Aurora escrita por Rafaella Dovhepoly


Capítulo 12
Capítulo 11 - Lauren




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Lauren 


Eu bati a porta da picape e desci, enfiando as mãos no bolso do blusão. O vento espalhou meus cabelos negros pelo rosto e eu os tirei para um lado. A porta da casa dos Campbell está aberta... Alice não podia estar ali. Mas eu havia insistido para vir checar pessoalmente. O sol estava meio encoberto por nuvens, mas ainda assim era dia e ainda assim Murilo e Jared podem fritar se saírem; Jarey, na verdade, não foi completamente a favor de minha saída sem uma guarda inteira. Eu o lembrei de que a mafiosa que podia correr perigo só pelo fato de respirar e necessitava de uma guarda inteira era Alice e não eu. Murilo era completamente a favor de que eu saísse e quando Jared deu uma de macho dominante –“Lauren não saí daqui sem mim!” – Murilo perdeu as estribeiras e começou a gritar coisas extremamente feias, algo como preferir que eu morresse em vez de Alice. Foi nessa hora que Jared quase arrebentou o queixo de Murilo, eles se socaram furiosamente e eu tive que me enfiar no meio deles para abafar a situação. Jared tinha um lábio sangrando e uma vertente de sangue negro – de vampiro – saía do nariz de Murilo; ele esfregou o queixo, ressentido, e lançou um olhar cruel para mim e depois para Jared. Eu ergui a voz e fiz ambos me escutarem. Tudo ia dar certo. Não há nada para temer. E aqui estava eu. A confusão toda havia acontecido na Mansão Calory, quando Murilo tinha chegado cinco minutos antes de o sol nascer junto com Jared. Eu peguei minha velha picape – eu nem a usava mais – e dirigi até a casa dos Campbell.

–Olá? – chamei, entrando. Empurrei a porta de leve, tirando-a do meu campo de visão.

Nada de resposta. Eu adentrei e... E... – Santo Deus... – eu cobri a boca e recuei desesperada. Os pais de Alice... Os... Pais... De... Alice... Não! Eu tropecei nos meus próprios pés e caí para trás, me arrastei e bati em algo sólido... Que não era a parede.

Alguém me agarrou pelo colarinho e me levantou do chão. Não seja Russel, implorei.Não seja Russel, não seja Russel, não seja Russel... Russel me odiava. Se fosse ele mesmo... Não era Russel. Era um homem, mas tão grande forte e cruel quanto. E pior: Um completo desconhecido. Se eu lhe suplicasse uma morte mais rápida... Ele seria capaz de negar.

Os dedos dele se enrolaram em meu pescoço e eu sufoquei, lutando para falar, respirar.


...


Eu abri os olhos. Algo frio e molhado me atingiu na cabeça, nos ombros, no peito. Alguém me despertou com uma balde de água fria.

–Argh. – resmunguei me jogando para frente e quando tentei mover meus braços algo pesado os impedia. Correntes, compreendi assombrada. Alguém cutucou meu ombro e disse em uma voz rosnada:

–Acorde. Vamos acorde! Não tenho o dia todo, menina! – eu pisquei furiosamente, tentando me acostumar à maldita luz. – E se ajeite. Tenha modos. Alpha está vindo.

Eu me sacudi; minha pele pinicando por causa da água gelada... Espere aí... Alpha? OAlpha? Aquele grande mafioso que Alice vivia se metendo em brigas? Oh, não...

Ouvi passos, soando alto, como se fossem dentro de minha cabeça. Doía. Meu pescoço doía e eu ainda sentia os grossos dedos do homem se fechando ao redor dele. Eu me remexi no chão duro de pedra e levantei os olhos. Não havia nada a não ser escuridão; profunda e escura como carvão. Eu não enxergava, mas senti a presença de alguém nas sombras. Meus olhos podiam ser humanos e pateticamente fracos, mas meu instinto de sobrevivência falava mais alto. Bem alto.

–Finalmente nos conhecemos, Lauren Tatie. – eu apertei os olhos e chacoalhei as correntes, me sentindo completamente inútil.

–Não estou tão feliz quanto pareço – informei sarcástica. – Você está com Alice? Ela está bem?

–Maravilhosamente bem. – informou a voz de Alpha. Ela soou macia e ronronada. Fiquei pensando se era sempre assim a voz dele. – Quer que eu entregue algum recado?

Eu me apoiei no chão e tentei me levantar, mas apenas voltei a cair no chão e bater o bumbum com força demasiada. Eu esperava ouvir uma risadinha seca da parte dele, porém recebi apenas o silêncio.

–Quero saber como ela está. – pedi; minha anca latejando pelo impacto.

–Já lhe disse: ela está mais do que bem. Agora, Lauren Tatie, quero saber é de... você.

Eu? E porque queria saber... de mim?

–Você tem um cheiro interessante... para uma humana. – eu estreitei os olhos... certo. Tipo assim, cheiro de comida? Hum, acho que não.

–Era para eu estar lisonjeada? Desculpe, mas acho que não funcionou. – resmunguei.

Ouvi algumas palavras vindas da sombra, do lugar onde eu achava que Alpha estava.

–Cheiro... de vampiro macho.

Eu congelei. Era o cheiro de Jarey. O cheiro de Jared estava em mim. Por algum motivo misterioso meus instintos disseram que eu devia mentir. Devia mentir para Alpha. Ou eu acabaria me dando terrivelmente mal.

–Os guardas de Alice. – falei sem pensar.

–Os guardas? – questionou Alpha das sombras. Eu queria ver seu rosto – ver seus olhos, sua reação, sua expressão... algo que me desse uma pista de que eu era capaz de enganar aquele vampiro.

O guarda. – me corrigi. Era o cheiro de Jarey que estava em mim. Só. – Um deles.

Ouvi a respiração grave dele, rápida e sonora, aspirando o perfume de canela e pinheiro de Jared que estava fixado em minha pele.

–É um cheiro bem familiar para mim. – ele sussurrou alto. Eu engoli em seco. Que péssima mentirosa eu era. Terrível. – Diga-me... qual é o nome do guarda?

Eu arregalei os olhos e senti meu pulso doer quando minha circulação sanguinea aumentou. Merda. Alpha podia ouvir meu coração. Tente se controlar Lauren...

–Vicente. – falei mordendo o lábio inferior com força. Eu ouvi algumas batidinhas suaves. E silêncio. Vicente não era um guarda. Nem de longe.

–Muito bem – falou Alpha, nas sombras. – Não acredito em você. Em nenhuma palavra. Você é uma péssima mentirosa, Lauren Tatie. Mas creio que não posso simplesmente arrancar a verdade de você... Acredito que será minha convidada por mais um tempo. Providenciarei para que tenha as melhores acomodações.

–Agradeço por sua enorme bondade. – retruquei no chão duro, as correntes frias machucando meus pulsos.

–Poderá ver Alice. – falou a voz de Alpha que ficava mais distante... e seus passos sumiam. – Se quiser.

Aquilo me pegou de surpresa. Balancei meus braços cansados e as pesadas correntes balançaram junto.

–Eu quero. – sussurrei, mas era tarde demais. Eu estava sozinha.


...

Meia hora depois ouvi passos novamente; e eles vinham em minha direção.

Dois homens saíram das sombras, usavam ternos negros, óculos escuros e transpiravam o ar da máfia. Droga. Eu reparei no primeiro homem: terno, óculos, barba para fazer, testa franzida, lábios grossos e franzidos. O segundo era... OH. MEU. DEUS. O segundo era... era... era...

–Phixxon? – gritei.

O cabelo ruivo estava mais escuro do que eu lembrava; ele balançou o óculos de sol até a ponta do nariz, me olhando por cima das lentes, me dando uma ampla visão de seus olhos verdes.

–Vejam só quem está aqui... - riu ele e me lançou um daqueles olhares que faziam minhas bochechas adquirirem tons de beterraba e me sentir como se eu estivesse... nua.

–Phixxon. - cumprimentei de forma menos escandalosa.

–Anjo. - sussurrou ele, sorrindo ainda mais. As covinhas se afundaram ainda mais em suas bochechas altas e bronzeadas. - Como está, Lauren? Parece que você não me ouviu naquele dia... Foi à festa.

–Quem diria que você estaria certo, Phixxon.

–Há certas coisas que surpreendem até a mim mesmo, anjo. Não fique tão chateada.

–O que está fazendo aqui? - perguntei, balançando meus braços. Phixxon olhou para o outro homem e este suspirou, andou até mim e inseriu uma chave nas fechaduras das correntes. Meus braços se soltaram e eu esfreguei meus pulsos, magoada e ressentida.

–Você sabe como é. - ele deu de ombros. - Precisava ganhar a vida de alguma forma.

–Trabalhando para um mafioso? - questionei, erguendo uma sobrancelha.

Ele tirou os óculos e me encarou.

Alguma forma te diz alguma coisa?

–Não seja grosso. - reclamei e cruzei os braços sobre o peito. Baixei os olhos e respirei fundo, analisando a situação. Não havia sinal de Alice. Eu não tinha como chamar Jared ou - na pior das hipóteses - Murilo. Alpha pretendia me manter por mais tempo ali, fosse onde fosse - mais tempo do que eu queria.

Ele deu de ombros e se adiantou para mim, mas eu me encolhi e me afastei em direção a parede. Phixxon ergueu as mãos como se dissesse "eu me rendo" e falou:

–Ei, Lauren, tudo bem. Não vou machucar você.

Os olhos verdes de Phixxon se fixaram em minha blusa molhada.

–Não se engrace comigo. - falei só para ele. Phixxon apoiou uma mão em meu quadril e me ajudou a me levantar. Eu observei a mão dele permanecer no meu quadril e ergui os olhos. - E ache meu blusão. Era emprestado. Preciso devolver para o dono.

Ele se afastou milímetro por milímetro. Os olhos em mim. Me lembrei de como ele pedia 'uma chance' comigo e senti o rosto esquentar. Pisquei confusa e esfreguei os pulsos marcados e vermelhos. Precisava fazer algo, convencer a Phixxon a me tirar dali junto com Alice... em segurança. Como eu faria isso já era a parte complicada do assunto.

Phixxon segurou meu braço com força; eu tentei me afastar novamente, mas ele era mais forte do que eu imaginei. O olhei assombrada.

–Ei... - pedi.

–Não posso conversar agora. - falou ele.

–Ande logo com isso, Crow. - falou o outro homem e eu percebi, com um leve, sobressalto, que Crow era sobrenome de Phixxon.

–Phix... - comecei, mas ele não me deixou terminar. As mãos dele me empurraram contra a parede e eu senti meu estômago se dobrar sobre si mesmo. As coxas grossas de Phixxon apertaram as minhas contra a parede.

–Eu já te disse o quanto acho que... fica bonita com esses olhos assustados e expressão inocente? - havia uma pontada de... ironia... ou... ou... dor... na voz dele? Ele engoliu em seco e praguejou. - Sempre Lauren. E agora sabe o que falam por aí? Sobre você?

Eu balancei a cabeça negativamente, sabendo que tínhamos plateia. E eu, tinha pouco, muito pouco, tempo.

Ele molhou os lábios e um dedo passeou pela minha clavícula. Eu senti um arrepio na espinha e soltei o ar. Nem tinha reparado que o estava segurando.

–Dizem que você está com o Calory. - os lábios de Phix se separaram e eu consegui ver as presas. Eu devia saber. O dedo dele subiu da clavícula até meu pescoço e Phixxon se inclinou, os lábios perto de meu ouvido. - Dizem que você o alimenta, o... beija, se deita com ele... é verdade? - o corpo de Phixxon, quente e aconchegante, se espremeu contra o meu. Eu arfei e, inconscientemente, minha mão subiu até a nuca dele. Meus dedos se enrolaram no cabelo ruivo e eu os puxei... para mais perto de mim. Todo aquele tempo... e eu nunca soube o que estava perdendo com Phix. Os lábios, a voz, o cabelo, o sorriso, o hálito... Eu gemi sem ter a real intenção. Isso o atingiu.

–Eu o beijo. - admiti ao ouvido dele. - Mas não o alimento... com meu sangue. Nem me... me d-deito com ele.

–Você o beija? - os lábios dele roçaram minha bochecha. - E gosta?

Eu arfei quando senti os lábios de Phix em meu queixo. Ele ergueu os olhos.

–Sinceramente, Crow... - reclamou o outro homem. - Faça o que Alpha mandou e vamos logo... não é sua sessão de amassos livres, homem. - Phixxon se retesou e grunhiu.

–Me dê uma chance, Lauren. O Calory é um completo idiota. Sempre foi. Mas você... não. - ele se afastou alguns centímetros. Eu fechei os olhos. Jared. Meu peito se expandiu e eu senti o hálito de Phixxon banhando meu rosto. Me lembrei do dia em que eu havia fugido da escola e parado para comer em um restaurante. Phixxon havia me seguido. Havia pedido para comer comigo. E eu havia deixado. Me lembrei do dia em que havia chegado na Mansão Calory. Perdida. Sem rumo. E com Jared me ameaçando a cada passo que eu dava. No Barracão, quando ele me beijou. Os olhos negros dele.

Eu fechei os olhos e fiquei na ponta do pé, para alcançar Phixxon mesmo ele estando curvado para mim. Os lábios dele eram macios e se encaixavam com os meus de uma forma gostosa. Phixxon me empurrou para trás. A culpa corroeu meu coração... mas eu podia lidar com ela mais tarde. Então algo forte - as mãos de Phixxon - cobriram minha boca e um cheiro que me fez sentir completamente tonta e sem direção atingiu minhas narinas. Um pano. Phixxon o segurava contra meu nariz e minha boca. Eu fechei os olhos e senti as lágrimas escorrerem e atingirem o pano. Minhas pernas fraquejaram e eu esperei o impacto contra o chão.

–Desculpe... eu te am... - mas eu não ouvia mais nada. Só meu coração pesando três toneladas no meu peito e a culpa... que parecia se derramar de todos os lados.




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