Luas de Sangue escrita por ariviel


Capítulo 2
Capítulo 1: Quarto Crescente


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é aquele no qual vocês descobrem o que aconteceu com a nossa heroína trágica, rs. Tem uma nota enorme no final, com vários esclarecimentos para ajudar quem não conhece o jogo de RPG a entender melhor como funcionam as coisas...



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Capítulo 01: Quarto crescente

 

 

Naquele estranho mundo, nada era o que parecia ser. Apesar da semelhança com o mundo físico, qualquer humano que por ventura tivesse a chance de entrar na umbra não os confundiria nem por um segundo. Alguns prédios eram levemente distorcidos, suas fachadas eram inclinadas e formavam ângulos bem esquisitos; outros eram recentes demais para possuir um reflexo no mundo místico e havia também aqueles que ainda existiam somente lá.

 

- Aceite o lobo antes que ele fuja de você, filhote!

 

O mentor estava sentado numa pedra não muito distante de sua aprendiz, com uma expressão de divertimento no rosto. Seu verdadeiro nome era desconhecido, mas entre os de sua raça, ele era chamado de Cinco-tiros-de-Gaia. Recebera esse nome logo após sua primeira grande batalha contra os servos da Wirm e a alcunha acabou por se consagrar com o passar dos anos, pois não havia nada que o garou não pudesse vencer com cinco ou menos tiros de sua arma-fetiche.

 

No chão, uma criatura horrenda e disforme se contorcia, grunhindo de forma selvagem. O estalar de seus ossos se partindo formava uma mórbida melodia de dor; pêlos tomavam todo o seu corpo aleatoriamente e cresciam em lugares sobre os quais não deveriam existir. A dor era tão insuportável que a horrível sensação de ardor da pele que se rasgava era quase imperceptível. Garras surgiam do que outrora foram mãos e suas presas não cabiam mais na boca. Uma fúria incontrolável a possuía e o lobo dentro de si tinha sede de sangue. Aquilo não era mais humano.

 

- Quase lá, filhote. Não tenha medo da dor, você irá se habituar a ela. As dádivas de Gaia não devem ser questionadas, apenas aceitas. ­– disse Cinco-tiros.

 

O garou se levantou da pedra, estava nu e seu corpo esguio e definido era coberto por muitas tatuagens e runas tribais. Ele se abaixou ao lado de sua aprendiz, cuja metamorfose ainda estava incompleta e riu dela, estava fazendo pouco caso de sua patética condição. Michele sentiu que a fúria queria dominá-la por completo e permitiu que ela o fizesse. Em segundos, em pé na frente de Cinco-tiros, havia um garou de médio porte, aproximadamente dois metros, de pelagem negra.

 

Desengonçada, a criatura estendeu as garras na direção de seu mentor, numa tentativa mortal de fatiá-lo sem dó nem piedade, mas o outro garou era mais experiente e rápido e se esquivou sem maiores dificuldades. O lobisomem urrou de fúria e os pequenos espíritos que estavam por ali estremeceram de pavor. Insatisfeita, a besta apoiou-se nas enormes patas traseiras e saltou usando toda sua força física na direção de seu oponente. Ela curvou-se com uma agilidade impressionante e tentou abocanhar Cinco-tiros, que novamente evitou o ataque.

 

- Ora, para alguém que não gosta de violência, você está sendo bem agressiva, não é mesmo?!

 

Estava na hora de encerrar aquele combate, pois o objetivo do mentor já havia sido alcançado: Michele completou sua transformação e conseguiu se manter na forma garou pela primeira vez desde que ele a resgatou. Além disso, Cinco-tiros estava em sua forma Hominídea – que era também sua forma original – e um garou em forma Crinos nunca deve ser subestimado. Ele levou a mão ao peito e a colocou sobre uma pequena tatuagem em forma de elipse. No mesmo instante, a tatuagem sumiu de sua pele e uma pequena pedra se materializou em sua mão.

 

Isto deve funcionar, ele pensou. Assim que o lobisomem baixou sua guarda, seu mentor mirou a cabeça da criatura, esperou que ela abrisse a bocarra e jogou a pedra dentro. O crinos soltou um urro engasgado – parecia ter engolido a pedra – e foi se acalmando aos poucos, ao mesmo tempo em que seu corpo diminuía, revelando lentamente as formas humanas de uma garota jovem, de cabelos negros e pele branca. Ela permaneceu imóvel sobre o chão sujo e empoeirado de concreto, estava exausta; esse era o preço que a fúria cobrava daqueles que se deixavam levar por ela.

 

- Muito bem, já chega por hoje.

 

- Como eu me saí?

 

- Muito mal... um fomor com diarréia teria lutado melhor do que você, filhote.

 

- Até quando você pretende me chamar disso?! – esforçou-se a jovem, ofegante.

 

Cinco-tiros havia acompanhado Michele por bastante tempo antes que lhe fosse dada uma ordem para realizar uma “intervenção direta”. Por esse motivo, ele foi capaz de entender porque aquela criança aceitou tão rapidamente um fardo tão pesado quanto este; a vida que ela tinha entre os mortais, constantemente internada e dopada, duvidando de sua própria sanidade mental, deveria ter exercido uma grande influência nesse processo de aceitação. Apesar de raramente demonstrar, ele nutria por ela uma grande simpatia.

 

- Até que você faça por merecer ter um nome. Eu já expliquei essa parte, garota. Esses jovens de hoje em dia não prestam atenção nos mais velhos...

 

- E quando vai ser isso?

 

A garota já demonstrava estar um pouco mais recuperada, o organismo de um lobisomem era bem mais acelerado que o de um humano comum. Cinco-tiros sorriu.  

 

­- Daqui há uma semana, filhote, nós faremos o seu batismo. É bom que você esteja preparada até lá...

 

 

CONTINUA

 

 

 

N.A: Eu fiz o possível para fugir das “tecnicalidades”, mas tem coisas sobre as quais é inevitável falar, então lá vai:

 

Umbra: é como os lobisomens chamam o mundo espiritual. A umbra é dividida em camadas, ou reinos, e quanto mais distantes e desconexos do mundo real eles são, maior é a sua profundidade. A camada mais próxima do mundo físico é a umbra rasa, que por esse motivo, ainda é muito semelhante ao mundo real. Os lobisomens só carregam pertences do mundo físico na umbra quando eles possuem algum poder místico ou quando estes são “dedicados”, o que quer dizer que o usuário cede uma parte de seu poder místico para portá-lo.

 

Wirm: os lobisomens acreditam que o mundo como o conhecemos foi criado a partir do equilíbrio entre três grandes forças (entidades) espitiruais: a Wild, a Wirm e a Weaver. De uma forma muito simples, a Wild representa a natureza como um todo e os lobisomens se consideram seus “filhos”; a Wirm representa o mal, aqueles que foram corrompidos ou que acabaram por se distanciar da Wild e a Weaver representaria o oposto da Wild, as evoluções tecnológicas e um conseqüente distanciamento do mundo espiritual.

 

Garou: nome que os lobisomens utilizam para se referir a si mesmos.

 

Fetiche: são objetos dotados de poder espiritual. Normalmente, possuem espíritos que possuem os poderes que o objeto simula aprisionados; o espírito de uma lebre poderia estar aprisionado num fetiche que concede ao usuário velocidade sobre-humana, por exemplo. Fetiches podem ser levados para a umbra normalmente e alguns assumem a forma de estranhas tatuagens tribais quando estão dedicados.

 

Gaia: uma das formas de se representar a Wild, é geralmente associada à terra e os lobisomens se referem a ela como “mãe”.

 

A fúria: estado no qual o lobo interior domina completamente um lobisomem, tornando-o extremamente bestial e distante do seu lado humano.

 

A transformação: de acordo com o RPG, os lobisomens possuem cinco formas definidas. São elas: Hominídeo (aqueles que nascem na forma humana), Glabro (um misto da forma hominídea com a forma mais bestial), Crinos (a famosa criatura dos filmes clássicos), Hispo (uma espécie de lobo sobrenatural, bem maior e mais forte que um animal comum) e Lupino (a forma clássica de lobo). Por esse motivo, são considerados metamorfos naturais.

 

Fomor: servos menores da Wirm, possuem uma aparência desagradável devido à sua natureza corrompida que se manifesta fisicamente e atacam se utilizando de substâncias que são tóxicas aos lobisomens.     

 

 

Ufa! Acho que é só! Se ainda tiverem dúvidas, podem perguntar que eu tentarei explicar de uma forma bem simples.

 

 


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Notas finais do capítulo

Agradeço muitíssimo a todos que leram e em especial, aos que deixaram comentários. Estava pensando com os meus botões e já decidi que a próxima estória será sobre vampiros! :P



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