Era um fim de tarde quente e abafado, trazendo assim uma pequena chuva. A cidade tinha estado seca nas ultimas semanas, então, os moradores apreciaram o cheiro de terra molhada.

Naruto tinha acabado de secar os cabelos e atravessava a sala quando o telefone tocou. Correu para atendê-lo; pensando ser o pai ou a mãe que estavam fora. Surpreendeu-se um pouco ao escutar a voz de Sasuke, seu amigo, do outro lado da linha.

- Dobe, quando vem buscar o seu caderno?

- Un? Ah, me entrega o caderno segunda de manhã, na aula.

- E como você vai terminar o seu trabalho? É para segunda. Esqueceu idiota?

Nesse momento Naruto sentiu uma vontade extraordinária de chocar a sua cabeça contra a parede, de preferência até a morte. Como foi burro em deixar metade do trabalho – perfeitamente feito – dentro da contracapa do caderno.

- Er... Pode vim trazer agora? – Sasuke pode imaginar o loiro coçando os cabelos da nunca encabulado.

- Não. Eu estou de saída, vou passar o fim de semana na casa dos meus avós. – O moreno não conteve um sorriso malicioso que surgiu em seus lábios – Vamos fazer assim: Quando derem quatro horas me espera em frente ao posto de gasolina, aquele da avenida. Eu entrego o caderno para você e vou direto para a casa da minha vó.

- Tá bom. Quatro horas. – Naruto passou a repetir isso em sua mente, como um mantra. Aquele trabalho era realmente importante e o professor Asuma não o aceitaria depois.

- Quatro horas em ponto. Nem a mais e nem a menos dobe.

- Ok, alguma vez eu já cheguei atrasado?

- Não, imagina. – Brincou o outro, sabendo que estaria provocando um bico infantil no loiro.

E depois disso desligaram o aparelho. Naruto espreguiçou-se e deitou de pernas para cima no sofá, ligando a TV e assistindo qualquer programa idiota que passava.

Ainda era uma hora da tarde e teria bastante tempo até a hora de buscar o trabalho. Resolveu arrumar o seu quarto. Estava precisando de dinheiro, e a maneira mais fácil era apenas fazer uma limpeza naquele cômodo. Kushina costumava dizer que em baixo da cama do filho existia um buraco negro. Naruto pode comprovar isso quando conseguiu achar quase trezentos yenes, sua meia da sorte, uma apostila de geografia e um manga de 5 anos atrás. Sem contar um numero quase infinitos de botões lá em baixo.

Quando tinha deixado o ambiente mais aconchegante e limpo, olhou no relógio de pulso. Faltava 15 para as quatro. O tal posto de gasolina não era longe, na verdade, era apenas três minutos e se fosse andando em passos de tartaruga. Olhou pela janela e reparou que a pequena chuva continuava, mas nada que fosse atrapalhar. Calçou um sapato, deu uma olhada rápida no espelho e ainda faltavam sete minutos. Resolveu ir logo, era melhor chegar cedo do que tarde. Trancou somente o portão, deixando as portas e as grandes janelas do seu quarto e da sala abertas. Não iria demorar muito mesmo.

Subiu a rua reparando em um grupo de jovens, se protegendo da água que caia do céu, em baixo de uma lanchonete. Virou a esquina, vendo que muitos garotos continuavam a partida de futebol mesmo chovendo. Atravessou uma pequena passarela chegando ao posto de gasolina.

Em um barzinho, dois bêbados discutiam bobeiras; ora olhando para ele, ora gritando as mulheres bonitas que passavam na rua. O loiro consultou a hora no seu relógio de pulso e constatou que faltavam três minutos. De repente, os pingos que eram fracos começaram a ficar grossos. Naruto não tinha levado guarda-chuva, por que pensou que iria ser rápido. Abrigou-se no posto, ficando atento para todos que passavam.

Deram 4 horas e nada. O menino esperou até quatro e quinze e nada de Sasuke aparecer. Naruto voltou para casa pisando duro, sem importa-se por estar todo molhado e ter feito papel de idiota. Além disso, esquecera que havia deixado as janelas abertas, permitindo a entrada da chuva livremente.

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Era segunda-feira de manhã e sentimentos de ódio e preocupação mesclavam-se em Naruto.

Ódio, por Sasuke tê-lo deixado esperando na chuva.

Preocupação, por que a aula do Asuma-sensei seria a segunda.

Estava ferrado!

Arremessou a mochila descuidadamente na mesa, e amuou-se na cadeira. Minutos depois, observou a figura esguia de Sasuke entrar na sala. Franziu o cenho em raiva. Mataria aquele bastardo!

- Temeeee! – Os alunos, entes focados em tirar o seus materiais da bolsa, imediatamente encararam Naruto. – Por que não foi me encontrar?

-...

- Diga seu bastardo! Esse trabalho era a minha salvação! Se eu repetir...

-...

- Sasukeeee!

Encarando os olhos azuis por um momento, Sasuke sorriu. Abriu a sua pasta escolar, tirando um trabalho impecavelmente feito. Aproximou-se e entregou nas mãos do loiro.

- Você... Fez o meu trabalho. – Naruto disse, folheando as páginas e notando que até a letra parecia a sua.

- Hn.

- Não diga só ‘hn’. Por que me deixou esperando? Eu fiquei desesperado! Deve-me um pedido de desculpas. – Naruto fez um bico imaturo, fechando os olhos; parecendo uma raposa.

A distância que existia entre os dois foi quase quebrada. Sasuke dera alguns passos para frente.

- Se eu não te deixasse esperando, não teria uma desculpa para fazer isso.

Os lábios se tocaram. Um decidido, outro hesitante. Parecia que todo o sangue tinha fugido do cérebro dos dois e se encaminhado para o estômago. Foram poucos segundos, mas parecia uma eternidade.

Separaram-se.

- O... Que foi isso? – O loiro levou os dedos até o lábio, acariciando-os. Olhou em volta da sala: em uns havia a faceta de nojo, em outros havia um brilho amoroso e alguns, simplesmente ignoravam. Focou o olhar em Sasuke e notou o seu semblante feliz.

- Minhas desculpas.

- Eu as aceito.

Sasuke não era uma pessoa que errava. Era um Uchiha, acima de tudo. Contudo, erros com um loiro peculiar haviam aumentado bastante, em uma frequência em que só desculpas mais profundas iriam servir.