Adorável Depressão escrita por Cristina Abreu


Capítulo 6
6. Um minuto para o fim do mundo


Notas iniciais do capítulo

Antes de tudo: Obrigada Madu Oms pela linda recomendação! Fiquei muito feliz, viu, flor? *-*
Antes de tudo²: Mil perdões para quem eu ainda não respondi o review! Essa semana mal parei em casa. Finalmente tô saindo nessas férias!
Agora sim... Gente, eu descobri que sou burra!!! Tá, não descobri, eu já sabia, mas tive a minha confirmação. Tipo... eu pensei que, sei lá, a porra do mundo fosse acabar à 00:00 do dia 21, ou seja, hoje. Na verdade, era ontem (e não acabou e.e)... Então nem faz mais sentido eu ter esperado até às 23:59 de hoje, né? Até porque, eu tenho de dormir cedo... Amanhã vou passar vergonha >



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6. Um minuto para o fim do mundo


Vi suas costas se afastando de mim e tentei correr para alcançá-lo. Porém, a cada passo que eu dava, parecia que ele sumia mais rápido. Eu o havia magoado. Sabia disso. E por minha vez, me magoara também.

Sentei na calçada e comecei a chorar. Sabia o motivo pelo qual estava daquele jeito e tudo era minha culpa. Na verdade, quem se afastava era eu, o problema era unicamente eu.

Porque me apaixonara. E eu não podia lidar com isso.

Era o fim do meu mundo.

Acordei do meu mais novo pesadelo e balancei minha cabeça, exasperada. Faria de tudo para que o sonho que já se afastava em minha mente nublada não acontecesse. Não poderia acontecer, ou eu estaria perdida.

De olhos fechados, eu fingia que não estava só comigo mesma.

***

Controlei-me para não rir quando encontrei a Ana no dia seguinte. Sua expressão era de dar pena, mas eu não podia dizer muita coisa. Chorara como uma criança pequena ontem à noite, tamanha era minha confusão. Meus olhos ainda estavam um pouco vermelhos e para isso eu diria que era alguma gripe. Quem sabe até Rafael não ficaria longe?

Mas você não o quer longe! Deixe de ser uma vaca!, minha consciência repreendeu. Mentalmente mostrei a língua para ela.

— E aí? – reprimi o riso. – Como está?

— Como pensa que estou? – perguntou sarcasticamente, jogando sua mala no chão e sentando-se ruidosamente na cadeira. – Foi horrível.

— Eu sinto muito, mas o garoto não havia sido legal naquela festa em que vocês se conheceram? – questionei.

— Sim, mas ele é chato. Muito chato. Nem me beijou, acredita?! Até se manteve um pouco distante de mim e se despediu com um beijo na testa!

— Que fofo! – eu ri.

— Você é mesmo uma vadia, não é mesmo? – revirou seus olhos. – E o amigo dele não se salva. Parece deprimido.

— Ah, qual é? Ele estava de vela! Óbvio que não estaria animado. – a repreendi. Depois, virei-me para apanhar meu material. Rafael ainda não tinha chegado. Uma parte de mim ficou aliviada, enquanto a outra, a menor, estava decepcionada.

— É uma pena, porque ele é um gatinho. – suspirou. – Mais do que o outro.

— Qual é o nome dos dois? – perguntei, curiosa.

— Fábio é o nome do garoto que sai. João é o nome do seu amigo emo deprimido.

— Que horror, Ana! Coitado do moleque. – balancei minha cabeça negativamente.

— Aqui, tenho uma foto... – pescou o celular da mochila e o entregou a mim. Na foto estava apenas ela, parecendo decepcionada, e o garoto que presumi ser o Fábio.

— O João nem saiu na foto? – sorri. Sim, tadinho do menino.

— Interessada nele? – retrucou. Fiz-lhe uma careta e devolvi seu celular. Eu tinha de contar para ela... Agora.

— Na verdade, eu estou namorando agora, muito obrigada. – carreguei minha voz de ironia.

Seus olhos azuis perscrutaram meu rosto atentamente, buscando qualquer tipo de sinal nele. Esperei que meus olhos não estivessem mais vermelhos ou seria um problema. Por sorte, ela nada disse.

— Ele te pediu ontem? – perguntou, feliz.

— Sim. – suspirei e tentei dar um sorriso também.

— Qual é o problema, Katherine?

— Não me chame assim! – a fuzilei com os olhos. – O problema é que está tudo indo rápido demais e...

— Ele disse que te ama? – seus olhos se arregalaram e sua boca se abriu em surpresa.

— Não! Não disse. – eu quase gritei e lutei para me controlar.

— Bom, então o que há de errado em namorar um pouco? – Ana ficou mais tranquila. Franzi minha testa. O amor também era um problema para ela? Dei de ombros.

— Eu não... Eu não sei. – sussurrei, brincando com meu estojo. – Ele é um fofo e você sabe que estou tentando, e que talvez até esteja gostando...

— Você está, definitivamente, gostando. Não minta para si mesma, meu amor. – não ergui meu olhar para ela.

— Ok, ok. Eu estou. Mas tenho medo. – confessei em uma voz baixa e delicada.

— Do que, exatamente? – Ana se aproximou e puxou a manga do meu moletom, também parte do uniforme.

— De não dar certo. De... Ah, sei lá. – desconversei, não me sentindo muito bem com aquela conversa.

— De amar? – sua voz era gentil e acolhedora. Assenti uma vez, mantendo meus olhos longe dela. Sabia que Ana não aprovava o amor nessa idade, mas suas palavras seguintes me surpreenderam.

— Todos têm. – nesse momento o professor de Matemática entrou na sala e todos ficaram em silêncio. Senti meus olhos arderem, porém não derramei nenhuma lágrima.

Eu só queria saber qual era o meu problema.

— Por que se atrasou? – eu perguntei, aninhada nos braços de Rafael. Ele chegara na segunda aula, corado e sem fôlego. E, ah, totalmente lindo.

— Dormi demais. – ele murmurou, constrangido. Sorri e dei-lhe um selinho.

— Dorminhoco. – brinquei. Ana que estava perto revirou seus olhos, mas notei que ela estava animada com a ideia de Rafael e eu como um casal. Sua vez de ficar como a terceira, Ana!

— E você, dormiu bem? – não tive a chance de responder. Minha melhor amiga me interrompeu.

— Deve ter dormido, porque quando liguei para seu celular ninguém atendeu. Também liguei para sua casa e sua mãe me disse que já estava deitada.

Sorri e fiz que sim com a cabeça. Não poderia sequer ousar em dizer alguma coisa, pois corria o risco de minha voz falhar. Olhei para o chão e fiquei riscando círculos no mesmo com meu pé.

— Depois quem dorme demais sou eu. – Rafael murmurou. Não ergui meu olhar para ele, mas mantive meu sorriso.

Como ainda estava olhando para baixo, vi os tênis antes de ver seu rosto. Alessandro parecia tímido, até, se aproximando de nós. Ana o perfurou com o olhar. Rafael manteve seu rosto neutro.

— Oi. – ele murmurou.

Ficamos todos em um silêncio desconfortável, todos esperando que Ale voltasse a falar.

— Katie, eu queria pedir desculpas. Fui um idiota por tratá-la daquela forma. Você não merecia.

— Ah, obrigada por avisar-me disto. Eu não sabia. – sorri ironicamente, um sorriso que logo desapareceu. A expressão de Alessandro era miserável e me senti mal por zombar dele.

— Tudo bem, desculpas aceitas. – sussurrei, olhando para minhas mãos.

— Obrigado. – eu sabia que ele estava sorrindo.

— Hm.

— Rafa, será que a gente pode conversar? Por favor? – implorou. Olhei para Rafael, que por sua vez olhava para mim. Meneei com a cabeça e ele me soltou, acompanhando Alessandro até a outra ponta do pátio.

Ana Paula e eu ficamos os assistindo durante alguns minutos, até que, finalmente, eles se abraçaram e sorriram, novamente cúmplices e amigos. Soltei minha respiração. Se ele e Rafa não tivessem feito as pazes... Bem, eu teria de aguentar o mau humor de Rafael por algum tempo, até que deixasse de ser teimoso e superprotetor.

— Homens! – ela suspirou, virando os olhos para o céu. Eu ri.

Meninos. – corrigi. Ana voltou-se para mim e também começou a rir, concordando comigo.

Ver Rafa novamente amigo de Alessandro me deixou feliz. Afinal, meu namorado também estaria.

Argh, namorado.

Eu podia me acostumar com isso.

***

Meu riso foi doce, o que me confundia. Meu pesadelo voltava a minha mente e eu tentava o afastar para longe.

— Claro, claro. – murmurei para Rafael. Estava deitada, com meu telefone preso em minha orelha. Já era tarde da noite e estávamos conversando sobre nosso dia. Ele saíra com Alessandro e eu com Ana. Foi uma boa coisa manter certa distância. Não haveria nada para falar se ficássemos o dia inteiro grudados um no outro.

— Você está com sono? – me perguntou.

— Um pouco. – admiti, bocejando. Era fácil conversar com ele e sua voz macia me levava a um outro mundo, muito mais gentil do que este aqui. – E você? Está cansado?

— Um pouco. – repetiu. Sorri.

— Adoro quando você sorri. – falou e me pegou de surpresa. Como ele poderia saber quando eu estava sorrindo?

— Como você sabe que eu estava sorrindo? – questionei, curiosa.

— Faz um barulhinho, tipo um “tic”. Esse som é tão maravilhoso quanto o seu riso. – corei profundamente e prendi minha respiração. Rafael sempre tão romântico.

— O “tic” não é nada para mim sem o “tac”. – brinquei, querendo mudar de assunto. Conversar sobre minhas manias e trejeitos não era o que eu queria. Sentia-me demasiada constrangida.

— Boba. – falou.

— Que você adora. – me mantive longe da palavra “ama”.

— Sim, que eu adoro. – me aliviei quando ele não a disse também. Eu sei, eu sei. Sou mesmo uma boba. Mas ainda não estava preparada e nem sabia se estaria algum dia, mesmo que o amor fosse a coisa que eu mais desejasse no mundo inteiro.

Quando eu o obtivesse, estaria pronta para o que quer que fosse.

— Vou dormir, Rafa. – eu mal conseguia manter meus olhos abertos.

— Ok. Boa noite. – mas ele não desligou.

— Boa noite. – murmurei. Não desliguei, aguardando que ele o fizesse. Revirei meus olhos com a nossa brincadeira. – Você desliga.

— Não, você desliga.

— Faça logo, Rafa. Quero dormir. – resmunguei, sonolenta.

— Então você desliga. – retrucou.

— Também posso notar quando você sorri, ok? Tire esse sorrisinho besta da cara. – falei.

— Hm... Você pode?

— Posso. Agora, vá dormir.

— Sim, senhora. – riu e eu o segui. Fácil... Tão fácil como respirar...

— Boa noite, Katie. – disse por fim e desligou. Sorri, não escutando nenhum “tic”.

Fechei meus olhos e esperei que o sono me ganhasse. Quando isso não aconteceu, suspirei ruidosamente.

Rafael tomava minha cabeça. Isso era algo bom. Não era?

Mais tarde, naquela mesma noite, ouvi uns ruídos e decidi levantar-me para ver o que era. Imaginei que fosse meu irmão chegando de suas festas proibidas, mas os barulhos vinham do quarto de minha mãe, o que era curioso, já que ela dormia cedo. Abri a porta e a encontrei averiguando a cama, a televisão ainda ligada.

— Qual é o problema? – questionei, franzindo minha testa.

— Acho que tem algum bicho aqui. Acende a luz, por favor. – falou. Mordi meu lábio e me preparei para correr. Odiava insetos. Filmes de terror não era um problema, mas borboletas eram as piores coisas que eu podia imaginar. Torci meus dedos, esperando que minha mãe estivesse louca e sonhando.

Acendi a lâmpada e não vi nada de anormal. Respirei fundo, aliviada. Eu sei que meus medos são bobos e constrangedores, porém eu não conseguia livrar-me deles. Nem ferrando que eu iria me aproximar de bichos somente para deixar de ser essa cagona.

— Não tô vendo nada. – falei. Eu havia declarado uma trégua, mentalmente, entre minha mãe e eu, desde a noite passada, quando ela ficou me aguardando enquanto eu estava com Rafael. Porque foi isso que ela fez. Agora me sentia culpada por não ter dado nenhum detalhe. Também, cairia no choro se o tivesse feito naquela hora.

— Mas eu senti. – afirmou, ainda vasculhando as paredes.

— Talvez estivesse sonhando? – arrisquei. – Às vezes sonhos podem parecer reais e...

— Não, eu sei que eu senti, mas... Deixa pra lá. – voltou a deitar-se, puxando o cobertor sobre si, e foi então que eu vi. Dei um berro e sai correndo. Escutei seu grito e seus passos seguindo os meus.

Abri a primeira porta que vi pela frente, deixando que ela batesse com tudo na parede. Era o quarto de hóspedes, onde meu padrasto estava dormindo nos últimos dias. Gritamos e ele acordou, desesperado.

— Ai, meu Deus! O que foi?! – perguntou. Mesmo na escuridão, sua expressão era assustada.

— BARATA! – gritei e subi em sua cama. Minha mãe continuava gritando e também se sentou no colchão.

— Vocês querem me matar de susto?! – ele gritou, ralhando conosco.

— Vai matar aquela coisa! – ordenei a ele. – Vai logo!

Jorge balançou a cabeça, exasperado, mas foi.

— Era uma barata mesmo?! – mamãe disse, estridentemente.

— Sim, você não viu?! Ela estava no cobertor, próxima do seu ombro! – seus olhos se arregalaram.

— Não, eu só ouvi você gritando e gritei também. – revirei meus olhos para Paula. Jorge estava voltando.

— Matou aquele bicho do demônio? – perguntei.

— Você estava vendo coisas, não vi barata nenhuma lá! – respondeu, mal-humorado.

— Não é minha culpa que você seja cego! – gritei.

— Fala baixo, quer acordar os vizinhos? – ele brigou comigo. Sinceramente, eu já havia acordado o quarteirão inteiro com meus berros, então pouco importava se eu mantinha meu tom agora ou não.

— Então volta lá e acaba com aquela coisa! – gemi. – Não vou conseguir dormir se a barata continuar viva, e se eu não dormir, nenhum de vocês também vai!

Meu padrasto suspirou com a minha ameaça e escutei seus passos no corredor, voltando para o quarto da minha mãe, e bem, dele também.

— É sério, não tem nada aqui! – gritou de lá. – Tem certeza do que viu?

— Absoluta! E é gigante! – minha mãe estremeceu do meu lado.

— Ai, e agora?! – gemeu. – Ela estava no meu quarto!

— E que permaneça lá até o frouxo do seu marido conseguir apanhá-la. – falei, revirando meus olhos.

— Onde eu vou dormir?! – continuou se lastimando. Dei de ombros e sorri. Rapidamente, eu estava rindo da situação.

Lágrimas ensopavam meus olhos e meu riso ficou mais estridente. Eu me lembrava da cara que meu padrasto fizera. Aposto que ele pensou que fosse um ladrão. Mas, sinceramente, até parece que eu iria gritar se fosse um. Tomar um tiro no meio da testa não era a minha meta para esse ano.

Minha mãe também começou a rir.

— Qual é a porra do problema? – meu irmão veio até nós, irritado. Dava para ver que ele estava dormindo ainda há pouco.

— Uma barata. – Paula estremeceu. Com muito esforço parei de rir.

— E vocês estão gritando por causa desse bicho? – seus olhos tinham uma expressão estranha. Era uma mistura de irritação, mas no fundo eu via que ele se divertia com tudo aquilo.

— Somos garotas, Tiago. – falei. – Temos medo e nojo dessa coisa cascuda.

Minha vez de estremecer. Meu irmão revirou os olhos.

— E cadê o animal?

— A barata? – mamãe franziu a tez.

— Não, o seu marido.

Ri da piada até ver que ele fazia uma careta. Parei novamente e meus olhos lhe perguntaram qual era o problema.

— Estou falando sério. – ele murmurou. Sorri e indiquei a luz na outra ponta do corredor.

— Está tentando achá-la.

Tiago saiu do quarto em que estávamos e se dirigiu ao do casal. Levantei-me e vi que ele também estava procurando. Não trocou nenhuma palavra com nosso padrasto, que revirava as cobertas.

— Achou? – perguntei. Sentindo-me um pouco mais corajosa, me aproximei da porta do quarto onde os dois estavam caçando o animal.

— Katie, cuidado! Está nos seus pés! – meu irmão avisou.

Gritei feito uma menininha e sai correndo. Quando já estava de volta ao quarto de hóspedes, perto da minha mãe, vi que o bastardo ria. Imbecil!

— Você me paga! – gritei, puta de raiva. Paula sorriu um pouco.

— Nada?

— Nada. – murmurei e então falei mais alto para que os dois homens da casa pudessem escutar: — Porque eles são uns cegos e tem medo de encontrar o inseto!

Eu poderia jurar que ambos estavam revirando os olhos.

— Vem procurar então, ô, corajosa! – Tiago provocou. Eu lhe mostraria o dedo do meio nessa hora, mas ele não conseguia me ver, então apenas ignorei.

— Puta que pariu... O pior é que ela está certa. – meu padrasto disse e eu revirei os olhos. Óbvio que eu estava certa, pelo amor de Deus!

— Cadê? – ouvi os passos de Tiago e depois um baque. – Barata desgraçada!

Corri e fechei a porta. Se ela entrasse aqui eu berraria até que desmaiasse. E se eu caísse dura, as chances de ela subir em mim eram muito maiores.

— Mata logo! – minha mãe gritou, ainda assustada.

Escutei mais barulhos e me encolhia em cada um. Esperava que eles estivessem matando a barata, e não a si próprios. Depois de uns dois minutos, acabou. Meu irmão abriu a porta do nosso quarto e deu um sorriso vitorioso.

— Matamos! – declarou.

— Parabéns! Quer um biscoito? – ironizei. Ele mostrou a língua para mim.

— E o corpo? – mamãe lhe perguntou.

— Jorge está cuidando dele. Você já pode voltar para lá. – disse.

— Você vai trocar a roupa de cama, né? – torci meu nariz. Eu não dormiria em um lugar onde aquelas patinhas sujas tocaram.

— É óbvio, né? – Paula rolou os olhos. Nossa... Até minha mãe estava atacada hoje!

— Bom, vou dormir. – anunciamos meu irmão e eu ao mesmo tempo. Sorri com carinho para ele, que apenas encolheu os ombros e foi para o seu quarto, trancando a porta depois de passar.

— Boa noite, mãe. – falei e fiz algo que surpreendeu a nós duas. Inclinei-me e beijei sua bochecha. Ela corou e sorriu, completamente feliz.

Também fui para o meu quarto e encostei a porta. Quando voltei a me deitar, comecei a rir, tomando cuidado para que não soasse muito alto. Eu já fora estridente demais por hoje. Só parei quando ouvi vozes irritadas.

— Então por que nos casamos?! – minha mãe perguntou. Prendi a respiração. Era quatro da manhã e os dois estavam brigando!

Levantei-me da cama e abri a porta. Graças ao Senhor ela não rangeu. Daquele modo, as vozes podiam ser ouvidas com mais facilidade. Jorge retrucou:

— Não sei, mesmo. Eu não queria nem casar! – pisquei, chocada.

— Eu faço tudo e você não reconhece isso! Deixei de passar tempo com meus filhos, deixei de fazer minha unha, comecei a cozinhar todos os malditos dias e para quê? Você não me dá valor!

— Qual é o problema de fazer comida? É o mínimo que precisa ser feito quando se casa! Se não queria ser doméstica, eu é que te pergunto, por que casou?

— Não sei! – ela gritou. Ambas de nós sabíamos muito bem o porquê. – Mas já me arrependo disto!

— Quer o divórcio? É só pedir! – Jorge também aumentou o tom de voz. Pela minha visão periférica, notei que a porta do meu irmão também estava um pouco aberta. Mordi os lábios e voltei a escutar.

— Vai achar outro marido que te aguente, vai! – a televisão da sala foi ligada e apenas escutei passos apressados subindo a escada. Fechei a porta com cuidado, mas rapidamente. Quase correndo, me atirei para debaixo das cobertas e coloquei meus fones de ouvido.

Fechei os olhos e tentei apenas pensar na música. Claro que não consegui e escutei a porta do meu quarto sendo aberta e logo após, fechada. Continuei fingindo que dormia.

Subitamente, eu comecei a me sentir mal e todo aquele riso mais cedo me pareceu estranho.

Não sei o que deu em mim, mas quando ouvi seu choro baixo saí correndo e fui até seu quarto. Eu não deveria me meter, só que não conseguiria ficar ouvindo minha mãe chorar. Entrei e encostei a porta, subindo na cama com a roupa de cama trocada e cheirosa.

Somente a abracei e deixei que sua cabeça se recostasse em meu ombro. Eu queria suspirar, porém não o fiz. Doía-me ver minha mãe nesse estado, mesmo que ela fosse uma criança teimosa e cega, que deixara de se importar com muitas coisas, inclusive comigo. No entanto, ela era minha. E ninguém poderia deixá-la desse modo.

Observei as horas no relógio mudarem e tentei imaginar o quanto de minutos faltava para o fim do mundo, torcendo para estar errada, pois me parecia que ele ocorria agora.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Gostaram? Odiaram? Tá um lixo que nem eu? Digam-me!!!
Então... como eu amo todos vocês (não, não é puxação de saco... eu realmente amo vocês!!!), decidi postar um bônus de Natal! Mas nada nesse estilo depressivo, porque ninguém merece, né? Pelo amor de Deus... Não no Natal. O bônus ficou pequeno (pouco mais de mil palavras, sim, eu já o escrevi) e leve. Ficou gostoso de ler, para quem é uma eterna criança, assim como eu. Tá fofo e eu acho que vocês vão gostar. Espero. Rezo. Torço meus dedos para. *risos*
Só não sei se o posto dia 24 ou dia 25... Se eu conseguir, eu posto à meia-noite... Depende de onde eu vou passar e se lá terei meu lindo note comigo. Pelo que tudo indica, vou ter... A não ser que minha mãe e seu marido tenham feito às pazes (não moro com a minha mãe, então não há como eu saber antes de ir para lá)... Se fizeram... Hm... Aí eu posto ou dia 24 ou dia 25, mesmo.
Ah... Essa história foi real, tá? Aconteceu com minha mãe - quem manda deixar a sacada aberta num dia quente? - (ainda bem que ela nem sabe que eu tenho conta no Nyah! Fanfiction) e eu berrei mesmo feito uma garotinha. Mas as semelhanças acabam aí kkkk
Tá, e agora deixa eu calar a minha boca porque isso ficou grandinho.
Beijinhos, Apple Pies! E caso só nos vejamos dia 25, uma boa véspera de Natal! Não se esqueçam de encher a pancinha com coisas gostosas, ok? Uma vez na vida não irá te matar. É saudável não ser saudável (e eu definitivamente não serei uma boa médica >