Always! escrita por Srt Dubs


Capítulo 21
Capítulo 21 - Lembranças.


Notas iniciais do capítulo

Com o acidente, quem assume a narração é a Marina... Espero que gostem!



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Sophia me empurrou e eu nada pude fazer além de cair rolando. Quando entendi o que tinha acontecido, me levantei o mais rápido que pude e fui até ela.

- Sophia! – Ela estava de olhos fechados, eu encostei minha mão no braço dela e ela sorriu bem de leve.

- Eu não podia deixar que...– A voz dela foi sumindo e eu senti meu coração se apertar.

- Sophia? – Helena disse surgindo sabe Deus de onde, ela me empurrou para o lado como se eu tivesse toda a culpa e o pior era que eu me sentia mesmo como a culpada.

Liguei para a ambulância e pedi que viesse o mais rápido possível, enquanto isso os alunos começaram a aparecer como um enxame de abelhas, até que os amigos dela chegaram, a Melaine, ou Milly se preferir, quase teve um infarto.

- O que aconteceu? Sophia... – ela se ajoelhou no chão e ficou perto da amiga.

Aquilo me deu um nó na garganta, como há muito não sentia, mas eu me contive, não podia ser fraca naquele momento, não depois do que a Sophia tinha feito por mim.

Helena levantou e veio direto para mim com olhar exigente e cheio de raiva ela teria me jogado de um precipício se pudesse. Limitei-me a abaixar o olhar e ignorar a vontade dela de me matar. Por sorte a ambulância não demorou mais do que o esperado.

Eu e a Helena decidimos que iriamos acompanha-la e entramos logo depois que ela foi colocada no carro.

- O que quer me falar, fale de uma vez! É melhor do que ficar me encarando. – eu disse sem querer ser rude, mas a Helena já estava me incomodando.

- Você já sabe o que eu tenho para te dizer, não vou repetir tudo que já disse...

- Dessa vez eu não tive culpa, ela me empurrou do nada, me salvou e eu não pude... – Helena balançou a cabeça e voltou seu olhar para a Sophia. – Nunca quis que ela se ferisse, eu tentei me afastar, mas me deixei levar, como fiz com seu irmão e com você.

- Detesto ver vocês... Brigando. – Sophia disse baixinho e isso fez meu coração pular. – Quantas vezes eu...

Ela perdeu o folego enquanto falava, eu coloquei a mão sobre a mão dela e pedi para que descansasse que em breve tudo estaria bem. Não podia perdê-la, não me perdoaria se... Helena continuou séria e o que a Sophia disse pareceu deixa-la ainda mais chateada.


Chegando ao hospital os enfermeiros a levaram para dentro e nós tivemos que esperar por noticias, o que com certeza foi agoniante. Sentei em um dos sofás da sala de espera e encostei minha cabeça no encosto. Não sabia se rezava, se chorava ou qual a reação eu deveria ter, mas acredito que nenhuma reação desesperada combinaria comigo, embora meus sentimentos estivessem me sufocando.

Em meio a pensamentos me lembrei do Murilo sorrindo todas as vezes que me via entrar na sala, o jeito que me tratava e as coisas que costumava dizer, até que a lembrança mais triste veio. Murilo me salvou, perdeu sua vida por isso e não entenda mal, sou eternamente grata, mas daria tudo para que nada daquilo tivesse acontecido, por melhor que tivesse sido. E agora estava vivenciando, quase, a mesma situação, minha jovem amiga, acabara de se arriscar por mim, mais uma vez.

Os amigos da Sophia não tardaram a chegar e por ultimo a pessoa mais importante que até o momento eu havia me esquecido, a mãe dela. Claudia veio até mim seria.

- O que aconteceu? – ela perguntou jogando toda a preocupação dela em mim por meio das palavras. Tentei escolher as melhores palavras para explicar de forma prática e como resposta recebi um tapa. – Por que você sempre está no meio?

Eu segurei com todas as minhas forças a vontade de gritar e correr para longe dali enquanto via as pessoas olhando para nós. Claudia me olhou com desprezo e foi atrás de informação.

- Por essa eu não esperava! – Helena disse sem tom irônico o que me surpreendeu. Eu concordei e voltei a me sentar tentando ignorar os olhares que caiam sobre mim. – Por que está tão calma?

- Se eu não ficar quem ficará por mim? – eu rebati para ela e acho que a vi sorrindo rápido, entretanto devia ser só minha imaginação. – Até porque acredito que tudo ficará bem...

- E depois? – eu a olhei sem entender o que realmente ela estava perguntando de verdade. – O que fará depois que tudo estiver bem? Estragar tudo de novo?

Engoli em seco, ouvir aquilo da Helena era algo que sempre me chateava, mesmo que eu fingisse que não me importava, era seriamente difícil para mim. Entretanto o que ela disse fazia sentido e infelizmente eu tinha que me afastar.

- Quando eu souber que ela está bem, irei embora, prometo! - eu disse firme, embora aquela não fosse minha verdadeira vontade.

- Não, Marina, você não pode! – a Melaine disse surpresa e eu me limitei a olha-la. – Desculpa por ouvir, mas você não pode ir embora... Seria injusto com a Sophia.

- Você tem razão! – eu disse para a surpresa da Helena e da própria Melaine. – Mas eu também tenho minhas razoes para essa escolha, irei conversar com ela, tenho certeza que ela entenderá...

Sabia que isso não era verdade, por mais que ela dissesse que estava tudo bem, eu sabia que seria difícil para a Sophia.


Uma hora e meia depois uma enfermeira veio trazer notícias e eu fui a primeira a levantar. Ela abriu um simples sorriso e de alguma forma aquilo acalmou meu coração.

- A senhorita Stwart, está saindo da cirurgia e ficará na UTI, sobre observação, aproximadamente dois dias, antes de ser mandada para o quarto. – ela disse para nos tranquilizar e em parte ela conseguiu. – Mais informações serão dadas pelo médico que participou da cirurgia e o horário de visitas será bem restrito. O primeiro horário começará às duas horas da tarde.

- Quantas pessoas para a visita? – Helena perguntou olhando para nós como se já soubesse que não poderia ser muita gente.

- No máximo três pessoas, por dez minutos cada um...

Sabia que de alguma forma eu não conseguiria ver a Sophia tão cedo, mas não me importava desde que pudesse vê-la. Até porque eu tinha meus próprios métodos se eles fossem necessários. Mas para minha surpresa a Helena veio até mim e disse:

- Acho que você deveria fazer a primeira visita, te conheço o suficiente para saber que apesar dessa sua postura firme você está se sentindo com o mundo nas costas... – eu concordei feliz pela forma que ela tinha falado, embora ela estivesse seria como sempre.

- Seria muito bom, mas acho que depois do que houve com a mãe da Sophia, não acredito que terei acesso rápido a UTI...

- Ora não seja boba, desde quando uma bofetada te faz ficar receosa? Venha as duas e não atrase! Estarei aqui para garantir que mais ninguém entre então terá tempo suficiente... – por um momento pensei que ela estivesse preocupada comigo, pois fez a mesma expressão que costumava usar quando me via sair para uma missão.

- Obrigada!


Entrei na divisória da UTI em que a Sophia estava e puxei o banquinho para perto da cama. Olhei para ela que estava deitada, dormindo, imaginei que ainda estivesse sob efeito de remédios. Sua perna estava imobilizada, faixas rodeavam suas costelas e braços e ela parecia tão frágil como eu jamais vi.

- Sinto muito, minha pequena, grande amiga! - eu a achava incrível desde o primeiro dia, pois tinha o dom de transmitir alegria e confiança através do seu sorriso. - Te devo muitas explicações e de coração espero que possa me ouvir.


Minha historia começou nos Estados Unidos, meu país natal, meus pais eram brasileiros que tinham uma vida estável, trabalhavam com Direito e eram felizes. Tive uma ótima educação e muito carinho dos meus pais, que apesar de trabalharem muito sempre arranjavam um tempo para a família.

Anos mais tarde quando estava com 10 anos, eu e meu pai estávamos esperando pela minha mãe que iria jantar conosco. As horas se passaram e ela não apareceu, nós imaginamos que teria sido algum imprevisto de trabalhos e não nos importamos. Lembro que meu pai ligou varias vezes para minha mãe e se deu conta de que algo estava errado, ela nunca ficaria até tao tarde sem dar noticias.

- E agora, papai? – eu perguntei preocupada, meu pai veio até mim sorrindo.

- Agora é hora de ir para a cama, se não dormirmos logo a mamãe ficará brava, ela dirá que não é hora de uma menininha estar acordada. – eu cruzei os braços como se aquilo fosse o bastante para que ele entendesse que eu não era mais uma menininha. – Ora não me olhe assim, sei que está ficando grande, mas ainda é nossa menininha, então, é hora de ir para a cama.

Ele me levou até o quarto e ficou comigo até que eu dormisse, mas não demorei a acordar, ouvi o som de um carro estacionando e desci para ver se era minha mãe. Infelizmente, não era ela e sim os policiais, me escondi no topo da escada e tentei ouvir o que eles diziam.

Meu coração já sabia o que tinha acontecido, mas eu custei a acreditar que minha mãe nunca mais voltaria para casa. Lembro que meu pai tentou amenizar as coisas, no entanto percebeu que eu já sabia do que se travava e tentou me explicar sem muitos detalhes o que tinha acontecido.

Quando finalmente pude perceber tudo que tinha acontecido fui à delegacia saber todos os detalhes do caso que ainda estava aberto, por falta de evidencias. Eles disseram que era assassinato, mas que nada parecia se encaixar.

- Mentira! – eu disse dominada pela raiva e impotência. – Vocês que não fizeram seu trabalho direito, acham que as famílias se contentam com pouca coisa e esquecem que é esse o dever de vocês, dar respostas é o que vocês deveriam fazer.

Quase fui presa naquele dia, porém o policial entendeu que a raiva tinha falado mais alto, no entanto eu teria repetido tudo de novo. Depois desse dia eu decidi que encontraria um meio de fazer justiça a minha mãe e não deixaria que mais famílias ficassem sem resposta como eu.

Meu pai decidiu voltar ao Brasil, por razões que ele não fez questão de dividir, aliais depois da morte da minha mãe nada podia anima-lo. Fui obrigada a acompanha-lo, mas não desisti dos meus desejos.


- Seu tempo está acabando... – a enfermeira disse aparecendo na cabine.

Eu concordei, olhei para Sophia de novo e coloquei a minha mão sobre a dela, era triste lembrar daqueles anos difíceis e perceber o quanto queria que a Sophia estivesse mesmo me ouvindo.

- Sophia, eu estou indo... Seja forte! – eu permaneci com a mão em cima da dela e senti o leve toque dela, pressionando a minha.

- Conte... mais... – a voz dela era ainda mais fraca do que quando ela, mas eu havia entendido perfeitamente o que ela queria dizer.

- Assim que eu voltar contarei mais... – Ela sorriu bem de leve e voltou a dormir.


Estava saindo do hospital e sem querer esbarrei na médica que estava entrando.

- Desculpa, eu estava distraída! – peguei os papeis no chão e ao levantar vi que era a Claudia, mãe da Sophia. – Claudia...

- Obrigada! – ela pegou os papeis e pôs de volta na pasta. – E me desculpe você também... Não deveria ter batido em você.

- Não te culpo, é sua filha e acho que você não agiu mal... Mas se isso te deixa feliz, em breve não pretendo estar por aqui... – Ela me olhou com interesse e depois deu de ombros e entrou no hospital.


Em casa continuei a pensar nos anos que passaram...

Voltei aos EUA assim que pude e fiz de tudo para entrar para a CIA, que a meu ver era uma ótima maneira de fazer justiça, pois assim ajudaria a proteger as pessoas e poderia um dia encontrar quem tinha matado minha mãe.

Após muitos testes eu pude começar um treinamento difícil e sobre-humano que todos os agentes eram submetidos. Aumentar a força, coragem, melhorar habilidades e conhecimento de mundo, aguçar os sentidos e a mente, para encontrar até mesmo uma agulha no palheiro.

Quando fui liberada para começar minhas próprias missões, eu conheci uma mulher chamada Michele Sanchez que se tornou minha tutora e tempos depois minha parceira. Ela era extremamente inteligente e tinha um charme que fazia qualquer disfarce ser perfeito, ao mesmo tempo possuía um controle incrível sobre sua força, agilidade e mente. Aprendi coisas muito importantes com ela que iam muito além de missões e estratégias. Apesar da diferença de idade e experiência nos tornamos amigas e éramos boas parceiras.

Tivemos que nos afastar, pois fui mandada para o Brasil, minha missão era achar um grupo que pertence à máfia japonesa: os Hyuga. A maior ambição desse grupo é desestruturar as grandes potências mundiais e voltar os olhos do mundo para o Japão o que facilitaria o comércio entre esse grupo e outros do mundo.

Quando cheguei à primeira coisa que fiz foi visitar meu pai que há muito não via, descobri que estava muito mal de saúde e apesar do meu desejo de estar com ele, não pude fazer muito além de dar melhores condições medicas para ele. Sugeri que ele fosse de novo para os EUA, pois lá seria melhor tratado, mas ele disse:

- Fico feliz que ainda se preocupe com seu velho pai, mas não quero que deixe de fazer o que realmente veio fazer por minha causa... – apesar de não ser permitido eu tinha contado a ele sobre meu trabalho, de inicio achei que ele tivesse ficado triste, mas em seguida ele sorriu. – Tenho muito orgulho de você, minha filha! Só peço que seja cuidadosa, não suportaria perder você...

- Pode deixar pai! E você, por favor, se cuide, virei assim que puder, para visita-lo. – eu disse abraçando ele bem apertado como se soubesse que aquela seria a ultima vez que o veria vivo. – Amo muito você!

- Também amo você, minha filha! – Ele disse sorrindo.

Corri atrás de pistas de onde poderia encontrar os membros dos Hyuga, é claro que eles estavam bem escondidos em meio à alta sociedade brasileira. Precisava de mais informações então decidi me instalar em algum lugar do país e assim por meio de um disfarce procurar por algo que me levasse a eles.

Foi assim que cheguei a Belo Horizonte, que parecia uma ótima cidade para viver sem delatar minha presença. Meu disfarce era de professora de português assim como sou agora, na universidade da cidade. Lá eu conheci a Helena e o Murilo que cursavam os últimos anos de faculdade.

Eles eram inteligentes e interessados, tinham as melhores notas em suas turmas e eram tão simpáticos que não pude deixar de criar um interesse por eles, mesmo sabendo que não deveria me envolver muito além do que eu já teria que fazer.

Um dia eu estava na minha sala e só havia poucos alunos, era a turma de Direito que o Murilo participava. O sinal tocou e eu liberei todos, mas tudo na escola se apagou, era um blackout, alguns não se importaram e foram embora.

- Professora se quiser posso arranjar uma lanterna... – Murilo disse mais perto do que eu tinha percebido.

- Acho que não será preciso, imagino que a luz não tardará a voltar, mas obrigada! – ele acendeu o isqueiro que provavelmente tirou do bolso e sorriu. Ele era tão lindo que não pude deixar de ficar olhando por um instante.

A luz voltou uns vinte minutos depois e todos foram embora, menos o Murilo que parou para guardar suas coisas que ainda estavam sobre a mesa. Descemos juntos para o pátio e a irmã dele apareceu quando chegamos ao estacionamento.

- Ah, você é a professora Marina não é? – Helena me perguntou o que me fez rir porque já tinha dado algumas aulas para ela. – Ainda não me apresentei formalmente, sou Helena. Acho suas aulas bem dinâmicas, gostei muito mesmo do seu jeito de explicar.

- Que bom, Helena! Fico muito feliz que goste das minhas aulas... – eu disse surpresa por realmente estar feliz com o que ela tinha dito, afinal era um disfarce meio complicado de trabalhar.

- E então, Murilo, vamos? –Helena perguntou passando os braços na cintura do irmão. Ele assentiu e acenou para mim. – Boa noite, professora!

- Boa noite! – eu disse acenando de volta, mas sem pensar eu disse. – Vocês não querem uma carona?

- Carona? – Murilo perguntou sorrindo e a Helena bateu no braço dele para que não fosse tão interesseiro. – Não precisa, não moramos tão longe, mas muito obrigada!

Eu concordei e nos separamos ali, depois desse dia nossas conversas foram ficando mais frequentes até que nos falávamos todos os dias. Sabia que era errado fazer amizades, mas tínhamos tanto em comum e era tão fácil estar com eles que me deixei levar.

Havia um laço de confiança entre nós, algo confortavel como estar em família e essa sensaçao eu não sentia há algum tempo. E com isso nao percebi o quão perto o Murilo estava ficando, ele era sempre muito cordial, animado e divertido. Por vezes ficamos conversando enquanto esperavamos a Helena ser liberada.

No meu aniversario, eu nem estava dando muita importância para o dia, no entanto quando cheguei a minha sala naquela noite eu vi um cartão sobre a minha mesa e por cima dele uma rosa vermelha, que dizia:


Feliz aniversário, Marina!

Gostaríamos de te entregar pessoalmente o cartão com os parabéns, mas tivemos um pequeno imprevisto. Esperamos te encontrar no Hard Rock assim que o horário de aula acabar.

Carinhosamente, Helena e Murilo.

A letra era da Helena, mas a rosa era sem duvidas ideia do Murilo, que naquela hora eu não percebi qual era seu verdadeiro recado. Eu estava feliz e não suportaria esperar a hora de nos encontrarmos. Foi nessa hora de felicidade que meu telefone tocou.

- Alô, Marina? – era o Arthur, meu chefe e amigo.

- O que houve, Arthur? – eu perguntei sentindo meu sangue gelar, não tinha esquecido minha verdadeira função naquele lugar, mas ouvir a voz dele foi como um balde de agua fria.

Ele me passou uma rápida missão que me tiraria da sala pelo resto da noite, corri para a responsável de supervisão daquela área e disse que não estava me sentindo bem e que voltaria para casa. Resolvi tudo que precisava, mas percebi que já estava tarde, faltava meia hora para meu encontro com o Murilo e a Helena.

Fui o mais rápido que pude para casa e dei um jeito no meu visual que após uma luta tinha ficado um horror. Cheguei ao Hard Rock minutos atrasada, embora eles nem tenham notado.

Helena se levantou, me abraçou apertado e me parabenizou de um jeito simples e tímido. Murilo fez o mesmo, mas por alguma razão eu senti um arrepio quando ele me abraçou.

- Parabéns, senhorita! – ele disse ao meu ouvido em um tom brincalhão e me beijou na bochecha.

- Obrigada, por lembrarem! – os dois me olharam como se eu fosse a maior boba do mundo e eu realmente me sentia assim, já que há muito tempo não me sentia tão querida.

Foi uma noite maravilhosa, nós conversamos, rimos e era como se eu fosse um deles, mesmo eu sempre me lembrando de que não poderia nunca fazer parte daquele cenário.

- Quantos anos? – Murilo perguntou como se entrevistasse uma múmia egípcia e isso me fez rir ainda mais.

- Murilo, não se faz esse tipo de pergunta a uma lady de trezentos anos. – eu brinquei jogando uma bola de guardanapo nele. – Hoje faço 28 anos...

Eu não era tão mais velha que eles, Helena tinha vinte dois anos e o Murilo vinte três. E lembrar isso me fez ficar ainda mais à vontade, mas essa sensação começou a mudar por dois motivos. O primeiro foi a grande vontade do Murilo de me conquistar que estava ficando cada dia mais evidente e a segunda era que o Arthur estava me ligando sempre para passar missões aleatórias.

- Arthur, não sei fazer malabarismo, não dá para me concentrar na missão principal com esse obstáculos que vocês mesmos estão pondo no meu caminho... – eu disse quando ele me passou a terceira missão em uma semana.

- Acha que eu não sei? Estou tentando te ajudar com o seu caso enquanto você me ajuda com essas pequenas pedras que também são importantes. – eu respirei fundo, não queria me estressar com ele, afinal ele não tinha culpa do meu insucesso em achar pistas. – Prometo que te ajudarei no seu caso!


- Marina! – Murilo me chamou no estacionamento, ele tinha as mãos escondidas nas costas e seu olhar estava com um brilho diferente.

- Ei, Murilo, tudo bem? – eu perguntei reparando que era a primeira vez que o via naquela noite. – Nem te vi hoje, por onde esteve?

- Estava procurando minha coragem interior. – ele disse se aproximando de mim, sorria como nunca tinha visto, sua expressão era simples e estranhamente entusiasmada.

- E para que precisa dela? – perguntei percebendo no mesmo instante que essa era a pergunta errada.

Ele se aproximou ainda mais e achei que fosse me abraçar, mas ao invés disso ficou parado a centímetros de mim de forma que podia sentir sua respiração acelerar. Meus olhos se prenderam no caramelo dos olhos dele, como se não houvesse mais para onde eu quisesse olhar, e com certeza não havia.

- Murilo... O que está fazendo? – eu perguntei tentando controlar minhas palavras e não gaguejar. Quando vi que não tinha para onde correr e na verdade eu não queria, apenas fechei os olhos e senti os lábios dele nos meus.

Minha cabeça ficou parecendo um turbilhão nessa hora, era errado estar beijando ele, mas não era isso que eu sentia de verdade. Por mais que algo dissesse que era perigoso nada parecia querer me convencer que eu deveria me afastar e impedir que aquele beijo continuasse.

- Murilo, eu... – eu me afastei, meio zonza e sem saber o que dizer. – Eu preciso... ir!

- Mas Marina... – eu o interrompi antes que dissesse algo que me convencesse.

- Não podemos, sinto muito! Há muita coisa que me impediria de ficar com você, não perca seu tempo comigo. – eu disse agora com meus sentidos recobrados, entrei no carro apressada e fui embora me negando a olhar para ele que ficou parado me olhando ir embora.

É claro que ele não desistiu então eu preferi me afastar, por mais difícil que fosse. Helena disse que compreendia e fingiu se afastar também, para que o irmão fizesse o mesmo, apesar disso ele sabia como me surpreender e foi assim que ganhou de vez meu coração.

- Pare de fugir! – ele me disse quando todos já haviam deixado a sala. – Por que não pode aceitar o fato de que também gosta de mim?

- E o que te faz pensar que gosto de você, mais do que gosto da sua irmã? – perguntei fingindo realmente não me interessar, mas ele não se convenceu com a minha atuação.

Chegou perto de mim como no dia em que me beijou e por um momento achei que fosse fazer de novo. No entanto ele apenas sorriu vitorioso e segurou minha mão que tremia um pouco.

- Você tentou se afastar e se realmente não gostasse de mim, já teria conseguido... – ele disse com um tom presunçoso, eu permaneci olhando nos olhos dele até que não pude mais manter minha pose de que não iria ceder.

- Você tem razão, Murilo! Mas... – ele me interrompeu, beijou de leve meus lábios e saiu da sala para a próxima aula dele. – Ai, Senhor, o que farei? Não posso me apaixonar agora...

Mas era tarde de mais, já não parava de pensar no Murilo desde que me beijou pela primeira vez. Se o Arthur descobrisse me mandaria mudar de disfarce ou viria até o Brasil para me matar pessoalmente. Agora teria que me esforçar o dobro para que eles não descobrissem meu segredo.

É claro que não consegui meses depois que comecei a namorar o Murilo eu acabei me entregando. Contei aos dois toda a minha historia até aquele dia e para minha surpresa eles não se importaram.

- Isso só te torna ainda mais interessante... – Murilo disse para mim antes de ir embora. De alguma forma aquilo me acalmou e esse foi com certeza meu maior erro.

Um dia eu estava ajudando ele a estudar para as ultimas provas do ultimo período e decidimos sair para lanchar, antes de voltarmos aos estudos. Fomos a um lugar não muito longe da minha casa e enquanto esperávamos nosso pedido meu celular tocou.

- Poderia falar com a Marina? – a voz do outro lado era meio arranhada e isso me fez ficar seria.

- Sim sou eu, com quem eu falo? – a pessoa do outro lado riu de forma rude e disse.

- Vive me caçando e não reconhece sua presa? – ele perguntou e aquilo me fez gelar. – Venha me encontrar, vamos acabar com essa brincadeira de esconde-esconde...

Ele me passou o endereço e desligou o telefone, olhei para o Murilo sem graça e ele entendeu no mesmo instante. Estendeu a mão para mim e eu a segurei com força.

- Se precisa ir, vá! – ele disse sorrindo, com a outra mão ele me estendeu uma caixinha preta e eu a peguei. – Para te dar sorte...

Na caixa havia um colar fino de prata com um pingente de rosa, era tão pequeno e bonito que quase deixei uma lagrima escapar. Ele sentou do meu lado e pegou o colar para por em mim.

- Pronto! Agora me terá sempre com você... – eu virei para que pudesse olhar bem nos olhos dele e fiquei bem pertinho, sem dizer nada, afinal não era preciso. – Não se esqueça de que te amo senhorita!

Encostei minha testa na dele e por alguma razão senti que seria a ultima vez que faria aquilo. Coloquei minha mão na bochecha dele e ele fez o mesmo comigo me beijando em seguida. Era inexplicável o que eu sentia por ele, como se todo o meu corpo quisesse que eu o abraçasse e não soltasse nunca mais. Eu o amava de verdade, independente de qualquer coisa até mesmo do fato da minha vida ali não ser real, ele era a única coisa verdadeira nos últimos tempos.

- Até mais tarde! – Eu o beijei de novo e me levantei antes que a minha coragem se afugentasse. Ele sorriu e ficou me olhando sair do restaurante.


A praça, estava vazia e não havia nem sinal de vida pelos arredores, embora não estivéssemos muito longe do centro da cidade. Peguei minha arma que escondia no porta-luvas e sai do carro consciente de que alguma coisa estava prestes a dar errado.

- Boa noite, Marina! – a mesma voz arranhada do telefone me chamou. Eu me virei e vi um homem com traços orientais, embora não muito fortes, era magro, alto e se não fosse pela longa cicatriz em seu rosto seria muito bonito. – Não me apresentei formalmente ainda, mesmo já sabendo tudo a seu respeito... Meu nome é Henry Ukitaque, sou o responsável pelo grupo Hyuga aqui no Brasil, sou também um grande empresário com muitos contatos e muitos problemas maiores para resolver, por isso essa noite será a ultima vez que você entrará no meu caminho.

Naquela noite eu lutei com todas as minhas forças, mas eram cinco contra um e nem toda a minha habilidade era párea para eles. No ultimo instante quando estava lutando com o ultimo deles o Henry veio por trás e tentou atirar em mim.

Lembro que assim que ouvi o disparo eu cai no chão, mas percebi com imensa tristeza que quem tinha recebido a bala era o Murilo que agora estava sobre mim.

- Murilo? – eu olhei para ele incrédula, ele se levantou e eu vi a mancha de sangue em sua camisa. – O que você fez?

- Tentei não me envolver, mas não consegui... – as lagrimas vieram, involuntariamente, quando ele caiu de joelhos e pôs a mão sobre o peito. – Me desculpa...

Peguei meu telefone e liguei para a ambulância, percebi que não havia nem sinal do Henry apenas seus homens caídos no chão não muito longe de mim. Olhei para o Murilo que lutava contra a dor e o deitei no meu colo.

- Seu idiota, como pode fazer isso... – apesar de querer soar com raiva não consegui, eu estava com medo, mais medo do que jamais senti em minha vida. – Murilo, por favor, não se vá...

Ele sorriu e segurou minha mão para me confortar, fechou os olhos por um momento, tossiu e algumas gotas de sangue escorreram pela lateral da boca... Senti meu chão sumir meu coração se apertar e o desespero derrubou todo o meu autocontrole.

- Nunca me afastarei de você, estarei sempre onde realmente importa... – ele pôs a mão no próprio coração e sua mão ficou ensanguentada. – É só não se esquecer do quanto te amo.

- Amo você, Murilo! Como nunca amei e nem amarei outra pessoa, por isso não me deixe, por favor... – ele sorriu e aos poucos afrouxou sua mão que ainda segurava a minha.

A ambulância chegou e fomos para o hospital, mas eu fugi assim que ele entrou no hospital, não podia ouvir que ele tinha morrido e me senti a pessoa mais covarde do mundo. Devia ter ficado e esperado até o ultimo minuto, ou ficado ao menos para contar a Helena o que tinha acontecido. Mas não podia, meu coração não estava suportando tamanha dor, como na noite em que minha mãe foi morta, precisava ir embora, correr para longe, mesmo sabendo que a dor me acompanharia.

Depois daquilo eu precisava de um tempo para respirar e voltei aos EUA, mas como eles gostaram do meu trabalho enquanto eu estava aqui me mandaram de volta um ano depois. Sobre os Hyugas eu nunca mais fiquei sabendo de nada embora sempre tenha procurado, mas algo me diz que o Henry só está esperando a hora certa.


- Como veio parar aqui? – Sophia perguntou quando dei uma interrompida na minha narração. Já havia se passado dois dias desde o acidente e apesar de abatida ela já parecia melhor.

- Arthur, pediu que eu permanecesse na região, pois assim seria possível encontrar os Hyugas mais facilmente já que foi por aqui que nós lutamos. Foi então que reencontrei a Helena e conheci você. – Nunca havia contado minha historia para ninguém, não queria me fazer de pobre coitada, entretato sabia que a Sophia jamais me veria assim. E confesso que desabafar tantas lembranças assim de uma vez, foi um grande alívio, imagine ficar presa em um quarto cheio de mofo e depois voltar ao ar puro. – Helena ficou surpresa quando me viu na escola e de inicio achei que ainda tinha alguma consideração por mim, mas não a culpo pelo jeito que ela me trata, eu errei muito com eles.

- Por que sempre se culpa de tudo? – Sophia perguntou o que me lembrou do Murilo quando sonhei com ele alguns dias atrás. – Não conheci o Murilo, mas tenho certeza que ele teria feito tudo de novo, milhares de vezes se fosse preciso. E eu também.

A certeza na voz dela era tão forte que me fez querer abraça-la, mas não o fiz, aprendi a controlar bem esses impulsos emocionais, tanto que as vezes me sentia até fria demais.

- Vocês se dariam muito bem, quer dizer, você e o Murilo. – ela concordou sorrindo e segurou minha mão, embora ainda não tivesse muita força para aperta-la.

- Ah, não tenho duvidas sobre isso! – ela disse brincando e acrescentou. – Teríamos que nos unir para proteger nossa causa e confabularíamos sobre qual seria nossa próxima técnica de salvamento.

- Pensando bem, acho que não seria uma boa ideia unir vocês... Eu teria que me preocupar em dobro. – Nós duas rimos e aquilo era muito bom, mas eu sabia que tinha que ir embora.

- Sinto muito, por tudo que passou! – a expressão da Sophia era terna e isso aumentou o nó que começava a se formar na minha garganta. – Por sua mãe, seu pai e principalmente pelo Murilo, que parece ter trazido um novo brilho a sua vida.

- Brilho? – eu pergunto sem saber como ela chegou a essa conclusão.

- Sim, Marina, eu não consigo imaginar o quão difícil foi perder sua mãe e quanta magoa por conta disso você ainda carrega, mas imagino que conhecer o Murilo e a Helena te fez perceber que havia muito mais coisas além dessa sua vontade de fazer justiça. Eles te trouxeram de volta da escuriadão em que você se escondeu, mostraram uma nova forma de viver que talvez fosse muito melhor do que a que você vive hoje... –

Era verdade, naquele pouco tempo que convivi com eles, apesar de ainda fazer as missões isso não me importava muito mais do que estar com a Helena ou com o Murilo. Como a Sophia tinha compreendido isso tão facilmente só por me ouvir eu não sabia.

- Ele deu brilho a sua vida, Marina, por que te fez ver a vida com outros olhos, mas com a morte dele você voltou para seu esconderijo...

- Acha mesmo isso? – eu não concordava muito com ela sobre esse aspecto.

- Você é uma pessoa incrível, Marina, demonstra sempre coragem e autoconfiança, quando te conheci te achei formidavel, todos nós achamos, porém eu ja via além disso, assim como o Murilo e a Helena viram...

A enfermeira entrou, fez uma careta para mim e apontou o relógio infdicando que meu tempo havia acabado. E eu ainda nao tinha dito o que precisava dizer. Eu a olhei por um minuto avaliando se depois do que ela disse eu teria ou não coragem de dizer que iria embora, no dia seguinte.

- Diga logo o que quer dizer. - Sophia disse percebendo minha angústia.

- Recebi um chamado, o Arthur está precisando de mim... Embarco amanhã! - Eu pude ver a expressão dela murchar, mas ela permaneceu em silêncio. - Obrigada, por tudo!

- Sempre que precisar, minha amiga! - Sophia disse solene como de costume, eu a abracei e quando voltei a olha-la, vi alguma lágrimas descerem lentamente. - Mande notícias... Ficarei mais tranquila sabendo que está bem.

Eu cocordei enchugando o rosto dela com as costas da minha mão, meu coração se apertou e antes que eu mudasse de ideia, fui embora.


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