Chamo-me Barbara Rodrigues tenho 17 anos e estou no parapeito de um prédio, pronta para saltar.

Depois que estiver estirada na calçada com meu corpo frio e sem vida muitos irão se perguntar por que fiz isso, porque uma garota tão jovem tiraria sua própria vida?

Poderia dizer que foi porque tenho uma mãe relapsa que se preocupa mais com seus cabelos do que com sua própria filha, mas esse motivo seria simples de mais.

Poderia dizer que foi porque, Sara, Bruna, Luciana e quase todos no colégio me ridicularizam dando apelidos e zombando de mim, mas esse motivo seria muito clichê.

Poderia dizer que foi porque tenho 1,60 de altura noventa quilos, cabelo ruivo a sardas, mas esse motivo seria muito fútil.

Poderia dizer muitas coisas e dar muitos motivos para meu ato, mas nenhum conseguiria justificar oque vou fazer simplesmente porque não há justificativa, apenas não quero continuar vivendo a algo de tão errado nisso?

Olhando daqui de cima tudo parece tão pequeno e quieto, o vento frio sopra sobre meu rosto esvoaçando meus cabelos como se me convidasse a pular no vazio para abraça-lo.

Ninguém vai se importar por minha morte, minha mãe chorará, mas sei que por dentro estará se sentindo aliviada por não mais carregar o fardo de ter uma filha feia e gorda, fardo esse que insistia em me lembrar, talvez alguns alunos do colégio compareçam ao funeral e depois provavelmente alguém fará piada perguntando lhes se meu caixão era redondo.

Sempre tentei ser o melhor possível fazia trabalho comunitário estudava muito e tratava bem todo ser vivo, , mesmo que a mim tenha sido negada tal gentileza, apesar de meus esforços nunca consegui ser a pessoa que queriam que eu fosse, nunca alcancei o manequim correto, nunca alcancei a aparência correta, fiz o melhor que pude e pelo menos para mim isso tem algum valor.

O céu que é a única coisa sobre minha cabeça, apesar da noite já escura não exibe estrelas, apenas nuvens cinzentas que fazem com que pareça melancólico.

As coisas seriam mais fáceis se nossos corpos fossem como roupas que podem ser trocadas a mercê da nossa vontade, haveriam muitas pessoas mais felizes no mundo se assim fosse, eu seria mais feliz.

Meu corpo mergulha no vazio, a sensação de liberdade e ausência de peso me acalma até que sinto o duro abraço do cimento. Minha vida se esvai em segundos deixando para traz apenas um corpo vestindo uma triste roupa chamada gordura