Forever Ago escrita por Joker Joji


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Uma espécie de Songfic baseada no CD American Idiot e em especial na música "Whatsername", ambos da banda Green Day.

Um pequeno tributo à bela história de amor deles.



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Embora os cabelos estivessem loiros, suas tatuagens xingassem um deus inexistente e o rosto inchado demonstrasse que ela se metera em algumas brigas por esses dias, aqueles olhos não o enganaram.

 

Ela era por quem ele esperara todo esse tempo. Caminhando pela noite escura como se fosse um bicho noturno, como se as trevas a tirassem da toca; sua pele incrivelmente branca era a prova de seu desentendimento com o dia.

 

A droga circulava pelo seu sangue como se fosse uma espécie de suplemento vitamínico. Já o afetava bem menos do que quando começara o vício, lá pela época do colégio; foi quando deixara tudo e todos, inclusive a garota que agora espreitava, esperando por ele. Desde então, sua casa estava vazia. Ninguém o procurava. Apenas o asfalto frio da madrugada, as seringas desgastadas e os sinos ao longe lhe mostravam o caminho.

 

Uma vida doente, uma vida desperdiçada. Ele não cansava de ouvir isso, fosse pela frente ou fosse pelas costas. Não se importava. Não, era até engraçado quando encontrava as pessoas que o atacavam com essas palavras hipócritas... A tão falsa liberdade, a tão falsa civilização.

 

Ele tinha plena certeza de sua liberdade, e aquilo era o suficiente para pôr-lhe um sorriso no rosto. Nada mudaria sua opinião. Nada faria vivê-lo outra realidade, nem mesmo a sociedade mentirosa e insatisfeita ao seu redor. Nada, mas a garota de cabelos aloirados era outros quinhentos...

 

- Seu nome?

 

Ela conversava com um homem misterioso na esquina, era óbvia e descarada, não tinha medo que descobrissem as estranhas substâncias que circulavam por suas veias. Seu sorriso era prova clara disso. Ele não pôde ouvir seu nome, a voz da pequena rebelde era doce, frágil como uma harpa. Ele não poderia ouvir seu nome mesmo que quisesse...

 

Chegou-se. Pediu o mesmo que ela. Trocaram olhares e, em seguida, sorrisos – ambos pareciam muitíssimo satisfeitos com a vida que levavam, apesar de tudo. Conversaram por um tempo, sem muito assunto. Ele não tirava os olhos dela, pendurava-se em cada palavra, suspirava por dentro a cada vez que a garota abaixava os olhos e mirava a calçada.

 

O homem foi embora, atrás de mais clientes, mas os dois continuaram ali por horas. Por dias. Por semanas, a se conhecerem. Para ele, a vida poderia acabar ali; já experimentara de tudo, já brigara por seus ideais, achava conhecer todas as sensações possíveis. Ela seria sua última aventura.

 

Suspirou um “eu te amo” ao vento. Ela sorriu, de novo. Não respondeu; disse que se encontravam amanhã. Virou-se.

 

Naquela noite, o garoto voltou com um sorriso no rosto. Queria contar para alguém, mas a mãe estava longe, os amigos não se sabe onde, e os sinos tinham estranhamente parado de badalar. Um calafrio tomou-lhe o corpo.

 

No dia seguinte, encontrou-a. Deu-lhe um beijo sem hesitar. Seus lábios nunca estiveram tão doces, até mesmo sua face parecia mais saudável. “Que aconteceu?”, ele perguntou. “Você me aconteceu”. Aquela cena típica de filmes hollywoodianos, e um vento assoprou suas vestes. Ela estava mais lúcida e consciente, embora demonstrasse sinais de abstinência. Dessa vez, disse-lhe que o amava. Dessa vez, ele não respondeu.

 

Te encontro amanhã.

 

Ele subiu a rua, ela desceu. Tentou colocar um sorriso no rosto e não conseguiu. Pensou que era a droga deixando de fazer efeito, teria que comprar algumas mais fortes. Queria chegar em casa e encontrar um anestésico realmente forte; porque seu último anestésico, o que tomara por semanas, o que encontrava todas as madrugadas na mesma esquina, perdera sua mágica, e agora era apenas mais uma substância inofensiva.

 

Na noite seguinte, nenhum dos dois apareceu.

 

Apenas muitos anos depois, ele lembrou-se de seu rosto. Lembrou-se do sentimento. A mulher que amara. Vívida e rebelde, uma vez tão concreta e agora apenas uma memória... Estranhamente, não se lembrava do nome. Indagou-se como estava, se estaria casada e se teria esquecido-o completamente...

 

Tomou a decisão de procurá-la incansavelmente. Voltou à esquina, procurou por ruas e casas, atrás daquela sem nome, apenas com seu lindo rosto em mente. Descreveu-a com precisão. Encontrou o vendedor das drogas, já velho, e perguntou-lhe sobre aquela que amava.

 

- Ela? Um caminhão pegou-a desprevenida numa madrugada, parece que veio na contra-mão... Ninguém apareceu para identificar o corpo, já que ela morava tão longe, entende? Do outro lado do morro, subindo pela rua.

 

Ela se fora, finalmente entendeu.

 

Deveria ter notado que ela deveria ter subido a rua, e não descido, se não estivesse com a cabeça tão sobrecarregada naquela noite. A noite mais escura de ambas as vidas. Arrependimentos inúteis.

 

Sentiu um filete gelado escorrer-lhe pela face. Não reconheceu de imediato. Não chorava desde que era do colégio. Esse péssimo hábito de reencontrar com o passado definitivamente não lhe fazia bem; primeiro ela, depois essas lágrimas...

 

Passou-se uma eternidade, e Whatsername ainda sorria nos pensamentos de Jimmy. O tempo não se esqueceria...


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Notas finais do capítulo

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Não quis ser fiel à história do CD, embora eu acredite no amor de Jimmy por ela, e considere essa uma das histórias mais tristes que já vi. (L)~