Halloween escrita por Nasuke


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Cada palavra dessa fanfic foi escrita para o Raphél. Enfermeiro, é sua! ♥



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Halloween

Uzumaki Naruto havia esperado por aquele dia durante todo o ano. Ansiara por poder andar pelas ruas, vestindo uma fantasia legal qualquer — a escolhida tinha sido uma de vampiro, naquele ano —, apenas pedindo doces com amigos em muitas casas. Então, depois disso, ele andaria por aí a noite toda, talvez arrastando o seu melhor amigo, Sasuke-teme, com ele, para logo depois acabarem aquela noite embaixo de um cobertor, comendo pipoca e vendo filmes de terror no escuro.

Aquele ano deveria ser especial. Ele já tinha 17 anos e, bem, não poderia sair por aí pedindo doces no ano seguinte; seria o último ano, e Naruto aproveitaria cada segundo dele. Batendo de porta em porta, ele conseguiria alguns doces, jogaria-os no caldeirão em formato de abóbora — comprado especialmente para a data — e então ele iria até a casa de Sasuke e o levaria às ruas também, ambos dividindo as guloseimas conseguidas.

A noite de 31 de outubro tinha tudo para ser especial, a qual ele lembraria para o resto da sua vida. Talvez, muitos anos depois, Naruto até mesmo contasse aos seus filhos e netos como tinha sido o seu último Halloween antes de entrar oficialmente na vida adulta.

Sim, aquela noite tinha, realmente, tudo para ser especial.

Tinha.

Mas, aparentemente, mais uma vez, as pessoas estavam sendo incompreensíveis com o pobre loiro, que ainda era apenas uma criança, correndo por aí com toda sua inocência atrás de doces quando garotos da sua idade, possivelmente, já haviam esquecido a magia do Halloween e compravam drogas em cada esquina escura que encontravam.

Todas as pessoas estavam se recusando a dar doces a Naruto!

Respirando profundamente, ele olhou incrédulo para a porta da casa em que estava — a qual tinha acabado de ser fechada bruscamente na sua cara — e perguntou mentalmente o que aquela velhinha com ar bondoso tinha contra ele.

— Qual o problema dessas pessoas? — ele resmungou, falar provando-se ser difícil com aquelas presas baratas de vampiro na boca. Apertou mais uma vez a campainha cruzando os braços em frente ao corpo, seus bonitos olhos azuis se estreitando.

Será que ele estava parecendo um vampiro mau daquela forma? Oh, ele esperava que sim. Queria representar bem o papel.

— Sim? — a velhinha mais uma vez atendeu à porta, já com doces em mãos, esperando para presentear as adoráveis criancinhas que paravam por ali. Seu sorriso se apagou quando ela percebeu que era Naruto mais uma vez. — Já não mandei você ir embora, mocinho?

— Mas... mas... mas... Meus doces! — bateu os pés no chão de um modo incrivelmente infantil, do qual ele até mesmo se envergonharia se não tivesse tão inconformado. — Você está dando doces para todo mundo! Por que pra mim não?

— É para as crianças. Veja só você, já é um homenzinho! Não tem vergonha de pegar os doces das criancinhas, meu bem?

E mais uma vez, resmungando coisas sobre como os jovens de hoje em dia estavam se tornando rebeldes inconsequentes, a mulher bateu a porta na cara do loiro enquanto balançava a cabeça de modo negativo, repreensiva. Naruto apenas bufou, saindo dali.

Tudo o que ele queria era dizer "doces ou travessuras?" e fazer daquela noite única, mas a vida era um pesadelo e estava acabando com os sonhos de Uzumaki Naruto. Depois ninguém poderia reclamar se ele se tornasse alguém como Uchiha Sasuke por ser tão injustiçado neste mundo.


X


Mesmo no Japão, as ruas estavam especialmente enfeitadas para o Halloween. Ao contrário dos outros dias, crianças fantasiadas andavam por aí, rindo e sendo acompanhadas de seus pais, mesmo que já fosse bastante tarde e em quaisquer outros dias elas estariam em casa, provavelmente já dormindo.

Sasuke odiava o Halloween.

Tudo bem, isso é mentira — ele gostava, muito até, do Halloween. O que atrapalhava era justamente toda aquela babaquice, como as fantasias mal feitas e ridículas em crianças que estavam mais para anjos do que demônios e vampiros; a campainha, tocando de dois em dois segundos, obrigando Sasuke a atender à porta, o que já estava dando nos nervos; toda aquela decoração nada assustadora, fazendo tudo se tornar entediante.

Onde estava a forte tempestade que faria com que a energia acabasse e deixasse a noite tenebrosa? Os gatos mortos jogados pelas ruas, pendurados por aí? Gritos de morte, os zumbis, a escuridão mórbida que daria medo às pessoas? Pessoas correndo por aí, querendo salvar suas vidas, simplesmente por que um louco psicótico com um machado decidira dar uma de serial killer e matar todo mundo?

Na opinião do moreno, faltava sangue. Muito sangue. Mas talvez ele apenas tivesse visto muitos filmes com aquela temática durante todo dia. E o fato de ser um Uchiha perturbado deveria contar bastante. Sim, realmente contava.

O fato é que Sasuke olhava desgostoso para a tela do computador, uma música dos Misfits, Halloween, tocando pela milésima vez repetitivamente nos últimos minutos.

Aquele tédio o estava matando. Sasuke queria poder apenas continuar ali, naquele sofá, aumentando a música o máximo possível para que não ouvisse a campainha, muito menos seu irmão fodendo o namoradinho no andar de cima. Aquilo era nojento, Sasuke chegou à conclusão enquanto mudava de faixa, uma música do AC/DC começando a soar pela sala.

Muito melhor. AC/DC era bom. Talvez as mães achassem que não era uma boa ideia deixar seus filhos se aproximarem de uma casa com aquela música — boa demais para serem apreciadas por qualquer um, é claro — e fossem embora de uma vez.

Entretanto, Sasuke percebeu que suas preces não foram ouvidas quando, nem cinco muitos depois, a campainha soou novamente. Recusou-se a levantar em um primeiro instante. Mesmo assim, nem a música alta foi capaz de abafar aquele som irritante — não quando a pessoa do outro lado apertava aquela porcaria de dois em dois segundos.

Irritado, o Uchiha levantou-se do seu lugar, deixando o notebook em cima do sofá e andando até a porta, àquela altura já perdendo a paciência e deixando os bons modos de lado, disposto a ser rude com a criança que estivesse do outro lado.

— Não tem doce nenhum pra você aqui, idiota! Suma! — ele vociferou assim que abriu a porta, mal dando tempo para que seus olhos caíssem na pessoa do outro lado, voltando a fechar a porta na cara de quem quer que fosse e virando-se para voltar ao sofá, satisfeito consigo mesmo.

Porém, assim que sua mente assimilou quem vira do outro lado, Sasuke arqueou uma das sobrancelhas e abriu a porta novamente, seus olhos observando atentamente um Naruto boquiaberto. Os olhos azuis do loiro estavam arregalados, deixando as presas de vampiro visíveis — aliás, de longe dava para perceber que foi comprada em uma lojinha qualquer pela cidade, de tão artificial que parecia. A capa preta, assim como suas roupas — ele não estava com as roupas chamativas de sempre, e isso realmente surpreendeu Sasuke — sobrevoava com o forte vento que soprava, bagunçando seus cabelos loiros. Sua expressão demonstrava claramente mágoa e Sasuke sentiu-se culpado.

Culpado. Só mesmo Naruto para conseguir arrancar aquelas emoções dele — era só uma porta fechada na cara por engano, afinal. Mas Sasuke não queria ver seu melhor amigo daquela forma. Um Uchiha pode não se importar e ser indiferente com o mundo todo, mas quando encontra alguém — principalmente alguém que esteve sempre ao seu lado e era a única pessoa com quem Sasuke se importava —, e esse alguém o ajudou na fase mais difícil de sua vida... Bem, Sasuke não queria magoá-lo, de qualquer forma. Não mais.

— Naruto, o que faz aqui?

— Você também... também fechou a porta na minha cara! — o loiro o olhava ofendido, seu rosto contorcendo-se em uma careta. — Até você... Acho que eu já deveria esperar.

Sasuke apenas voltou a arquear a sobrancelha. Ambas, agora.

— O quê? — ele perguntou, sua voz sempre fria e calma.

Antes que Naruto pudesse responder, sons de trovões puderam ser ouvidos, fazendo o loiro pular levemente, já que estava distraído olhando para o moreno. Só naquele momento Sasuke percebeu como o tempo estava: desde a última vez que saíra ali fora, o vento tinha se tornado mais forte; não precisou olhar duas vezes para o céu para deduzir que não demoraria a chover.

— Entre de uma vez.


X


— E todos eles bateram com a porta na sua cara?

— Sim! Você consegue acreditar nisso? Eu não, dattebayo! Não acredito!

Sasuke teria revirado os olhos, descrente com o que ouvia, mas ver Naruto andando de um lado para o outro na sala de estar, irritado, era uma visão boa demais. Fazia-o se esquecer das crianças que continuavam a lhe encher a paciência — mesmo que Naruto, ao que parecia, fosse outra dessas crianças. Ver o loiro irritado e frustrado daquela forma salvava seu Halloween e deixava Sasuke- contente com a desgraça alheia.

Sádico.

— Sente-se agora, Louis. — debochou, olhando mais uma vez para a fantasia de vampiro do amigo. — Vai afundar meu chão dessa forma. Podemos ver um filme, depois você pode pegar todos os doces que Itachi comprou só para me obrigar a abrir à porta a noite toda e ficar com todos eles.

Naruto finalmente parou de zanzar para lá e pra cá, voltando-se para o amigo e se jogando no sofá, pegando o notebook das mãos do Uchiha.

— Louis? Ok, Lestat. Você acha que eu estou parecendo um vampiro mau?

Sasuke franziu o cenho, esquecendo-se completamente da pergunta — imbecil, vale frisar — de Naruto quando inconscientemente se lembrou que Lestat e Louis claramente eram um casal e qualquer um poderia deduzir isso. Mas resolveu deixar o pensamento para lá; como se aquilo quisesse dizer algo sobre eles, Sasuke e Naruto. Era só uma comparação, humpf.

— O que eu acho? Eu acho que vou subir e pegar um filme para vermos.

— Qual?

— Qualquer um que tenha sangue e mantenha as malditas crianças afastadas. Espere aqui.

Aquela era uma dos passa-tempos favoritos dos dois jovens: assistir a filmes. Quando, há muitos anos, descobriram essa paixão em comum, passaram a assisti-los juntos, mesmo que eles mais brigassem do que realmente assistissem aos filmes: gostavam de gêneros diferentes, discutiam durante todo o filme e tinham ponto de vistas diferentes sobre quase todos os assuntos.

Naruto apenas concordou com um aceno de cabeça com o que Sasuke dissera, tirando os dentes de vampiro da boca e voltando a mexer no notebook, pousando os pés no sofá como se estivesse extremamente à vontade ali. Sorte que Fugaku e Mikoto estavam viajando, porque por mais que Mikoto o adorasse, mataria Naruto caso o visse com os sapatos em seu sofá impecavelmente limpo.

Sasuke teria voltado para repreendê-lo por isso, mas Naruto era um caso perdido mesmo. Se ele realmente fosse Lestat, nunca transformaria Naruto em vampiro. Estupidez. Certamente se arrependeria por toda a eternidade.

Assim que alcançou as escadas para subir ao andar superior, onde ficavam os quartos, tudo repentinamente ficou escuro e Sasuke só ouviu duas vozes diferentes soando exatamente no mesmo momento, porém em cômodos diferentes da casa: na sala, Naruto — que devido ao grande estrondo que se ouviu, Sasuke deduziu ter caído no chão — gritou algo como: "O que está acontecendo aqui, 'ttebayo? Sasuke, volte já aqui, teme!"; e, no andar superior, mais precisamente no quarto de Itachi, Deidara dissera (em suas exatas palavras): "O quê? Luz? Foda-se, nem pense em parar, Itachi!".

Os gemidos de Deidara e Itachi — que se tornaram audíveis sem qualquer outro som soando pela casa toda — podiam ser completamente ignorados.

Sasuke rolou os olhos. Tinham que ser dois escandalosos mesmo.

O moreno fez menção de continuar a subir os degraus, mas antes mesmo que pudesse fazê-lo de fato, Naruto se levantou de modo apressado e, em questão de segundos, estava ao lado do melhor amigo, pronto para segui-lo a qualquer cômodo daquele lugar bizarro que os Uchiha chamavam de lar.

— Eu vou com você. Nem morto vou ficar aqui sozinho. Essa casa é estupidamente grande. — ele disse, e apenas pelo seu tom de voz, Sasuke tinha certeza que ele tinha um bico nos lábios.

Sim, ele era realmente uma criança.


X


— Sério mesmo, por que vocês têm que morar em uma casa tão grande? Isso dá medo. — Naruto reclamou pela milésima vez desde nos últimos segundos, praticamente agarrando a blusa de Sasuke por não querer andar ali sozinho, mas não o fazendo devido ao seu orgulho.

Se aquela casa já dava medo de dia, imagina à noite? Dizem que o lugar em que moramos reflete nossa personalidade e o loiro tinha que concordar com isso, já que aquele lugar era tão esquisito e medonho quanto os Uchiha, com exceção apenas da doce Mikoto, que não dava medo como Fugaku e não era a maldade em pessoa como seus filhos — porque sim, mesmo sabendo que Itachi se preocupava com a família e pessoas que amava mais do que qualquer coisa e que Sasuke não era tudo o que tentava mostrar, Naruto sabia que aqueles dois eram maus. Mais malvados que vampiros. Era coisa de família.

Era melhor não subestimar um Uchiha, não?

— Você está com medo? — Sasuke perguntou, zombeteiro, não podendo deixar a oportunidade passar.

— Medo? Quem aqui está com medo de alguma coisa? Uzumaki Naruto não tem medo de nada, nada! — o loiro praticamente gritou, histeria presente em sua voz, fazendo Sasuke dar um dos seus costumeiros sorrisos envergados.

Naruto continuou a andar, com o peito estufado e cabeça erguida, passando por Sasuke e tentando não se importar com o corredor completamente escuro que parecia não ter fim. Entenda: ele era realmente uma pessoa corajosa, e até mesmo Sasuke tinha que admitir isso. Mas ele meio que tinha esse problema com o escuro — trauma de infância, ou algo assim. E mais do que isso, Naruto tinha esse probleminha com a casa dos Uchiha.

Aquela casa — lê-se a-maior-casa-que-existe — era assustadora. Grande demais, sombria demais, fria demais; até móveis escuros e paredes brancas demais ela possuía. Naruto se sentia extremamente à vontade quando estava acompanhado por um dos Uchiha, era fato, tanto que passava muito tempo — e até dormia — ali. Mas quando estava sozinho... Digamos apenas que não era prudente ficar sozinho naquele lugar, nem mesmo de dia. Então, a perspectiva de estar ali, na noite de Halloween enquanto faltava energia, amedrontava o loiro, mesmo que ele nunca fosse admitir.

Entretanto, é claro que ele poderia fingir que aquilo não era nada demais. Sasuke acreditaria nele e...

— MERDA! O QUE É ISSO? — o garoto pulou, gritando a plenos pulmões dessa vez, quando os dedos indicadores de Sasuke cutucaram suas costelas. Estava tão absorto em seus pensamentos e tentando se imaginar em qualquer lugar, menos na casa dos Uchiha, que tinha se esquecido do bastardo.

Sasuke era o próprio diabo, Naruto tinha certeza. Não era à toa que tinha toda aquela energia negativa concentrada naquele local.

— Medo, gatinho medroso? — o moreno provocou, fazendo Naruto trincar os dentes e apertar os punhos.

— Eu não tenho medo de nada, já disse!

— Tem sim.

— Não tenho.

— Tem sim.

— Não tenhooooooooo!

— Deveria ter. — Sasuke disse e, de repente, seu meio-sorriso se desfez e ele ficou estranhamente sério, parando no meio do corredor e obrigando o Uzumaki a fazer o mesmo, virando-se para observá-lo. Àquela altura, seus olhos já tinham se acostumando com a falta de luz, permitindo-o visualizar, mesmo que parcialmente, a expressão do amigo.

— O-o que quer dizer com isso? — perguntou, temeroso.

Sasuke mordeu o lábio inferior, forçando-se para não rir. Aparentemente Naruto tinha interpretado aquilo de outra forma, porque seus olhos apenas se tornaram maiores e ele engoliu em seco. Desde quando Uchiha-teme-Sasuke mordia os lábios, hesitando?

— Dizem... — Sasuke começou, tentando parecer desinteressado, colocando ambas as mãos nos bolsos da calça e continuando a andar. — ...que essa casa é amaldiçoada. Minha mãe não gosta que comentem sobre isso, mas é verdade.

— A-assombrada?

O mais velho sorriu, maldoso. Estava conseguindo, finalmente, deixar aquela noite interessante.

— Sim. Várias pessoas morreram aqui... Antepassados, você sabe. Meu pai comentou algo sobre elas voltarem à noite, porque nenhum Uchiha consegue deixar essa casa, mesmo depois de morto. — deu de ombros.

Inferno. Merda, merda, merda. Naruto apressou os passos, alcançando Sasuke no mesmo instante. Não queria ficar para trás.

Por que agora, depois daquela história, ele tinha a sensação de estar sendo observado por todos os diversos quadros espalhados pelas paredes?

— Você está mentindo. — Naruto tentou usar a lógica, mesmo que fosse difícil. Ele apostava que era um truque do Sasuke-teme para fazê-lo sair correndo. Mas ele era corajoso, não se assustaria com aquilo.

— Se você acha... — falou desinteressado, como se não fosse importante. — Eu não acredito, mas não muda o fato de que eu ouço coisas à noite.

— O-ouve coisas?

— Sim. Mas não é nada, como já disse. Essas coisas não existem. Acho que a energia vai demorar pra voltar. Você pode ir embora, dobe. Consegue descer até lá embaixo sozinho... e no escuro? Tenho que achar velas ou lanternas ainda...

"Nem morto!", foi o que Naruto pensou, mas ao invés disso, apenas disse:

— Aaa-aaah, hahahaha! — ele riu, desajeitado e de um modo visivelmente forçado, enquanto passava as mãos pela nuca. — Imagina! Não quero te deixar sozinho. Ficarei com você.

— Ótimo. Vamos até meu quarto. É Halloween, afinal. Coisas interessantes podem acontecer ainda hoje.

Sasuke estava ouvindo mal ou aquele foi um baixo, quase imperceptível, choramingo vindo de Naruto?

Mesmo que estivesse impassível por fora, ele sorria como um maníaco por dentro.

Ah, a magia do Halloween…


X


— E... seu pai realmente acredita nessa coisa de... assombração?

— Sim.

— Mas ele não parece ser esse tipo de pessoa... sabe, que acreditam nessas coisas. Algo que não pode ver.

— Era o que eu achava, também.

— Mas o que você ouve exata—

— Naruto, chega. Você está me irritando.

Fazia alguns minutos que a chuva começara a cair lá fora, fazendo com que os trovões e relâmpagos se tornassem cada vez mais contínuos — e ainda mais assustadores, na opinião do loiro —, iluminando parcialmente o quarto nesses poucos segundos, já que Sasuke não achara velas ou lanternas quando as procurara; os dois adolescentes iluminavam o ambiente apenas com o visor do celular quando necessário.

Naruto não desgrudava os olhos de Sasuke, que estava sentado no chão, em frente à cama e próximo da escrivaninha do computador.

O Uzumaki tentava agir naturalmente, sendo apenas a adorável e hiperativa criaturazinha de sempre, rindo de qualquer coisa idiota e sendo a pessoa mais social do mundo, conseguindo conversar até mesmo com Uchiha-antissocial-Sasuke. Mas aquilo estava sendo impossível: ele estava sentado de modo ereto e tenso no meio da cama do melhor amigo, não conseguindo relaxar. Seus olhos se desviavam hora ou outra de Sasuke para a janela, a rua tão — ou mais — escura do que a casa, cachorros latindo e a chuva se tornando a cada minuto mais forte do lado de fora.

Uzumaki Naruto não gostava mesmo do escuro. Naqueles minutos que estavam no quarto do moreno, ele poderia jurar que estava sendo observado, vendo até mesmo alguns rostos de relance nas paredes. Era assustador e Naruto nunca desejara tanto um abraço quanto naquele minuto.

— Eu estou te irritando? Tudo bem. Irritando. Aham. Isso aí, 'ttebayo.

E aquela era a prova de que ele sequer estava ouvindo o que lhe era dito. Sasuke sorriu, estando a salvo de ser pego em flagrante no escuro. Como adorava ver o dobe daquele jeito. Era maldade, sim, mas apreciar aquele momento era a única coisa que poderia fazer.

Oh, Sasuke nunca deixaria Naruto se esquecer daquilo. Medo do escuro. Quem diria que aquele garoto tão destemido e corajoso, que nunca tinha papas na língua e sempre estava pronto para enfrentar qualquer coisa poderia se apavorar com uma mentirinha daquelas? Sasuke diria, é claro — conhecia-o. Sabia que quando Naruto ria daquela forma alta e desconcertada, estava com medo; que quando não sabia o que fazer com as mãos, passando-as pelos cabelos e nuca alternadamente como agora, estava envergonhado, mentindo ou apavorado; que quando coçava os olhos com as costas das mãos, estava com sono.

Sasuke conhecia cada mínimo detalhe em Naruto, aprendera cada um deles observando-o desde quando eram pequenos. Naquele momento, o Uzumaki estava com medo — apavorado, na verdade — e também estava com sono.

Talvez Sasuke já tivesse tido diversão o bastante para uma noite.

— Dobe...

— O quê?

— Dorme.

— Não quero.

— Você está com sono.

— Não e-estou. — disse, bocejando no final da última palavra. Sasuke apenas o encarou. —... Talvez eu esteja. Mas... mas... mas... fantasmas.

— Não existem fantasmas. — Sasuke suspirou, levantando-se do chão e andando até a cama, sentando-se de frente para o loiro. — Deite e durma. — e dizendo isso, empurrou o loiro para trás, fazendo-o cair no colchão macio.

Naruto ficou alguns segundos em silêncio olhando para o teto, enrolando-se na sua capa preta por estar sentindo frio. Ele olhou para o próprio corpo, depois para Sasuke, voltando os olhos para si mesmo e, mais uma vez, para Sasuke. E do nada, para completo espanto do Uchiha, começou a gargalhar, jogando a cabeça para trás, deixando seu pescoço à mostra.

Aquele garoto sempre era capaz de surpreender Sasuke.

— O que aconteceu?

— Eu e-estou realmente pa-arecendo um vampiro. Só falta um caixão. — ele disse alegremente, fazendo com que Sasuke revirasse os olhos, não acreditando naquilo. Nem parecia que há segundos ele estava morrendo de medo, e agora estava gargalhando daquela forma, o rosto risonho e os olhos fechados.

Ele ficava bonito daquela forma. Melhor do que quando estava morrendo de medo por nada, até porque ele não era assim. Não havia como Sasuke negar aquilo.

E, realmente, era realmente impossível prever as reações de Naruto, porque, enquanto ele se sentava e limpava as lágrimas de risos com as mãos, ele subitamente ficou sério de novo. Quando Sasuke deu por si, havia sido jogado na cama, como fizera a pouco com o loiro, porém desta vez com Naruto em cima de seu corpo.

Mas que porra?

— NARUTO! LEVANTA!

— ESCUTA ISSO! — Ele gritou, fazendo Sasuke se calar e apurar os ouvidos, tentando entender o que, mais uma vez, se passava.

Sasuke não demorou muito para entender o que Naruto queria dizer.

Quase não dava para notar, mas o leve arranhar na porta, como se garras tivessem sendo passadas pela madeira, era notável. O que o medo era capaz de fazer com as pessoas, não é? Sasuke não precisou de mais do que um segundo para perceber que era Sharingan, o gato de estimação da família; dava até mesmo para ouvir os baixos miados dele.

Naruto era lerdo demais para chegar a essa conclusão sozinho, é claro.

— Dobe, é apenas—

— O maníaco do machado, Sasuukeeeeee! Eu tenho certeza de que esse barulho é de um machado! — Naruto sussurrou, chegando extremamente perto do rosto de Sasuke, crente de que se elevasse a voz, o assassino descobriria que eles estavam ali e os mataria.

Talvez Itachi e Deidara já estivessem mortos. Se eles, por um algum milagre, ainda estivessem vivos — perdendo muitos membros do corpo e talvez até mesmo praticamente mortos — teriam que chamar a polícia o mais rápido possível, para que Naruto e Sasuke também tivessem alguma chance de sobrevivência.

Mais barulhos na porta. Naruto escondeu seu rosto no pescoço de Sasuke. O que era orgulho mesmo?

“Pelo menos eu não sou o único com a imaginação fértil o suficiente para ser capaz de imaginar um serial killer com machado matando todo mundo”, Sasuke pensou, lembrando-se dos seus pensamentos sádicos de mais cedo.

— Dobe, não tem nenhum maní—

— E eu deveria estar atento aos sinais. Halloween, casa assombrada dos Uchiha e pessoas me negando coisas. Vampiros trazendo maldições para esse mundo usando criancinhas inocentes fantasiadas. E aquela velhinha era uma zumbi comedora de cérebros disfarçada, por isso me recusou doces. — continuou sussurrando, como se todos os mistérios do mundo estivessem sendo resolvidos.

Imaginação fértil, com certeza.

— Você pode me deixar falar? — Sasuke bufou, cansado de ser interrompido.

— 2012, o fim do mundo. Hoje Konoha vai ser invadida por monstros e assassinos. Vamos todos morrer. E vou perder meus amigos, pais e a namorada que eu nunca tive, mas poderia tido se não morresse tão jovem. — ele ignorou Sasuke, continuando com seu discurso.

Paciência tem limite. E a de Sasuke tinha acabado. Em alguns momentos da vida, você tem que apenas deixar de pensar e agir por impulso — e “agindo por impulso” você pode acabar fazendo algo completamente clichê, típico de uma comédia-romântica água com açúcar.

E foi isso o que Sasuke fez; ele agiu por impulso. E, consequentemente, fez algo clichê. Afinal, existe algo mais clichê que beijar uma pessoa para fazê-la calar a boca?

Pelo menos havia surtido efeito: Naruto calara a boca. Seus olhos se mantiveram arregalados, ao contrário de Sasuke, que fechara os seus e segurava o rosto do loiro gentilmente pela nuca, tendo-o ainda sobre o seu corpo.

Após alguns segundos, passado o choque inicial, Naruto relaxou o corpo, fechando os olhos e deixando-se levar pelo momento, embora sua mente estive confusa de mais para pensar no momento.

Se não tivesse tão absorto naquele beijo, Naruto teria visto Sharingan entrar pela porta entreaberta, desistindo de chamar a atenção do dono arranhando a porta e, logo em seguida, as luzes do andar inferior acenderem novamente.

No momento, estava ocupado de mais para prestar atenção em qualquer outra coisa que não fosse o beijo de seu melhor amigo.


X


Se perguntassem a Uchiha Itachi, ele diria que nem sequer percebera quando a energia acabara, muito menos saberia dizer em qual momento ela havia voltado. Entretanto, assim que desceu as escadas e entrou na sala de estar, percebeu havia perdido algumas coisas enquanto esteve trancafiado em seu quarto com Deidara.

O grande saco de doces que comprara ainda naquela tarde para dar às crianças no Halloween estava pela metade, em cima da poltrona. Itachi sorriu, maldoso, pensando que adoraria ter presenciado seu querido otouto dá-los a todos que tinham batido na porta, como tinha sido obrigado. As almofadas — que por sinal eram as preferidas de Mikoto — estavam espalhadas pelo chão e, ao lado destas... Aquelas eram presas de vampiro? E aquilo, ao lado das presas de vampiro, era um caldeirão em formato de abóbora?

Antes que pudesse chegar a uma conclusão, passos descendo rapidamente as escadas foram ouvidos. No minuto seguinte, um Uzumaki Naruto furioso aparecia na sala, sendo seguido por Sasuke e, logo atrás deles, estava Sharingan, miando e clamando por um pouco de atenção.

— VOCÊ ME ENGANOU! MAL ASSOMBRADA NADA! VOCÊ ME ENGANOU COM UM GATO! — Naruto estava furioso quando passando por Itachi. Mas, assim que alcançou a porta, ele parou e, como se não fosse nada demais, voltou-se para o Uchiha mais velho: — Oi, Itachi-san! — ele sorriu como usualmente fazia, logo depois mostrando a língua para Sasuke de um modo infantil. — E não pense que eu esqueci que você... eu... você... — ele corou, parecendo estranhamente sem jeito e desconcertado. — Seu abusador de loiros inocentes! Cretino! — e dizendo isso saiu, batendo a porta.

— Mas foi você quem deduziu que era um maníaco. Eu estava tentando te avisar que era apenas o Sharingan. E não reclame de nada que tenha acontecido agora se não o fez na hora. — Sasuke falou alto, indo atrás do loiro, porém caminhando calmamente, novamente com as mãos nos bolsos.

Itachi parou no meio da sala, vendo Sasuke deixar a casa e fechar a porta. Mas, no segundo seguinte, o mais novo voltou a abri-la e andou até a poltrona, pegando o caldeirão em forma de abóbora e enchendo-o de doces, dessa vez realmente saindo de casa enquanto falava algo sobre "aproveitar o resto do Halloween com o dobe".

— É, Sharingan. — Itachi pegou o gato preto nos braços, acomodando-se no sofá. — Nunca vou entender esses dois...


FIM



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Notas finais do capítulo

Meu Naruto é muito uke sim ou claro? HAHA Espero que não tenha ficado OOC, porque eu sou péssima em caracterizar personagens, por mais que eu goste deles. D:
Essa fanfic foi postada em fevereiro, no aniversário do Rapha, mas meu sonho era postá-la no dia 31 de outubro. Então, ou eu postava hoje ou só ano que vem. -q Por esse motivo não tem capa (ainda) e nem está betada, mas farei isso em breve.
Perdoem os possíveis erros. Betarei depois, porque tenho que correr para a aula e não sei que horas volto! HAHAHAHA
Mereço comentários? ^^
Beijos da Nasu. ♥