Aurora escrita por Rafaella Dovhepoly


Capítulo 25
Capítulo 25.


Notas iniciais do capítulo

- Hardwell On Air Yearmix 2013

Tá pequenooo, Cacau vai me matarrrr
hah
aproveitem.



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– Não quero ir pra casa – murmurei para Jason.

Ele pareceu hesitar por alguns segundos, logo assimilou e sorriu levemente.

O jipe fora ligado e passamos a andar sobre as estradas silenciosas e desertas. O rádio pertencente ao carro não foi ligado e só os pneus faziam algum ruído, quando o tipo de superfície em que passavam era alterado. As ruas que iam passando tornavam-se cada vez mais simplórias e quietas, assim como o interior do carro. Ele tornou a virar algumas vezes, tornando a visão do fluxo de pessoas nas ruas obviamente diferente.

Era óbvio comentar que dentro de mim havia um fervor de pensamentos loucos e frustração. Era cansativo afirmar tudo isso, afinal, eu estava dessa maneira desde que entrara para a máfia. Todo aquele sentimento de culpa, de dor e a sensação de que a cena era inacreditável, sim eu sentia tudo isso, mas estava tão afundada e absorta nesses mesmos sentimentos há tanto tempo, que bem, estar morta ou ser eu mesma não fazia muita diferença nesse momento. Eu poderia chorar, poderia gritar sob um travesseiro na minha goela – ou gritar para o nada, daria no mesmo -, poderia entrar em depressão e pensar em como todo o sentimento de culpa era dilacerável sob seus pulmões e estômago, poderia fugir, cortar os pulsos e estancar o sangue várias vezes. Eu poderia fazer qualquer coisa, porém nada mudaria. A sensação não seria alterada, não tomaria o rumo de volta para onde veio, ela criaria galhos e mais pontas afiadas tentando grudar em você.

É claro que, eu não conseguiria aturar a mesma cena duas vezes. Eu vomitaria no corredor, na frente deles, pois era o que eu sentia agora, náusea. Não conseguiria voltar para casa, eu sabia que Felipe traria Julie – e não eu , admitia isso com um certo incômodo – para gritos, gemedeiras e qualquer que fosse o barulho que eu e ele já fizemos.

Suspirei fundo.

Estávamos chegando numa rua mais movimentada e com carros mais caros. Jason parou na frente de uma das grandes e coloridas boates da avenida. Euphorie era o nome dela e um gigante segurança estava parado na frente da entrada cuja feição não parecia ser muito feliz.

Jason parou o carro na frente da Euphorie, ambos abrimos as portas e nos encontramos com o segurança. A música que tocava lá dentro já era perceptível na pele.

– Como vai Gus? – Jason disse ao segurança.

Gus sorriu de leve e acenou a cabeça. Jason e eu entramos na boate então, o salão era enorme e grandes escadas preenchiam os cantos em direção ao segundo andar. Meninas de vestidos curtos pulavam e seus cabelos lisos pela chapinha acompanhavam. Os perfumes eram variados, uma vez que nos encontrávamos no país onde se originavam e a maquiagem, na maioria, parecia mais uma cola, só para não passarem por palhaças após meia hora de pulos e gritaria.

E então vinha a minha parte favorita: as luzes. Brancas, luz negra, amarelas, azuis, vermelhas. Todas coloriam o corpo e a mente numa histeria e simetria com a música. No meio da pista os corpos tornavam-se apenas borrões, vítimas delas, balançando, piscando, rodando, alegrando. Boates não seriam boates sem o álcool e as luzes.

Jason me levou até a pista de dança, infestada de corpos sedentos por esquecimento e vibes boas. Seus olhos pararam nos meus, nós sorrimos e começamos a dança. Eu podia sentir a minha maquiagem praticamente começando a escorrer sobre meu rosto, e por um segundo quis ter uma maquiagem-concreto igual a da maioria das meninas da boate.

Jason olhou para mim e riu novamente, aquele tipo de olhar astuto que praticamente se intitula como o gênio. Mordi a boca, aquele tipo de olhar me parecia familiar.

Suas mãos seguraram meu quadril e dançamos mais intensamente. O cheiro dele eu pude perceber, era de hortelã. Uma boa mistura de perfume masculino e hortelã na boca. Senti sua respiração em meu ouvido, os nossos passos acompanhando o ritmo da música eletrônica. Ele me encochou e passamos a rir enquanto a música parecia ficar cada vez mais alta e mais maluca.

Por alguns segundos eu dancei sozinha, até que ele apareceu com um copo preenchido na medida de apenas dois dedos de pura bebida alcoólica.

– Eu aconselho a tomar no máximo três doses dessa se não quiser morrer. – Ele disse perto de minha orelha.

Olhei para o copo e depois para ele. Sem hesitar muito tomei num gole só a forte bebida. Rasgou meu esôfago até o estômago. Ao redor, as pessoas dançavam como se o amanhã estivesse relacionado ao fim do mundo, desesperadas pelo último beijo noturno e algum tipo de carinho que completasse a sua abstinência sentimental.

– O que é isso? – Perguntei.

Ele sorriu astutamente. Sua expressão também indicava divertimento.

– Cocoroco. Vai te deixar bêbada rapidinho.

Eu sorri e continuei a dançar. Segurei em seu pescoço, o cheiro da bebida estava grudado em seu hálito.

Depois de mais uma dose eu não sabia mais o que fazia direito. As luzes tornaram-se realmente vultos e o rosto de Jason não parecia ser um só. Faltava-me equilíbrio e sobravam-me risadas. Por vezes os lábios de Jason passavam perto de minha orelha, pescoço e no canto da minha boca. O que não me incomodava, na verdade. Tudo o que eu desejava no momento era esquecer qualquer sinal de angústia e nunca mais parar de beber, não voltar à realidade.

Seus olhos castanhos pareciam gostar tanto da música quanto os meus. Escondidos pelas pálpebras, a única coisa que nos importava no momento era não parar de se mexer, devido ao êxtase que ele me dera. Eu precisava dançar até não querer mais. Nossas pupilas dilataram-se e as mãos dele passaram sobre minhas coxas. Eu não tinha mais nenhuma vergonha em pular rir ou até provocar. Eu estava fora de mim, louca, ultrapassada pela realidade, e me sentia muito bem com essa sensação toda.

Quando nós dois sentamos, sabia que ainda precisava dançar, conversar ou até mesmo transar. Precisava fazer alguma coisa, ficar imóvel ali, esperando qualquer mudança no clima poderia me deixar fora do meu raciocínio, que atualmente encontrava-se degradado e esquisito. Jason nos trouxe mais vodca e tomamos mais algumas doses, conversando sobre assuntos aleatórios. Eu não conseguia pensar em algo mais inteligente para falar, mesmo que não parasse de cometer tal ato.

– Campbell, até parecendo uma palhaça você fica bonita. – Jason disse observando cada canto de meu rosto coberto com a massinha que eu chamo de maquiagem. Instintivamente passei meus dedos abaixo dos olhos e as palmas das mãos sobre as bochechas.

– Isso é papo de bêbado carente. – respondi sem pensar.

Ele riu e eu não pude deixar de rir junto, com vontade de me bater depois, já que me parecia que a idiotice era um sintoma vindo da droga.

– Pode até ser, mas saiba que mesmo bêbado eu te acho bonita.

Ele não era o único a achar isso.

Fechei a cara e tornei a me levantar. A música, a batida, parecia ser coisa de outro mundo. Talvez se eu experimentasse dançar mais, talvez eu me sentisse em casa novamente.

Tomei mais uma dose de Cocoroco.

♥♥♥

– Apague essa luz da porra. – Mumurei.

Ouvi um risinho.

– São quatro da manhã, Alice. Não há luz nenhuma aqui. – Jason respondeu.

Minha cabeça latejava ferozmente. Precisava ter alguma luz ali, eu não estava ficando louca.

– Merda. – sussurrei mais para mim mesma. Levantei e percebi que estava antes deitada em uma cama, muito macia por sinal. – Onde eu estou?

– No meu quarto. – Ele acendeu minimamente a luz.

As roupas que eu vestia não eram minhas. Encarei Jason, isso não era possível. Ele não seria tão filha da puta a ponto de...

– O que aconteceu aqui, Jason?

Ele parecia estar prestes a gargalhar, porém soltou apenas mais uma risadinha e deixou que sua cabeça tombasse para trás e encostasse na cabeceira de ferro que ornamentava a cama. O metal zumbiu levemente e sua cabeça balançou um pouco.

– Você se jogou em um lago, de roupa e tudo.

Não pude me deixar acreditar nisso.

– Porque eu faria alguma coisa dessas? – Pisquei mais algumas vezes. O quarto de Jason parecia ser azul nas paredes, com o mesmo piso da casa de Kendrick.

Ele reprimiu outro riso.

– Porque estava drogada e êxtase nos dá calor e sede. Se jogar num lago foi uma tentativa de matar esses dois problemas.

Hesitei por um bom tempo. Não conseguia me lembrar de nada que havia feito nas últimas duas horas. Minha cabeça doía como se jogassem pedras e mais pedras nela, a todo o momento. Eu precisava de um cigarro.

– Acho melhor descansar um pouco. Eu nunca vi uma menina dançar tanto.

Apalpei minhas coxas, onde estavam os meus cigarros? As minhas roupas? Porque eu só usava uma camisa e uma cueca?

O azul das paredes pareceu se contorcer e tornar-se verde. Haviam pôsteres grudados nelas e muitos CDs numa estante ao lado da cômoda.

– Alice...

– Nós... – não pude terminar, minha cabeça gritou. Forcei as pálpebras.

– Não. – Ele pousou seus olhos sérios sobre mim. – Mesmo que você quisesse muito, nós não transamos.

Uma lufada de ar escapou por minha boca em forma de uma risada sem humor algum.

– Eu? Transar com você?

Jason não pareceu surpreso com a minha reação.

– Onde estão minhas roupas? – Perguntei.

– Pra lavar. Você ainda estava com calor e bêbada quando chegamos, então pediu que eu deitasse aqui com você.

Seus olhos estava sendo o mais sinceros possíveis. E eu me sentia a mais vagabunda o possível.

Jason sorriu do jeito familiar e astuto novamente.

– Não se preocupe, este será o nosso segredo.

Minha cabeça estava prestes a explodir.

Deitei novamente na cama e encarei o teto. Não havia mais nada a fazer. Não podia sair chorando pelo o que havia feito, só me restava encarar o resto da noite e esperar até o sol nascer. E pensando bem, arrependimento não é bem meu forte nesses casos.

– A propósito, essa marca que você tem na barriga, é de nascença?

Assimilei fechando os olhos, logo suspirei e virei meu corpo para a esquerda, o corpo gelado de Jason encostou-se ao meu então seu braço passou sobre minha cintura.

– Obrigada pelo grande mata leão. – murmurei já sonolenta.

Ouvi mais um risinho irritante e provavelmente seguido de um sorriso sabe tudo.

– Espere até chegar à escola amanhã. Vai ser bem pior.

Gemi em protesto à beira do sono profundo.

– Eu vou matar você.

Ele deu mais uma risadinha.


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