No dia seguinte, acordei com dores por todo o corpo. Acho que foi o jeito como me sentei no banco. Fiquei a viagem inteira em uma posição desconfortável, tudo isso porque meu pai queria aproveitar a viagem para contemplar as paisagens da estrada. Achei até que tinha levado uma surra grátis de socos e pontapés enquanto estava inconsciente.

   Passei a me acostumar a viver em um apartamento. Acostumo-me rápido em qualquer local, mas não imaginei que fosse tão fácil assimilar a idéia de morar em um apartamento. Só de saber que não preciso mais arrumar minha cama, meu quarto, minhas roupas, nada, simplesmente porque que meus pais contrataram uma empregada chamada Olga.

  Alguém apertou a campainha, achei que deveria ser um entregador de pizzas, ou algum funcionário de alguma empresa de disk entregas que algum de meus pais chamou. Fui atender a porta, pois sempre era eu o ‘escravo’ da casa. Quando abro a porta, vejo três pessoas. Um homem alto másculo de olhos azuis e cabelos pretos, uma mulher de uns vinte anos, loira de olhos verdes, e uma garota de cabelos loiros e olhos azuis.

   — Olá. — Saudou a mulher — Vimos que vocês acabaram de chegar a esse prédio, e como somos os seus novos vizinhos, decidimos dar as boas vindas.

   — Ah sim. — Respondi. — Entrem, meus pais estão na sala.

   — Obrigado.

   Assim que adentraram á sala, fechei a porta, e me sentei ao lado dos meus pais.

   — E então, são daqui mesmo de Manhattan, ou vieram de outro estado? — Perguntou o homem.

   — Somos da Flórida, mas nos mudamos pra cá por que recebi uma proposta de emprego. E essa era o prédio mais perto onde vou trabalhar. — Disse meu pai.

   — Me desculpa o incômodo, mas em que ramo trabalha? — Disse a garota loira, colocando uma mexa de cabelo atrás da orelha.

   — Sou Juiz. — Meu pai não se gabava de sua profissão, mas percebi um tom de superioridade em sua voz quando proferiu as palavras.

   — Que ótimo. Isso explica o apartamento. Vocês parecem profissionais bem sucedidos. Já ia me esquecendo de nos apresentar. Sou Robert, minha esposa se chama Melanie, e minha filha Ashley.

  — Prazer. Meu nome é Ryan, - apontou para mim e logo depois colocou o braço sobre os meus ombros — meu filho Liam e o da minha esposa, Kate. — Falou meu pai estendendo a mão a Robert.

— O prazer é todo nosso. E aí, estão gostando do prédio? — Disse Melanie.

   — É tudo que esperávamos. Superou até as nossas expectativas. — Arfou minha mãe abrindo um sorriso largo, que poderia usar a expressão: de orelha a orelha.

   — Também superou a nossa. Ficamos sabendo dele, através de um anúncio no jornal. Achávamos que seria como qualquer outro prédio, mas quando vimos o hall, ficamos tão surpresos e boquiabertos que rimos de nossas expressões faciais. — Riu Melanie.

   Eu estava tão desligado da conversa, que comecei a olhar para o nada. Até que o joelho de meu pai encostou-se ao meu, instintivamente me induzindo a prestar atenção na conversa dele com Robert, e notei que as bochechas de Ashley estavam coradas. Esbocei um sorriso de leve como se estivesse rindo de algumas de minhas memórias, ela fez o mesmo, posteriormente desviando o olhar.

   — Bem, a conversa está boa, mas temos que ir. — Disse Robert.

   — É. — Completou Melanie.

   Meus pais se levantaram e os levaram até a porta. Que mesmo após se despedirem continuaram a conversar. Pareciam até que já eram amigos a décadas. — Voltem sempre que quiserem. — Disse meu pai fechado a porta. — Acho que vamos nos dar bem com esses vizinhos, eles parecem simpáticos. E a filha deles até que não era feia, não é mesmo Liam? – Olhou para mim com aquela expressão que só eu e ele entendíamos que poderia ser compreendida como um sorriso safado ou irônico. Sim, safado.