City Of Lost Boy escrita por moonspell


Capítulo 2
Capítulo 2




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Eu não fiquei em cena esperando pela policia, seria difícil explicar o que aconteceu naquele beco e não podia me dar ao luxo da família Chaves achar que eu tinha alguma coisa a ver com o assassinato do menino de ouro deles.

Toda vez que eu ligava a televisão, lá estava novamente. O crime do ano, incrível como pintaram André como vitima, o nome da Jena era citado muito raramente. Havia também um retrato falado da garota que o atirador estava procurando, não se parecia muito comigo. Pontos para mim por passar tão despercebida que ninguém foi capaz de fazer uma descrição decente. Ainda bem que tive o bom senso de pegar a foto antes de ir embora. Dois meses depois do acontecido e eles ainda falavam sobre isso.

Às vezes eu me pegava pensando no garoto de olhos negros, eram sentimentos misturados. Medo irracional e pena, eu não conseguia entender.  Talvez eu estivesse finalmente tendo um colapso nervoso.

Eu estava na biblioteca estudando jornais antigos, procurando por artigos sobre o assassinato de Gwen Schofield. Ela foi encontrada morta no banheiro do Hotel Plaza em 1990, seu marido, Adam Schofield, foi condenado pelo crime e dois dias depois da sentença, foi encontrado morto na sua cela, enforcado. Deixando Jules Schofield de 2 anos de idade, órfão.

Jules me achou por acaso, enquanto eu estava trabalhando em outro caso. Eu estava tentando descobrir quem era o ladrão da Rua Emment, acontece que era apenas um adolescente passando por uma iniciação em algum grupo idiota. Eu o conheci quando estava fazendo entrevistas com os moradores, ele achou interessante eu ser uma investigadora particular com tão pouca idade.  Na verdade eu não sou, você precisa fazer um curso para isso, eu sou mais como uma investigadora independente.

- O que você está procurando? – ele me perguntou do outro lado da sala. Estava folheando um livro de capa azul envelhecida. Usava um moletom vermelho e jeans, parecia mais jovem, mas ainda sim mais velho do que eu.

- Preciso saber mais sobre o caso, não é como se você tivesse muitas lembranças da época que tudo isso aconteceu.

Ele voltou para o livro, mas não estava prestando atenção nas palavras. Sua mente parecia estar muito longe. Ele tem uma teoria de que o seu pai não matou a sua mãe e que foi a dor de tê-la perdido e ser sentenciado à prisão que o fez cometer suicídio. Eu disse que o ajudaria, mas não dou muito credito a essa teoria. Sendo um caso relativamente recente, os arquivos não são de domínio público, por tanto preciso descobrir o nome do detetive do caso e um jeito de colocar minhas mãos nos relatórios.

- Você já fez isso muitas vezes? – ele perguntou sem tirar os olhos do livro.

- Sim, varias vezes. – Ele já me perguntou isso pelo menos três vezes. Acho que às vezes ele se esquece da minha idade e volta e meia se lembra, e se sente obrigado a fazer essa pergunta.

- E com bons resultados?

- Na maioria das vezes, sim.

Ele suspirou e colocou o livro de volta na estante, não de onde ele pegou eu percebi e sim da que estava mais perto dele.

- Isso é uma perda de tempo.

- Eu disse que você não precisava vir.

Ele suspirou ainda mais alto e se sentou na minha frente. Já era bem tarde e a biblioteca já estava vazia. Alguma coisa na atmosfera mudou, como uma onda passando.

- Você sentiu isso?

- A dormência? Sim, acho que o meu cérebro está se desligando.

Me levantei e olhei ao redor, mas tudo parecia normal.

- Se quiser ir embora, pode simplesmente... - Não terminei a frase, porque do nada, o garoto de olhos negros apareceu no meio da biblioteca. Não olhou para onde estávamos, era como se não estivéssemos lá. Eu estava surpresa, não havia lugar de onde ele poderia ter saído.

- De onde você veio?

Ele se virou e seus olhos se abriram em surpresa, não pareceu me reconhecer. Murmurou alguma coisa como Mundanos com visão e se apressou para sair.

- Espera! – Peguei as minhas coisas apressadamente e corri atrás dele.

- Onde você está indo? – Jules perguntou.

Eu alcancei Sebastian na porta da biblioteca, gritei o seu nome, mas não parecia que iria parar para falar comigo por isso joguei minha mochila nele. Isso fez com que ele parasse e se virasse na minha direção. Quando eu vi os olhos dele me dei conta do que tinha acabado de fazer, ele matou André sem nem ao menos hesitar e eu acabei de jogar minha mochila nele. Mesmo pensando nisso, fui em frente e falei:

- Não me ouviu chamar você?

Ele apertou os olhos e reconhecimento apareceu por todo o rosto dele.

- Você é a humana do beco.

- Não, eu sou a marciana do beco.

Por que ele insiste em me chamar de humana? E ainda faz de um jeito que parece estar falando de uma barata em cima do seu bolo de aniversário.

Jules me alcançou e ficou ao meu lado.

- Amigo seu?- ele perguntou.

Eu o ignorei, não tinha como explicar a situação. Sebastian se abaixou e pegou a minha mochila, eu hesitei por um instante antes de andar até ele e pega-la de volta.

- Você não devia jogar coisas nos outros, principalmente em pessoas como eu.

- Assassinos? – Eu sussurrei para Jules não escutar.

Ele sorriu e me beijou. Simples assim, num minuto estávamos falando sobre morte e no outro ele estava me beijando. Foi tão de surpresa, que deixei acontecer, mas tinha alguma coisa errada nesse beijo. Era violento, quando finalmente me recompus da surpresa, me afastei dele. Ainda estava sorrindo quando falou novamente.

- É o suficiente para você?

- Pelo que?

- Para me deixar em paz. – E passou pela porta.

Estava perplexa, ouvi Jules atrás de mim, perguntar se ele era o meu namorado. Eu o segui e quase o perdi de vista.

- Quem você pensa que é? – Eu gritei para ele, sem se virar me respondeu.

- Uma pessoa muito ocupada para ficar perdendo tempo com uma mundana estupida.

- Planejando matar mais alguém? Onde está o seu parceiro?

Ele se virou para mim e me segurou pelos braços, machucou, mas eu não disse nada. Tentei manter a expressão mais neutra possível. Os olhos dele, mesmo maldosos, pareciam tristes.

- Não é da sua conta onde ele está e se não quiser terminar como aquele verme do beco, para de me seguir. – E me soltou.  

- O matou também?

- Qual o seu problema? Eu poderia te matar aqui mesmo e ninguém notaria.

Eu olhei ao redor, a rua não estava cheia de gente, mas era impossível ninguém prestar atenção a um assassinato. Eu olhei de volta para ele, mas foi como da última vez. Um filme por cima do outro. Ele estava lá, me olhando com raiva e um pouco intrigado e ao mesmo tempo me olhava assustado e me mandando fugir.

- Algum problema Sara? – Jules tinha me alcançado e estava ao meu lado.

- Olha só, o príncipe encantado. O mundo parece estar cheio deles ultimamente. – Sebastian disse, parecendo amargurado.

Jules notou que ele pousava a mão nas costelas de uma forma estranha.

- Você está bem? – Ele perguntou. Eu segui o olhar dele e notei também como Sebastian estava curvado, seus cabelos estavam coberto de suor e ele estava muito corado, como se estivesse correndo.

- Estou mais do que bem, estou ótimo. – Ele sorriu novamente, ele faz isso muito, mas nunca parece sincero ou acolhedor.

- Você não parece bem. – Jules disse.

Aconteceu de novo, os dois filmes ao mesmo tempo. Os dois estavam discutindo, Jules queria leva-lo para o hospital e Sebastian basicamente estava mandando ir plantar batata, com palavras menos educadas é claro. E como se o mundo estivesse congelado, Sebastian estava falando comigo, melancolicamente.

- Ele é mal, se afaste.

- O que está acontecendo?

A voz de Jules e a do outro Sebastian se transformaram em ecos distantes, toda a minha atenção estava nesse Sebastian que falava comigo.

 - Você pode me ver, não o deixe saber, ele vai te matar.

- Quem é você?

- Eu não sei. – Ele parecia carregar uma verdadeira magoa, fazia o meu coração se apertar. – Christopher, meu nome é Christopher.

Lembrei-me do que ele tinha dito da primeira vez que nos vimos.

- Você precisa da minha ajuda. – Eu disse essa frase como se tivesse gritado Eureca. Isso o fez sorrir, mas era muito triste e só durou um segundo.

- Mas você não pode.

O mundo voltou a correr normalmente e tudo o que eu via agora era Jules e Sebastian.

- Se você tentar me tocar de novo humano nojento, eu mato você.

Jules desistiu de tentar ajuda-lo.

- Certo, faça como você quiser, eu lavo as minhas mãos. – Ele olhou para mim. – Quer que eu te leve para casa?

Eu pensei no que Christopher me disse, eu deveria ir embora com Jules e nunca voltar a pensar nele ou em Sebastian. Fazer uma tomografia e achar o tumor no cérebro que eu obviamente tenho, mas os olhos de Christopher, tão tristes, não podia abandona-lo. Tinha a sensação de que ele já passou por isso muitas vezes.  Olhei para as costas de Sebastian enquanto ele se distanciava de nós, ainda meio curvado, como se estivesse com dor.

- Não, obrigada. Eu tenho uma coisa para fazer, falamos sobre o seu caso amanhã. - Eu disse para Jules, ele pareceu ofendido, mas deu de ombros e me deixou ir.

Eu o alcancei rápido, ele estava tentando entrar numa casa pequena, se apoiou na parede antes de abrir a porta, deixando manchas vermelhas ali. Antes dele conseguir fechar a porta, eu a empurrei e entrei na casa logo atrás dele.

- Hei! O que você pensa que está fazendo?

Antes que eu pudesse responder, ele caiu de joelhos na minha frente. Eu tentei segura-lo e impedir que ele caísse no chão, mas ele era muito pesado. Ele caiu por cima de mim e ficou mais pesado, ele tinha perdido a consciência eu percebi.

Não tinha telefone à vista na casa e o meu celular não estava pegando, abri a porta para procurar sinal do lado de fora e quase tive um ataque do coração. Eu não estava mais em NY e sim no meio de uma floresta. Eu sai para ter certeza e sim, a casa que minutos atrás estava em uma rua de NY, agora estava no meio de uma floresta. Deve ser um tumor muito grande esse que eu tenho.

Voltei para dentro da casa e virei Sebastian no chão. Ele parecia pálido, sua pele e cabelo pareciam quase da mesma cor. Cuidadosamente levantei a jaqueta de couro que ele usava e me deparei com uma mancha enorme de sangue na camisa dele. De dentro da minha bolsa tirei uma tesoura e cortei a roupa dele, deixando a mostra uma ferida profunda na altura das costelas, que ia do lado direito até a metade do tórax dele. Preso ao cinto dele tinha um graveto prateado, que coisa estranha para se carregar.

Ele ainda respirava, corri pela casa atrás de um balde de água e toalhas. Enchi uma vasilha grande que achei na cozinha com água gelada e peguei duas tolhas pretas do armário. Tentei parar o sangramento pressionando as toalhas no ferimento, ele gemeu de dor, mas não abriu os olhos. Finalmente conseguir parar o sangramento, mas não era o suficiente, ele precisava de um hospital. Comecei a me levantar para ir tentar a sorte na floresta quando fui parada por uma mão gelada no meu pulso, me puxando para baixo.

- O que você fez?- A voz dele estava fraca, mas seus olhos nunca deixaram de serem ameaçadores.

Eu estava certa que não foi culpa minha que a casa tinha se teletransportado, mas não tinha como eu explicar isso sem parecer maluca, ele que visse por si mesmo onde estávamos.

- Eu parei o seu sangramento, mas você precisa de um médico.

Ele riu e pegou o graveto prateado que eu tinha visto antes, desenhou uns símbolos perto do ferimento e como num passe de magica, ele começou a se fechar. Ele se levantou com dificuldade, mas ainda sim era um andar predatório, e jogou a toalha suja de sangue na pia.  Ele tinha o corpo muito bem definido, devia ser um daqueles maníacos por malhação.

- Agora humana, pode me explicar o que você está fazendo na minha casa?


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