“Oi, eu me chamo Peter. Sou o irmão do Nicholas. Muito prazer.” O rapaz alto de jaqueta me estendeu a mão direita, mas eu não segurei.

“Peter?” Perguntei, olhando diretamente para Nicholas. Legal, outra mentira.

Enquanto eu estava sem ter certeza do que era realidade ou sonho nos pensamentos de Nicholas, eu tinha entrado no quarto dele e achado um artigo sobre um adolescente que tinha sido morto, e Nicholas afirmava que era o irmão dele, e que ele sentia muita dor e por esse motivo estava me prendendo lá dentro. Eu estava lembrada que ele era louco porque ele me amava, mas ao mesmo tempo queria me fazer sofrer, então eu simplesmente não podia deixar passar.

“Sim, Peter. Meu irmão. Kristen, podemos conversar lá fora?” Nicholas olhou para mim e fez um gesto discreto, mas eu não colaborei.

“Ah sim, claro. Outra mentira, não é mesmo? Eu não sei como acreditei em você. Você tinha dito que ele estava morto! Ele é o Peter do artigo no seu quarto! Conte a verdade, Nicholas! Por que você fez tudo isso?” Gritei, e sem perceber meus olhos já estavam cheios de lágrimas, mas eu não sabia porque.

Fique quieta e saia logo comigo antes que eu precise usar a força.

Uma voz muito conhecida ordenou em minha mente, e de alguma forma eu sabia que era ele. Nicholas.

“Me conte a verdade, eu não quero mais mentiras. Ah sim, claro. O que mais você esconde de mim? Será que você me ama mesmo ou só está louco? Na verdade isso nem importa, eu nem gosto de você! Eu nem sei por que estou perguntando isso pra você! Esqueça. Me deixe em paz!” Ordenei, e em seguida puxei Alice e comecei a carregá-la para a saída.

“Kristen! Ouça, espere! Espere!” Nicholas puxou o meu braço esquerdo, o que me fez perder o resto do equilíbrio que eu ainda tinha do meu corpo.

“Me solte! Ãrg, mas que raiva de você! Olhe o que você fez comigo, olhe o meu estado, olhe o estado de Alice, porque você tinha que aparecer na minha vida e atrapalhar tudo! Se não fosse por você eu poderia estar estudando feliz, e talvez até estivesse com alguém! Talvez estivesse feliz!” Gritei, e deixei que escapassem o resto das lágrimas que meus olhos não agüentavam mais segurar.

“Porque foi o destino, Kristen! Pense bem, de todas essas cidades você veio parar justo na minha, de todas as escolas você veio entrar justo na minha, de todos os caras você veio falar justo comigo. Não se pode mudar o destino, Kristen. E o nosso está junto para sempre.”

“Nunca! Eu nunca ficarei para sempre com você! Se esse for o meu destino, quer dizer, se o meu destino for você, então eu não pretendo seguir ele!”

“Não se pode escolher. Você terá que seguir o seu destino, e de um jeito ou de outro ele será junto ao meu...” Ele chegou em meu ouvido esquerdo e sussurrou perto. “Para todo o sempre.”

“Suma! Me esqueça! Me deixe viver em paz! Por que só acontece comigo? Por que não me deixa seguir o meu destino, que eu tenho certeza que será sem você! Por que?” Me afastei, gritando logo em seguida.

“Porque eu te amo, Kristen.”

“Isso não é desculpa, seu rato de esgoto. Nunca foi.” Me levantei, pegando Alice e me atirando para fora do local escuro e barulhento em que nos encontrávamos.

“Você não pode fugir, doce. Você nunca pôde.” Ele riu falsamente.

“Talvez eu não possa fugir, mas se isso tiver um fim, então será agora.” Me afastei e logo em seguida tirei uma caixa preta pequena da bolsa, que continha um botão vermelho logo no centro.

“Kristen, o que você vai fazer?” Nicholas me olhou, assustado. “Kristen, o que é isso? Não faça nenhuma besteira, o que é isso? Kristen! Me responda!” Ele me olhou totalmente assustado e em seguida começou a se afastar para dentro da boate.

“É um presente, Nicholas. Eu sei que talvez eu vá para o inferno, ou algo pior, mas e daí? Eu já sabia que eu ia para lá desde o começo.” Em seguida apertei o botão vermelho no centro da minha caixinha, o que fez aquela boate explodir totalmente bem na frente dos meus olhos claros.  

“Kristen! Socorro! O que foi isso?” Ouvi Alice atrás de mim se levantar e me puxar com força, ordenando para que saíssemos dali, mas a única coisa que eu estava fazendo era olhar aquele local pegar fogo, até não conseguir mais enxergar o corpo de Nicholas. Até eu ter certeza de que ele estava completamente morto.

“Kristen! Vamos sair daqui!” Ouvi a voz de Alice, e logo em seguida despertei. Apenas segurei a mão dela e deixei que o meu corpo, e não a minha mente, me levasse direto para a casa.

“Kristen, você está bem? Você está me ouvindo? Aquilo foi uma explosão? Ouve uma explosão dentro da boate? O que aconteceu, você viu algo? Você está machucada?” Alice não parava de me fazer perguntas, e eu ainda estava no meu estado automático, sem pensar, tinha me desligado da realidade, então simplesmente pisquei e voltei ao mundo real.

“Eu estou bem.” Disse, sem emoções.

“Só isso? Primeiro eu caio bêbada num sofá de uma boate e ouço discussões, vejo você me levando para a saída e em seguida acordo assustada com um barulho de explosão bem na minha frente! Eu estou assustada, me perdoe se você esta bem mas é que eu não estou!” Ela gritava, desesperada e sem saber sobre nada, realmente nada, e pela primeira vez eu agradeci por ela estar bêbada, e não ser a prova de que eu tinha feito aquilo.

“Vamos pra casa, ta bom? Vamos combinar de que a sua tia não saberá disso, por favor. Eu também estou assustada, me desculpe. Eu não sei direito o que aconteceu, a boate simplesmente explodiu e nós já estávamos fora dela. É isso que importa, estamos bem, não estamos?” Sorri, segurando a mão dela bem forte.

Mais cedo, quando eu e Alice estávamos andando, antes da primeira aparição de Nicholas, eu já tinha algo em mente, algo que acabasse de vez com o meu sofrimento. Em um rapaz que encontrei sentado na esquina, ele vendia todos os tipos de armas e explosivos. Eu não queria levar uma arma para jogar em uma noite comum em Las Vegas, então eu comprei a caixinha preta, com ela vinha um explosivo pequeno, porém muito forte. Quando tive a chance, joguei para dentro da boate sem que Nicholas percebesse e me afastei, esperando somente o momento de ‘detonar’. Foi simples demais, e é claro que eu não estava bem, mas eu já me sentia bem melhor do que antes.

Se Nicholas estava morto ou não, e se eu ia para o inferno ou para o purgatório, eu não estava nem aí. Finalmente eu seria ‘feliz’ e livre de todos os meus problemas. A única coisa que eu queria naquele momento, era voltar para Mississipi e abraçar os meus pais, dizer que tudo estava acabado. Para todo o sempre.

“Looking back across the years

The good times and the bad

An echo in my mind

Whisper on a breeze

Sweet and bitter memories

Of all I left behind

If it was'nt for your love

Don't know where I'd be

Dont know what I'd do

Time and time again

Sing the same refrain

All because of you

For you will be my love

And I will feel your heartbeat

Forevermore.

Rest here in my arms

Forevermore”

“Bom dia, meninas! Levantem logo e venham me ajudar a fazer o café, o meu dia está cheio hoje.” Acordei, com a voz de Katherina na porta do quarto.

“Bom dia. Claro, já estamos levantando.” Sorri e levantei, olhando diretamente para Alice, que ainda estava sem acordar.

“Vamos, Alice. Acorde. Nós precisamos voltar para Mississipi, você se lembra?”

“Não me enche o saco, Kris. Eu estou com uma enorme dor de cabeça e nada vai me fazer levantar daqui.”

“Eu vou!” Gritei, e pulei em cima da cama dela e logo em seguida fazendo-a sentir cócegas. Pois é, eu estava mesmo fingindo que nada tinha acontecido.

“O que temos para o café?” Sorri para Katherina, me sentando na bancada em sua frente.

“Temos uma garota de ressaca e mal humorada.” Ela disse, voltando os olhos para Alice. “Você podem dizer que horas chegaram ontem, mocinhas? Não é por nada, só pra saber mesmo, viram.” Ela olhou, não parecia brava, mas também não parecia feliz.

“Eu estou bem. Ressaca? O que seria isso? Sou uma menininha inocente, por favor tia.” Alice sentou ao meu lado, ainda enrolada em um cobertor rosa de solteiro.

“Tudo bem, vamos lá. Desta vez eu vou liberar, mas só esta vez hein.” Ela riu. “Faça o favor de ligar a televisão, Kristen. Sim?”

 A noite de ontem foi agitada para os moradores da avenida próxima a Strip B. A boate de estreia da noite, Style, foi vítima de uma explosão, ainda sem provas, deixando muitos mortos e feridos. Aconteceu por volta das 4:40 da madrugada, os policiais ainda não tem certeza do que foi acontecido ao certo, mas pelo o que parece ser, a boate foi ‘detonada’ de surpresa por alguém do lado de fora.

“Meu deus! Que mundo é esse, não?” Katherina anunciou.

“Pois é, é realmente uma pena. Tantos mortos assim...” Olhei para Alice, que não parecia lembrar de muitas coisas graças a ressaca, mas que estava tão assustada quanto antes.

“Que horror! Nem consigo pensar em algo assim, talvez...” Ela olhou diretamente para mim e se calou. A única coisa que eu pensava em fazer era correr e fechar a boca dela antes que se lembrasse e dedurasse algo.

“Bem, graças a Deus que vocês estão bem, não é? Imagina só o perigo... Mas vamos lá, meninas. O que farão hoje?” Katherina sorriu.

“Faremos as malas e iremos embora.” Alice anunciou e em seguida fez um gesto para que eu a acompanhasse até o outro cômodo.

“Alice? O que foi isso? Achei que íamos ficar uns dias, e não um dia.” Disse, sussurrando.

“Eu me lembro, Kristen.”

“Se lembra, mas você se lembra do quê?” Eu estava começando ficar assustada.

“Me lembro de tudo. Me lembro de você falando com Nicholas e em seguida ‘detonando’ a boate. Você o matou, Kristen. Ele, e mais todas aquelas outras pessoas inocentes.”

O meu coração gelou ao ouvir aquelas palavras vindas de Alice, e só então eu percebi o que eu tinha feito. Meu Deus, eu era uma assassina. Uma completa assassina.