A noite caiu sob o céu, os três armaram uma espécie de barraca para poderem dormir sob aquela imensa escuridão.

            -Jin... Venha comigo, por favor! –sussurrou Chep quando Alexia já havia dormido.

            -Aonde vamos?

            -Vamos ali, quero conversar algo com você!

            -Não pode falar aqui? – disse ele se deitando novamente.

            -Droga... Esse moleque já deve ter noção do que eu quero falar,apesar de tudo ele é muito esperto, já deve estar desconfiado de que não confio nele, vou fazer do jeito dele, por enquanto! –pensou Chep, olhando para Jin de forma suspeita. – Então... Achei muito estranho a estátua reagir daquele jeito com você, tem algo que está escondendo de mim, garoto?

            -Não... – disse ele incomodado, nunca houve uma vez que não se incomodava em falar a sós com Chep, pois sabe que precisa dele para ficar forte.

            -Sua ávra é forte, garoto. Você tem potencial, com certeza já está bem na frente de Alexia. Afinal, por que almeja por poder?

            -Tem algo que quero fazer... Ou melhor, tem algo que vou fazer! – disse ele com uma voz séria. – E para isso preciso do poder!

            -O que pretende fazer?

            - Resgatar certa pessoa...

            -Quem? – disse Chep interessado.

            -Você não conhece...

            -E pretende ir quão longe por essa pessoa?

            -O quanto for preciso!

            - Posso realmente confiar em você, Jin?

            -Isso cabe a você decidir. – disse respirando fundo.

            -Ah... – disse Chep bufando – Jin, irei direto ao assunto: eu desconfio de você.

            -O que? – disse ele preocupado.

            -Seu progresso com a ávra não é normal, receio que um dia você se descontrole e perca a sanidade. Já pensei em inúmeros motivos para seu progresso ser maior do que o normal. Suspeito de você não ser humano! – disse Chep liberando seu kai – Jin... Não queria fazer isso, mas é perigoso deixar-lhe vivo.

            -CHEP!? O QUE ESTÁ FAZENDO? – disse recuando.

            -Responda-me, o que é você? – disse ele avançando suas correntes em direção à Jin.

            -Chep... O que está dizendo?

            - Não fuja de mim, criança. Enfrente-me com seus novos poderes! – disse Chep fazendo suas correntes perseguirem Jin.

            - Não entendo, como ele descobriu que não sou humano? Aquele treinamento... Era tudo uma farsa? Não posso perder a calma, meu sangue demoníaco anseia por essa batalha desde a última vez, mas agora não é hora para isso! – pensou cautelosamente, usando as árvores ao redor para desviar das correntes – Até onde suas correntes podem esticar?!

            - Se eu lhe contar, perde a graça! – disse Chep rindo.

            -Droga... Chep, você não me deixa escolha! – disse Jin, subindo na árvore mais próxima e, num piscar de olhos, estava atrás de Chep.  –Hum... Não conseguiu acompanhar meus movimentos!? – disse ele se locomovendo rapidamente ao redor de Chep.

            -Tsc... Você realmente conseguiu ficar mais rápido, impressionante garoto, porém... –disse Chep, mandando sua corrente direita ao seu lado, e sua corrente esquerda aos ares. – NÃO ME SUBESTIME... Sinta meu poder! CORRENTES SOMBRIAS... – assim dito, sombras de suas próprias correntes começaram a materializar-se. A corrente esquerda se multiplicou em cinco correntes, todas caindo em direção a Jin, e a corrente direita se multiplicando em torno de si mesmo, servindo como proteção.

            Jin ficou apavorado. Começou a correr de Chep, de suas correntes. Não seria uma boa ideia usar o ar para se esquivar, então apenas tentava desviar das correntes que o perseguiam. Jin... Sentiu... Medo... Aquela batalha deixara de ser uma brincadeira há muito tempo, ele pensava que realmente poderia morrer. Em uma tentativa de desviar de uma das correntes que vinha do céu, abaixou sua guarda, e outra corrente pegou seus pés. Jin caiu... A corrente começou a puxá-lo em direção a Chep enquanto outras se envolviam sobre seu corpo, imobilizando-o.

            -O-o que pretende fazer comigo? – disse Jin levantado pelas correntes perante Chep.

            -Jin... Você ainda é fraco! Você hesitou em me atacar, por quê?

            Jin ficou quieto, com um olhar vazio, seus cabelos tampavam grande parte de seus olhos naquela hora. Jin apenas olhava para Chep com um olhar morto, frio, sem sentimento, era como se estivesse inconsciente com os olhos abertos. 

            - Em um campo de batalha, os mais fortes impõem sua força sobre os mais fracos, amedrontando-os. Jin, você confia demais em sua velocidade, de fato é impressionante, porém você se esquece dos princípios de uma batalha: concentração, força, equilíbrio... Me perdoe, não pretendo te matar, na verdade eu queria lhe impor um teste, para ver como se sairia em uma luta de verdade, mas te falta experiência. Acredito que se você usasse todos seus poderes contra mim, teria chances de me derrotar. – disse Chep desacorrentando Jin – Lembre-se garoto, nunca seja fraco em uma batalha, nunca se sinta amedrontado pelo oponente, mostre o que você realmente é capaz e vença! – disse ele sorrindo.

            Jin caiu no chão...

            -Garoto, você está bem!? – disse Chep tentando ajuda-lo.

            -Eu estou bem... – disse ele se levantando ainda com aquele olhar morto. – Não preciso da sua compaixão... – sua voz soou baixa. – Vou dar uma volta...

            -Jin...

            Jin começou a andar manco, sem rumo, sua expressão continuava a mesma, porém seus olhos... Seus olhos estavam completamente diferentes, a esclera branca de seu olho tomou tonalidade negra, sua pupila verde tornou-se amarela, deixando-o com um semblante totalmente sombrio, e suas mãos se tornaram garras afiadas. Quando já estava meio longe de Chep, trombou-se com uma pequena vila mercenária.

            -Que isso!? O que um garoto como você está fazendo aqui?

            -Olha chefe, ele parece ter algo de valor. Vamos assalta-lo. –disse alguém da vila

            Todos os mercenários foram em direção a Jin, todos armados e com intenção de pegar tudo dele e talvez até mata-lo.

            -Desapareçam... – disse Jin mostrando suas garras e arrancando o coração de um dos mercenários que vieram lhe atacar. – Então, isso é um coração!? – disse Jin jogando-o fora. – Que ridículo...

            -O QUE ESSE MOLEQUE ESTÁ FAZENDO!? VAMOS GENTE, MATEM-NO AGORA! – disse todos os mercenários da vila correndo em direção a Jin.

            Jin começou a matar mercenário por mercenário com suas mãos. Gotas de sangue caiam sobre seu rosto, sua expressão continuava a mesma, realmente parecia que estava inconsciente. Era uma morte atrás da outra, e cada uma de modo mais brutal do que outra, ele andava lentamente para frente, era simples: quem se aproximava dele morria por suas mãos. Jin realmente reagiu como um demônio, “Não é suficiente!”, às vezes dizia ele em voz baixa.

            Quando cessou a carnificina, algo no telhado de uma casa chamava a atenção de Jin, um homem... Seu visual, que se assemelhava a um shinobi consistia em um casaco cinza, calças cinza, sandálias leves e um cachecol preto rasgado que envolvia seu pescoço, tampando um pouco de sua boca, e o que não o envolvia, ficava solto a cerca de um metro de suas costas. Seus trajes incluíam detalhes pretos junto com a cinza, seu cabelo era um pouco comprido, repicado até sua nuca, e na franja, alguns fios cobriam seu olho direito.

            Jin, em seu impulso demoníaco, rapidamente o alcançou, mais parecia que havia teleportado do que corrido em direção a esse homem, para acertá-lo com suas garras.

            O homem, em uma fração de segundo, não estava mais lá, só havia poucas chamas negras em seu lugar... “Como ele conseguiu escapar, nenhum humano é tão rápido assim...” pensou Jin, avistando-o em outro telhado, e vorazmente atacando-o novamente.

            -Hum... Então você é o outro demônio sobrevivente!? – sussurrou ele segurando seu punho, evitando suas sanguinárias garras. –Me chamo Yuuteru, nos vemos depois. – disse ele soltando o punho, e pulando até as costas de Jin. Já Jin tentando novamente acerta-lo, e Yuuteru desaparecendo, sobrando apenas chamas negras novamente.

            Aquela foi uma insana noite, quando não sobrou mais ninguém naquela vila, Jin apenas ficou lá, parado sobre aquele mar de sangue, seus olhos sombrios voltaram a ser o que era antes, sua esclera voltou ao seu branco novamente, e sua pupila ao seu verde.

            Enquanto isso, no paraíso dos Psyches:

            -Kreggy, como está indo a procura do ultimo demônio?

            -Senhor, tenho notícias: infelizmente, ainda não encontramos rastros do demônio, porém descobrimos o paradeiro do Chep, e como uma pequena lembrança pelos velhos tempos, saqueamos sua casa e assassinamos sua esposa!

            -Hum... Então aquele maldito ainda continua vivo, hein!? Pois bem, vamos usá-lo para encontrar o que procuramos, ele deve estar procurando por vingança, provavelmente também sabe que há um demônio sobrevivente, talvez se apenas observarmos Chep, chegaremos ao que procuramos, e destruímos os dois juntos!

            -Mas senhor, é muito arriscado jogar desse jeito, mesmo que Chep use esse demônio para chegar até nós, quem sabe quanto tempo isso levará!?

            -Hum...Entendo, então façamos diferente.Vamos suspender as tropas da Terra, e vamos focar no treinamento dos soldados. Tenho certeza, que cedo ou tarde, o demônio virá até nós, afinal nós temos algo que talvez seja do interesse dele – disse Psyco abrindo as cortinas, e lá estava Lucy, presa em correntes.

            -Senhor... Você ainda mantém essa garota viva!? Nem sabemos se ela teve algum tipo de relação com o demônio!

            -Talvez, mas tem algo que não posso ignorar! Essa garota sempre fica sussurrando certo nome, “Jin”. Acho que talvez, esse Jin possa ser o demônio.

            -Como pode ter tanta certeza?

            -Apenas tenho um pressentimento... Kreggy avise a todos que a partir de amanha começaremos um treino variado, para sermos capazes de massacrar esse demônio quando encontrarmos.

            -Certo! – disse Kreggy – MEUS AMADOS IRMÃOS, TENHO UM COMUNICADO A VOCÊS. ALGO ESTÁ PRESTES A VIR, E ISSO PODE SER UM DEMÔNIO SOBREVIVENTE, E TEMAMOS QUE SEJA O LUTADOR DAS TREVAS, O ÚNICO SER CAPAZ DE EXTINGUIR NOSSA SUPERIORIDADE PERANTE TODOS! ENTÃO FAREMOS UM TREINAMENTO ESPECIAL PARA MASSACRARMOS ESSE SER, PEÇO QUE COLABOREM E SE ESFORÇEM AO MAXIMO – disse Kreggy telepaticamente a todos os psyches.

            -Certo Kreggy. Dispensado!

            -Sim, senhor.

            Ao amanhecer, Chep e Alexia acordaram:

            -Bom dia, Chep! –disse Alexia bocejando.

            -Alexia, você viu o Jin por aí!?

            -Não... Na verdade não o vejo desde ontem, ele dormiu aqui?

            -Não sei... Vamos procurá-lo.

            -Nyah!

            Começaram a procurar Jin em todo lugar, até que encontraram uma vila próxima, resolveram ir lá. Quando chegaram, não acreditaram naquilo...Todos da vila, definitivamente todos, estavam mortos, esquartejados, desmembrados, de diversas formas. E no meio de todo aquele caos, estava Jin parado!

            -JIN! – gritou Alexia – O QUE É ISSO!?

            -Vamos lá, Alexia! – disse Chep correndo em direção a Jin.

            Quando os dois foram até Jin, o mesmo não fazia nada, apenas estava lá, parado olhando para o chão, com sangue em toda parte de seu corpo.

            -Jin... O que você fez!? – disse Alexia abraçando-o e chorando.

            -A-Alexia... – disse Jin desmaiando nos braços de Alexia.

            -Jin!? Chep, o que aconteceu? – disse Alexia assustada.

            -Eu não sei, não estou entendendo nada! Vamos tira-lo daqui, está cheirando mal essa vila!