Eduardo E Mônica escrita por Janine Moraes


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Eu sou provavelmente uma das autoras mais lerdas e insuportáveis do mundo. Vocês legais, mandando reviews (embora muitas(os) sejam fantasmas, triste essa parte, tristíssimo) e mais uma recomendação.... E eu demorando. Gente como eu tem que apanhar. kk Porque mesmo poucas comentando, são sempre as fiéis e eu dou muito valor, meninas, acreditem nisso. Só que meu tempo anda escasso e esse ano vai ser pior ainda, porque quero muito passar no vestibular, portando vou abolir a frase "vou postar rápido" porque não vou dar garantias, mas vou me esforçar.
Um obrigadão a Acsa Neves, pela recomendação linda e gentil. Fico imensamente feliz pelo incentivo, pelo carinho e pela confiança depositada em mim. Não quero decepcionar nenhuma de vocês, cara! KK Obrigada, obrigada, obrigada. ♥
Enfim, to enchendo muita linguiça. Láa vai:



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Respirei fundo, atenta ao garoto a minha frente. Mordia o lábio concentrado, parecendo estar em um mundo muito distante, muito além de seu quarto e da cama onde estávamos sentados, com a colcha bagunçada e os travesseiros espalhados em todas as direções. Alheio a minha presença despenteada e comum. Eduardo mexia em algo no seu notebook. Algum joguinho de cartas inútil. Eu estava sentada acima dele, que estava deitado; a cabeça na parede. O quarto exalava uma mistura tédio, chatice, expectativa e frustração. A TV ao fundo zumbia algum programa desinteressante, quebrando o silêncio irritante. Decidimos ficar em casa naquele dia e como o resto da semana, aquele era um fim de tarde arrastado e tedioso. E mesmo que eu quisesse mudar essa situação (toda a situação que eu andava metida nos últimos dias), mesmo que estivesse super disposta a melhorar no quesito namorada e amiga, Eduardo parecia ainda meio alheio a isso. Acariciava minha panturrilha de forma mecânica, distraída, como se eu fosse um cachorrinho. O carinho era uma forma de me manter satisfeita e calada, mas não estava funcionando muito bem. Respirei fundo mais uma vez, mas isso não o fez nem piscar, nem pender a cabeça em minha direção.

— Não quer ir para algum lugar? — Eduardo fez uma careta, sem prestar atenção em mim. O silêncio voltou a reinar. Sugeri: — Podemos ir ao cinema...

— Cansei de cinema.  — Ele respondeu distraído, mas bufou, largando o notebook. Se espreguiçando, reparei como ele parecia cada vez mais alto. Meu coração acelerou levemente.

— Podemos assistir séries aqui mesmo. — sorri. Séries de zumbi, policiais, criminalísticas, sei lá, qualquer coisa que colocasse animação (sangue, tiros e tripas) no nosso dia. E além do mais era sempre divertido assistir com Eduardo.

— Não, já me atualizei em todas. — disse, de forma categórica.

— Podemos começar uma nova... juntos. — Pronto, me superei. Que ideia genial. Quase me empolguei. Ele não podia negar uma dessas... Mas negou.

— Não.

— Ao parque...  — Não desisti. Não posso desistir logo agora, pensei.

— Enjoativo.

— A praia. — Eu apelei com essa, estava bem consciente disso. Eduardo amava ir a praia, porém, ele se limitou a resmungar, sem dizer nada. O lembrei, como se ele estivesse esquecido desse fato sobre si mesmo. — Você ama ir a praia, Edu.

— Não, quero ficar aqui.

 Me irritei com sua negativa repetitiva. Ele nem se esforçava. Caramba! Que raio de mundo é esse? Onde está a justiça? Como Eduardo poderia ter passado de namorado indiscutivelmente irritante (de um jeito bem adorável), engraçado e fofo para um insensível e desatento? Ok, talvez não fosse exatamente isso. Eduardo ainda é o cara engraçado, inteligente e maravilhoso. Minha companhia é que não suscitava mais aquele lado dele. Eu o cansei. Não havia nada de diferente, porque... bem, porque ele tinha esquecido de como nos ‘atualizávamos’ juntos. Ele acha que eu parei no tempo, que sabe praticamente tudo sobre mim. Ou simplesmente... Não quer mais saber. Ele agora quer o prazer da descoberta, de uma garota nova, talvez por isso ele vivesse falando de Beatriz para mim... Seria diferente se fosse ela sugerindo isso? Essa certeza começou a me tirar do sério. Eu não era muito boa lidando com esse nível de ciúmes que tomava conta de mim agora.

— E se eu disser que não vou, Eduardo? — disse, tentando controlar a raiva — Você vai sentir vontade de ir a esses lugares?

— Que pergunta mais idiota, Mônica. — Vi como ele levantou da cama, parecendo meio desconcertado.

Uma coisa que é totalmente verdadeira e triste é... A verdade camuflada machuca, mais do que a direta talvez. Porque a direta não dá direito a possibilidades, a poder arranjar outras ilusões, se machucar. Verdade camuflada é o coração partido a prestações, alguns com juros de mágoas, outros não... Porque, fala sério! Os rodeios masculinos irritam! Se você tem um namorado, um melhor amigo, um colega, qualquer coisa... Você sabe muito bem do que eu estou falando. Homens tem uma capacidade incrível de enrolar. De dar voltas. De mudar o assunto de forma mágica quando não lhes apetece, ou os coloca em saia justa. Depois de um tempo deixamos de achar isso adorável e sexy de um jeito misterioso, para começarmos a enlouquecer aos pouquinhos ao tentar entendê-los. Eles não mudam de assunto de uma forma direta, de um jeito que a gente sacasse o que eles estão pensando e sentindo, mas sim um rodeio que nos põe na beira de um labirinto pessoal e tortuoso para tentar compreendê-los. Nunca há como termos uma única possibilidade de justificativa para cada comportamento deles. Sempre temos várias suposições. Porque não queremos ser erradas ou injustas. Temos medo do erro deles não ser real. Mas de certa forma, sempre é. A falta de hostilidade, aquela coisa de não nos machucar, essa verdade camuflada... Enlouquece. E depois nós somos taxadas de loucas e inconstantes.

Respirei fundo, abraçando um travesseiro. Seu cheiro em minhas narinas. Disse, baixinho:

— Foi uma retórica, Eduardo.

— Não sabe o que quero... — Ele se virou, subitamente hostil.

— E quem sabe? Você sabe? — Minha voz se elevou. Tentei ser sincera com ele. Dizer o que incomodava, já que ser sutil não adiantava. — Você fica aí no seu jogo quando estou tentando...

— Tentando o que? Tentando me irritar? Porque é tão difícil me deixar quieto? Sozinho! — Observei chocada com aquelas palavras saírem de sua boca, enquanto ele jogava sua revista longe. Gesticulando. — Só porque você não quer ficar sozinha, é isso? Aí você me sufoca!

— Sufocar? Sufocar? — Engasguei. Querendo rir e chorar, querendo meter a mão na cara dele e o abraçar. Tentei acalmar minha raiva, a tristeza me tomando devagarzinho. — Eu queria ficar com você. Achei que queria ficar comigo... Eu não sei, quase não vimos essa semana.

— Mas nos vimos todos os dias na anterior. — Ele deu de ombros. Bufei, de escárnio.

— Porque está sendo tão... babaca?

— Talvez porque você esteja sendo uma chata grudenta. — Ele respondeu de volta. Me encarando nos olhos, como se só me visse como isso... Como a chata grudenta. Não havia qualquer carinho no seu olhar. Só um aborrecimento. Como se eu fosse um bichinho de estimação do vizinho que ele tem que cuidar porque prometeu. Como se eu fosse um objeto em seu quarto que lhe dava repulsa e o irritava, mas que ele não podia jogar fora porque foi presente da mamãe. Que droga! Constatei: Eu me limitei a um bichinho de estante velho e empoeirado que nem o vizinho aceitaria de volta, mas que fora caro e a família ficaria horrorizada se ele jogasse fora. Naquele momento, eu era só isso. E me perguntei se Eduardo enxergava isso. Me perguntei onde estava o Eduardo que me olhava de um jeito que... Fazia com que eu me sentisse bonita, rara e única.

— Quem é você? — perguntei, vendo meu queixo tremer levemente. Logo a tristeza e decepção dando lugar a raiva, a frustração... Eu me esforçava, todo dia. E ele continuava um babaca. Me levantei, calçando meu tênis e o amarrando de qualquer jeito, o nó frouxo. Eu sentia meus olhos arderem. Peguei minha bolsa de lado, a colocando de qualquer jeito. Eduardo estava parado na mesma posição, não olhei para seu rosto desconhecido, queria esquecer aquele olhar. Queria distância. Queria ir para casa, mas não tinha mais casa.

 Saí do seu quarto, batendo a porta com estrondo. Pouco me importando com Maria Eduarda me olhando boquiaberta no corredor enquanto eu passava em passos rápidos e duros. Percebi que Eduardo me seguia quando seus passos ecos e descalços seguiam os meus pela escada abaixo. Eu correndo irritada, mal amada, magoada e sufocada. Todas as frustrações da semana, juntando com estas, sua desatenção desnecessária, a sensação de ser deixada para trás dando-me me ares de revolta que comprimiam meu tórax e aqueciam meu rosto.

Passei pela sala quase furiosamente, assustando Alexandre que assistia tv, mal me reconhecendo. Não me dei ao trabalho de me despedir, comecei abrir a porta, mas uma mão me deteve no meio do caminho, fechando a porta com o ombro. Eduardo me olhava, respirando quase tão sofregamente quanto eu. Então sua expressão se suavizou:

— Ei, Mika. Desculpe... Estava estressado, fui um babaca com você, vamos assistir a um filme como você quer e...

Seu tom paciente, como estivesse me fazendo um favor, me fez explodir. Aquele jeito condescendente, como se eu estivesse errada e fazendo uma tempestade em um copo d’água me tirou completamente do sério. Eu não merecia toda aquela merda. Não estava com paciência para aquilo.

— Não. Não quero fazer algo ou qualquer coisa. Eu queria que fizéssemos algo; juntos! Algo que nós dois queremos. Mas, pelo visto... Você não está interessado, nem hoje, nem amanhã, pelo visto, não vai estar disponível por um booom tempo. Então... Fique sozinho. Não, Eduardo. Não! Aproveite seus jogos de paciência na droga do seu computador. — Empurrei sua mão que visou encostar no meu ombro com um tapa. — Melhor! Chame Beatriz pra sair. Talvez o cinema se torne mais interessante com ela. Não é isso que você quer? Vá lá, relaxa com os outros, quem sabe seu estresse seja exatamente eu. Mantenha distância, se distraia com outra garota, pra ver se assim você consegue tratar sua própria namorada bem!

O empurrei de perto da porta, abrindo-a e saindo quase correndo. Sentindo algumas lágrimas inúteis ameaçando brotar do meu rosto. Queria ir para qualquer lugar, qualquer lugar. Mas me sentia subitamente ainda mais perdida do que quando chegara ali e um milhão de vezes mais desanimada. Parecia que meu namoro estava indo mesmo para o buraco.

Me abracei enquanto caminhava, sem quase prestar atenção ao caminho, percebi que me desviei totalmente da rota do ponto de ônibus, então resolvi ficar rondando pela praia mesmo. Me abracei, vendo como o tempo estava mudando, ficando frio devagarzinho, ainda mais com o vento do mar. Me abracei, pensando que era melhor do que ficar em casa de qualquer forma. Caminhei pelo píer, um longo caminho de madeira polida, que fazia um barulho esquisito com cada passo meu. Fiquei assim até ver um grupo estranhamente familiar ali. Rafael, Beatriz, Samuel (que surpresa) e outros colegas riam escandalosamente, fazendo piadas e brincadeiras. Procurei dar meia volta e sair de mansinho, mas eles me notaram, caminhando em grupo em minha direção. Que. Ótimo. Esperei-os, o vento açoitando os cabelos contra meu rosto, muita sensualidade pra pouca Mônica, só que não. Procurei prendê-lo, mas Samuel me puxou num abraço animado, como se nunca me visse todos os dias, impedindo meus movimentos.

— Moniquinha do meu coração!

— Você está bêbado? — Ele riu, animado, mas sem vestígios de álcool em seu hálito. Se afastou de mim, ainda segurando minha mão. Cumprimentei os outros do grupo com um aceno e eles fizeram o mesmo.

— Pensamos que iria ficar com Eduardo hoje. — Beatriz sorriu, provavelmente notando todo meu ar ‘animado’. De tantas coisas que poderiam continuar a acontecer, ver a cara dela podia ser considerado a pior de todas.

— Fiquei com ele.  Só que deu a hora de ir para casa.

— Tão cedo... — Ela disse, mal escondendo o deboche. Fechei os olhos respirando fundo. Voltando meu olhar para Samuel que a analisava cuidadoso agora.

— Devia ir á inauguração do barzinho conosco, Mika. — Rafael sorriu, vi pelo canto do olho Samuel revirar os olhos.

— Não rola, mas obrigada.

— Não, é sério. Vai ser divertido. — sorri, sem graça, para ele.

—Mônica não pode... Vamos assistir a um filme juntos. — Samuel interviu, piscando para mim. Respirei aliviada. Samuel era muito perceptivo, ainda bem. — Já tínhamos combinado.

— E o barzinho? Vai abrir mão? — Beatriz perguntou, chocada.

— Assistir filme com minha querida amiga é um milhão de vezes melhor que essa inauguração aí. Mônica vale por toda a diversão. — Ele disse, elevando minha autoestima. Sorri, subitamente tímida e sem graça. Samuel era muito querido, as vezes. Talvez por ele me entender tão rapidamente é que eu gostava tanto dele.

 Beatriz bufou.

— Podíamos todos assistir um filme. — Rafael sorriu para mim. Levei um leve susto. Nossa, que mudança de programa. E por minha causa? Que coisa linda... Queria que Eduardo estivesse aqui para ouvir esse diálogo. Lembrar-me dele me fez voltar a ficar, não irritada, mas extremamente para baixo. Suspirei.

Alguns deram de ombros com a proposta de Rafael, mas Erick, outro colega de classe, aliás, pareceu bem satisfeito. Fiz uma careta de seu sorriso sugestivo.

— Ah, vocês só podem estar brincando! — Beatriz riu. — Combinamos isso há dias!

— Beatriz tem razão. Não mudem os planos. — Sorri, não estava nem um pouco no clima para aguentar Rafael e menos ainda para aguentar a causa da minha briga com Eduardo toda convencida e nojenta. Me virei para Samuel. — Você deveria ir.

— Acho que você precisa de mim. — Ele sussurrou no meu ouvido. — Algo me diz que brigou com Edu.

 Dei de ombros.

— Vou ficar ok. — sorri, tentando tranquiliza-lo.

— Não, vamos ao shopping. — Seu tom era decidido e pelo que eu conhecia da sua teimosia, é causa perdida. Passou os braços pelo meu ombro, fraternalmente. — Já estamos indo, vemos vocês na escola.

— Tudo bem. —Beatriz sorriu, me olhando atenta. Nos despedimos uns dos outros e Samuel me puxou para si, me ajudando com o frio. Embora ele estivesse como eu, camiseta de flanela e jeans. Congelaríamos até chegar à minha casa, provavelmente, ou ao primeiro shopping no caminho. Então como que quase tendo a mesma ideia, Samuel me levou para a casa dele. Era melhor do que o shopping, de qualquer maneira.

~*~

Pov. Eduardo.

A observei chocado se afastar. Seu rosto vermelho e magoado, suas palavras feridas, o grito, a voz imperativa. Parecia outra pessoa, decidida, forte e... chateada.  Alexandre espelhava a mesma expressão de susto e choque que eu. Porém se recompôs primeiro.

— Essa briga foi boa. Quem é sua nova namorada? — Ele disse, um sorriso ainda de surpresa no rosto.

— Você parece meu pai falando isso.

— Então eu estou realmente mal de vida, não é? Ele sorriu divertido.

— Ouvi sua conversa com ela. — Duda apareceu. — Você é um otário. Eu se fosse ela não voltava pra você.

Passei a mão pelo rosto, me lembrando da delicadeza, como Mônica estava carinhosa, procurando me relaxar e eu ainda nervoso pela provocação de Rafael. Achando que estava ali, em mais um fim de semana tedioso. Mesmo que fosse, não tinha direito de tratar a Mônica assim.

— Tem razão, eu sou um otário.  — concordei com Duda. Me virei para Alexandre. — O que eu faço?

— Ajoelhe e implore por perdão. — Ele respondeu prontamente.

— Sério? — perguntei, sarcástico. — Só isso?

— É sua única escolha. Até parece que não namora faz tempo... 

— Namoro faz tempo e não sei nada sobre garotas. — desabafei, ainda meio confuso sobre o que exatamente tinha acontecido ali.

— Não é questão de saber sobre garotas, cada uma é doida... — Duda bufou do comentário do pai. — quer dizer, adorável a sua maneira. É questão de saber sobre a sua garota, moleque. Você sabe tudo sobre a Mônica.

— Sabia... Não sei mais. Mônica parece tão... diferente. — Certo, eu fora um otário, mas em que mundo ou realidade alternativa ela seria tão... grossa?

— Então trabalhe nisso... A não ser que não queira. Quem é Beatriz? — Eu poderia falar de qualquer garota com Alexandre, mas subitamente me senti constrangido, culpado... Corando de leve. Merda.

— Provavelmente uma assanhada. — Duda disse, ainda me encarando com raiva. Uma defensora de Mônica. Revirei os olhos. Lembrando-me do queixo tremendo de Mônica e depois de sua explosão. Estava tudo tão diferente... E eu era tão... idiota. Só me sentia confuso, sentimento comum e rotineiro nas últimas semanas.

— Esse papo exotérico e acusatório não está ajudando em nada. Mas valeu mesmo assim, Alexandre. Tchau.

Subi as escadas em passos largos, querendo ficar sozinho. Abri a porta do meu quarto, subitamente cansado. Chutei a revista largada no chão e sentei em frente a minha mesinha do computador. Peguei uma folha de desenho e um lápis 2b, começando a desenhar para tentar anuviar a mente. As acusações magoadas de Mônica continuavam em minha cabeça. Eu deveria ter ido atrás dela? Com certeza eu a alcançaria, diria que aqueles pensamentos eram tolos, que eu não estava estressado por não estar com aqueles caras, ou pior, Beatriz. Eu tinha que pedir desculpas, mas também devia ter dado um tempo para ela se acalmar, também. Não sabia lidar com brigas. Nunca brigamos... assim.

Continuei rabiscando minha folha de desenho. O lápis negro, escurecido pedia para ser apontado, mas era mais fácil fazer sombras assim. Não conseguia conectar os riscos, ter alguma ideia formada, algo concreto para desenhar. Ficar em casa, não estava ajudando em nada. Não conseguia tirar as palavras de Mônica da cabeça. Me levantei, caçando um tênis debaixo da cama. Vi que começava a esfriar lá fora, peguei a jaqueta atrás da porta. Pensando em dar uma volta na praia. Desci as escadas, Duda deitada no peito do pai, assistindo tv.

— Onde vai, traidor?

— Não é da sua conta. — sorri, ela bufou.

— Não, sério...  Eduardo. Preciso saber pra sua mãe e tals. Vai à casa da Mônica pedir desculpas?

— Não... — Não tinha pensado direito nessa possibilidade ainda. Amanhã, eu iria, quem sabe...

— Claro que não. Homens... A melhor coisa a se fazer é ficar longe deles e perto do meu papai. — Duda abraçou Alexandre, que sorriu bobamente.

— Bela tática pra aumento de mesada, Maria. — falei para ela, que me mostrou a língua. Alexandre riu baixinho. — Se minha mãe perguntar diz que fui dar uma volta.

— Bem específico.

— Sou ótimo com essas coisas. — sorri, irônico. — Tchau.

Saí porta a fora, um vento gelado me atingindo no rosto, me deixando mais leve, mas também dando um ar melancólico. Tive que andar vários quarteirões até chegar a praia, mas fui praticamente no modo automático. Revendo meu relacionamento, como ele parecia desgastado e como eu e Mônica estávamos dessincronizados, parei em frente a um quiosque, pensando em pedir algum lanche. Observei uma menina de cabelos arroxeados sentada no banquinho, sozinha. Vestia uma blusa fina e me perguntei como ela não estava com frio. Me aproximei dela, que virou, aparentando surpresa por me ver.

— Ei, o que está fazendo aqui? — Ela sorriu, os lábios meio roxos. Talvez ela estivesse mesmo com frio.

— Dando uma volta... — respondi, dando de ombros. Lembrei-me do seu compromisso. A maldita inauguração do barzinho com Rafael. Me surpreendi com aquele onda de calor no meu rosto ao imaginá-la lá. Não com outros caras, mas... sem mim. — Não ia ficar com os garotos?

— Ah sim, foi bem divertido. Mas resolvi ficar um pouco antes de ir à inauguração do bar lá. — Fiz um gesto de entendimento. Ela sorriu docemente, um sorriso suave e quase... sedutor. Era quase engraçado aquele jeito. Eu conhecia aquele sorriso por outras garotas, mas nela era mais... autoconfiante. Mais... provocativo. Eu não devia gostar disso, mas não era algo que eu podia evitar. — Você devia ir conosco.

— Não estou no clima, mas obrigado por chamar.

— Eu poderia ajudar você a se animar. — ri baixo.

— Duvido muito. — Me ajudar a entender a Mika, essa seria uma ótima ajuda. Melhor... Me ajudar a sentir tudo que eu sentia por ela. Eu amava, Mika... Só não sabia se era o suficiente. Claro que era o suficiente, mas me sentir atraído, dessa maneira tão mais forte, por outras garotas... me parecia absolutamente errado. E começar a admitir isso pra mim mesmo, era pior ainda.

— Você realmente parece abatido. — Ela sorriu tristemente, descendo do banquinho. — Brigou com a Monica?

— Como você sabe?

— Sua cara... E vocês parecem meio... Estranhos na escola.

— Bem, é... foi. Mais ou menos. É uma fase difícil. Vai ficar tudo bem.

— Claro, claro... — Ela segurou minha mão entre a sua, mexendo em meus dedos. Corei levemente, percebendo como ela tinha se aproximado sem eu notar, alguns fios de cabelo flutuando por causa do vento, quase alcançando meu nariz. Um cheiro de perfume, instigante me atingiu. Me afastei, constrangido por meus pensamentos. — Quer saber? Já sei o que podemos fazer para você se animar... Podíamos ir a inauguração. Só pra você relaxar.

— Não acho que seria uma boa ideia. Mas obrigado pro se preocupar.

— Não vai ser tão legal sem você lá. — Ela sorriu. — Devia ir... Mas se não pode, teremos outras chances.

— Sim, claro...

— Tenho que ir. Estou atrasada para encontrar os garotos. — Ela se abraçou, esfregando os braços.

— Não está com frio?

— É tolerável. — Deu de ombros. Tirei minha jaqueta por impulso.

— Tome. — Estiquei.

— Não, Eduardo... Eu...

— Anda, pega. Vou me sentir péssimo se você não pegar. — Ela sorriu, levemente corada. A ajudei a vestir, fechando o casaco para ela. Eu costumava fazer isso com Mika... Droga. O que estou fazendo? Nada. Isso não é proibido. Beatriz é uma boa amiga, gentil, ué... Só mais extrovertida e com uma rotina diferente do que estou acostumado. Emprestar o casaco não significava nada. Nada.

— Obrigada, muita gentileza sua, Eduardo. — Ela se aproximou, me dando um pequeno beijo na bochecha. —Vejo você depois... Tchau.

A observei se afastar. Me sentindo meio leve e alegre por sua animação, mas também frustrado por não poder ou querer ir a tal festa e culpado, extremamente culpado por querer isso e não estar agora com Mônica, dizendo a ela o quanto gosto dela, o quanto queria não me sentir assim. Dei minha volta, decidido a ir á casa do meu pai. Alguns minutos com ele, minhas irmãs e Malu, ainda mais se eu desse sorte e Pablo, Edith e Pietro lá, eram o suficiente para me ajudar a espairecer. 


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Notas finais do capítulo

É, crise ta ficando nervosa. Mônica até explodiu. E Edu pisando na bola over and over again. Tsc tsc. rs Logo, logo personagem novo aparece e tuuuudo vai dar uma mudada bacana. Esperem e verão u.u Obrigada por lerem e comentáaaarios, pfvr, pfvr?