Let's Go Back To The Start escrita por Doug, gihcampos, Jean Celso


Capítulo 6
Capítulo 5




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    Fecho os olhos e vejo claramente o dia em que quase sofremos um acidente de carro enquanto íamos a uma balada. Andrew estava gozando da cara de Toby, ambos no banco da frente. Andrew se virou para mim contando o que tinha acontecido com o carro ainda em movimento. Toby tinha levado um fora de Megan. — a garota mais popular da escola. Enquanto falava para mim sobre o fato, prestei atenção na avenida, quando percebi que vinha um carro em alta velocidade na mesma faixa em que estávamos. Seguia na contramão e era inevitável não pensar no que poderia acontecer. As ruas estavam vazias e já passavam das três da manhã. Arregalei os olhos e gritei:

   — Andrew!

   Quando percebeu o carro vindo em nossa direção, girou o volante com violência para a esquerda, indo para a outra faixa em alta velocidade, quase invadindo uma calçada, desviando rapidamente do carro, que passou como um vulto ao lado do carro. Boquiaberto, olhei para todos que estavam no carro com a mesma expressão. Perplexos. Depois daquele dia, nunca mais passamos de oitenta quilômetros por hora. Por sorte, nunca sofremos um acidente sério.

    Escoriações e cortes eram freqüentes, já que depois de bêbados, todos perdem a dignidade, inclusive o equilíbrio. Cada dia da semana, um do grupo seria o motorista. Isso incluía não beber qualquer tipo de bebida alcoólica. Apesar de ser chato, ninguém reclamava da decisão. Zelar pela vida dos amigos era um propósito a seguir se não queríamos ser descobertos pelos nossos pais. Sempre fomos prudentes quanto a isso.

    Repentinamente acordo em minha cama, e percebo que já passava das duas da tarde. Sujo e suando, resolvo tomar um banho e ler um pouco. Desde que cheguei nada li. — a não serem placas de sinalização. Tomei o gosto enquanto me recuperava na clínica. Antes de tudo acontecer, era raro me verem com um livro em mãos. Lia os que eram obrigatórios nas matérias escolares. Odiava o fato de ficar preso a algo que não me acrescentaria nada — perdia apenas o meu tempo. Enquanto estava na clínica, romances e dramas eram os meus preferidos. Nicholas Sparks e Sidney Sheldon eram os protagonistas da minha estante. Li todos os livros de ambos os escritores. Histórias cativantes que me viciavam cada vez mais. Afoguei minhas mágoas nos livros, assimilando alguns traços a minha vida, que já não era como antes.

  Pegando o livro “A Escolha” de Nicholas Sparks, percebo que da última vez que o li, parei em suas últimas paginas. Um final que comove qualquer leitor, onde põe a decisão difícil que o aperta contra a parede da ética. Desligar os aparelhos de sua mulher em coma ou não? Respeitar a sua decisão deixada em testamento ou esperar um milagre? Seu amor por ela era tão puro que não lhe deixou tomar uma ação precipitada.

   A paixão verdadeira, o amor, não se acha tão fácil como antes. Muitas das vezes, jovens se afogam em livros de romance, esperando algum dia achar a alma gêmea que sempre sonhou como em suas histórias. Poucos são os que encontram e tristes são aqueles que vivem sem amor, que são incapazes de amar.

   Nunca fui incapaz de amar.  Mas ainda não tive a chance de apaixonar novamente. Talvez por acreditar em um amor que nunca aconteceria quando mais jovem. Nunca amei alguém, como amei aquela. Achei que seria apenas mais um amor de verão. Quando me dei conta, já estava completamente apaixonado. Foi quando percebi que era recíproco. Daquele dia em diante, prometi a mim mesmo que trancaria meus sentimentos em um baú e jogaria num abismo recheado de trevas. E em pedra meu coração se tornou. Depois daquele dia, nunca mais fui o mesmo, e rebelei-me contra si próprio e travei uma batalha com meu coração. Todas as vezes que o amor, de mim se aproximava, o reneguei.

    Minhas notas pioravam a cada bimestre. Nas ruas da desgraça andei, provei do ódio que o amor me trouxe, e na vida que jamais desejei, ali estava eu. Bebi, afogando as mágoas e da maconha provei a fumaça densa que momentaneamente me deixava feliz.

   Era difícil andar pelos corredores de casa com um falso sorriso, expressando o que eu não estava realmente sentindo para meus pais, — mesmo que não percebessem. Besta me parece agora, ao lembrar como uma decepção me mudou tanto e como as consequências disso tudo me trouxeram onde estou.

    Cansado de refletir sobre minha vida, e o rumo pela qual seguiu, vejo que passa das cinco da tarde. Com fome, troco de roupa e desço até a cafeteria do prédio. Lá, sigo até o balcão de atendimento e peço um Cappuccino e um Croissant. Sento-me numa mesa que se encontrava logo próxima, e espero pelo meu pedido.

     Observando o recinto, percebo que a uns cinco metros de onde estava, vejo Ashley e uma amiga comendo brioches. Parecem estar se divertindo. Quando em uma fração de segundos ela desvia o seu olhar a mim. Fixo meus olhos nela por alguns segundos, interrompendo quando percebo que o garçom está chegando com meu pedido. Logo, volta a prestar atenção na amiga que a chama duas vezes pelo nome.

   O cheiro está ótimo e estou faminto.  Tomo um gole do meu Cappuccino que estava espesso e espumoso e dou uma mordida no croissant. O sabor de ambos tem uma combinação perfeita. Comendo devagar, saboreio as imagens de Ashley em minha mente. Tão perfeita e graciosa. Se levantando da cadeira onde estavam sentadas, ela e sua amiga, pagam a conta e seguem para o elevador.

   Quase não vejo meus pais desde que chegamos. Mas nunca os via, mesmo quando morávamos em West Palm Beach. Uma vez ou outra ficavam em casa. Geralmente isso acontecia nos feriados. Nem os finais de semanas eram dispensados para o trabalho. Minha mãe se ocupava desenhando ou montando um projeto no computador e meu pai lia novos e velhos processos no escritório.

   Carente de atenção dividia o meu tempo com a nossa empregada Sherry, que era engraçada. Divertia-me com suas histórias de quando era criança. Quando precisei de conselhos não ia até meus pais, — pois estavam sempre ocupados e não gostariam de ser incomodados — ia até Sherry. Nunca me negou tempo e parava o que estava fazendo para me atender. Com toda sua sinceridade e gentileza, me ajudou nos momentos em que mais precisei.

   Faltando algumas mordidas para terminar o meu croissant, tomei todo o cappuccino e chamei o garçom. Pagando a conta, deixei alguns restos no prato. Entrei no elevador e olhando o meu reflexo na parede, vi o quanto mudei fisicamente no decorrer dos anos, que no dia a dia não havia reparado. Meu queixo era marcado pelo formato quadrado e minha barba estava por fazer. Abrindo a porta, percebo que Ashley está conversando com a amiga da cafeteria. Caminhando em direção ao meu apartamento, me chama:

    — Ei, Liam.  

    — Sim?

    — Mari estava me contando que uma de suas amigas, vai se apresentar numa casa noturna aqui perto. Estávamos te esperando para te convidar. Como é novo aqui no prédio, pensei que gostaria de fazer novos amigos. — Cruzando os braços, esperou pela minha resposta.

    — Não sei, — envergonhado respondi — vou conversar com meus pais a respeito. — Se fosse por mim, já teria confirmado.

    — Certo. Se decidir ir, nos encontre aqui no corredor às oito. Ah! Acho que você deve saber da lei que proíbe menores de vinte e um anos de beber, certo? Então... — fez uma pausa dramática — tente arranjar uma o mais rápido possível.

    — Por sorte e força do destino, tenho uma antiga de quando usava no colegial. Acho que deve servir. — evitando perguntas desnecessárias já ditas, continuo — Vou fazer um esforço de ir. Vou tomar um banho e ligarei para os meus pais. Se eu não for, venho aqui e aviso a vocês.

    — Ok.

    — Até.

   Dentro do apartamento, escuto algumas vozes após a minha deixa do corredor. Encostando o ouvido na porta, escuto pela primeira vez a voz de Mari.

    — Amiga, ele até que é bonitinho.

    Ashley, mesmo se esforçando para rir baixo, ressoou até meu ouvido suas gargalhadas entrecortadas pelo que parece sua mão que abafou o som. Faço o mesmo sorrindo e balanço a cabeça, não acreditando no que acabo de escutar. Tirando a camiseta e o short, ficando apenas de cueca, — aproveitando que não há ninguém em casa; é legal ser livre pra fazer algumas coisas que não se podem fazer quando se tem pais e visitas em casa — caminho pela sala e vou em direção ao criado mudo que se encontra no canto. Pegando o telefone, disco o numero do celular da minha mãe, que logo atende.

   — Liam?

   — Sim. Mãe, Ashley e uma amiga dela, me chamaram para ir a um evento hoje — não poderia dizer que era em uma casa noturna. Liguei para confirmar com a senhora, se me deixaria ir.

   — Desde que não irrigue sua artéria com álcool, até deixo.

   — Claro, não quero voltar ao meu vício novamente. Aquela minha fase já passou, a senhora percebeu que mudei desde que chegamos.

   — Hm... — Ficou em silêncio e logo depois voltou a falar. — Estou deixando apenas porque parece que Ashley é uma boa pessoa e não faz algo do tipo. Agora me deixe voltar ao trabalho. Você me interrompeu em uma reunião de negócios. Beijos, Tchau.

    Não esperou nem a minha despedida e desligou o celular. O que importava era que estava livre.


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