O dispertador tocou e eu nem liguei.Meu horário é as oito.Quando eu acordei, era sete e meia.

– Que droga! Logo hoje?!

Me despedi do meu pai e fui correndo direto ao ponto, quando um carrão quase me atropelou. Dentro dele, saiu um homem com aparência de uns quarenta anos, o cabelo tinha reflexos, usava uma calça jeans, casaco xadrez azul, tênis Converse All Star Branco e para um homem de sua faixa etária, ele era muito bonito.

– Por que você fez isso? - começou a me questionar.

– Não vai me perguntar se estou bem?

– Me desculpe, mas eu acho você está ótima - começamos uma discussão no meio da rua.

– Olha aqui, senhor! Quem é você?

– Em primeiro lugar: o Senhor está no céu. E em segundo lugar, meu nome é...

Antes que ele pudesse falar, uma mulher ruiva desceu do carro. Ela estava no banco do carona.

– O que está acontecendo? Todos estão com os olhos voltados pra vocês!

– Foi só uma discussãozinha. A garota está bem. Vamos que estamos atrasados.

Os dois entraram no carro e seguiram viagem. Eu estava imaginando "Quem é esse cara?". Eu fiquei indignada, mas e daí? Eu estava atrasada para o meu primeiro dia.

Consegui chegar antes de oito horas por 30 segundos. A recepcionista do setor 3, que era no qual eu trabalharia, me disse:

– Você teve sorte de ter chegado antes em fração de segundos. A Dona Virgínia vai chegar daqui a meia hora e a sala dela tem que estar IM-PE-CÁ-VEL! E a do marido dela também.

Fiquei indignada e comentei:

– Essa Virgínia tem uma banda de carros importados, eu ando de ônibus lotado, tem dias que eu não tenho dinheiro de passagem e tenho que vir à pé e ela ainda quer que eu nunca me atrase?! Essa mulher tem mais é que se danar!

– Você é a única empregada que eu conheci que teve a coragem de reclamar da Dona Virgínia. E eu trabalho aqui à 15 anos. Tô impressionada!

– B..Brigada! - Respondi meio sem graça.

– Meu nome é Leandra. Você é a Dinorah, né?

– É. Isso.

– Quer sair comigo no horário de almoço? Queria conversar um pouco mais com você.

– Claro. - Respondi sem pensar duas vezes - Agora eu tô indo, que eu tô atrasada!

Saí correndo e começei a pensar: "Ia ser muito bom se eu fizesse amizade com Leandra. Eu não conheço ninguém por aqui."

Limpei as salas dos "patrões". Estava tudo pronto. Lá fora eu ouvi Leandra conversando com um homem e abri a porta para ver quem era. Eu não estava acreditando no que eu estava vendo!

Era o homem que quase me atropelou! Ele era meu chefe, o advogado, Felipe Andrade. Ele me viu e me reconheceu, mesmo com o uniforme.

– Quer dizer que a pequena barraqueira é a empregada nova?

– Escuta aqui, você acha mesmo que só porque é o meu chefe que eu vou te tratar como o Imperador? - Falei com frieza. Mas ele revidou.

– Você escolhe se quer me tratar "como um Imperador" ou ser demitida.

O meu sangue subiu, até que eu me acalmei e disse:

– Só vou te tratar bem porque eu preciso desse emprego, por causa de problemas pessoais.

Fugindo do assunto ele respondeu:

– Minha sala está ótima. Até que você é uma empregada boazinha...

Eu não queria perder mais nenhum minuto com aquele cara. Saí pelo escritório irritada. Só não tinha ficado mais irritada porque eu estava ouvindo música, mas ao mesmo tempo que eu ia me acalmando, eu ia perdendo a atenção por onde eu passava. Até que eu esbarrei em alguém. Um monte de papéis caíram no chão e uma mulher ruiva apareceu na minha frente. Eu sabia que isso ia gerar um novo barraco.