Aurora escrita por Rafaella Dovhepoly
Lauren
Alice nunca mentia. Nunca. Pelo menos pra mim.
– Me conte Lice. – pedi desesperada. Um cara grande e alto me jogou pra dentro do BMW prata. Alice não ia nesse carro. Ela estava indo em uma van preta; Alice Olhou cheia de súplicas perdões, mas nada disse e fechou a porta, me deixando entre estranhos. O motorista tinha olhos negros profundos, como contas; sem vida e frios. Depois de me lançar um olhar malévolo, acelerou.
Um celular tocou.
– Não... Sim, sim... Eu sei Campbell.... Mas, a menina está bem.... Está quieta.... Ah, não, não.... Por Deus, Alice, CLARO QUE NÃO! – o homem do banco de trás ficou mais meia hora falando até desligar, com um enorme suspiro, resmungando sobre meninas de fraldas e máfias que não eram mais as mesmas.
– Onde eles estão? – perguntou o motorista.
– Alice está furiosa. Disse que a amiga podia ter morrido. Quer vingança. – o do telefone falou. – Disse que ali não é lugar para os v’s se meterem, é território dele e dos outros mafiosos.
O motorista.
– Não creio que a menina valha alguma coisa, mas Campbell é teimosa como uma mula... Onde eles estão?
– Barracão Oeste. Ela disse para levá-la até lá. – o motorista não disse mais nada, apenas acelerou.
Eu não ouvi mais nada... Apenas o ritmo frenético de meu coração desesperado e assustado.
Acordei em uma maca dura e reta. Minhas costas estralaram. Chuva forte batia contra o telhado e o barulho ecoava pelo lugar. Uma mão agarrou meu ombro e me fez deitar novamente com brutalidade:
– Alice está vindo. Não se mexa. – oh, ok ser invisível. Olhei para o dono da voz e grunhi. Era o motorista do BMW. Eu bati as costas com rudeza na maca, me deitando novamente.
– Ela está bem? Está machucada?
– Alice – gemi. – Venha aqui.
Uma mão macia e suave agarrou a minha. Alice. Alice. Alice.
– Sua idiota – sussurrou ela, a beira de lágrimas: único problema era que Alice nunca chorava. – Como pode? Eu lhe disse não disse? Está muito machucada?
Eu grunhi com o mal-jeito das costas, mas balancei a cabeça negativamente.
– Alice – chamou o motorista – Eu... Vou sair.
– Tudo bem, Jarey. – eu encarei Alice nos olhos.
– Nunca mais me desobedeça. – rosnou ela. Eu dei de ombros.
– Sem promessas, sem decepções. – recitei.
Ela me fuzilou com os olhos e apertou minha mão, provavelmente quebrando uns três dedos.
– Quem... Quem eram eles?
– Eu já lhe disse. – sussurrou ela. – Vampiros.
– Vampiros não existem. – falei ainda mais baixo e ela negou com a cabeça.
– Há certas coisas difíceis de acreditar, eu sei...
– Lice, isso é impossível de acreditar, não difícil.
– Mas é a verdade. Eu sou maldita mafiosa e você bulimica. Aqueles caras eram vampiros. Não vou insistir em enfiar isso nessa sua cabeça oca cheia de caspa.
– Eu não tenho caspa. – falei revoltada. Me coloquei de pé novamente. – E ELES NÃO ERAM VAMPIROS!
– E VOCÊ É UMA RETARDADA POR NÃO VER O QUE É MAIS DO VERDADE!
Eu comecei a tremer inteira e minhas pernas fraquejaram. Eu caí, tremenda, chorando, soluçando. Por quê? Por quê?
– Não, NÃO! – gritei.
– Eu... Lauren! LAUREN! Está tudo bem! Você está bem! NÓS estamos bem! – Alice caiu ao meu lado e me abraçou; eu a segurei. Se eles eram vampiros então... Eu quase... Eu quase havia perdido Alice naquela noite. Perder Alice... Não... Não...
– Eu estou bem e você também está.... Veja, olhe para si mesma... Veja Lauren. – eu respirei fundo, olhando bem para Alice e me acalmei. Ela estava bem. Estava. Estava.
– Alice. – choraminguei.
– Tudo bem, tudo bem. – ela me abraçou forte. – O pior passou... Sério, Lauren, que ataque foi esse?
– Ahh, eu não sei... Acho que... Não sei. – Alice enxugou algumas lágrimas minhas.
– Juro por Deus, um dia desses você me mata do coração.
– É meu objetivo de vida, não? – brinquei; ela levantou e me puxou junto.
– Quem é o motorista? – meu tom saiu casual.
– Ah – os olhos de Alice ficaram com uma expressão dura. – Ele não é pro seu bico, Lau. Esqueça.
– Quero saber o nome dele, não com quem ele transa... Mais que coisa.
– Olha essa boca, menina! – ela me deu um soco. Eu ri.
– Por Deus, Alice...
– O nome dele é Jared. Jared Calory.
– Você o chamou de Jarey.
– É o apelido dele, sua tonta.
– Ah.
Ela riu.
– Vêm – falou estendendo a mão – tem uns assuntos a tratar.
Alice conversou com o pessoal dela sobre um homem chamado Alpha.
– E o que ele disse? – perguntou Lice, uma expressão assassina no rosto. O rapaz que havia conversado com ela no telefone disse:
– Alpha quer cabeças também, Alice. Porque matamos os garotos dele.
– Eles estavam no meu território. – rosnou Alice. – Meu. Quase me mataram! Queriam o quê?
– Alice, eu sei, mas...
– Mas O QUÊ? – rugiu ela; eu me encolhi.
– Alice – disse o motorista – Alice, escute Thor. Ele tem razão. Sem mais cabeças, por favor. Você e Alpha não se bicam desde aquele problema no Cassino Sain’t Marrye.
– Aquilo foi diferente. – reclamou Alice, mais calma e serena. – Foi uma causa justa.
– E essa não é? – retrucou o motorista.
– Pelo amor de Deus, Jared! Ele quase me matou! A mim e a Lauren! – o motorista me lançou um olhar avaliador e eu me esquivei para atrás de Alice. Ele franziu os lábios e se virou carrancudo pro outro lado.
– Faça como quiser Campbell. Essa batalha é sua. E a amiga também é sua. Não vou mandar homens meus para o maldito.
– Não quero que mande. – garantiu – Quero-o morto.
Um outro homem riu.
– Céus Alice! Pelos Sete Infernos! Isso é impossível! O desgraçado é um vampiro. Além disso, tem uns cinqüenta guardas. Se não mais.
– Permaneça calma, menina. – aconselhou outro. – Sem guerras entre as máfias. Não agora. – Alice ficou carrancuda.
– Eu... Tudo bem. – ela se rendeu e suspirou – Mas eu tenho mais um problema: Lauren.
– Ah, obrigada. – falei sarcástica. – Realmente muita consideração sua.
Alice me cortou com um olhar.
– Preciso que um de vocês fique com Lauren em casa.
– O quê? – bradou um. – NEM PENSAR! MENINA DE DEZESSEIS ANOS LÁ EM CASA?! EU TENHO UMA MULHER, ALICE!!
– Desculpe, Campbell. Sou casado.
– Pras putas são solteiros, hã? – resmungou Lice. – Ou alguém aceita a tarefa por bem ou por mal... – ninguém se proclamou.
– Ótimo – falou Alice – Realmente brilhante. Jared, você fica.
O motorista não reclamou, não protestou, não disse absolutamente nada.
Eu também não.... Não naquele momento.
– Não vou pra casa dele. – protestei quando Alice dispensou todos. Era duas da madrugada. Apenas eu, Jarey e Lice habitávamos o barracão.
– Você vai. E ponto final.
– Não vou.
– Vai, Lauren.
– Não. Não.
– VAI.
– Não!
Encaramos-nos por minutos até que Lice olhou para Jarey e eu ouvi um suspiro. Braços me apertaram.
– Ei! – protestei quando Jarey me ergueu no ar. – Não, me solte! ME SOLTE!
– Alice – pediu Jarey – ande logo, sim? A aurora está pra chegar, a noite está acabando e eu tenho que voltar...
Alice assentiu. Algo espetou meu braço, meus olhos pesaram e eu desejei ter forças para lutar... Mas o sono era bom e veio com facilidade. Eu me deixei ir, parei de espernear e senti os braços fortes me segurarem.
– Durma bem – sussurrou Alice, jogando uma seringa fora e acariciando meus cabelos. Sim, eu esperava ter uma boa noite de sono... Longe de máfias, longe de vampiros.... Longe de problemas.
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