Poppo a deitou sobre sua cama e se afastou, ficando ao meu lado e o de Anaru.

Yukiatsu era pediatra e logo começou a fazer os procedimentos comuns em acidentes.

Ele colocou dois dedos sob o pulso da garota e garantiu:

–Ela não está morta, mas seus batimentos estão fracos. -Ele nos olhou ali, parados atrás dele e nos repreendeu gritando - O que eu acabei de falar? ela ainda não está morta, mas seus batimentos estão fracos, e se um de vocês não for agora pedir ajuda, ela vai morrer,entenderam?

–Ah, sim - Anaru respondeu - Eu vou com o Poppo procurar ajuda, certo?

–Certo - Respondeu Poppo ainda assustado.

Ambos foram correndo atrás de ajuda para a garota. Eu continuei ali, parado, sem saber o que fazer.

Tsuruko estava ajudando seu namorado com que podia, ela trouxe um pouco de água que estava na geladeira do Poppo, e toalhas limpas.

–Jintan, vem cá - Chamou Yukiatsu -Fica pressionando o corte na testa com essa toalha aqui - Disse, me dando a toalha branca do Poppo - Você precisa tirar o capuz por completo, faça isso enquanto eu tiro os sapatos dela.

Eu delicadamente, levantei a cabeça dela e fui retirando o capuz. Estava com medo de machuca-la mais do que ela já estava então fiz tudo devagar.

Quando eu tirei o capuz, vi que seus cabelos eram da mesma cor dos cabelos da Menma, meio esbranquiçado e lisos, bem lisos. Mesmo assustado com a coincidência tentei pensar que era comum ver meninas com cabelos iguais ao da Menma, mesmo eu nunca vendo uma com um cabelo igual o dela na rua.

Pressionei a toalha delicadamente sobre o machucado. A toalha aos poucos foi encharcando com o sangue que saia do corte. Era muito sangue. Pude notar que sua face ficou mais pálida do que eu tinha visto quando eu a retirei da água. Tentei ter bons pensamentos sobre isso, que a ajuda estava a caminho e que ela estava em boas mãos, as do Yukiatsu. Mas era impossível não pensar no pior.

Minutos e minutos se passaram e precisei trocar de toalha. A menina continuava desacordada e eu comecei a ficar em pânico. Ela estava ficando cada vez mais pálida, seus lábios inicialmente rosa, estavam roxos. Mesmo sabendo que ela estava desmaiada e que não estava me ouvindo, me aproximei da orelha dela e sussurrei:

–Você vai ficar bem, eu prometo.

Fiquei olhando para seu rosto e abaixei a cabeça, fechando os olhos, e rezei mentalmente, para que essa garota não tivesse o mesmo e doloroso fim, que a Menma teve naquele verão. Deixei escapar uma lágrima, que caiu sobre o rosto pálido dela.

Então eu pude ouvir um pequeno gemido de dor, saindo da boca dela.

–Ei, ei, Tsuruko, Yukiatsu, venham aqui - Ordenei - Ela está acordando.

Ambos ficaram atrás de mim a observando. Ela mexeu a cabeça para um dos lados e soltou outro gemido.

–Qual é o seu nome? Consegue me dizer? - Perguntei esperançoso.

Ela não respondeu. Apenas soltou outro gemido, só que mais forte que os primeiros.

–Graças a deus - Tsuruko falou com a voz trêmula, seus olhos estavam vermelhos mas ela controlou bem o choro.

Ela foi abrindo seus olhos, bem devagar. Eram olhos azuis, azuis como os olhos da Menma. Seu olhar era puro, inocente. Ela me encarou e tentou dizer algo. Eu percebi suas tentativas e aproximei meu ouvido da frágil boca. Então ela sussurrou, sussurrou algo que mudaria a minha vida.

–J...Ji..Jintan.

–Menma?- Perguntei assustado, me afastando um pouco dela

–Voc..você..me encontrou... -Sussurrou, com uma doce e familiar voz. Posso afirmar que por alguns segundos, ela forçou um breve sorriso.

–Ela disse "você me encontrou"? - Yukiatsu perguntou confuso.

Mais rápido que eu pudesse imaginar, ela desmaiou. Eu fiquei parado, olhando para ela por segundos até entender o que estava acontecendo. Então eu percebi que ela poderia mesmo ser a "besta do verão" que tinha voltado como prometeu. Me desesperei quando vi que ela estava ficando mais gelada, e ai eu perdi o controle.

–MENMA?! -gritei a sacudindo um pouco - Acorda !!!

–Jintan, calma, você pode machuca-la - Alertou Tsuruko.

–Cadê aqueles dois inúteis? Eles deveriam estar aqui com a ajuda que eu pedi - Yukiatsu reclamou demonstrando aflição em seu tom de voz.

–Chegamos. -Anunciou Poppo cansado, junto com dois médicos locais que levavam uma grande maca junto. Ele apontou para a garota e eu dei passagem para eles a retirarem da cama e a colocarem na maca.

Eles a amarraram na maca e saíram correndo morro abaixo.

Nós nos juntamos e ficamos observando a cena, aflitos.

E a única coisa que eu conseguia pensar, era se essa garota era mesmo a minha doce e pequena Menma que havia voltado.