Entre Livros E Maldições escrita por Witch


Capítulo 13
Espirros


Notas iniciais do capítulo

Agradeço a todos que tiraram um tempinho de suas vidas para ler essa história boba *---*
Que lindos comentários!



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Era um resfriado.

Aquele tipo de resfriado que provoca uma dor de cabeça irritante, sensação de mal estar, espirros, escoriação, nariz entupido ( o que, por consequência, fazia todos os sons saírem nasalizados), e uma vontade de imensa de ficar debaixo das cobertas e agonizar até que os remédios fizessem efeito.

O problema, na visão de Regina, era que ela não tinha remédios na mansão. Nada. Nem mesmo uma aspirina. Só tinha água e não fazia lá muito efeito. Tentara cozinhar uma canja, mas tudo que conseguiu foi queimar água e quase dormir em pé no balcão.

O Granny’s não tinha serviço de entrega. Na verdade, nada na cidade tinha serviço de entrega. Nem mesmo a farmácia.

Regina, então, teve que tomar uma decisão: precisava de comida e de remédios, então teria que sair para comprar. Tentou ligar para August e pedir, mas o escritor não atendia o celular. De acordo com Grumpy, ele, Emma e David estavam junto com o grupo de patrulha os auxiliando em algo. Ela não se importou em continuar a ouvir a explicação do anão.

Resultado: uma bruxa muitíssimo resfriada andava nas ruas frias de Storybrooke. Uma bruxa resfriada e com um péssimo, terrível, temível humor.

Ela entrou na farmácia sem nem olhar para o homem no balcão e fungando (de uma maneira muito elegante, o homem notou) começou a busca nas prateleiras por qualquer remédio que a ajudasse a respirar, que diminuísse a dor de cabeça e o mal estar.

Sabe... Ela até que podia usar mágica para isso...

Espirrou.

O galão de água que ficava no fim do corredor onde ela se encontrava se transformou em chocolate. Puro chocolate. Ela olhou para sua obra acidental e decidiu se tratar com remédios. Era mais seguro.

Estava com os olhos lacrimejando e a cabeça pulsando. Escolheu algumas caixas que tinham “resfriado”, “gripe”, “mal estar” ou algo relacionado a se sentir mal em geral e as pegou. Talvez tinha sido demais, mas sentiu enjoo e achou que talvez seis caixas de remédios fossem pouco.

–-

O dono da farmácia foi, em outra vida, um cortador de lenha e marceneiro. Trabalhou junto a Gepeto, a quem tinha muito apreço, mas nunca gostou muito do ofício. Na verdade, em toda sua vida, e claro tirando seus filhos, aquela farmácia foi a melhor coisa que já lhe aconteceu.

Ele gostava daquela vida molenga. Ajudando algumas pessoas quando podia, batendo papo com os hipocondríacos, assistindo a pequena televisão colorida que tinha debaixo do balcão enquanto mastigava chips. A vida era boa. Quando a maldição quebrou, ele foi um dos poucos a não se importar muito e abria a farmácia constantemente, tendo trolls, ogros, bruxas, não importa o quê lá fora.

Ele sempre abriria aquela farmácia.

Quando a bruxa entrou na loja sem nem olhá-lo, ele soube que tinha algo errado. Ele também ouvira o espirro. A bruxa mais temida da cidade (talvez de toda Floresta Encantada) estava terrivelmente resfriada e aquela visão lhe dava vontade de rir. Não pela atual situação da mulher, mas por que aquilo mostrava que de fato todos eram iguais. Sendo reis, rainhas, bruxas, salvadoras, não importa, todos podemos sofrer com um resfriado. Sem nem a Rainha Má era exceção disso, se até ela era tão terrivelmente humana, o que havia para temer?

Enquanto matutava, dois adolescentes entraram na loja. Dois adolescentes com máscaras de ski... E nem estava nevando. Dois adolescentes com máscara de ski, e nem estava nevando, carregando, cada um, uma espingarda. Dois adolescentes com... Você entendeu a situação.

Entretanto, o dono da farmácia demorou um pouco para entender o que estava acontecendo e foi necessário que um deles apontasse a espingarda para o velho e exclamasse:

– Somos os Garotos Perdidos!

– Passa tudo que estiver no caixa. – disse o outro com mais calma.

O velho já tinha sido assaltado algumas vezes na Floresta Encantada, mas nunca em Storybrooke. Engoliu seco e gelou. Ele sabia que deveria estar fazendo o que lhe foi pedido, mas pelos deuses, ele não conseguia pensar. Só observava a grande espingarda meio suja sendo apontada para ele.

Pensou nos seus filhos e rezou. Esperava que Emma Swan seguida por mais uma patrulha de policiais entrassem na farmácia e o salvasse, mas ele não ouvia sirenes, nem nenhum barulho. Estava sozinho, em choque, com dois moleques que o matariam sem pensar duas vezes.

– Me ouviu, velhote?!

Ele rezou mais um pouco, por que era só o que conseguiu fazer.

–-

Regina pegou mais uma caixa de Klenex ( já tinham quatro no cesta), mais as seis caixas de remédio. Não ficava doente constantemente... Na verdade, só se lembrava de ter ficado doente na Floresta Encantada antes de tudo aquilo começar. Antes de matar Leopold e começar a caçada atrás de Snow White.

Pegou a cesta e puxou um lenço. Espirrou. Jogou o lenço numa lixeira... Ou pelo menos se parecia com uma e olhou para o caixa.

O dono a olhava com pavor, enquanto os dois adolescentes com máscara de ski, mesmo que não estivesse nevando, e espingardas se entreolharam e voltaram às armas para ela.

– O que vocês estbão fazebndo? – ela perguntou se sentindo exausta. Estava fora da mansão há pouco mais de 15 minutos e parecia que tinha feito uma maratona, depois corrido mais 40 minutos, depois feito uma seção de 3 horas de spinning seguido por uma subida de 400 degraus, depois uma descida de 400 degraus e uma volta para casa em pé num ônibus lotado.

Em geral, Regina parecia ameaçadora. Sempre com os ombros altos, nariz em pé e um leve toque de desprezo por todas as coisas vivas estampado em seu rosto, mas naquele momento, ela parecia inofensiva, enfiada num grande e fofo casaco cinza, com luvas da mesma cor, o nariz avermelhado e aquela expressão de uma criança com muito sono, embora tentasse provar aos pais que estava bem.

– Um assalto. – um deles respondeu.

Nenhum dos dois a julgou com muita importância.

– Eu preciso passar os rebédios. – ela disse se irritando. Seu nariz coçava.

Um dos adolescentes, o mais calmo, foi quem levantou se aproximou de Regina.

– Vamos levar seu dinheiro também.

– Não tenho tebpo para isso. – resmungou e espirrou.

O rapaz gritou e soltou a espingarda, que tinha se transformado ( numa cobra!... Não) num imenso hidrante, que caiu no chão com um baque surdo, quebrando o azulejo.

Ela queria uma cobra, na verdade.

O outro, sendo tolo e jovem, ergueu a última arma que eles tinham e atirou.

Só que Regina espirrou primeiro e foi acertada por flores. Lírios. O rapaz tentou de novo e novamente, saiu lírios. Não um, não dez, mas centenas. As flores rodopiavam e enchiam a loja. O dono da farmácia começou a rir, completamente maravilhado.

Regina só espirrou de novo e amaldiçoou o tal do pólen.

Os dois rapazes se entreolharam e saíram correndo.

Regina fez um movimento rápido com as mãos e as flores se dissolveram em pequenas partículas douradas.

– Foi lindo! – o homem exclamou para ninguém em particular.

Regina só jogou algumas notas no balcão. Pegou uma sacola renovável, enfiou tudo lá dentro e saiu da farmácia sem falar nada para o velho, mas a frase gritada do homem ( que fez alguns pedestres pararem) fez Regina tremer.

– Obrigado por ter salvado a minha vida!

Ela queria voltar, dependura-lo no ventilador de teto e colocar uma maçã na boca dele, mas tirou um klenex e espirrou. O homem exclamou novamente maravilhado e saiu da farmácia.

As pessoas já começavam a se reunir ao redor. Conveniente.

Regina parou e o olhou com raiva. O velho levantou um filhote de cachorro marrom com manchas brancas.

– Meus filhos me pediram um cachorro de aniversário. Obrigado!

Cochichos. Ela olhou ao redor, olhou para o velho agradecendo e para o filhote de cachorro.

– Eu estou buito velha para isso. – disse e andou o mais rápido possível para bem longe dali.

Espirrou novamente e com terror, ouviu mais exclamação de felicidade e risos.

Como odiava a todos.

–-

Queria voltar para a mansão, mas seu estomago vazio e a crescente dor de cabeça a forçou a parar no Granny’s para pegar alguma coisa. Qualquer coisa comestível era bem vinda naquele momento.

Depois de ter feito uma árvore que não florescia há anos dar frutos, curar uma dor nas costas, materializar dois filhotes de cachorro, achar um gato perdido, ter criado um banquete para uma família pobre, feito uma chuva de flores, um arco-íris e feito duas crianças levitarem rapidamente, Regina queria somente: a) explodir alguma coisa; b) comer alguma coisa; c) dormir.

O que viesse primeiro era lucro.

A lanchonete estava vazia. Snow estava no fundo da lanchonete lendo um livro, mas ela não contava. Ruby folheava uma revista de moda e pulou da cadeira assim que percebeu o cheio familiar.

Ruby admitia que tinha medo da Rainha Má. Provavelmente, quase tanto medo quanto sentia da lua cheia. Mas, naquele momento, Ruby a achou... fofa.

– Regina? – ela perguntou ainda sem ter certeza. A bruxa estava enrolada num grande e fofo casaco cinza com o nariz bem avermelhado. Nunca imaginou que uma bruxa pudesse ter um resfriado.

– Sem cobentários.– pediu e espirrou. Nada aconteceu, mas Ruby abriu um sorriso imenso. – O que você teb para alboço?

– Para você? Canja de galinha.

Ela concordou. Ruby deu um sorrisinho e sumiu na cozinha. Snow abriu um sorriso e voltou ao seu livro. Regina, se sentindo ainda mais cansada, decidiu se sentar e esperar pela refeição.

Pouco tempo depois, entrou uma mãe com um filho mais novo, que segurava uma bola de futebol nova e brilhante. Ele olhou ao redor, abriu um grande sorriso e falou algo para a mãe. Os dois se aproximaram da mesa de Regina, que encolhida no casaco tentava ao máximo não espirrar.

Coisas boas aconteciam quando ela espirrava. Que desastre.

– Obrigado pela minha bola nova, Rainha Má.

Aquilo era contraditório. Muito contraditório. Ela detestava. Abriu a boca para responder, mas não teve a oportunidade.

– Eu pedi ao velho Noel e ele não pôde me dar. Obrigado!

O velho Klaus não estava em Storybrooke. Ela sabia disso. Quem iludiu a pobre criança?

A mãe também agradeceu e Regina sentiu seu nariz coçar.

Quando a mulher e o rapaz se sentaram, Regina percebeu os olhares curiosos de Ruby e Snow.

– O que? – perguntou irritada.

As duas balançaram a cabeça negativamente.

– Nada. – responderam. E Ruby completou: - Vovó vai te servir a sopa daqui a pouco.

– Espero que ela dão cuspa na sopa.

Ruby sorriu e gritou:

– Vó! Não é para cuspir na sopa!

– O que?! – veio a resposta – Tarde demais!

– Desculpe. – disse Ruby para Regina. Snow começou a rir.

– Eu sinceramente odeio todos vocês. – e espirrou.

Nada aconteceu e Regina se sentiu esperançosa, aquela loucura de magia descontrolada fazendo o bem tinha acabado.

E então, Granny saiu da cozinha.

– Vocês não vão acreditar no que aconteceu!

Regina amaldiçoou a todos os seres vivos.

–-

Emma Swan estava cansada. Tudo que queria era um banho quente e uma cama macia.

Estava dirigindo o bug com David ao seu lado e August atrás. Todos estavam em silêncio, pensando. O encontro com a patrulha tinha sido ruim. Alguns voluntários estavam sumindo e ninguém sabia de nada. Houve quem culpasse Regina, mas simplesmente não fazia sentido ser a bruxa.

– E se foi ela? – perguntou David.

– Não foi. – respondeu August.

– Como tem tanta certeza?

– O que ela ganharia sequestrando civis?

David não soube responder, mas ele estava pensando no quê ela ganharia os ajudando também.

Emma só sentia dores de cabeça e realmente queria sua cama. Sem render assunto, Emma foi direto para o Granny’s, que estava lotado... De flores.

– Mas o que diabos é isso? – perguntou Emma abrindo a porta do bug e a fechando com um empurrão. David e August fizeram o mesmo. Depois, continuaram encarando a lanchonete.

A porta abriu e Regina saiu da lanchonete, Henry a seguiu. A bruxa começou a ter uma crise de espirro. Ruby voou pela porta e pegou o rapaz, o distanciando da bruxa ao máximo.

Emma reclamou quando sentiu algo duro se chocar contra sua cabeça. A coisa se chocou com o chão e fez um som metálico. Ela e August olharam para o chão.

– É uma moeda. – disse August se ajoelhando e pegando o centavo.

Mal terminou de falar e mais moedas começaram a cair do céu. Pessoas exclamaram ao redor e começaram a lutar entre si pelas moedas.

Regina tossiu, respirou fundo e, irritada, levantou as mãos para o céu.

– Chega. – disse entredentes.

A chuva parou e as moedas sumiram.

– Eu dão o bachucaria. – disse para Ruby.

– Eu sei, mas do jeito que você saiu...

– O que está acontecendo?! – exclamou Emma se aproximando. – Aquelas moedas-!

– São nada comparados ao que a cidade presenciou hoje. – completou Ruby olhando para Regina, que fungou.

Emma se voltou para a bruxa.

– O que está acontecendo?

– Desastres! – exclamou Regina se aproximando.

– Okay, explique melhor. – pediu Emma. Henry tinha a face avermelhada e um sorriso enorme, então não podia ser algo ruim... Certo?

– Eu estou doebnte.

– Isso eu percebi.

O nariz vermelho e a voz nasalizada deixavam obvio o estado de saúde da Rainha Má.

– E quando eu espirro, coisas boas acontecem. – ela disse com uma expressão beirando o desespero.

A ficha não caiu. Pelo menos não para Emma.

– Coisas boas?

Regina assentiu com quase vergonha. Ruby riu. Henry assentiu com entusiasmo.

– Coisas ótimas acontecem! – exclamou o rapaz.

Regina suspirou.

– Binha bagia está fora de controle. – ela tentou explicar. Emma abriu um sorriso divertido e a bruxa lhe deu um soco no ombro. – É sério!

– Eu disse nada! – exclamou. Seus olhos riam, enquanto seu pouco controle a mantinha sã o suficiente para não rir na cara de Regina.

August a interrompeu:

– O que houve com o restaurante?

– Eu espirrei. – ela disse.

– E flores começaram a nascer! – exclamou Henry.

– E ornamentaram toda a lanchonete. Está até bem bonito. – completou Ruby.

– Flores... Porque você espirrou? – perguntou Emma, ainda confusa.

Regina assentiu.

– É um desastre.

– É uma benção. – disse Granny saindo da lanchonete.

Snow veio logo atrás.

Mais exclamações das pessoas ao redor. Regina grunhiu.

– Snow! – exclamou David – Seu cabelo!

Snow White sorriu para David e para Emma.

– O que achou? – perguntou animada. Os olhos brilhando.

– Seus cabelos estão grandes!

Estavam, na verdade, enormes com longos cachos perfeitos.

– Ficou muito bom! – exclamou Ruby.

David só correu até Snow, a abraçou e a beijou.

– Linda, como sempre.

Regina revirou os olhos.

– Pode atirar em bim, se quiser. – disse para Emma. – Qualquer coisa é belhor do que aquilo. – apontou para o casal feliz.

– Então, espirros?

– Estou doebnte.

– Você espirra e coisas boas acontecem?

A bruxa assentiu e soltou um suspiro cansado.

– Parece que eu estou presa num episódio de “Hora da Aventura”. – disse Emma colocando as mãos no bolso da jaqueta. – E você parece estar num episódio de The Walking Dead.

Pior é que a bruxa nem sequer podia discordar.

–-

As flores da lanchonete sumiram num jogo de luzes douradas. O que mereceu uma salva de palmas de todos ao redor... Exceto Regina, que ainda odiava a todos.

Emma se ofereceu para levar a bruxa para a mansão, já que era obvio, pelos olhares apaixonados da multidão, que eles a seguiriam até as coisas incríveis pararem de acontecer.

– Só coisas boas estão acontecendo. – disse Ruby. – Não tem que se preocupar.

– Não estou preocupada com ela agora, mas e quando o resfriado se for?

– Teremos uma bruxa má furiosa e saudável.

Então, ficou decidido.

– Você vai ficar bem sozinha? – perguntou Emma dirigindo o bug entre a multidão fascinada.

– Sim. – abraçou-se a sacola cheia de remédios. – Belhor do que aqui fora.

Emma tinha que concordar. Buzinou para um homem que entrou na frente do carro, desviou dele e continuou.

– Então, um dia de boas ações! Acho que você perdeu pontos na escala de maldade.

– Não se preocupe, quando eu belhorar, terei esses pontos de volta.

Emma duvidava.

O resto do caminho foi tranquilo e Emma relatou sobre os patrulheiros desaparecidos.

– Isso é estranho. – concordou a bruxa. Seus olhos estavam ardendo.

– Não foi você, certo?

– Você acha que estou em condições de sequestrar alguém? E por que eu faria isso? Não tenho interesse em civis.

– É um bom argumento.

– É a verdade.

O sinal fechou e Emma parou o bug.

Acontece uma coisa estranha quando uma bruxa pressente magia. É mais ou menos como nos filmes, em que a câmera passa rapidamente sob vários lugares, mas dá um foco especial numa casa ou num lugar em especifico ou até mesmo numa pessoa, e o espectador sabe, simplesmente sabe, que tem algo de errado lá.

Foi o que aconteceu quando Regina percebeu a biblioteca. E ela soube que tinha algo lá.

– Todos eles saíram de casa para atender um chamado. Acho que podemos ter um traidor.

– Estabos lidando com Rubpelstinskin, xerife. Um traidor é o benor dos nossos problebas.

E pela primeira vez, naquele dia terrível, Regina sentiu uma pontada de esperança e um sorriso cruel enfeitou sua face.

–-

Emma ficou observando até que Regina fechasse a porta da mansão, depois voltou para o bug e suspirou. Ajustou o retrovisor do meio, que parecia meio torto, e percebeu o livro no banco traseiro.

– Henry. – sussurrou. O rapaz vivia deixando livros espalhados em todo lugar.

Pegou o livro.

– Coletânea Meia Noite. – ela leu em voz alta.

Folheou o livro e parou no sumário. Leu os nomes dos contos.

– E éramos um. – O nome de Regina, em itálico, chamou sua atenção.

Levantou as sobrancelhas e foi diretamente no conto indicado.

“Meu olhar se encontrou com o dela numa noite fria em Michigan. Por um momento, eu achei que ela finalmente perceberia a minha presença, perceberia que eu olhava por ela há muito tempo. Ela não podia me perceber, do contrário tudo estaria perdido, mas eu queria... Só uma vez. Só um olhar. Só um “olá”... Eu gelei. Ela atravessou a rua, vindo em minha direção. Eu engoli seco e senti meu coração bater descontroladamente em meu peito. Ela sorriu, feliz. Eu tentei dizer algo, tentei, mas as palavras não vinham e por um segundo, nada mais me importava, eu queria a sinceridade acima de tudo e ela estava tão perto!

Alguém exclamou o nome dela atrás de mim e ela estendeu os braços, rindo. E passou por mim, como se eu fosse nada... E eu era, pelo menos para ela. Um nada que a protegia e que a amava.”

Emma não pensou duas vezes ao voltar para a página um do conto. Leu o título em voz alta:

– “E éramos um: Um conto de amor ( ou quase isso) de alguém que foi embora e de alguém que esperou.”

Começou a ler.

–-

Regina pensou que finalmente sozinha os espirros se provariam inúteis. Afinal, a magia fazia o bem às pessoas, certo? E ela duvidava que todos os espirros do mundo lhe dariam algo que a faria feliz.

Estava enrolada numa manta, na sala, assistindo a televisão. Não conseguiu comer a sopa mais cedo e tivera que se contentar com alguns biscoitos e uma torrada. Espirrou e ela esperou que a coisa boa que aconteceria fosse que aquele filme terrível se transformasse em algo bom.

Embora, ela achava que isso fosse impossível.

A campainha tocou e Regina grunhiu. Decidiu ignorar qualquer visitante que fosse. Já tomara vários remédios e nada fazia efeito, mas a vontade de espirrar estava diminuindo.

A campainha tocou novamente e tudo que ela fez foi se aninhar mais debaixo da manta quente. Logo, o barulho cessou e ela sorriu com satisfação... Que não durou muito.

– Achei que seria mais difícil invadir sua casa. – disse Emma aparecendo na sala.

Regina olhou para a xerife com surpresa.

– O que você está fazendo aqui?

Henry apareceu detrás de Emma e a loira mostrou a panela que carregava.

– Comida. – disse. – Muito boa, por sinal. Ruby caprichou no tempero.

Regina continuava os olhando como se Emma e Henry fossem alienígenas. O rapaz carregava um livro e se sentou ao lado de Regina no sofá.

– Aqui está quente. – disse e abriu o livro.

– Vou colocar isso aqui na cozinha. Está com fome, Henry?

– Sim!

– Regina?

A bruxa ainda os olhava com confusão.

– O que diabos vocês estão fazendo aqui?

– Vou entender isso como um sim. – disse a loira sem olhar para trás.

– Você está doente. – começou Henry ainda olhando o livro – E o sinal da tv lá em casa é terrível.

Regina pensou um pouco.

– Isso tem a ver com David e Snow?

– É, eles estavam com saudades um do outro. Eu acho...

Ela suspirou. Cansada demais para brigar.

– O que você está lendo?

O rapaz fechou o livro e começou uma explicação detalhada do enredo do livro em questão e as expectativas para o restante da história (só lera o primeiro capítulo até então). Parou sua narração quando a voz de Emma irrompeu na sala, o rapaz imediatamente correu até a cozinha.

Regina abriu um pequeno sorriso e pegou o livro. “A culpa é das estrelas”. Riu.

Henry foi o primeiro a voltar com um prato cheio de macarrão. Emma vinha logo atrás com outro prato e uma taça de vinho, estendeu o prato para Regina e deu um longo gole na taça.

– Esse filme é terrível. – disse olhando para a tela.

– Eu sei. Não budei por preguiça.

Emma pegou o controle, sentou na poltrona ao lado do sofá onde Regina e Henry estavam e mudou o canal.

– Hora da Aventura! – exclamou Henry com a boca já suja de molho.

Emma pareceu satisfeita com o programa e continuou bebericando o vinho.

Regina só olhava para os dois e pela primeira vez naquele dia, não odiou a todos.


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Notas finais do capítulo

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