Como se nunca tivesse parado para pensar nisso.
– Uns quatro séculos, eu acho. – respondeu dando de ombros. Eu quase enfartei. Respirei fundo e o deixei ir. Quando ele abriu a porta e se virou para fechar, ele entreabriu e disse:
– Se de agora em diante vamos morar juntos... Tenho duas perguntas a fazer.
Aterrorizada, assenti, indicando que ele podia prosseguir. Um sorriso maldoso e afiado riscou os lábios dele.
– Primeira: Você dorme nua?
Meu queixo caiu.
– Eu... O quê?!
– Você dorme nua? Sim ou não?
– Eu... Quer dizer... – senti o rosto esquentar e não pela lareira. – Não é pergunta que se faça! Além do mais, não te interessa!
– Ah, interessa e bastante. Segunda pergunta: Você é virgem? – eu podia jurar que até meus cabelos avermelharam agora.
– Saia daqui! – gritei me levantando da cama, tonta. Ele riu e saiu porta a fora antes que eu achasse algo para jogar nele.
Procurei pelo quarto inteiro, mas não encontrei nada. O roupão que eu usava não era meu e ele tinha cheiro de canela e pinheiro... Tudo me levou a deduzir que o bendito era de Jarey.
Por fim achei meu telefone e digitei os números correndo. Errei duas vezes e tive que apagar, mas acertei na terceira tentativa. Ele tocou, tocou, tocou e caiu na Caixa Postal.
– Atende, atende, atende. – eu entoava. Mas ela não atendeu. Por fim, desisti. Soltei-me na cama e me embolei com minhas pernas. Alice, Alice, Alice... Porque Alice? Por quê?! Mas as tão ansiadas respostas não vieram. O desespero cresceu em meu peito e a angústia me sufocava. Eram 6h00 da manhã. Não ousei abrir as cortinas de veludo. Não ousei tocar em nada, há não ser a cama, daquele maldito quarto. Eu queria ir embora. Queria ir para minha casa. Mas onde, exatamente, ficava minha casa? Sempre considerei uma casa a de Alice. Metade da família é mafiosa, encrenca, policia... Mas ainda assim uma casa. Foi aí que eu percebi. Casa não é bem o lugar, mas sim as pessoas. E durante todos os anos em que conheço Alice ela foi minha casa... E agora eu estava sem teto. Pior ainda. Morando com um vampiro. E quanto a minha família? Eu também não sabia quanto a isso.
Arrastei-me pra fora da cama e enfiei a cabeça pra fora da porta. Silêncio. Era um corredor.
Eu andei nas pontas do pé pra fora do quarto e encarei o corredor.
– Alice idiota... Quando eu a vir, vou matá-la! Como ela pode...?
– Hã, com licença? – me virei e vi Jarey parado em uma das portas do corredor. – Eu disse que ia dormir. – eu franzi os lábios. – Lauren, eu posso ouvir os ratos no sótão, imagine seus resmungos no corredor em frente ao meu quarto. – eu cruzei os braços e não disse nada. Ele estava sem camisa. Ai, meu Deus... Quando ergui os olhos do peito nu dele, ele me encarou nos olhos e eu os desviei, morrendo de vergonha.
– Desculpe. – falei. – Estou com fome. – ahhh, aquilo foi surpresa. Eu nunca tive tanta fome na minha vida... E não planejava vomitar comida alguma depois de ser alimentada.
Ele me analisou no roupão e disse:
– Descendo as escadas, passando a sala e virando a direita. As portas duplas e grandes no fim do corredor são as da cozinha. Não faça muito barulho. – nos encaramos durante minutos, mas Jarey venceu. Eu dei de ombros e me virei. Segundos depois, senti o cheiro de Jarey mais forte que nunca.
– Você se faz de difícil, Lauren... Mas sei que me quer. – eu avermelhei e meu coração disparou. Ele pegou minha mão e me fez ficar de frente com ele. – Ouço seu coração... – sussurrou ele no meu ouvido. – e ele bate mais forte quando falo com você... – a mão dele acariciou meu pescoço – ...Quando eu toco você... – os lábios dele roçaram meu queixo. – Agora... Se me deixar...
– Por favor... – murmurei rouca.
– Por favor, o quê? “Por favor, continue” ou “por favor, pare”? – ele estava tão perto que nossos narizes roçaram. Meu coração martelava muito, mais muito alto. Engoli em seco. Por favor, continue.
– Por favor, pare. – pedi, contrariando a mim mesma. – eu fechei os olhos e esperei a resposta dele, mas ela não veio. Quando abri os olhos eu estava sozinha. De novo.
Desci as escadas em tropeços... Eu comer o fígado de Alice... ALICE!
Eu liguei novamente para ela na sala – que era enorme, com lustres, moveis ao estilo Luís XVI, extravagantes e antigos – mas ela não atendeu. Estava Sabe-Deus-Onde, fazendo Sabe-Deus-O-Quê. Achei a cozinha, que era enorme e decorada em mínimos detalhes. Era bonita. A geladeira tinha enormes pacotes com um líquido que parecia vinho tinto. Meu estômago pediu – implorou – para que eu fechasse a geladeira o mais rápido possível e eu o fiz. Enquanto fatiava queijo, tomates e procurava pão de centeio nos armários eu ligava e religava para Alice, até que, seja abençoada, ela atendeu.
– Lau? – gemido de dor. – Está... Urgh... Tudo bem?
– Alice... Você está bêbada?
– O quê? Não, nananinão. Nadica de nada.
– Hã, Alice porque você está bêbada?
Soluço.
– Aii, minha cabeça. – reclamou ela. – Whisky. Uma bela garrafa. Achei... Não lembro aonde. – eu suspirei.
– Pelos Sete Infernos Alice...
– Lau, Lau, Lau... Eu sei o que você vai dizer... Urgh... Jared é um... É um... Vampiro. – ela gemeu de dor de cabeça. – Eu sei, eu sei... MAS... Ele é bom cara acredite. – ele acabou de tentar me beijar, pensei, ressentida.
– Alice, eu sei que é pro meu “bem” e tudo mais, só que...
– Ai, Lauren, não começa. A porcaria da minha cabeça ta estourando. Apenas fica aí e se comporta como uma boa moça que você é... E tenta se conservar. Jarey pode ser bem persuasivo quando quer.
– E mesmo sabendo disso você o escolheu pra cuidar de mim. – falei fria e cruel.
Ela fez muxoxo.
– Ah, não começa. Jared ao menos é bonito. Ninguém é perfeito. Vocês combinam.
– Casar com um vampiro não estava na minha lista de “Algumas coisas para fazer antes dos trinta”.
– Não seja sarcástica, você é péssima nisso. E não é casar, é dar.
– Feminina, adorável, fofa e otimista... Ai, Alice! Como consegue ser desse jeito? Tão... Tão... Tão irritante?!
– É um dom. – ela riu do outro lado da linha. – Me ligue se algo realmente ruim acontecer, ok?
– Algo realmente ruim? Morar com um vampiro não é suficientemente ruim? Tem que acontecer coisas piores ainda?
– Olha o drama. – alertou ela e suspirou. – Eu te amo... Mas tem uma garrafa de vodka aqui, Lauren. E o dever me chama. Tenho que ir...
– Ta, ao menos... – a ligação caiu. Alice desligou na minha cara.
Olhei sem reação para o telefone – eu estava chocada, abismada, revoltada e furiosa. Joguei o celular na parede. Péssima idéia. Eu mal pisquei e ele estava ali. Odiava a idéia de ele ser um vampiro – de poder escutar meu coração, de poder ouvir minha pulsação, de ser mais forte e mais rápido que eu; odiava, odiava. Era tão... Tão... Anormal.
– Você está bem? Que droga de barulho foi esse? Parecia que foi dentro da minha cabeça... Eu estava dormindo. – ele grunhiu de um jeito selvagem e me fuzilou com os olhos.
Que Deus me ajude, mas acho que... Acho que acabar sendo morta por um vampiro.
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E ENTÃÃÃO? (: