O Feiticeiro Parte I - O Livro de Magia escrita por André Tornado


Capítulo 43
VIII.2 Prelúdio.




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Como eram previsíveis!

Zephir acariciou lentamente a pedra cristalina que tinha à frente. Irradiava uma luz ténue que lhe iluminava o rosto ossudo, acentuando a sua magreza. Era um pedaço rochoso multifacetado, cheio de arestas, toscamente talhado a partir da pedra principal que formava o chão e as paredes daquela câmara, os oráculos da Deusa. Uma rocha transparente e que, por meio de um conjuro, permitia ver tudo o que se quisesse. Não era usual arrancar-se uma pedra da câmara, apenas em situações críticas de imenso perigo para o Templo da Lua. Considerou que o momento era apropriado e tomara a decisão de fazer-se acompanhar, dali para a frente, com uma pedra de adivinhação para o ajudar a ver melhor os acontecimentos que o rodeavam, tornando-se omnividente e omnipresente.

Na pedra via-se a imagem desfocada e baça do exterior do Templo da Lua. O lago, a floresta ainda escura pois o sol mal nascera no horizonte, os muros do Templo, os guerreiros.

- Son Goku! – E a boca de Zephir torceu-se numa espécie de sorriso.

Sentia-se vencedor e a batalha que ainda não começara. Com ele, na câmara, estavam os seus fiéis súbditos.

Cinco kucris, diferentes dos demais e que agiam como chefes, grunhiam e bufavam, rodeando-o. Encostados à parede estavam Julep e Kumis, que não tiravam os olhos de Keilo, o saiya-jin, que, longe de todos, aguardava cabisbaixo, braços cruzados. Parecia desatento, mas ao mínimo movimento, atacava imediatamente. Isso tinha acontecido com um dos kucris. O bicho negro passara por ele, provocara-o com um guincho e ele eliminara-o sem pestanejar. Zephir ficara furioso. Quando Keilo era Kang Lo tinha-lhe dado ordens para não tocar nos kucris, pois precisava deles em grande quantidade para defender o Templo. Mas ao ver a forma impiedosa como Keilo matava, sem remorsos e sem hesitações, resolvera esquecer a afronta.

Julep e Kumis também tinham reparado nas capacidades extraordinárias do saiya-jin. Os dois sabiam reconhecer um grande guerreiro quando estavam diante de um. Mesmo sabendo que nascera a partir de Kang Lo, nada tinha a ver com esse lutador medíocre. Observavam-no temerários, não se aproximavam demasiado, nunca o convidaram para uma sessão de treinos e adivinhavam-lhe a força gigantesca, o poder supremo, a habilidade inquestionável, com um laivo de inveja e de receio. Kumis odiava a sobranceria de Keilo, como ele não lhes falava e evitava ocupar o mesmo espaço que eles. Julep observava-o cientificamente, analisando-lhe os detalhes que, espaçadamente, Keilo deixava escapar, revelando a perfeição da máquina assassina que era.

No exterior, os guerreiros conversavam uns com os outros, suspensos no alto, a suprimir a sua energia vital para não serem detetados. Tinham feito o mesmo durante a longa viagem noturna até ao templo. Zephir observava-os. Queria dois amigos, dois irmãos, queria sangue de amizade.

Analisou-os um a um. Son Goku conversava com o Príncipe das Trevas, Piccolo. Perto deles, encontrava-se o outro saiya-jin, Vegeta. Zephir abanou a cabeça… Nenhum deles servia. Apesar de parecerem muito unidos, Son Goku e Piccolo tinham sido anteriormente inimigos e os sentimentos de Vegeta em relação aos outros eram dúbios e incertos.

Noutro canto da pedra, descobriu Trunks e Goten. Os dois rapazes conversavam alheios aos demais, trocando frases breves, apreensivas e divertidas, contrapondo-se como num combate, apoiando-se mutuamente com as suas atitudes diferentes. Piccolo chamou-lhes a atenção, os dois ficaram sérios, escutaram-no, acenaram afirmativamente com a cabeça, olharam para o Templo da Lua. Dois amigos, dois irmãos.

Mesmo ali, por meio de uma pedra muda, sentia a ligação forte que unia Trunks e Goten. Uma amizade fortalecida por memórias antigas e uma cumplicidade profunda. A mão esquelética e pálida passou pela superfície fria da pedra, sobre a imagem trémula dos dois rapazes. Tinha feito a sua escolha.

- Eles chegaram – anunciou sem emoção. – Os nossos inimigos.

Sepultou no fundo da alma todo o prazer que sentia por saber que aquele era o primeiro dia do seu reinado glorioso sobre o Universo. O sangue-frio gerava discernimento. Os súbditos volveram ao mesmo tempo os olhos para ele, num perfeito passo de dança.

- Eles estão lá fora, junto ao lago – explicou apontando para a pedra. – Agora, oiçam atentamente o que vou dizer. Quero que saiam e que os desafiem. Quero que lutem com eles. Mas não quero que sejam combates a sério.

- Nani? – Interrogou Julep.

Lançou um olhar de reprovação, o demónio fez uma vénia imediatamente.

- Gomen nasai, Zephir-sama.

- O que quero que façam hoje é muito simples. Quero que Keilo e os kucris distraiam os outros, enquanto vocês, Julep e Kumis, atraiam estes dois para dentro do Templo da Lua.

O dedo apontava Trunks e Goten.

- Pretendo tê-los encurralados nestes subterrâneos. Quero usar a minha magia neles. Quando virem que um deles está enfeitiçado, afastam-se. Entendido?

- E como é que sabemos que estão enfeitiçados? – Perguntou Kumis.

- Quando o virem, ficarão a saber. Compreenderam as minhas ordens?

- Hai, Zephir-sama – responderam Julep e Kumis em uníssono.

- Os combates serão sempre no exterior. Mais ninguém entra no Templo da Lua, a não ser Julep e Kumis. Não haverá destruição, hoje. Castigarei severamente quem desobedecer a estas ordens. Entendido?

Os kucris guincharam uma resposta afirmativa. Keilo descruzou os braços.

- Keilo – avisou, pressentindo uma perturbação no espírito do saiya-jin –, podes divertir-te, mas nada de exageros.

- Saberei comportar-me.

A voz grave tinha um toque irónico. Zephir tornou a apontar para a pedra cristalina, para a imagem de Trunks e Goten, e reforçou, sem desfitar Keilo:

- Estes dois são intocáveis.

O saiya-jin deu meia volta e saiu da câmara. Julep e Kumis imitaram-no e depois os kucris. Zephir ficou sozinho.

Não confiava em Keilo. O saiya-jin tinha uma mente retorcida e perversa, que apesar de controlada pela magia negra do Makai, evidenciava alguns laivos de independência que o incomodavam. Keilo era muito forte, poderia desfazer-se dele sem o menor esforço. Tal como Majin Bu se desfizera de Babidi… Mesmo controlado pelo Makai, Majin Bu revoltara-se. Respirou fundo, varrendo as preocupações num dia que se adivinhava triunfante.

Segurou a pedra nas mãos. Através dela iria assistir à sua vitória sobre os grandes guerreiros das estrelas que protegiam a Terra. E tomado por um júbilo selvagem, soltou uma sonora gargalhada.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
Inimigos.



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