Eu estava pensando comigo mesmo, ainda com algumas lágrimas se atrevendo a descer, quando Greyson apareceu no corredor, de cabeça baixa. Eu enxuguei rapidamente o meu rosto. Ele se encontrou comigo e levantou a cabeça, dando um leve sorriso.

– Ela parece estar perfeitamente bem, Damon... Ela se lembra de mim e de Miranda perfeitamente. Lembra-se dos tios, dos avós, e até da viagem que fizemos verão retrasado – disse ele, soltando uma pequena risada. Eu continuei sério, rígido. Droga. Droga, droga, droga. Greyson mudou de expressão rapidamente. – Ela só não se lembra de você. – disse, abaixando a cabeça de novo, balançando-a negativamente. – Você se lembra daquela vez que Elena te levou para jantar em casa? Você estava nervoso e se vestia terrivelmente – ele riu. Olhei nos olhos de Greyson. – Você se atrapalhou com o frango que a Miranda preparou, pareceu até irritado com ele. Eu notei desde o começo os pés de Elena te chutando por baixo da mesa. – Greyson continuou sorrindo e me olhando, relembrando-me.

– Porque está falando tudo isso, Greyson? – eu disse, por fim.

– Aquele jantar me lembrou de como era minha relação com Miranda, antes do casamento. Apesar de que você me assustou um pouco naquela noite, moço. Mas, depois de um tempo, eu percebi que você era o cara perfeito para a minha filha. Percebi que ela te amava somente pelos olhares que ela lhe dava... Filho, as dificuldades aparecem com frequência na vida. Pode ter certeza. Você ainda achará muitas. – ele virou as costas, andando pelo corredor. Eu continuei pensativo, mas sem saber o que pensar. – Tudo vai ficar bem. – encerrou Greyson, virando de novo para mim, ainda andando, só que de costas. Depois, ele sumiu do corredor.

Tudo vai ficar bem... Tudo vai ficar... Quer dizer, tudo deveria ficar bem. Como isso é possível? Ninguém faz ideia do que está acontecendo com ela! E ninguém parece se importar o bastante para ir descobrir. Eu preciso descobrir... Eu odeio surpresas. Odeio mistérios. Elena sabe muito bem disso, então porque logo o caso dela parece esse jogo de mistério e consequência? Consequência...

Matthew. Matthew... Bonovan? Aquele diabo a quatro.

– Foi você, não foi? – eu disse, em voz alta. – Seu desgraçado! – completei, chutando a parede. Coloquei a mão na cabeça e olhei ao meu redor. O corredor estava vazio, mas alguém parecia me observar. – O que você fez aberração? O que você fez? – gritei, ignorando seja lá quem que estava me observando. Sentei no chão do corredor, com as costas na parede. – O que você fez... – repeti baixinho.

– Na verdade, a pergunta é o que você fez. – uma voz veio do fim do corredor. Eu me levantei rapidamente de susto e encarei Matthew. Ele usava o mesmo casaco feio e nojento, da cor verde. Ele parecia... Sujo? Mais sujo do que quando o vi pela última vez. Ele caminhava pelo corredor em minha direção, e seu sapato (também feio e nojento) fazia um barulho irritante no chão. – Sentiu minha falta, Damon?

– Vai pra o inferno.

– Já estive lá. Não tenho interesse em voltar. – falou Matt, despreocupadamente. Franzi o cenho e olhei para ele. Eu estava com vontade de socá-lo... Forte.

– Você disse que ela iria ficar bem. Minha noiva... Elena.

– E ela está bem, não está? Seu desejo magicamente se realizou.

– Ela não se lembra de mim. – eu disse, abaixando a cabeça. Nesse ponto, Matt já estava na minha frente. Percebi que ele não olhava diretamente nos meus olhos.

– Eu avisei sobre as consequências, não avisei?

– O que é você? – eu disse. Sim, disse “que”, não “quem”. Eu encarei seus olhos, que não me encaravam. Não me encaravam mesmo. Ele parecia olhar pra o horizonte! Tinha algo nele... Que me irritava. Elena sempre disse que eu era um homem de controle. Os últimos dias... Não, não pareci com controle nenhum.

– Ao contrário do que você pensa, Damon, eu sou um rapaz... Como vocês dizem... Do bem. Um camarada, um chapa. – Matt disse, sorrindo descaradamente, batendo no meu ombro. Continuei a encarar os seus olhos. Por um instante, os olhos dele pareceram mudar de cor. Eu balancei a cabeça e dei um passo para trás.

– Matthew... Ela não se lembra de mim. – eu disse, respirando fundo, com os olhos encarando o chão, já que os olhos de Matt não eram mais uma opção de se encarar.

– Ah, tá bom, tá bom. Só para você me colocar na sua lista de Natal, vou te dar uma forcinha. Não conte com isso da próxima vez. – e, dito isso, Matthew sumiu. De novo.

Eu ainda estava confuso, quando uma Miranda sorridente apareceu no corredor, chamando-me histericamente para o quarto de Elena.