Carpe Diem escrita por Milk


Capítulo 6
Capítulo V - O Ego


Notas iniciais do capítulo

- Desculpe-me a demora.
Por favor, leiam as notas finais.



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Capítulo V - O Ego

"A dopamina que tinha, a perdi"

[Dopamina - Belinda]

            Os dias foram passando e aos poucos eu comecei a entender como funcionava tudo dentro do castelo. Assim que despertava, Kakashi vinha com as aulas teóricas, os exercícios de escrita e leitura, as histórias, o legado do Clã Senju…

            Parecia que ele queria prender-me apenas naquela parte da história. Quando perguntava sobre o Argen Respice ou até sobre o clã Uchiha ele desconversava, dizendo que eram trivialidade e que tínhamos coisas mais relevantes para estudar. Daí voltávamos para como o Vale dos Pinheiros fora fundado, como era o estilo de vida dos camponeses, soldados da rainha, da burguesia, do clero e dos demais grupos sociais.

            Passava grande parte do dia perambulando pelo castelo, fingindo limpar ou organizar algum cômodo enquanto na verdade eu explorava cada centímetro do ambiente e dos peculiares objetos. Por muitas vezes Ino me pegou com as mãos em algo que não deveria mexer e tive que ouví-la bronquear-me pelo resto da tarde, mas logo ela me ocupava com outro trabalho num lugar mais interessante ainda.

O almoxarifado, a despensa, o arsenal. Este último era um lugar onde nem Ino era autorizada a entrar, pois todas as armas de guerra, munições e derivados ficavam ali, a espera de uma necessidade para serem usados. Eram objetos que eu nunca havia visto, a vontade de tocá-los era maior do que meu lado racional me alertando que tudo que se encontrava ali era para causar a morte, e eu poderia morrer mechendo em algum deles.

Shizune, que estava escorada no batente da porta me vigiando, me disse o nome de cada objeto. “Arco, catapulta, foice, lança, espada, tocha, lâmina, maça, escudo, varinha, poção, veneno…” e mais um monte de coisas das quais não me lembro de citar, mas me lembro exatamente para que servem. Oh, os livros.

Não havia um arsenal melhor do que a biblioteca empoeirada.

Depois de uma amena discussão com Kakashi, o convenci de me trazer livros menos livros de contos de fada. “Traga-me coisas do mundo real.”. Disse e ele empalideceu. A princípio achei engraçada a reação dele, nunca havia visto ninguém ficar pálido ao ouvir uma mera palavra.

Limpou a garganta e declarou, sem olhar-me nos olhos. –Coisas do mundo real são proibidas, Sakura. –Esta também foi uma coisa que eu não esperava, afinal, eu era completamente leiga nos assuntos dos Naturais. Tsunade e Kakashi sempre desviavam-se das minhas curiosas perguntas sobre eles. Ainda não sabia nada sobre o mundo através do véu, dos espelhos, no fundo do lago e em outros pontos espalhados pelo reino. Nem o reino eu conhecia!, imagine através de suas barreiras dimensionais.

Foi exatamente por isso que perguntei. –Então por que vieram com aquela história de me deixar explorar o castelo? Estou em contato com as coisas do mundo real todos os dias e o tempo todo, por que me nega livros?

Então ele percebeu que eu continuava ignorante sobre praticamente tudo. Sua expressão suavizou-se e isto não me passou despercebido. Pediu para que eu me especificasse, então disse que queria saber a história de Ongrir, queria livros que falassem da vida dos camponeses e das plantas que surgiam a partir de um nada.

-Queria compreender as coisas do dia. Tenho descoberto a respostas para muitas das minhas dúvidas, mas ainda me sinto perdida. Há muitas coisas que desconheço.

-Ninguém vive o bastante para conhecer absolutamente tudo. –Assenti, já puxando o gancho para um assunto que me intrigava.

-Por que acham que estou morta? –Perguntei com rubor.

-Você é morta, não está. –Corrigiu. –Você me vê?

-Sim.

-O que vê?

-Alguém.

-Como esse alguém é?

-Não sei dizer.

-Como não?

-Não conheço todas as cores ainda.

-Não são apenas as cores que podem descrever uma pessoa. –Falou com serenidade. Absorvi suas palavras como um lembrete. Eu estava sempre conhecendo pessoas e tentando marcá-las por características relacionadas a cores, seja dos cabelos, olhos ou vestes. Ficava difícil relembrá-las sempre por esse único aspecto, era bom saber que haviam outros meios.

-Desconheço outros meios.

-Há inúmeros meios. –Disse levantando-se. –Me ver, ver as coisas ao redor, falar, sentir, ouvir… Estas são provas de que você está viva. Isso já foi explicado para você antes. Sakura, nesse mundo, quem não tem aurea e nem sangue são os mortos. Os mortos não me vêem, não vêem as coisas ao redor, não falam, não sentem, não ouvem. Os mortos são queimados e suas cinzas são jogadas no lago. Por razões que desconheço, você é uma excessão. Não tem aurea, não tem sangue e ainda vive.

Por muitos dias eu fiquei pensando naquelas palavras. Eu não estava morta, eu era morta. Não tinha nada que me desse condições de sobreviver, eu era um corpo oco, um recipiente vazio a perambular. Aquilo sim era depressivo. Nem os passeios pelo castelo me animavam. O arsenal era cruel. Segurei uma espada pela lâmina, como um personagem da história dos Noventa e Nove Soldados fez. No livro, doeu, sangrou, pingou aquele líquido escarlate, tudo o que eu senti foi o desconforto do metal abrindo a carne da palma da minha mão, gelado e preciso. Não era uma sensação agradável, mas também não era dor, não, não era. Não pingou nenhum líquido.

Quando Shizune surgiu, olhando de relance para mim(estava muito entretida conversando amistosamente com um soldado), desesperou-se. Gritou várias vezes meu nome e perguntou se eu estava bem, se estava louca, por que estava fazendo aquilo. Evitei respondê-la ao máximo, afinal, ignorá-la era um desacato e Ino já estava me persuadindo a temer todas as autoridades do reino. Ainda assim, fui corajosa, neguei minhas respostas. Quando ela se acalmou um pouco, decidi que era minha vez de fazer perguntas.

-Shizune. Você me disse que tudo aqui serve para ferir gravemente e até matar uma pessoa, mas isso, essa… espada… Ela não me feriu, vê? –Mostrei minha mão espalmada para ela que fez uma sutil careta diante da imagem. –Isso quer dizer que esse arsenal tem impacto zero sobre mim? –Fui direta. Ainda extasiada pela onda de pensamentos lógicos que me envadia, lancei à ela outra pergunta. –Isso quer dizer que de alguma forma eu sou imortal?

Pelo seu silêncio, percebi que eu não precisava de respostas. Ela sabia, Kakashi sabia, Tsunade sabia e os médicos também. Eu era imortal. Não havia como me matar. Eu era uma pessoa morta. Eu era seca, não tinha uma gota de sangue, não sentia dor. Eles estavam tentando fazer o máximo para não deixar que eu descobrisse isso. Eles achavam perigoso eu ter uma informação como aquela. Eu era imortal. A imortalidade era um feitiço que nem a rainha conseguira fazer.

Posteriormente descobri que as íris dela estavam abrandando. Os Naturais envelhecem com o tempo, seu corpo fica vulnerável e chega a certo ponto que eles falescem. Em Ongrir, não é apenas o tempo que decide a longevitude e alguém, mas é também as coisas que ela realiza, como feitiços muito poderosos que requer uma quantidade imanensa da aurea. Esta é como a energia dos Naturais: é só descansar, se alimentar e meditar que a aurea se reestabiliza. Entretanto, toda vez que a aurea chega na estaca zero, uma fração da íris da pessoa se apaga. Com todas as frações apagadas, esse alguém morre.

Detesto ter que adiantar algumas coisas, mas acho necessário que saibam que a rainha do Vale dos Pinheiros, Tsunade Senju, tinha um segredo e uma falha que descobri na hora errada e pela pessoa errada. Ele sabia exatamente o que me dizer e como fazer isso. Ele me persuadiu de um jeito que nem a pessoa mais sensata do mundo resistiria. É triste admitir que fui seduzida por sua lábia e beleza vertiginosa, assim como odeio admitir que ele estada certo.

Shizune, com seu silêncio, confirmou o que eu já tinha claro em mente. O poder que eu tinha, nem a rainha possuia. Eu já entendia a magnitude do que tinha em mãos, entendia o que Tsunade quis dizer o tempo todo. Infelizmente para eles, eu me senti confiante, mas não deixei transparecer, claro, não queria que Kakashi mudasse de ideia e começasse a me privar de descobrir mais coisas. Ele devia ser o único que sabia que era inevitável impedir-me de fazer o que fiz dez anos depois. Kakashi é um homem inteligente.

Naquele dia entendi aquela expressão sobre alimentar o ego… Percebi que ser  morta era um ponto positivo e aquela sensação de fato saciava toda a fome que meu ego vinha sentindo.

Sakura. Meu nome é Sakura. Eu moro no Vale dos Pinheiros. Vou assumir o trono de Ongrir. Sou imortal.


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Notas finais do capítulo

- Por conta do baixo número de review, irei travar essa história por tempo indeterminado, afinal, o tempo que gasto a escrevendo poderia dedicar às minhas outras duas fics que tem leitores assíduos sempre comentando.
Espero realmente que entendam que isso é por causa de falta de incentivo, o que pode ser mudado a partir desse capítulo mesmo, mas só depende de vocês.
Obrigado por lerem a história. Até algum dia.