Mft - The Adventure escrita por Larissa Amorim


Capítulo 2
O Arqueiro




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Mesmo depois de colocar a cabeça no melhor travesseiro de palha do mundo – feito por sua mãe – Fipha não conseguia dormir.

Levantou-se e começou a engatinhar pelo chão, como se procurasse algo. De fato, procurava.

Havia uma portinha no chão, que não abria a menos que seguisse essa sequencia:

Empurrar, puxar, empurrar, empurrar. Uma engenhoca inventada pelo professor Silver, cientista louco nas horas vagas. Toda tarde.

Essa mini passagem secreta caia exatamente na parte decrescente do morro onde fora construída a casa de Fipha. Escorregando pela grama molhada de orvalho, chegava-se em 30 segundos ao quintal de casa de Mahana.

Mahana também não conseguiu dormir. Estava sentada num balanço de cipó, pensativa.

– Não consegui dormir? – perguntou Fipha.

– Eu consegui.

– E aí?

– E aí tive um pesadelo e não peguei mais no sono. – Torceu o lábio.

– Sei como é...

Fipha sentou-se ao lado da árvore, num tronco velho.

–Triste? – perguntou.

– Não sei... – pensou – eu não posso dizer que exatamente gosto do Teor. Mas também não é como se exatamente odiasse...

– Pois eu odeio. – brincou Fipha.

– Mesmo?

– Não – riu – mas ele age como se odiasse todo mundo. É um grande idiota.

– É verdade...

E elas passaram mais um tempo ali, divagando bobamente sobre um zilhão de coisas bobas. O dia amanheceu, mas nenhuma dormiu.

Naquela manhã, quando passaram novamente pela velha casinha de argila da tarde passada, encontraram Teor no portão. Meio que sem opção, os três seguiram juntos e desconfortáveis.

–Então – Fipha pigarreou – dia bonito né?

Trovão.

– Bonito que nem você! – Teor zombou.

Foi aí que o clima fechou de vez. Seguiram até a escola calados, olhando cada um para um canto.

A aula prosseguiu como de costume. Ninguém dava importância ao que Silver explicava, Teor fazia palhaçada, Fipha rebatia, Mahana observava e o resto da sala ria. Tudo na mais perfeita normalidade.

Então, faltando alguns minutos para o fim, aconteceu algo que mudaria pra a vida das três crianças.

Um homem alto, loiro e encapuzado, trazendo consigo flechas e zarabatanas adentrou a sala sem aviso. Simplesmente abriu a porta e disse:

– Onde está meu irmão? – perguntou, apontando para o professor.

“Irmão?” “Quem é esse louco?” “Aquilo nas costas dele é real?” “Que medo!”

O murmurinho na classe ficava cada vez maior, enquanto o professor apavorado gaguejava sem conseguir entender muita coisa.

Foi então que isso aconteceu:

– THOOOOOOOOOOOOOOOR?! – exclamou Teor, levantando furiosamente – é você, não é, maldito?

– Teor, vejo que continua enérgico!

– Enérgico é o caramba! – a sala se encontrava fixa nos dois, chocada – Você some por três anos, correndo atrás de um livro idiota, finalmente retorna e isso é tudo que tem a dizer?

– Bem... você cresceu! – piscou.

– Maldito!

Teor estava prestes a voar no pescoço de seu irmão mais velho, quando Silver interrompeu dizendo que assuntos de casa devem ser resolvidos em casa.

Os dois saíram.

Silver tentou continuar a aula, mas agora seus alunos lhe davam menos atenção ainda.

Do lado de fora, contas de três anos atrás seriam resolvidas.

– Mas o que diabos você tem nessa cabeça? – gritou.

– A força... A busca insaciável pelos poderes do Grande Livro! – fez uma pose estranha, como se adorasse algo.

– A mãe e o pai... – olhou com repulsa para o chão, com as mãos em punho.

– O que aconteceu?

– Eles gastaram tudo que a gente tinha procurando você!

– Eu nunca quis ser procurado... – Assumiu uma expressão triste.

Teor deu-lhe as costas e foi embora. Thor, seguindo-o, passou o caminho inteiro tentando puxar assunto, mas o garoto simplesmente ignorou.

Quando chegaram a casa, Teor passou primeiro e bateu o portão, impedindo seu irmão de entrar.

– Eu sou seu irmão! Filho deles! Quero falar com meus pais que não vejo há tanto tempo.

– Pensasse nisso antes de sumir no mundo.

Teor deu as costas, e quando já estava quase dentro de casa, ouviu:

– Eu tenho algo pra te contar!

– Algo sobre quanto dinheiro você fez nossa família perder? Obrigado, mas eu sei cada moeda.

– Não! – insistiu – Algo sobre o que eu achei!

Teor parou para pensar por alguns segundos e concluiu que até mesmo um irresponsável como Thor não passaria três anos apenas procurando algo. Talvez tivesse julgado mal seu irmão. Talvez ele trouxesse consigo um grande tesouro, que mudaria a vida de sua família por completo.

Com isso em mente, Teor voltou cabisbaixo até o portão, mas não foi inocente a ponto de abri-lo.

– Mostre – sussurrou.

– Mostrar?

– É.

– Mostrar o que?

– O que você encontrou, oras!

– Eu não trouxe...

Deu as costas.

– Não, ei! – gritou, quando Teor novamente estava quase dentro de casa – Eu não trouxe porque não é algo que posso fazer sozinho.

– Como assim? – virou.

– É algo que só vamos conseguir juntos! Nós dois! Por isso voltei.

– É pesado?

– Muito!

– Valioso?

– A coisa mais valiosa do mundo!

O pequeno elfo voltou quase que instantaneamente ao portão. Sua mente estava cheia de baús transbordando de moedas douradas e potes de água.

– Tem certeza que podemos conseguir isso?

– Claro! Eu vi com meus próprios olhos!

– Você não tem a intenção de fugir com ele e nos deixar de novo, não é?

– Ora garotinho! Ao menos uma vez, confie em seu irmão.

– Se é assim... – abriu o portão – de uma forma ou de outra, são seus pais, vão querer te ver. E sobre isso... Encontre-me meia noite no parque dos cipós. Eu pensei melhor... Não posso deixar você nos dar mais prejuízo. Vamos trazer isso logo.

– Eu sabia que não me decepcionaria! – passou o braço pelos ombros do irmão.

– Ei! – reclamou – Sem contato, sem contato!

E foi assim que surgiu um dos mais felizes mal entendidos da história élfica do norte.



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Notas finais do capítulo

Segundo capítulo. A história "engrena", toma seu rumo real agora. Comentários para incentivar?



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