Desde o encontro não consigo parar de pensar no Charming, é como se eu já o conhecesse, e é como se o amor a primeira vista fosse real.

–- No que está pensando? – Sonhador pergunta – Ah, nem responda, consigo ver pela sua face.

–- Ah certo – falo – tem um vilarejo aqui perto, vou ver se acho algo para comer.

–- Snow, -- Sonhador diz – Você se vira sozinha por alguns dias?

–- S-sim, mas por quê?

–- Unicórnios – ele fala – tem um grupo com problemas, preciso ajuda-los. Comerciantes de magia negra querem os chifres.

–- Tudo bem, pode ir.

–- Balance o sininho se precisar de ajuda – ele diz.

–- Pode deixar.

–- Até Breve Snow – ele fala já correndo de volta para a floresta.

Bem Snow, agora você está sozinha. Você sabe se virar, certo? Ah, tenho que parar de pensar em 3° pessoa. Ando sorrateiramente até o vilarejo, depois de andar um pouco encontro um galinheiro, acho que não faria diferença se eu pegasse alguns ovos... Entro no galinheiro, pego rapidamente três ovos, quando estou para sair uma mulher vestindo uma capa vermelha entra no galinheiro. Me escondo rapidamente. Ela começa a pegar os outros ovos, sem querer acabo fazendo barulho, sei que o que eu fiz é errado. Minha consciência fala mais alto.

–- Sinto muito – falo me levantando.

–- Está roubando os ovos? – ela pergunta.

–- Não – digo – não muitos, pegue – entrego a ela os ovos que eu havia pego.

–- Está tudo bem – ela responde sorrindo.

–- Obrigada – digo.

–- Ei, venha comigo. – ela diz ainda com o sorriso. A sigo – Todos me chamam de Red.

–- Tudo bem – respondo sorrindo – quem mais vai estar lá?

–- Tio Finnick, Tia Gabriela, eu, Você, Gale, Daniel e Johanna. – ela pensa alguns instantes – e Enobária.

–- Hum – Não lido muito bem com muitas pessoas juntas.

–- Eu sou S... – Não completo. – É melhor eu não dizer, tem alguém me procurando e...

–- Você não confia em mim ainda – Red diz – Só diga como devo lhe chamar.

–- Clove – fala sorrindo.

–- Bom, Clove – ela diz – Vamos lá. – Saimos do galinheiro – Só tenho que buscar água antes que escureça, só vai levar um segundo.

–- Tudo bem. – Falo -- ouvi um uivo ontem a noite, sabe o que foi?

–- É a “fase do lobo” tem um lobo assassino solto por ai – ela diz enquanto caminhamos em direção ao poço. – Tão grande quanto um cavalo, mas bem mais sanguinário. Ele tem se aproximado com mais frequência e mata o gado. Me ajude a puxar. – ela me entrega a corda. – Olha, olha isso ela diz. – Mas não consigo me mover, tem pegadas no chão a nossa volta, pegadas de lobo. – Clove, olha a água. – E junto as pegadas corpos humanos, já sem vida e com muito sangue a sua volta – Clove, a água, Clove? Clove? – ela anda até mim e solta a corda quando vê os corpos.

***

Já na casa de Red, a avó dela me deixou ficar. Contamos a ela sobre os corpos e ela não pareceu ficar tão apavorada, já a noite fomos a um restaurante existente no vilarejo, onde um homem falava:

–- Quando penso que se eu tivesse voltado logo, talvez estivesse entre os mortos, talvez tivesse pego a criatura.

–- Não, você não conseguiria – diz Granny, a avó de Red.

–- Viúva Lucas – ele diz.

–- Essa criatura é mais poderosa do que pode imaginar – ela diz – Você não teria chance, fiquem em casa, escondam seus filhos e esqueçam o seu gado.

–- Você já disse isso antes – o homem fala.

–- Mas eu não disse como eu sei – Granny responde – a quase sessenta anos atrás, eu era uma criança com seis irmãos mais velhos, grandes como carvalhos e veteranos da segunda guerra do ogro, e meu pai, o maior de todos eles. Na “fase do lobo” ele decidiu sair e enfrentar o lobo. Um lobo diferente na época é claro, mas tão terrível quanto o atual. Eles fizeram isso para me proteger, e eu que deveria estar dormindo, subi ao telhado para ver o que estava acontecendo. Eles cercaram a besta com lanças apontadas para ela, e então começou. A besta foi se lançando, mas não aos homens, mas sim as lanças quebrando-as com uma facilidade absurda. Eles tentaram esfaqueá-la com a ponta das lanças mas foi inútil, ela rasgou a garganta deles tão rápido que eles não tiveram chance nem de gritar ou de rezar... Ou de dizer adeus. – algumas lágrimas caem de seus olhos – Quando meu pai morreu, eu cai do telhado. Bem em cima do sangue. Na frente do lobo, senti sua respiração em meu rosto. Então ele prendeu a mandíbula quente em meu braço – ela diz levantando a manga da blusa e revelando uma enorme cicatriz. – Depois ele me olhou com os olhos tão negros e ausentes e se afastou. Já viram um animal selvagem virar as costas e ir embora como se você não importasse? Se esse lobo é como aquele, não há como derrota-lo. Ele já venceu por existir em nosso mundo. Vocês não podem mata-lo. Vocês tem que se esconder.

***

–- Sua avó é corajosa – digo, quando já chegamos em casa. É tão estranho chamar outro lugar de casa.

–- É, um pouco. – Red responde sorrindo. – Me sinto um rato na armadilha.

–- E essa armadinha está te impedindo de... – Falo e faço uma pequena pausa, mas logo completo – Ficar com alguém?

–- Como sabia?

–- Vi uma troca de olhares no bar – respondo e nós duas rimos. – e sinto em falar que não foi nada sútil.

–- Sim – ela fala – Peter. Somos amigos desde de sempre, mas... Bem, agora as coisas estão... Mudando.

–- Isso deve ser bom – falo, e não consigo não pensar em Charming.

–- Você tem alguém? – ela pergunta.

–- Não – nego rapidamente. – Não sei se isso está no meu futuro, você tem sorte Red.

–- Eu sei – ela diz – estamos falando de fugir juntos! Mas nem passo muito tempo com ele. Granny tem muito medo do lobo para me deixar sozinha. Você viu o que o lobo fez. As vezes me pergunto se ela está certa.

–- Sobre o lobo sim – digo – mas não em usa-lo para afasta-la do seu amor.

–- Acha que é isso que ela está fazendo? – ela pergunta e eu concordo coma cabeça – vamos matar o lobo.

–- Espera – digo apavorada.

–- Seríamos heroínas.

–- Red, equipes de caçadores treinados morreram – falo assustada.

–- Mas eles vão a noite quando o lobo tem vantagem, se formos agora o pegaríamos dormindo na toca. – ela fala sorrindo. – Vamos.

–- Red, eu não sei. – falo.

–- Eu vou com ou sem você – ela diz – e você está certa, ela não pode usa-lo para me deixar trancada aqui para sempre.

–- Ei – digo – vou com você!

***

Andamos perto do bosque e perto da casa, achei algumas pegadas de coelho, mas nada grande o bastante. Resolvemos ir procurar perto do poço que foi onde vimos os corpos mais cedo.

–- Achei! – Red fala sorridente.

–- Espera – digo – Aqui é bem perto da sua casa!

–- É sim, mas, vamos segui-las – ela responde.

Começamos a seguir a trilha das pegadas do lobo que vão se aproximando cada vez mais da casa. Red está muito aflita e eu também.

–- Olha – ela diz – elas estão virando...

–- Botas – eu a interrompo – Um lobo não usa botas.

–-Apesar da neve, eu consigo ver muito bom são botas! – Red diz assustada.

–- Sim, isso não é normal – respondo.

–- Clove – ela fala – Que criatura é essa que estamos lidando?

–- Depois das pegadas de lobo, elas continuam como um homem – falo.

–- Que criatura pode ser meio homem meio lobo?

Continuamos seguindo a trilha em silêncio, acho que estamos ambas muito assustadas para dizer qualquer coisa, queria muito que Sonhador estivesse aqui agora.

–- Então – Red quebra o silêncio -- A “Fase do lobo” é uma vez por mês, na lua cheia. Ouvi uma história uma vez de uma criatura que...

–- Ei! – a interrompo. – As pegadas – aponto – vão até a sua janela! Quem foi a sua janela Red?—Ela não responde então deduzo quem foi – Foi o Peter? Red, o Peter foi até a sua janela?

–- Na noite passada, antes dos assassinatos. – ela responde. – E ele não foi com os homens a caça ao lobo.

–- Mas ele não os mataria – tento acalma-la.

–- Ele não – ela diz – Mas quando o lobo aparece...

–- Terá caçada ao lobo hoje? – pergunto.

–- Eles o matarão.

–- Ou ele vai mata-los – completo. – Temos que fazer alguma coisa.

–- O que? – ela está beirando o desespero.

–- Conte a ele! Se ele não sabe, conte a ele! Se ele ouvirá alguém, esse alguém é você! – falo.

–- Acha que posso salva-lo?

–- Acho que pode salvar a todos!

***

Passamos o resto da tarde antes de escurecer bolando um plano: Red contará a Peter que ele é o lobo e ela o amarrará, eu ficarei com sua capa a noite fingindo que sou ela para Granny não desconfiar. Espero que dê certo, porque ela já saiu e a lua já está brilhando no meio do céu.

–- Cadê a Clove? – Granny pergunta entrando no meu quarto, ah, quarto da Red. – Ande garota, levante temos que trancar as portas. Se a Clove não voltou ela vai ter que se arriscar. – Ela consegue me virar.

–- Ela está bem – falo.

–- O que você fez com ela?—Granny pergunta.

–- Ela, ela está bem.

–- Onde ela está?

–- Ela está com Peter, sei que você não gosta dele, mas isso está além da questão. – respondo a ela.

–- Sua garota burra, estúpida, desleixada e ridícula – ela me ofende.

–- Não, você não entende! Sei que é difícil de se acreditar, mas você terá que confiar em mim—suspiro – Ele é o lobo.

–- Você acha que Peter é o lobo? – ela pergunta chocada e tenho a sensação de que ela sabe de algo que nós não sabemos.

–- Sim! Essa criatura terrível também é humana. – explico – mas não se preocupe, ele não vai machuca-la, ela o amarrou.

–- Ele está amarrado? – ela pergunta e eu afirmo com a cabeça – pobre garoto!

–- Pobre garoto?! – como assim? – se está preocupada com ele, mas não com ela, isso quer dizer que...

–- Sim – ela afirma – é o que você está pensando.

Enobária começa a fazer algo realmente bizarro, suas pernas e braços começam a alongar, seus olhos tomam a tonalidade amarela, sua boca vira um focinho, seu corpo é coberto com pelos, suas roupas começam a rasgar quando ela vira uma criatura meio humana meio lobo com o triplo do seu tamanho.

–- Ela é o lobo – falos juntas.

***

Estamos caminhando apressadamente pela floresta, indo para perto do poço onde Red amarrou Peter.

–- Há quanto tempo você sabia? – Pergunto me referindo ao fato da Red ser o lobo.

–- O tempo todo! A mãe dela também era – ela explica – antes de um grupo de caçadores a matarem. Achei que Red não tivesse pego, mas quando tinha 13 anos começou. Um gentil nightmare enfeitiçou aquela capa para ela não se transformar, mas ela não a usa.

–- Porque não contou a ela?

–- Não queria que ela carregasse esse fardo. É um fardo terrível.

–- Sim, mas agora ela está prestes a perder o amor verdadeiro por um segredo?! – falo – Existe um fardo maior que esse? – Automaticamente me lembro da rainha. – Mas, a história que contou...

–- Era o avô dela. Ele me marcou naquela noite e depois voltou para me transformar. – ela diz.

–- Te transformar – repito – então você é... – Um uivo é ouvido. – Como está rastreando ela?

–- Pelo cheiro – ela responde. – Ainda consigo farejar mesmo que o resto já tenha sumido. Deus que estupidez pensar que eu poderia esconder isso dela. Sou uma idiota e isso custou muitas vidas.

–- Verdade – Falo – Quer dizer, não foi sua intenção. É isso que importa.

–- É? – Outro uivo – ali está ela – Granny levanta sua besta – uma flecha de prata vai derruba-la. Siga-me. Estamos nos aproximando contra o vento então temos uma chance.

Saímos do meio do bosque e agora consigo ver com clareza Red comendo uma parte do corpo de Peter. Granny pisa em um pedaço de madeira propositalmente para atrair a atenção do lobo, e então, lança a flecha. Red cai no chão e eu coloco a capa vermelha por cima dela.

–- Chegamos tarde –lamento – ele se foi.

–- Quem se foi? – Re pergunta meio zonza ficando de pé.

–- Anda menina – Granny diz – prepare-se para fugir.

–- O que está acontecendo? – ela pergunta.

–- Vamos Red!

–- Ir? Eu não entendo – ela diz.

–- Depois eu explico...

–- Vocês tem que ir – Granny apressa.

–- Eu estou confusa – Red diz –O que está acontecendo? Cadê o Peter?

–- Ele não era o lobo – respondo.

–- Vovó – ela diz assustada.

–- Eu estava errada em esconder de você – Granny responde. – Mas agora você tem que ir! Red! Vai!

–- Sou eu – ela fala chorosa.

–- Tudo vai ficar bem – falo tentando acalma-la.

–- Eu alcanço vocês. – Granny diz.

Ajudo Red a entrar no bosque. Mais uma vez estou na floresta. Sem casa. Mas eu sei que nunca estarei verdadeiramente sozinha, ninguém nunca está sozinho quando se tem amigos.