Dark Dance escrita por Wolf Kira


Capítulo 1
Apenas, dance.


Notas iniciais do capítulo

A personagem aqui representada não terá um nome, ela representa todos aqueles que tem um desejo de suicídio, loucura? Não para aqueles que acreditam que isso é uma saída, mas ela também mostra que o suicídio não tem o final esperado por aqueles que o buscam.



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 Eu estou confusa, queria poder morrer, mas quero viver, ou não quero? E se tudo isso for realmente o fim da minha sanidade, e se a lâmina tinha razão? Que todos os meus amigos iriam me abandonar de novo, não me escutariam, só falariam sobre as coisas que eles querem e eu não poderia pedir ajuda para alguém – Afinal eu sou apenas a garota do salão com seu vestido preto e vermelho – Ninguém irá me ajudar a me libertar deste meu lado destrutivo, que tirasse essa minha sede de morte e dor própria.

 Todos os dias são chuvosos e nublados para mim, uso a máscara de um sorriso falso e todos me acompanham nessa dança de falsidade, mas quando preciso de ajuda eu olho a minha volta, e percebo que o salão está vazio e a Tristeza, a Dor e a Raiva me forçam a dançar com elas, cada uma com vários tipos de máscaras, que elas trocam a cada vez que olho para elas e o meu vestido é rasgado ainda mais, sempre me pergunto porque eles fazem isso com meu vestido, mas mesmo rasgado, para mim ele é lindo, nele me sinto bem, mas quando alguém chega no salão, sou obrigada a trocar de vestido, os vestidos que eles pedem são de cores e formatos que eu não gosto, e com esses vestido, eu coloco a mascará de um sorriso.

 No mesmo local desse salão tem um jardim, lá sempre tem alguém jogando sementes em uma terra escura, e quando ela floresce, surge uma nova mascará para as donas das mascarás usarem. Acho estranho quando vejo alguém jogando sementes na terra clara, que quando floresce, eu sorrio sem usar a mascara, as donas das mascarás que rasgam meu vestido desaparecem e meu vestido todo rasgado e sujo, por um momento fica limpo e com remendos nos buracos, dura pouco tempo, a planta da terra clara sempre vai secando a cada semente jogada na terra escura.

 Tem vezes que as donas das máscaras me puxam com força para voltar ao salão, e lá elas me empurram, rasgando e sujando meu vestido, suas máscaras trocam sem parar, me assusta, elas pegam meus braços e fazem cortes, as vezes enquanto isso acontece, entra um ser todo branco falando que eu devia parar de me machucar, e quando olho para minha mão, estou segurando uma lâmina que escorria sangue e ao olhar meus pulsos vejo eles todos cortados, ele fala que eu sou forte para aguentar tudo sem precisar disso, eu acredito em suas palavras, colocando totalmente minha confiança nele e novamente as donas das máscaras desaparecem, e acabo iniciando uma dança com esse ser, esquecendo totalmente dos seres escuros que me rodeiam.

 Depois de um tempo que eu passo com o ser branco que vem de fora do salão, ele vai ficando escuro assim como os outros ao meu redor, começa a agir assim como eles e a usar máscaras iguais as deles, se tornando assim mais um para me acompanhar na minha dança de falsidade, aos poucos ele me faz ter que trocar de vestido, me mandando colocar vestidos com cores brancas com prata, não gostava daquele vestido, mas não tinha opção, eu deveria vesti-lo para que ele não me abandona-se, a dor surge ao meu lado novamente, logo depois vem a tristeza, era raro quando a raiva aparecia quando eu estava com algum ser – Fosse ele branco ou escuro, mas ela aparecia na hora de me puxar para uma dança com elas. Não demora muito para que o ser branco se torne escuro e sujo, sempre quando acabo confiando demais em um ser ele faz algo e se torna mais uma máscara para as donas.

 Ele interrompeu a dança, e se juntou ao grupo dos seres escuros, assim as donas se aproximaram e me empurraram para o meio deles, e então tive que colocar minha máscara, e dançar com eles, sempre conseguia engana-los usando a minha máscara de sorriso, mas eu estava cansada de tudo aquilo, cansada de ser forçada a dançar e a usar essa máscara desconfortável, não aguentava mais ter que dançar com esses seres, eles eram sujos, nojentos e davam mais força para as donas, empurrei o ser com que estava dançando, rasguei o vestido branco e prata que estava usando, e fiquei somente com o meu vestido preto e vermelho, nesse mesmo momentos todos começaram a apontar para mim e a rir, alguns me xingavam e criticavam, foi ai que decidi tirar a máscara, revelando minhas lágrimas e as olheiras que eu possuo por passar a noite dançando com as donas, muitos pararam de rir e simplesmente saíram do salão, outros continuaram a me criticar e julgar, poucos voltaram ao seu tom claro, mas continuavam afastados de mim, a única coisa que eu não tirava era minha luva preta que ia até acima do meu cotovelo, que tampava os cortes que eu não sabia quem fazia, se era eu ou as donas enquanto dançávamos.

 Decidi correr para o jardim, tentar não pensar mais no salão, ao chegar lá várias pessoas jogavam sementes na terra escura, algumas tentavam jogar sementes na terra clara, mas nada ali florescia, pois a quantidade de sementes jogadas na terra escura era muito maior. Tudo na minha mente começou a falhar, ao olhar para os lados, tudo começou a ficar em preto e branco, já não sabia quem eram os seres brancos ou os seres escuros, fechei meus olhos por um segundo para tentar fazer tudo se equilibrar novamente, ao abri-los percebi que eu havia voltado para o salão, ele estava preto e repleto de flores brancas decorando suas colunas, as donas das máscaras estavam em volta de mim formando um círculo, permaneceram imóveis até que a tristeza me convidou para dançar, as máscaras agora trocavam com uma velocidade muito acima do normal, aquilo me hipnotizava de alguma forma, lembrando-me do quão cansada eu estava, decidi me entregar, aceitei o convite da tristeza e fomos dançar, enquanto eu dançava com ela, alguns seres entravam no salão, e uma luz saiu no teto focando apenas em nossa dança lenta, as donas e os seres então começaram a nos assistir, pareciam estatuas que apenas decoravam aquele deprimente salão, a Tristeza rio e me entregou estranhas balas brancas, falando que se eu as toma-se ela desapareceria e nunca mais voltaria, peguei as balas e as engoli, olhei a minha volta e vi que a tristeza realmente havia desaparecido, cada vez mais seres entravam no salão, parando para assistir o espetáculo das donas.

 Foi a vez de a Dor me convidar para uma dança, começamos a dançar, foi então que notei que meus movimentos estavam mais lentos, mesmo assim me forçava a continuar a dançar, apareceu uma mesa de vidro com pequenos detalhes vermelhos em sua volta enquanto dançávamos, a Dor me conduziu até perto dessa delicada mesa, e ao nos aproximarmos acabou aparecendo uma taça com um liquido escuro dentro dele, a Dor sorriu e me ofereceu, falando que se eu toma-se esse doce líquido, ela iria desaparecer como a Tristeza, estiquei a mão para a taça, acabei parando ao ouvir gritos ao longe, me virei para ver o que estava acontecendo e ao olhar para a porta vi vários seres brancos gritando para que eu não toma-se o líquido da taça, os seres escuros continuavam parados, como se não ouvissem os protestos que ocorriam atrás deles, surgiram outros dois donos de máscaras, mas eles eram diferentes das que sempre dançavam comigo, tentaram correr até mim, gritando que se chamavam Amor e Felicidade, a Dor e a Raiva ficaram iradas pela presença deles, gritando para que eles se afastassem de mim elas os atacaram e assim todos os seres, brancos e escuros, começaram a apoias os donos que possuíam suas máscaras.

 Elas se atacavam com ferocidade, não queriam que algum deles se aproximassem de mim, eu assistia essa batalha tentando acreditar que os donos brancos venceriam, mas eu já sabia quem venceria, o lado branco não possuía muito apoio, em compensação o lado escuro possuía um forte apoio dos seres escuros, através dos seus xingamentos para mim, as donas negras ganhavam mais força, as lágrimas escorriam pelo meu rosto, tentei colocar a máscara do sorriso para que eles parassem, mas ela não suportou meus sentimentos e se partiu, me revelando por completo, cai no chão e então vi entre o meu choro, como as donas escuras mataram sem piedade os donos brancos, minhas lágrimas se tornaram sangue, um sangue que também caia pelos meus pulsos cortados, eu não sabia o porque, mas caia.

 A Dor se aproximou de novo, estava manchada com o estranho sangue dos donos, ao ela esticar sua mão em minha direção, os seres escuros se silenciaram, queriam ver o espetáculo que os esperava, já os seres brancos choravam, por saber como a dança terminaria, a Dor me levantou delicadamente e falou que entendia minha fraqueza física, me explicando que eram por causa das balas brancas que sua irmã havia me dado, pegou a taça enquanto me deitava em um dos seus braços, me ajudou a beber, o líquido tinha um gosto amargo, mas agora já não fazia diferença, não mais, meu vestido preto e vermelho se desfazia aos poucos, meu corpo estava amortecido, fiquei olhando para o teto e cai bruscamente no chão, a Dor agora havia ido.

 A última a me chamar para dançar foi a Raiva, ela me olhou jogada no chão e sorriu para mim, ela estava apenas com uma máscara, que representava todas as outras, me ajudou a levantar fazendo os seres escuros voltar a expressar algo, eles começavam a gritar dando apoio a Raiva e a aplaudindo, ela me segurava em seus braços com firmeza, como querendo garantir que eu não recusaria a nossa última dança. Minha visão estava embaçada, meu corpo sem forças e meu vestido, meu amado e lindo vestido preto e vermelho, estava manchado com meu sangue e totalmente destruído, a Raiva me conduzia em nossa última dança, meu corpo estava mole e sem forças, mas mesmo assim a Raiva me conduzia, foi a maior dança que já tivemos, ela apenas me olhava com um sorriso vitorioso no rosto, foi então o que eu entendi o porque de elas estarem desaparecendo, o porque de elas terem me dado remédios e veneno, agora tudo fazia sentindo, arregalei os olhos e comecei a chorar desesperadamente, soltando gritos de dor, não podia, eu cai na última dança delas, a Raiva começou a rir alto olhando para mim, aumentando a velocidade da dança começando a girar, podia ver os seres escuros começando a aplaudir, via os corpos dos donos caídos no chão, percebi que eles também choravam, a Raiva me deitou em seus braços me olhando ainda sorrindo, os aplausos cessaram, a nossa dança havia chegado ao seu fim, ficamos nessa posição até que todos os seres escuros saíssem do salão, jogavam rosas negras para mim, as jogavam sem me olhar, as jogavam de costas, como se fosse fizessem por obrigação, eu continuava a chorar, a Raiva me colocou lentamente deitada no chão no meio das rosas negras, eu não tinha mais forças para me mover, minha visão começava a falhar novamente, foi então que a Raiva falou que era a hora de realmente finalizar nossa dança, se transformou em um lâmina, minhas mãos foram indo em direção a lâmina jogada ao meu lado, algo me movia, não era eu, eu que só queria alguém que gostasse do meu amado vestido preto e vermelho, estava finalizando minha dança desta maneira.

 Comecei a cantar minha música favorita, até que alcancei a lâmina e comecei a tirar minhas luvas, revelando meus pulsos com várias cicatrizes, continuava a cantar até que cortei meus pulsos o mais fundo que pude, a lâmina desapareceu e então relaxei no meio das rosas, no final, depois de tanto dançar, fiquei apenas com meu vestido, pobre do meu vestido, foi rasgado e destruído tantas vezes, e eu sem capacidade para remenda-lo, acabei o finalizando assim, o salão escuro foi desaparecendo lentamente, revelando um céu azul e uma grama verde, eu agora estava em um campo calmo, com um vento suave acariciando meu rosto, meu vestido agora estava inteiro e tudo parecia perfeito, eu sorri, pensando que esse era meu desejado alívio, mal eu sabia que era uma pegadinha das donas, que tudo aquilo que eu estavas agora sentindo era uma ilusão antes de eu ir para um novo salão, onde eu dançaria eternamente com elas, sem descansar e sem sair.  


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham entendido a mensagem que eu quis passar através dessa história.
Não julguem pessoas que vocês não conhecem a história, não as maltrate, se não quer apoia-las, simplesmente se afastem, vocês podem presenciar um espetáculo que não querem.



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