Estavam ali presentes todas as cores, e todas as sensações, e todos os sentimentos, e todos os sonhos, os pesadelos, vontades, talvez até os pecados. Todos unidos por um fio vermelho, contornando o pulso direito de cada uma , uma enorme linha sem fim nem começo que ligava os sentimentos daquele coração com o de outros corações. A fita conhecido como 'A linha vermelha do destino', ou possiveis variações.

E no pulso direito, uma algema prateada de diversas correntes. Cada corrente levava a um outro sentimento. Outra cor. Outro sonho. Pecado, Raiva, Medo, Amor, Ansiedade...

Quanto mais fina a corrente, mas delicada e fragil, menor a relação entre tais.

No meio da maré de cores e sensações, Paixão descansava. Observava as correntes de grossuras diversas, tão diferentes uma das outras. Quase adormecida, porém ainda quente, acordada. Mas sonolenta.

Aquele cujo o Coração pertencia estava próximo de uma das pontas da eterna fita.

Paixão, deitada no meio dos sonhos esboçados, cada vez menos sólidos, observava as correntes de sua algema. Escolheu uma e seguiu-a com o olhar. Essa tinha um formato delicado e leve, fina porém forte; encontrou um sentimento de longuissemos cabelos escuros, roxos, e uma tiara prendendo a belissima franja decorada com a imagem de um labio entreaberto. Olhos provocantes e curvas admiraveis, labios grossos que naquele momento beijavam a face de um sentimento rosado e miudo, que se distanciava corado. A Luxuria e a Timidez.

Seguiu outra corrente, esta que levava a um grupo de cores que só eram algo na presença das outras; tinha jeitos diferentes, todas de cores alegres e um sorriso no rosto. Eram o Companheirismo, Amizade, Aceitação, e outras emoções, sonhos, pecados ou qualquer coisa que se carregue no coração relacionadas a elas.

E havia as correntes que engrossavam aos poucos, porém mais rapidamente que as outras. Correntes floridas e especiais, quentes, de aparencia forte mas tão frageis quanto um pedaço de papel molhado.

Elas ligavam Paixão com um sentimento magenta, esguio, com os cabelos de tons difererentes de vermelho, purpura e rosa. Tinha um olhar sedutor e amigavel, familiar e cuidadoso, e um belissimo sorriso, calmo. Com certeza, a emoção mais dificil de se entender. Era o unico ligado a todas, todas as outras. Era o Amor.

E conforme a corrente engrossava e esquentava, Paixão se sentia mais alegre, quente, descansada. E também sentia-se enrubecer com a presença do Amor. A fita vermelha do destino folgava, cada vez mais próxima de um de seus fins.

Mas, assim como aquele cujo tal coração pertencia, Paixão se apaixonou. É claro que seria uma paixão não correspondida, pois o Amor estava sempre muito ocupado. Tinha a obrigação de amar a todos do coração e não podia amar a mais um outro sentimento.

Cada vez mais próximo. Era apenas uma paixonite, ela sabia disso melhor do que ninguém algum dia saberia. Só precisava esperar para encontrar a outra Paixão, a ponta da linha, a principal corrente de sua algema. Aquele por quem realmente deveria se apaixonar.

Mas e se não quisesse se apaixonar pela outra Paixão?

Era um caso complicado. E só tinha uma saída, que prejudicaria aquele cujo tal coração pertencia para sempre. Mas não se importava. A Paixão também era intimamente ligada ao Egoismo.

Com um simples puxão, arrebentou a corrente mais grossa e fragil de toda a coleção que vinha da algema. Simplismente havia quebrado a ligação entre ela e o Amor, e, consequentemente, entre todas as outras emoções.

Os olhares se viraram para ela. Sentia todo o calor, a cor, os sonhos, os medos, os pecados, e todo o resto se distanciando. Se sentia sem vida. A unica corrente que rezistira fora a da Pena, que olhava com enorme dó para aquela que, aos poucos, sumia dali.

A linha então se esticou o quanto pode, antes de se partir. O fim da linha infinita, que se mostrara antes da hora. Um pedaço do destino daquele cujo tal coração pertencia jamais seria realizado.

E um pedaço do Amor fora embora junto.

Aconteceu que aquele cujo tal coração pertencia ja não acreditava mais na Paixão.

E outro coração jamais encontraria o fim do fio vermelho.