Cordas Sem Som escrita por Asuna


Capítulo 1
†Capítulo 1† - O encontro.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem ~ :D
Comentários por favor ~ >.



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O ar estava mais leve, a paisagem era sempre a mesma de todas as manhãs para Emily, a cor laranja tomava conta das nuvens e o silêncio acompanhado da calma pairava sobre aquele lugar.

–Falta só 7 segundos... – aquele cronômetro em sua mão parecia cada dia mais duro de apertar. –

Emily ajeitava sua guitarra, pendurada sobre as costas por uma capa de couro, cuidadosamente guardada. A inquietude transcorria por seus dedos que batucavam sobre aquele instrumento controlador do tempo tão frágil.

O contador havia iniciado.

Por um instante havia saltado do telhado de sua casa e atravessava o terreno vago que cobria o caminho pela frente, quase em saltos para alcançar o ônibus escolar a tempo – pelo menos a tempo do seu último recorde de chegada. - e ao mesmo compasso mantinha a atenção voltada para o morador misterioso da casa ao lado. Seria puro azar o encontrar nesta hora.

O calafrio decorria seu corpo ao olhar, mesmo que por um instante, aquela casa tão arruinada e caída aos pedaços, como se não houvesse nenhum dono.

Não era hora de se preocupar com isso.

Não muito longe dali, havia um garoto jovem, de 15 anos, cabelos loiros e lisos, seu cumprimento passava do ombro e morria logo dois dedos depois. Uma pele branca e lúcida como porcelana, não havia sequer algum defeito. Seu rosto era delicado e inocente, qualquer um que o visse de longe poderia o confundir com uma garota. Havia os olhos puxados e sem cor. Media 1, 75. Mas suas atitudes eram dignas de um garoto, sempre desmazelado.

–Eu não quero acordar para ir pra escola! – reclamava sozinho, enquanto ouvia-se um barulho de despertador as alturas pelo quarto, e o mesmo estava extremamente desanimado, tentava descontar sua raiva no travesseiro enquanto o ajeitava para voltar ao seu sono.

Inquieto, pouco tempo depois, bateu forte no despertador com fúria de ter que despertar tão cedo e por fim o quebrou. O relógio apontava 06h30min da manhã, o horário que deveria se levantar a semana inteira para se arrumar rumo à escola – virou-se para o outro lado se cobrindo, não estava nenhum pouco preocupado com o tempo.

Emily carregava ao lado de seu corpo franzino de uma cor branca como a neve um skate, que parecia dificultar tudo em sua corrida, mas que não poderia voltar sem ele. Apesar de quase sempre não conseguir chegar antes que o ônibus se vá, dessa vez ela o alcançou a tempo de consegui colocar um dos meus pés para bloquear a fechada da porta. O seu tempo não lhe agradou, antes teria conseguido correr mais rapidamente, atingindo o tempo de 14seg, antes que a porta se fechasse, hoje ela teria chegado com muita sorte aos 16seg.

Emily tinha 15 anos, era sempre uma garota competitiva que gostava de testar seus limites, estava sempre arrumando um jeito de se superar em todas as coisas. Antes de ir para escola sempre subia no telhado e avistava o ônibus chegar, e pouco tempo antes passava disparadamente pelo terreno vago em frente, que vivia cheio de obstáculos. Essa era sua atividade física de manhã. Apesar de seu jeito delicado e refinado de agir, seus longos cabelos pretos que se estendiam até os joelhos, sempre partidos no meio, amarrados por dois laços, Emily havia um comportamento bem distanciado de uma garota qualquer, podia ser bem tímida e serena, mas na maioria do seu tempo agia como a maioria dos garotos, gastando ele com vídeo games, animes, músicas pesadas, seu treinamento árduo com a Guitarra, dormindo e até jogando futebol. Só quem a conhecesse de perto poderia reparar esse seu outro lado, quem não a conhecia, apenas a dedava como uma garota bem meiga. Emily havia os olhos sedutores, de um azul que ultrapassava a cor do céu, aqueles de vidrar a atenção de qualquer um. Media 1,68.


–Ei, Saito acorda já está na hora... – Nick, seu irmão mais novo, adorava o irritar e sempre que podia ia até seu quarto o importunar com uma voz que cantarolava irritantemente - você vai perder a aula...

Nick, 3 anos mais novo que seu irmão, com a pele clara, não mais que a de Saito. Olhos puxados como a geração de sua família inteira, de uma cor castanha como mel. Um cabelo de dar inveja, macio como seda com a cor de um marrom impecável. Nick conseguia ser irritante na maioria do seu tempo e amava pregar peças em seu irmão.

–Ei! Deixe-me, quando eu quiser ir, eu vou... – Saito falava com a voz roca.

–AAAAAAAH! – O grito se estendeu pela vizinhança inteira, até espantando os pássaros ali por perto. Desesperado, ele se levanta rapidamente com a água fria que seu irmão acaba de jogá-lo por meio de um balde. -

–VOLTE AQUI, EU VOU TE PEGAR!- gritava furiosamente tentando pegar Nick com as mãos, mas ele saiu correndo sem que tivesse conseguido o alcançar.

Saito se sacudia que nem um cachorro molhado, ele realmente odiava as peças que seu irmão o pregava.

–Primeiro dia de aula e isso têm de acontecer, ninguém merece! –resmungava sozinho.

Quando terminou de se trocar, sua mãe o avisara aos berros do andar de baixo:

–Saito, não se esquece de colocar o colchão no sol!

O que? Como ela sabe? Ela que havia o mandando jogar aquela água fria em mim?

– Ma-ma-mãe, você que o mandou fazer isso? – Saito tentava controlar sua raiva, mas logo em seguida estava gritando do andar de cima sem perceber.

Coçava a cabeça enquanto pensava em algum para despachar aquele colchão, deveria ser algo que pudesse vingar de seu irmão.

A onde?

– Não esperava que eu mesma fosse ai em cima, não é? Sorte sua que sua irmãzinha ainda está dormindo.

Pior que era mesmo sorte, se não ele acabaria indo maquiado hoje para escola.

Saito pegava o colchão sem esforço e ia empurrando ele pela escadaria até chegar ao cômodo de baixo, o deixando de lado depois. Ele resolvera deixar sua vingança pra mais tarde.

Logo em seguida foi para grande mesa do café da manhã, que ficava no centro de toda casa, olhou o relógio e era 06h48min e a aula começava 07h10min. Não se importou e voltou sua atenção para a mesa coberto por merendas. Mas nada o agradava, sempre acordava sem fome.

–Hm... Grande coisa - refletia sozinho sobre o tempo revirando os olhos.

†††

Emily procurava seu lugar pelo ônibus e escolheu um perto da janela, assim que sentou, levara os olhos ao seu reflexo, quando percebeu que todos a olhavam.

Onde andava, deveria causar algum tipo de medo naqueles estudantes, por pensar que ela seria um tipo de garota valentona, pois não havia nenhuma amizade naquela escola até hoje ou uma snobe por ser talentosa demais. Isso era resultado de tantos boatos que vagavam por ai.

Mas oque Emily mais odiava, era o excesso de orgulho em alguém, como alguns valentões da própria escola que frequentava. Eram aqueles que saiam batendo nos menores, os que tinham um nível social mais baixo ou simplesmente aqueles que tinham algo que não os agradava. De qualquer maneira ela nunca pensava em ser assim.

–Oi, pos-so... M-e... Me, senta-tar... Aqui? –A voz tremula e desconhecida vinha de um novato à sua direita que carregava um baixo nas costas, o olhou e disse sem interesse:

– Sente-se.

–É, é... Você é a-a-a, expert ? – Emily o olhava friamente, mas nada dizia. Preferia continuar a olhar a paisagem de fora do que dar moral a aquele garoto.

Mal chegou à escola e já está sabendo demais.

–Vo-vo-cê pode me-me ensinar algo de-depois?- Ignorava a sua pergunta, tentando se distrair com as figuras por trás da janela.

Porque ensinaria guitarra se ele toca baixo?

O novato continuava insistindo na conversa.

–Então é-é, voc... – Assim como todos os garotos, Emily já saberia qual seria sua pergunta.

Ela o interromperá:

– Não! – sua voz ecoou pelo ônibus. –

Eu não saio com qualquer um. Tsc.

–Ah! Eu nunca dou sorte com as meninas... – O desanimo o tomou conta, indagando tais palavras com o olhar morto para o chão. Parecia ter parado de ser gago logo.

Emily o espiava pelo canto dos olhos.

Esses garotos realmente me irritam.

Voltava a reconhecer o caminho da escola, estavam quase chegando.

†††

– Mãe, estou indo para escola. – Saito alertava-a enquanto se retirava em passos leves de sua casa.

– Tchau! Não se esquece de que quando chegar, colocar o lixo para fora! – Saito havia ouvido antes que conseguisse fechar a porta.

– Argh! Ela sempre tem que dizer isso?- Seguia o caminho despreocupado enquanto jogava seus pés para o alto, entediado.

É eu vou chegar atrasado sim... Quem se importa? O dia está ótimo para ser desperdiçado com tanta bobagem.

Emily saia disparadamente do ônibus, tentando chegar a sua sala antes que o sinal batesse, eles haviam chegado em cima da hora por culpa da lerdeza daquele motorista no primeiro dia de aula. Passava pelos enormes portões que se esticavam ao alto por um conjunto de colunas finas feito com ferro e as pontas agudas, aquele portão e toda grade que cercavam as redondezas da escola se mostravam desgastadas, pelo longo tempo que já estavam ali. O jardim verde e bem cuidado que tomava conta de quase todo o pátio sempre esteve lá, ele dava a escola um ar mais agradável, preenchido pelas mais diversas flores que Emily gostava de observar.

Assim que passava pelas portas de acesso para dentro da escola, voava pelo corredor largo e espaçoso com o chão banhado a mármore, que dava caminho a todas as salas do 1° ano, enquanto procurava pela sala 300B. Assim que a encontrou percebera ao olhar por dentro que havia 38 pessoas ou mais, e a maioria já havia conhecido.

Será que vai entrar alguém interessante esse ano?

Essa era a pergunta que corria pela cabeça de todos nesse momento.

Emily estava demasiada ansiosa para fazer alguma amizade. Naquela escola ninguém fazia o tipo de Emily, todos eram monótonos e iguais, sempre andavam em grupinhos. Agora alguém que queira ser seu amigo era diferente.

Emily já sabia oque iria acontecer assim que colocasse o primeiro passo naquela sala, atrairia a atenção de todos. Aqueles que estavam perdidos em tanto assunto e conversa, teria parado para lhe observar e logo que se sentou na terceira carteira em uma fila que ficava um pouco perto da janela, começaram os rumores. Emily teria escolhido um lugar não chamativo, que pudesse se misturar em meio de todos quando começasse a aula.

Logo a chegada de um homem alto, da pele morena e os olhos escuros os silenciara.

–Bom dia Alunos, eu sou Leonardo, o novo professor de Guitarra de vocês – com a voz animada tentava agitar toda a sala enquanto entrava. Ele era aparentemente velho, cabelos que iam até o fim do pescoço e dedos bem desgastados, dignos de quem praticava muito.

–Temos seis alunos novos este ano! – fazia gestos carismáticos, jogando sua cabeleira para trás enquanto olhava sua lista de chamadas sobre a mesa.

Só isso?

Emily pensava desanimada.

Talvez se houvesse entrado mais pessoas, minhas chances de ter um amigo seriam maiores.

†††

Meu deus! Estou correndo para não chegar atrasado!

Saito passava pela grande porta da escola a tiros, pegando o papel desgastado e frágil, que estava ali por um bom tempo no bolso de sua calça jeans retalhada e o lia com o número da sala gravado sobre ele, 300B.

–Ah, aqui esta ela! – mal teria decifrado os números da placa e já ia dando um passo a frente.

Bom tomara que não danem comigo, senão o lixo que era para eu catar hoje, vai se multiplicar...

Respirava fundo parado em frente da porta larga de madeira branca fechada, tentando criando coragem para abri-la, quando levou sua mão até a maçaneta e a girou abrindo com toda sua força.

Saito estava querendo marcar uma boa impressão.

"STRAAAAAAAASH!"

O som agudo de um vidro se estraçalhando pelo chão ecoou pelo seus ouvidos. Torcia sua boca levando seu corpo a se encolher avistando o estrago que havia feito e ao mesmo tempo sentia o seu rosto ferver.

–Droga... – resmungava para si mesmo. A professora que estava dando aula, parou e o encarou apavoradamente com os olhos vidrados.

–Oun... acho que...você entrou na sala errada...-Se dirigia a Saito com a sobrancelhas erguidas, tentando manter a calma, mas mostrava raiva pelos nervos a flor da pele em seu rosto. Quando Saito parou para observar em volta, havia muitos pianos.

–Hehe...foi mau! – um riso sem graça e um pedido de desculpas foram as únicas reações capazes de Saito.

–Ér... O número da sala de guitarra é 300B, esse é 3000B.- A professora reparara no formato de uma guitarra por trás de Saito .

–A...a...aaa..- colocava a mão na cabeceira da porta tentando disfarçar meio sem jeito e logo já estava correndo pelo corredor, dava para se ouvir multidões de riso disparados vindo daquela sala segundos depois.

Passava pelos corredores a pulos e olhava para trás apavorado, observando se vinha alguém e para sua sorte, nada.

– Então vamos fazer a chamada? - dizia o professor interrompendo o falatório dos alunos enquanto olhava sua folha e começava a citar os nomes, até que havia chegado ao nome, Saito.

Ah! Deve ser um aluno novato, e pelo visto é Oriental.

Vários rostos se passaram na mente de Emily, um garoto, e varias personalidades também. Emily fantasiava, talvez, sua futura amizade.

–Hum... Parece que ele faltou, não? – Leonardo dizia ao conferir, olhando para toda sala.

Saito havia passado pelos corredores e chegado finalmente na porta da sala certa, que ficava bem no termino de um deles, onde uma janela enorme iluminava com o sol fraco todo aquele espaço vazio. Bateu na porta mesmo estando aberta.

–É... essa daqui é a sala de Guitarra?- olhou para todos que estavam ali, percebeu que havia muita gente, e dessa vez com guitarras ao lado delas.

Uma tontura domou a cabeça de Emily e por vez o seu corpo, tudo havia ficado zonzo por uns instantes como se algo muito forte tivesse a d’ estruturado.

Emily ignorou.

–Isso mesmo... er... Você é quem? – O professor estava surpreso com a aparência do garoto, tanto quanto Emily. Era realmente difícil achar pessoas com o mesmo estilo que ela carregava.

–Saito Kazuhiro. - respondia mordiscando os lábios ao colocar as mãos no bolso, se sentindo mais confortável.

Hum... Esse então é o Saito... Quero ver sua capacidade para tocar. – Emily dava um sorriso maléfico.

–Pode se sentar ali, naquela fileira perto das prateleiras da parede, a segunda na terceira cadeira.

O professor falava com Saito enquanto ele só concordava.

Parece que ele não faz muita questão de ser o exemplar, chegando nessa hora.

Pensava Emily.

Saito concordou com a cabeça e se sentou no lugar tirando sua guitarra de suas costas, onde estava pendurava por uma capa resistente, e a colocando do seu lado apoiada no chão. Seu rosto o mostrava nervoso pensando no estrago que havia feito.

O que iria acontecer comigo depois?

Refletia Saito.

Bufou pensando nisso tudo, balançando a cabeça no sentido negativo enquanto começava a colocar ela no lugar, na aula.

–Com licencia, aqui é onde esta o aluno Saito Kazuhiro? – Um senhor, trajado socialmente, carregando em seu paletó o símbolo da escola, mantinha um ar de autoridade e importância. Ele havia aparecido na porta poucos segundos depois, Saitou olhou imediatamente para a porta, com o coração a pulos sentindo seu corpo por completo gelar. Era o diretor da escola e estava procurando por ele.

–É sim, ali esta ele - O professor com seu sorriso inocente indicou o dedo para Saito.

–He-he, oi?- a cada minuto que passava se sentia mais monossílabo.

–Ah! Então... – Os olhos do diretor passaram pelo corpo de Saito, e como a maioria, depois de analisar o estilo, deveria de estar convencido de que era só mais um delinquente - você que quebrou o vidro de exposições na sala de piano, 3000B? Pode me acompanhar, por favor? -

Com aquele tom de voz, qualquer um saberia que a bronca não seria pouca. Saito ficou tão apavorado, que se olhasse em volta perceberia que todos o assistiam com pavor também, enquanto outros seguravam para não rir.

Idiota, primeiro dia de aula e já se dá mal.

Emily o esculachava mentalmente, enquanto continha sua enorme vontade de rir disparadamente, com as mãos. Seu rosto estava vermelho de tanto tentar calar seus risos.

O diretor percebendo tal reação a chamou:

–Senhorita Emily, gostaria de acompanhá-lo? Para a diretoria? Creio que lá você vai poder rir a vontade.

Agora sim, não precisava tampar sua boca para não rir, ele acabara com a graça.

Saiu do seu lugar com postura e caminhou com o queixo reto até a diretoria, seus cabelos pesados e compridos eram balançados para lá e para cá.

Sem olhar para ninguém foi andando a caminho.

Essa menina estava rindo de mim, ela pensa que é quem? – Saito pensava.

Saito olhava para ela, que o ignorava totalmente. Reparava nos laços que prendiam seus cabelos e o seu jeito de caminhar. No caminho inteiro à diretoria carregava um frio na barriga. A sala da diretoria era grande e cheio de detalhes, fotos de rostos desconhecidos nas paredes e sempre havia uma janela enorme para iluminar o espaço inteiro, parecia que economizavam energia, utilizando somente a luz natural em todos os ambientes.

Sentou-se em uma poltrona forrada com um veludo vermelho, ao lado da Onna.

Emily teria ganhado o apelido de Onna por todos que a conheciam por alguns anos como fanática pela cultura oriental.

Onna resolveu o olhar, e tirou a conclusão de que ele parecia não ligar para nada mesmo, pois suas expressões eram desinteressadas e tomavam seu rosto inteiro.

O diretor se pôs a frente deles, que atraiu o olhar de ambos.

–Então Saito, chegou atrasado, quebrou o vidro... – Saito havia o interrompido sem hesitar com uma segurança enorme.

–Sobre o vidro foi uma acidente, creio que isso não acontecerá de novo - falava friamente, não estava acostumado a ir para diretoria - saiu do lugar e foi para sala, estava pouco se importando com o que vinha depois.

–Vai mesmo me punir? – Emily impaciente olhava para o diretor com cara de desinteresse.

–Não. - com cara de nojo já a despachava.

–Fui. - revirou os olhos se apoiando nos braços da cadeira para levantar, e logo se retirou. O diretor parecia satisfeito com a atitude do Saito, e só teria chamado Emily à diretoria para fazer um bom exemplo, como a maioria das vezes.

†††

Ouvia-se o sinal do intervalo ressoar, todos saíram e iam direito para aquela cantina, procurando por um lanche saboroso, que era uma verdadeira comida estragada.

Emily tinha aquela sensação de ter de alguém a vigiando todas às vezes e já estava começando a lhe irritar.

–É... Tem refrigerante ai?- Saito perguntava para a mulher por trás do balcão estreito de pedra, com a pele morena e o corpo obeso, com um toca em rede prendendo seus cabelos.

– Tem sim, qual vai querer? – ela tinha uma expressão despreocupada, as linhas do seu rosto a deduravam por várias noites sem dormir. Suas atitudes era de quem não ligava para a clientela.

–Uma Coca. - olhava em volta para ver a multidão e no meio dela havia uma mesa com algumas pessoas, que retribuíram com olhar frio e misterioso, e sem pensar Saito virara o rosto rapidamente para a mulher que lhe entregava o refrigerante, com uma sensação estranha sobre eles. Pensou consigo mesmo se eram familiares.

–Valeu! – jogava o dinheiro na mão dela, que havia pegado sem esforço. -

Oque será que vai ter hoje nesta cantina? Estarão vendendo refrigerante esse ano? – Onna pensava enquanto passava pela fila furando.

–AAAAAAA, que desgraça é essa?- Deu um grito ao se trombar acidentalmente com uma garota de mechas azuis que estava por perto de Saito, levando-a ter um susto quando o fazer derrubar refrigerante em sua blusa.

–EEEEI! Que coisa! Acabei de comprar esse refrigerante! – Saito pouco se importava com oque havia acontecido, gritava bravo, quando se deparou com uma blusa preta encharcada e logo que levantou o olhar, reconheceu pelo seu rosto que era a mesma menina que havia o acompanhado para a diretoria mais cedo.

Seria o nome dela... Onna?

–Ah valeu, muito OBRIGADA, e agora Saito?!- o encarava brava com uma de suas mãos apoiada na cintura impacientemente. Ele tinha acabado de responder sua pergunta.

–Se vira, sorte que não te cobrei pelo meu refrigerante. - Foi um passo para trás e deu as costas.

Até parece que eu iria ter que fazer alguma coisa por ela. Ah, e é a segunda vez que acontece alguma coisa ruim nesse dia.

Saito pensava indignado.

–Idiota! Não olha por onde anda e ainda me fala uma coisa dessas. – dizia para si mesma, tentando se limpar com um guardanapo arranjado.

Saito sorri para ela, alertando-a que eu havia ouvido e logo virou-se para frente bebendo oque havia restado de seu refrigerante, balançando a cabeça negativamente.

Emily sorria de volta como alguém que não achava graça, ainda tentava limpar o estrago. Foi quando pensou:

O que pode acontecer de pior hoje?


†††

O sinal havia ressoado novamente, indicando o término da aula.

Finalmente acabou meu dia na escola, bom pelo menos o primeiro dia – pensava Saito.

Enquanto caminhava pelo corredor rumo a fora, levou seu olhar para o lado onde havia o número da sala em frente, gravado em letras prateadas por cima da porta de madeira branca, um pouco mais para esquerda havia um aviso em letras minúsculas “Cuidado ao abrir a porta, prateleira frágil logo atrás”. Saito bufou, a vontade que ele tinha era de arrancar aquele pedaço de papel e por no lixo mais próximo. Conteve sua vontade e caminhou para o lado de fora de sua escola, lá ele aguardava entediado sentado no corrimão das escadas por sua mãe.


Primeiro dia – Emily ria - um desastre - falava consigo mesma enquanto pegava o skate que havia trago, o deixando cair no chão e se pondo a cima dele, correndo em rumo a sua casa.

Até que hoje não foi tão ruim assim...

Emily seguia em frente, observando o caminho, que como sempre, era muito movimentado.

Todos os dias por de fora daquele muro de pedras, parecia haver uma orquestra de barulhos importunos, os alunos saiam com seus instrumentos deixando soar todos os tipos de notas, das mais desafinadas. O barulho de carros, motos e choradeiras por parte dos menores que odiavam distanciar de suas novas amizades, eram de se estourar os tímpanos. Conversação sem fim se juntava na porta e às escadarias onde adolescentes com adrenalina a flor da pele especulavam sobre o dia de hoje.

–Como foi o primeiro dia? – perguntava a mãe de Saito, uma mulher bonita e de aparência jovem, com o cabelo caído sobre os ombros de uma cor loira acompanhado de fios metálicos. Saito a olhava pensando na pergunta, colocando sua guitarra no banco de trás do carro com todo o cuidado, ele era muito cauteloso com o instrumento e morria de ciúmes de alguém que o encostasse.

–Hum...entrei na sala errada quebrando um vidro que estava lá, sem querer, fui para o diretor e derrubei refrigerante em uma menina, ah, sem querer também.

–Hahaha, nossa, então foi ótimo!- ela acelerava, e se mostrava um pouco impaciente.

Era mesmo ótimo?– Saito pensava ofegando.


†††

Emily já havia chegando em casa e alertara sua mãe, que nem por lá estava, colocou seu skate encostado sobre a parede estampada, do lado da porta de entrada e subiu as escadas procurando por sua mãe. Tudo estava em completo silêncio.

Voltou para o cômodo de baixo e foi direto para a cozinha.

Acho que não tem ninguém ou minha mãe saiu de novo.

Procurava algo pra comer, seu estômago já estava insuportável. Quando apanhou o um pacote de bolachas e seguiu para o seu quarto no aposento de cima.

–Ei mãe, vou para o meu quarto treinar, quando o almoço estiver pronto me chame! - a avisou mesmo não sabendo se ela estaria em casa. Logo já estava em seu quarto, com uma vasta vontade de querer treinar com sua guitarra.

Emily queria, de uma vez por todas, mostrar realmente que era ela.

Todas as vezes que tirava seu tempo para treinar, era somente ela e sua guitarra. Ao encostar a ponta do dedo em uma de suas cordas, a energia que vinha por dentro de Emily era sempre eletrizante, uma força quase incontrolável de querer tocar em todas, como se sempre, algo novo lhe esperasse.

Depois de treinar bastante consultou o relógio de pulso.

Exatamente agora.

Ligou a TV em seguida e estava passando seu anime favorito, lançou o olhar para a janela reparando naquele infinito conjunto de pinheiro e lhe veio a mente o dia hoje na escola. Seus risos eram serenos.

Dê minha vida de volta... – deslizava seu dedo indicador levemente sobre sua guitarra, contornando todas as suas formas, tendo um novo desejo, um novo sonho, uma nova força de vontade, parecia que havia acabado de renascer, veio a sua cabeça todos os esforços e coisas ruins que já havia passado. Levando-a refletir.

Esse ano, não poderia ser o mesmo.

Já exausta de tantas horas de treinamento, guardava sua guitarra em um pedestal, pegando seu Ipod, em cima da mesa no canto de seu quarto, ao lado de alguns retratos antigos. Colocava uma música se deitando na cama de frente a vidraça, era muito fácil de confundir com uma passagem enorme aberta na parede. Olhou para o céu, o sol forte de uma hora da tarde brilhando imponente na imensidão azul, parecia iluminar somente Emily.

Acabou adormecendo ao som calmo que ouvira.

–Hãn? Onde eu estou? Mãe, Pai? – Emily estava em um lugar escuro muito similar ao quintal imensurável em frente de sua casa. A noite se estendia e quando se deu conta, estava em casa no corredor que dava direto ao seu quarto com duas figuras conhecidas, não muitos distantes, seus pais, e brigavam por alguma coisa. Olhava para a janela ao lado e havia duas luas no céu acompanhado de um som que não reconhecera. Ao mesmo tempo em que algo lhe esperava pela angustia também mantinha uma sensação de calma.

Quando ia olhar para a janela novamente, Saito aparece de repente, com os braços cruzados, parado ali, dentro do seu quarto ao lado de sua cama, olhando-a friamente, não mostrando nenhum sentimento. Saito estava em uma parte onde a luz da lua não alcançava fazendo com que o medo tomasse conta de Emily. Sem mais nem menos, ao redor havia muitos espelhos, o cenário havia mudado novamente. Ela estava no quintal e Saito continuava olhando-a com o olhar desdém.

Emily o encarava enquanto fechava o punho, então perguntou apressadamente:

–Saito, o que está fazendo, o que aconteceu? - deu dois passos para frente, esperando sua resposta. - ele continuava sentado no chão com a cabeça apoiada nos joelhos apenas possibilitando, por uma brecha, ver os seus olhos que gritavam por angustia e raiva.

Sem se quer olhar para Emily, ele respondeu em um tom baixo e desanimador:

–Não acredito que fez isso.

–O...- iria perguntar “o quê?”, mas foi interrompida, quando começaram a cair do céu penas pretas e veludadas tão lindas, que brilhavam quando a luz as chicoteavam, haviam varias delas, parava para as observar se esquecendo do que estava acontecendo em volta.

†††

Saito segurava aquele instrumento tão inspirador, seria sua vida inteira apostada sobre aquela guitarra, sua guitarra, e não poderia ser de mais ninguém. Ela havia sido feita exatamente para ele, se encaixava perfeitamente em seus dedos, se ajeitava bem em seus braços, e a cada ressoar de uma das cordas ele se sentia incomparável, como se ninguém pudesse tocar e liberar uma energia tão alta como ele.

Será que eu não sou maduro? Será que sou imaturo demais? Não sou o maduro o suficiente para me mostrar sendo o melhor?

Essas perguntas cada vez que apareciam respostas, mais perguntas ressurgiam, mas nenhuma sem qualquer atitude inesperada. A sensação não era só de ser o melhor, mas era como se houvesse agulhas em seus dedos, e alguma coisa repuxando sua alma, querendo que ponha para fora algo que ele teria que mostrar. Que teria de ser.

–Eu quero ser o melhor, eu quero mostrar que eu posso ser quem eu quero ser. - dizia fechando o punho forte com os olhos fechados, como se estivesse pedindo para que isso tudo venha ser realizado.

Um susto teria o feito acordar.

–Saito, venha cá! – Ouvia-se uma voz e essa voz era calma e ao mesmo tempo, parecia que esperava com uma surpresa.

–Estou indo mãe. – levantou-se do sofá encostado na parede que estava em meu quarto e deixou a guitarra em cima dele cuidadosamente, indo ao encontro de sua mãe.

–Venha aqui logo menino. - Do andar de cima podia vê-la segurando o telefone em uma mão e tampando a saída da voz com o outro.

–Quem é?- Saito perguntava desconfiado antes de pegar no telefone.

Não quero nada, nada dar de cara com a minha prima.

– A sua prima Nyko! Fala um ''oi'' para ela.

Não, ela não disse esse nome, não acredito que a pessoa que estava no outro lado daquela linha era ela...

Seu olhar era tenso para o telefone e hesitava-o. Mas sabia que não havia escolha.

Mãe, você sabe que eu não gosto dela. – A mão de sua mãe se estendeu até sua cabeça com uma força violenta.

–Aííí!!- resmungava, colocando as mãos onde ela havia o batido.

Ela não tem jeito mesmo. – bufava.

–Está bem, está bem, me dê esse telefone. – roubou o telefone da mão dela e a olhou furioso.

– Oi, Nyko. – Saito dizia desinteressado.

–OIIEEEEE, MEU BEBEZINHO FOFINHO, tudo bem? Eu estou com saudade! - a voz irritava os tímpanos de qualquer um, mesmo do outro lado do telefone.

–Ai, ai, começou você com esses joguinhos...

–Ain amor, nossa faz tanto tempo , tenho que matar minha saudade!

–Fala logo o que quer.

–Eu tenho uma surpresa para você, hi-hi! - Nkyo estava enrolando o fio do telefone enquanto falava.

–Hun?- No ar, colocou um som de dúvida.

–Amanhã irei te ver! – mesmo com sua animação, Saito não movia um dedo, não queria acreditar nisto.

–OQUE?! Quer dizer... Sério? Há-há. – mesmo se tentasse parecer um pouco feliz, ainda poderiam perceber como realmente estava. Era impossível esconder.

Já estou até imaginando no que vai dar.

Saito desanimou totalmente desse começo de ano.

–Não é ótimo? Podemos nos ver em breve! - entregou o telefone para a mãe, e foi para o seu quarto, imaginando tudo, não despediu nem nada. O som da ultima palavra que vinha pelo telefone, era ansiosa e bem animada.

–Quando vem?- virou para sua mãe, desanimado, que já estava cheio de assunto no telefone.

–Amanhã – ela disse bastante eufórica.

–AMANHÃ? – o grito apavorado teria arrancado a paciência de sua mãe .

–Saito! - brava tampava a saída de sua voz pelo telefone, ou melhor, o seu grito. – Saitou bufou e foi para o quarto.

–O jantar já esta pronto, vai logo jantar antes que esfrie!- já estava de costas a ela subindo a escada, quando lhe respondeu friamente:

–Não estou com fome.

†††


–Hun? Hãn? Ah, era só um sonho – falava meio desacordada, com os olhos vidrados na paisagem de fora.

A casa estava com cheiro de pizza, mesmo assim não saia de sua cabeça aquele sonho tão estranho.

Deve ser a pressão dos primeiros dias de aula. Acho que meus pais acabaram de chegar.

Levantou-se da cama com o barulho da porta do quarto se abrindo, então soou uma voz meiga e calma, era de sua mãe.

–Sonhou com os anjos?- quando ela disse isso, parecia que estava querendo saber mesmo se por ali houvesse anjos - venha comer eu comprei pizza hoje! – dizia enquanto saia do quarto, podia se ouvir seus passos a descer pela escadaria.

Emily olhou pela janela do quarto suspirando e então desceu a escada correndo. Estava morrendo de fome.

Quando chegou à cozinha, Emily não acreditava no que estava vendo. Fez um bicão, e cruzou os braços como uma criancinha que acabara de não conseguir um brinquedo novo.

–EU QUERIA DE FRANGO COM CATUPIRY!- Fez escândalo.

Essa era a atitude digna de uma menina bem mimada.



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