Um Sonho Inesperado escrita por Miss Swen


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

A parte sobre o sonho eu sempre quis fazer, foi apenas uma ideia então não sei se faz muito sentido.
Para o assunto da cena final eu usei de inspiração um capítulo de uma outra fic que eu li, na qual a Maura é mais...
Okay, vou deixar vocês lerem! Haha
Enjoy!



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A hora não me importava, na verdade essa foi minha última preocupação enquanto caminhava pelas ruas de Boston naquela noite.

Eu estava sozinha com meus pensamentos, minhas duvidas e meus medos.

Como pude deixar escapar que meu amor era uma mulher?

Claro que não fiz diretamente, mas me distraí e as palavras saíram sem que eu percebesse.

Maura era esperta, logo notou meu erro e fez a pergunta pra qual eu não consegui dar uma resposta digna, apenas saí de lá.

Eu sabia que não era preciso confirmar, mas ela ainda insistiu pra que eu dissesse em voz alta, sem sequer imaginar que se tratava dela.

Eu não estava pronta para aquele confronto, talvez nunca estivesse.

Droga! Tudo parecia tão fora de ordem.

Finalmente cheguei até meu carro e dirigi até meu apartamento, ao chegar lá tudo estava exatamente do jeito que eu deixei.

Jo Friday latiu quando abri a porta e eu a peguei no colo, para então me sentar no sofá.

Era para ser uma noite comum, boa conversa, risadas e algumas bebidas, mas no fim as coisas mudaram inesperadamente.

Ao comentar sobre o caso eu nunca imaginei que desencadearia aquela série de frases que me levou a dizer mais do que devia.

Pelo menos com uma coisa eu não precisava mais me preocupar: a reação de Frankie.

Logo a conversa que tivemos mais cedo naquele dia veio na minha memória.

Eu estava no bullpen checando os antecedentes criminais do pai da vítima, o lugar estava vazio devido a hora que era, muito dos policiais ainda não tinham subido, e ouvi passos vindo na minha direção.

Me virei um pouco e vi meu irmão se aproximando.

– Bom dia. - ele disse parando ao meu lado.

– Bom dia... Mas o que está fazendo aqui tão cedo?

– Eu vim falar com você. - puxou uma cadeira e se sentou.

– Certo. Alguma coisa com a nossa mãe?

– Não.

– Então, com o Tommy?

– Também não.

– Então é com você... O que foi? Se meteu em problemas?

– Não sou eu Jane, é você.

– Eu? - ele assentiu – Do que está falando?

– De ontem.

A situação no Dirty, sim, eu me lembrava, embora estivesse fazendo um esforço e tanto pra esquecer.

– O que tem?

– Tem que foi muito estranho, e você sabe disso. Nós estávamos conversando tranquilamente e foi só a Maura aparecer que você saiu correndo.

– Não foi assim, eu... - mas não havia uma explicação.

– Você o que?

– Frankie, eu não quero e nem vou falar sobre isso com você! - afirmei e retomei a concentração no computador, esperando que ele desistisse e fosse embora.

– É ela não é?

– Ela quem? - perguntei ainda sem olhar para ele.

– A Maura.

– O quem tem ela?

– É por ela que você está apaixonada.

Será que já tinha ficado tão evidente assim?

Senão, como ele descobriu quando eu venho tentando fazer de tudo para manter em segredo?

– Isso é loucura. - falei.

– Eu não acho.

– Vamos, como eu poderia estar apaixonada pela minha melhor amiga?

– Você me diz.

– Não tem nada pra dizer, porque simplesmente não é verdade.

– Esqueceu que somos irmãos? Eu sei dizer quando você está mentindo.

– O que você quer de mim?

– Que fale comigo.

– Estou falando.

– Mas não o que eu quero saber. E nem tente negar porque eu já sei mesmo, então facilite as coisas pra nós dois, por favor.

Respirei fundo e troquei de posição, ficando de frente para ele.

– Como descobriu?

– Primeiro me diga se estou certo.

– Pra que?

– Jane...

– Ok, você está certo! Satisfeito?

– Talvez.

– O que mais quer saber?

– O porquê de não contar pra mim.

– Ah claro, seria tão simples! Chegar e falar: ”Hey, descobri que estou apaixonada pela minha melhor amiga! Não é maravilhoso?”.

– Está bem, não é uma coisa fácil de lidar, mas ainda assim não justifica que tenha guardado isso só pra você.

– E o que mais eu poderia fazer?

– Falar.

– Desculpe mas eu não sou assim. Não consigo reagir tão bem a uma coisas dessas.

– Eu entendo, mas estou aqui agora, você pode falar comigo.

– Não, não posso.

– Por quê?

– Porque eu tenho que superar isso, sabe, esquecer toda essa bobagem.

– Não é bobagem.

– Então o que é?

– Uma coisa que se você ignorar não vai simplesmente desaparecer como se nunca tivesse existido.

– Você não está ajudando...

– Ah não? E o que seria ajuda pra você? Hã? Continuar se esquivando da verdade? Quer que eu te diga pra fazer isso?

– Você poderia.

– Não, não poderia! Porque isso não seria ajudar! Só iria te trazer mais sofrimento. Afinal, não é assim que está se sentindo agora? Confusa e dividida? - meu silêncio foi a resposta que ele precisava – Então me escute quando eu digo que você tem que encarar isso de frente.

– Como? - aumentei um pouco minha voz – Porque na teoria é fácil, as palavras são lindas, nelas não existe o menor problema em admitir isso e fazer o que parece certo. Mas na prática tudo muda. Nela, nada é tão simples.

– O que te faz pensar assim?

– Tudo Frankie! Tudo o que eu conheço, tudo o que cresci acreditando. Esse sentimento vai contra todas essas coisas!

– Está falando de...

– Da nossa mãe, Tommy, até do papai que sumiu das nossas vidas! Tudo! Como posso passar por cima disso? Me diz!

– E quem disse que a mamãe ou o Tommy vão rejeitar você? O papai pode até ser mas eu duvido que você se importe tanto com a opinião dele.

– Nós dois sabemos muito bem o quão católica nossa mãe é, e o Tommy... Bom, ele é o Tommy! Já dá pra imaginar o que acha desse tipo de coisa.

– Eu realmente não estou conseguindo te entender. Onde está aquela Jane que eu cresci admirando? Aquela que não se importa com a opinião dos outros, que faz o que quer e quando quer... O que aconteceu com ela?

– Acho que tirou umas férias e não pretende voltar tão cedo.

– Não pode estar falando sério.

– Mas estou. Eu não consigo agir de outro jeito, e olha que eu tentei mas tudo me leva a fazer alguma besteira. Primeiro eu me afasto da Maura e quando ela me procura eu dou jeito de ofendê-la, então quando fazemos as pazes um simples filme na casa dela vira uma sessão dos horrores porque eu bebo demais e acabo falando o que não devia. E agora...

– Agora ela sabe que você está apaixonada por alguém, e vai querer descobrir quem é. -completou por mim.

– Pois é. - me encosto na cadeira – Eu não sei mais o que fazer.

– Me diz exatamente o que sente por ela.

– O que?

– Me diz, sabe, quando você a vê, quando fala com ela, enfim, o que te fez perceber o que sente.

– Eu não vou fazer isso.

– Por quê não?

– Porque é ridículo! Você é meu irmão mais novo, não vou ficar aqui e desabafar com você.

– Mesmo? Vai dar importância pra nossa diferença de idade logo agora?

– Sim, eu vou!

– Vamos lá, até porque eu sei que ouvir sobre os seus sentimentos não vai mudar em nada essa mania que você tem de mandar em mim, então...

– Você não vai mesmo desistir não é?

– Não. - simples, curto, porém sincero.

– Ok, mas um comentário e eu paro de falar, entendeu?

– Entendi.

– Eu... Nem sei por onde começar.

– Que tal pelo que fez você notar que seus sentimentos tinham mudado? - sugeriu.

– Bom, foi um... Um sonho.

– Sonho?

– É Frankie, eu tive um sonho estranho com a Maura e depois disso nada mais foi como antes.

– Que tipo de sonho? - me preparei para responder mas ele continuou – Oh espere! Dependendo do que acontece eu não preciso saber!

– Cala a boca! - dei um leve soco na perna dele – Não foi nada impróprio, se bem que se eu não tivesse acordado as coisas poderiam...

– Ok, eu entendi. Não foi nada demais.

– Isso, nós só... Nos beijamos.

– E depois desse sonho você percebeu que amizade já não era o bastante?

– Eu achei que não tinha significado nada, só mais um sonho sem sentido que eu esqueceria rápido, mas aí quando eu a vi... - suspirei e apoiei os cotovelos nos joelhos para passar a mão pelo meu rosto – Percebi que tudo tinha mudado e me desesperei. - admiti ainda sem mostrar o rosto.

– E aí as coisas simplesmente começaram a fugir do seu controle, e cada segundo ao lado dela serviram como prova de que algo estava mesmo diferente dentro de você.

Levantei a cabeça.

– Certo, isso foi esquisito... Como sabe dessas coisas? - perguntei semicerrando os olhos.

– Eu já fui apaixonado por uma amiga no colégio, então é mais fácil ter uma ideia.

– Sim eu lembro, Lily era o nome dela não é? - ele assentiu e eu sorri – A única diferença entre as nossas paixões é que a sua era alguém do sexo oposto.

– Isso não importa Jane.

– Como eu disse antes, na teoria não, mas na prática sim.

– Não acredito que você seja tão ligada a esses padrões.

– Eu não sou, mas... Ah, é que isso é tão novo pra mim, eu nunca pensei que pudesse sentir isso por ela.

– Mas agora sente, e acredite em mim quando eu digo que ignorar não é a melhor solução.

– E qual é então?

– Fazer o que você sempre faz, erguer a cabeça e dar um passo de cada vez.

– Acha que eu devo falar com ela?

– Eu não posso dizer o que deve fazer, pois se trata da sua vida.

– Mas e...

– As pessoas? É com elas que está preocupada? Com o que vão pensar de você?

– Não só com isso, tem também a reação da Maura, porque nós somos amigas, não posso chegar pra ela e me declarar, porque além de ser um absurdo, também não faz o meu gênero.

– Talvez esteja na hora de ampliar um pouco esse seu gênero.

– Frankie...

– Olha, eu acho que por agora chega, até porque já viu onde nós estamos?

Olhei rapidamente ao redor.

– É eu sei, ótima escolha de ambiente pra falar sobre essa confusão toda. - sorri.

– Eu fui até o seu apartamento ontem, mas você não abriu a porta.

– Porque eu não fui direto pra lá, depois daquela cena no Dirty resolvi andar um pouco, esclarecer melhor minhas ideias.

– E conseguiu?

– Infelizmente não.

– Como eu já disse não posso falar o que tem que fazer, a decisão é sua porque é a sua vida que ela vai afetar, eu só quero que você seja feliz.

– Sério? Quer dizer, você não... - mas eu não pude terminar, apenas fechei os olhos, e só os abri quando a voz de Frankie chamou minha atenção.

– Não importa o que aconteça e nem como isso termine Jane, eu quero que você saiba que pode contar comigo sempre. Porque nada disso muda o respeito e admiração que eu tenho por você.

Talvez não tivesse o direito de me sentir melhor com aquilo, mas me senti.

– Obrigada.


Podia parecer estranho, ainda mais pra mim, mas saber que tinha a aprovação do meu irmão me tranquilizou.

Em seguida houve a conversa com Maura, como eu disse tudo podia ter sido ótimo, eu encontraria mais tempo para decidir o que fazer, mas a manteria por perto, pois ficar longe dela não era e nem seria uma opção.

Mas ali, sentada no meu apartamento sozinha eu descobri o quanto tudo havia ficado instável novamente.

Estava cansada, queria tomar um bom banho e dormir, era tudo o que eu precisava naquele momento.

******************************************************************************

Fui para o trabalho no dia seguinte, obrigando o meu cérebro a não pensar em como seria falar com Maura depois de nossa última conversa, as possibilidades me apavoravam.

Ao chegar na lanchonete cumprimentei minha mãe e fui pegar o café, e assim que me virei vi Frost sentado em uma das cadeiras, com uma cara péssima.

– E então, dormiu bem? - perguntei com a voz elevada, propositalmente.

– Não. - gemeu e passou a mão na cabeça – Você poderia falar mais baixo por favor?

– Desculpe amigo, mas não vai dar.

– Por quê?

– Encare isso como um castigo.

– Castigo pra que? O que eu fiz?

– Esqueci como é a memória quando se está de ressaca... Bom, acho que posso dizer que você falou mais do que devia ontem.

– Quanto mais exatamente?

– Praticamente gritou aos quarto ventos como eu fico quando bebo.

– Ah, sinto muito.

– Claro que sente. - andei em direção a máquina de café – Se está tão mal, o que faz aqui? - perguntei ao voltar para perto dele.

– Esse caso do garotinho, eu quero ajudar a encontrar quem fez isso com ele.

– É, sei como é. Eu também quero.

Algumas horas se passaram e nenhum sinal de Maura, eu tentei definir se isso era bom ou ruim.

Estava com Korsak e Frankie vendo os vídeos de segurança do prédio que a vítima morava, então a porta da sala se abriu e revelou Maura do outro lado.

Ela sorriu como sempre, cumprimentou a todos, inclusive a mim, como se tudo estivesse bem.

Entregou o resultado dos novos exames e falou um pouco, mas quando as novidades acabaram ela simplesmente permaneceu no mesmo lugar, observando os vídeos conosco.

– Não tem nada que nos ajude nesses vídeos! - afirmei – Já vimos todos e até agora nada.

– Talvez o pai do menino esteja falando a verdade, vai ver ele não teve os tais sonhos estranhos e não saiu naquela noite.

– Que sonhos? - Maura perguntou.

Todos olharam para mim, esperando que eu explicasse para ela como sempre fiz.

– Ele disse que tem sonhos incomuns, mas não entrou em detalhes.

– Isso pode ajudar. - ela disse.

– Como? - perguntei.

– Bom, é que muitas pessoas podem ser analisadas através dos sonhos que tem.

– De novo, como?

– Existe uma explicação plausível pra cada sonho, geralmente eles revelam muito sobre a personalidade da pessoa. Isso pode dar a confirmação se ele é ou não capaz de matar o próprio filho... Ou qualquer outra pessoa. - completou.

– E como exatamente seria isso?

– Muitas vezes os sonhos são a manifestação do nosso subconsciente, revelando coisas que estão guardadas em nosso cérebro.

– Me dê um exemplo. - pedi.

– Uma pessoa pode sonhar com algo que ela já desejava e apenas não tinha feito enquanto estava acordada, e então acaba acontecendo enquanto dorme. - outro sorriso.

– Então quer dizer que uma pessoa pode querer fazer algo, mas como não tem coragem ela sonha que fez? - Frankie perguntou olhando para ela e depois para mim, sem disfarçar a intenção por trás de sua pergunta.

– Essa é uma maneira de observar... Mas sim, posso usar esse exemplo.

– Não vejo como isso pode ajudar com a investigação. - tentei desviar do assunto para não dar atenção as duvidas que se formavam na minha cabeça.

– Mas eu vejo! - Frankie afirmou, eu olhei para ele esperando que entendesse e parasse de falar, mas não deu certo – É sempre bom testar todas as possibilidades, certo Korsak?

– Uh... Claro, sempre. - Korsak disse sem jeito.

– Você ainda não é detetive Frankie, então pare de opinar!

– Eu só acho que pode funcionar, sabe, entender um pouco melhor sobre o que se passa na cabeça desse cara e ver se o subconsciente dele guardava uma vontade louca de matar o filho.

Não poupei um olhar cheio de raiva para ele, demonstrando o quanto aquilo me irritava.

Mas eu entendi o porque dele fazer aquilo, queria me empurrar de frente ao meu medo, queria me colocar na linha de fogo.

O mesmo lugar que eu vinha tentando evitar.

E essa história de sonho?

Manifestação do subconsciente? Sério?

De todas as explicações detalhadas que Maura deu, aquela foi com certeza a que mais me afetou, já que falava exatamente sobre o que eu queria esquecer.

Ou não queria...

Certo, minha cabeça estava um nó!

Se Maura me ouvisse dizer algo assim me criticaria por ser uma expressão sem nexo.

E lá estava eu mais uma vez pensando nela ao longo daquele dia.

Falamos com o pai da vítima, fizemos os testes sobre o sonho mas eles não revelaram muito. No fim tudo continuou quase igual.

A tarde chegou e passou, dando entrada a noite e sua escuridão.

Então uma tempestade surgiu, raios e trovões emitidos com certa violência.

Resolvi ir pra casa, o cansaço me dominava e ficar ali não mudaria muitos os poucos fatos que já havia encontrado. Me despedi de Frost e Korsak e peguei o elevador.

Ao chegar na entrada, vi Maura parada um pouco antes da porta, encostada na parede.

Minha curiosidade foi maior do que meu receio, e perguntei:

– O que está fazendo aí parada?

Ela me olhou com surpresa, ficou claro que não tinha percebido a minha chegada.

– Esperando a chuva passar.

– Sim, já que você não pode arriscar o seu modelito.

– E nem meus saltos. - sorriu, ignorando a minha provocação.

Me aproximei e abri um pouco a porta, para ver que a chuva não tinha diminuído, pelo contrário, estava ainda mais forte e intensa.

– Droga, parece que essa tempestade vai longe. - falei fechando a porta.

– Você não vai sair?

– Está o maior temporal lá fora Maura, e eu não tenho um guarda-chuva.

– E desde quando isso te impede?

– Desde agora.

Na verdade nem eu sabia o porquê de não sair dali naquele instante e ir até o meu carro como sempre fiz.

Talvez fosse o fato de que os últimos acontecimentos não foram muito agradáveis e o que eu menos precisava era um resfriado por pegar aquela chuva.

Não gostava do silêncio que se estabeleceu ali, com Maura ainda encostada na parede checando suas unhas a todo momento, evitando qualquer contato visual comigo.

Para piorar o local estava deserto, certamente a tempestade havia espantado boa parte do movimento de pessoas que circulava por lá naquela hora.

Se eu acreditasse nesse tipo de coisa, diria que tudo estava conspirando para me deixar sozinha com a única pessoa com quem eu ainda não sabia como lidar depois de tudo.

Tomei coragem e decidi sair dali, seria melhor, certo?

Minha resposta não chegou, pois a voz de Maura foi mais rápida:

– Você não precisa se preocupar.

– Como é?

– Eu disse pra não se preocupar, eu não me importo.

– Não se importa com o que?

– Com você estar apaixonada por outra mulher. É perfeitamente normal.

– É?

– Sim, eu não tenho preconceitos Jane, nunca tive, e você melhor do que ninguém deveria saber disso.

– Ah... Eu sei.

– Então por quê não me contou a verdade? Por quê fugiu ontem?

– Mas será que todo mundo resolveu dizer que eu estou fugindo?

– O que?

– Esquece. Eu só... Não sei, isso é novo pra mim.

– Eu imagino.

– Então quer dizer que isso não muda nada?

– Por quê mudaria?

– Porque eu nunca fui assim! Nem sei quando começou.

– E isso importa?

– Claro que importa, eu tenho que entender pra saber como reagir não é?

– Não pode ser tão complicado...

– Ah, mas é! E você não tem ideia do quanto!

– Pode me dizer quem é ela? - não respondi, eu nem sabia como poderia – Vou encarar seu silêncio como um não.

– Obrigada.

– Eu sempre vou estar aqui Jane, não importa o que aconteça e nem o quanto as suas preferências sexuais mudem.

– Ok, entendi o recado!

Ela riu, e então se aproximou, tinha algo diferente em seus olhos, eles estavam tão parecidos com... Com os mesmos olhos ardentes com os quais ela havia me olhado em meu sonho.

Mas espera, não era possível.

A Maura que eu conhecia e que vivia fora dos meus sonhos nunca me olharia daquele jeito, certo?

– Se quiser tirar alguma duvida, pode falar comigo. - ela disse sorrindo.

– Que tipo de duvida?

– Ah você sabe... Sobre tudo o que envolve sentimentos românticos por outra mulher.

– E o que você sabe sobre isso?

– Não muita coisa, apenas o pouco que eu aprendi quando estava na faculdade.

– Aprendeu? - ela assentiu – Maura... Você já...

– Se eu já namorei uma mulher? Uh... Acho que da única vez que me envolvi com uma, não chegou a ser bem um namoro, mas se quiser chamar assim por mim tudo bem.

– Então já gostou de outra mulher?

– Já.

– E como eu nunca soube disso?

– Porque eu não achei que fosse necessário contar. Eu era jovem, tinha acabado de entrar na faculdade e decidi experimentar...

– Certo. - interrompi – Não sei se estou ou quero estar pronta pra ouvir o resto.

– Mas você precisa, não pode ignorar já que mais cedo ou mais tarde terá que fazer isso. - falou, mas sem sorrir dessa vez.

Eu nunca tinha ido tão longe com minhas ideias de como seria se algum dia ela e eu tivéssemos algo.

Apesar de agora ter certeza sobre meus sentimentos, a ideia de fazer sexo com a minha melhor amiga ainda me assustava.

E ela estava bem na minha frente, falando sobre aquilo com a maior naturalidade, sem nem sequer desconfiar de que a pessoa com quem eu viria a fazer todas aquelas coisas seria ela.

Eu faria? Será?

Como eu disse, nem tinha pensado sobre isso ainda, mas aquela conversa tinha tomado um rumo inesperado, como todas que eu tive com ela depois daquele sonho, e me trouxe ainda mais duvidas.

– Tudo bem, eu posso pensar nisso depois.

– Como quiser, saiba que eu continuo aqui pra você.

Droga Maura!

Você tinha que ser tão adorável?

– Eu sei, pode deixar, se tiver alguma duvida você será a primeira da minha lista pra esclarecê-las.

Sim, aquilo soou do jeito errado, mas para minha surpresa ela não pareceu se importar, apenas sorriu.

Percebi que a chuva tinha diminuído sua intensidade e nós duas saímos de lá, nos despedimos rapidamente e eu entrei no meu carro.

Observei como ela ligou o dela e foi embora, mas não consegui fazer o mesmo.

Como poderia, já que acidentalmente tinha acabado de descobrir que minha melhor amiga, por quem eu recentemente havia descoberto estar apaixonada, possuía um histórico de experiências com alguém do mesmo sexo?

Não importava se foi apenas uma aventura experimental na faculdade, o fato é que tinha acontecido.

Querendo ou não, isso mudou um pouco as coisas.

Querendo ou não, mudou minha visão sobre os limites de Maura.

Ela estaria disposta a se aventurar comigo também?

É, fazer aquela pergunta mesmo que mentalmente, me surpreendeu.

Talvez nossa amizade fosse muito forte e ela não quisesse coloca-la em risco, assim como eu também não queria fazer apesar de tudo.

Ou queria?

Eu podia simplesmente não fazer o tipo dela, ou quem sabe a fase de testar todas as coisas da vida já havia passado. Provavelmente foi apenas um tipo de ritual de passagem que acabou junto com o período na faculdade.

Mas conhecendo Maura como conhecia, essa última opção não era muito provável, já que ela sempre repetiu as experiências quando tinha chance, sem se importar com a idade que tinha.

Parecia conservadora, mas também possuía um lado inovador, disposto a tudo.

Eu teria chance de conhecer melhor esse lado?

Não fazia ideia, mas queria ter!

Não havia sito fácil ouvi-la falar aquelas coisas e me controlar para não beija-la.

Nossos últimos diálogos não estavam ajudando, e agora que Frankie sabia certamente tentaria me colocar frente a frente com tudo sempre que pudesse.

Eu estava chegando ao meu limite, a velha Jane para quem dei uma espécie de folga queria retornar e fazer logo o que tinha vontade sem ligar para as consequências.

Eu deveria deixar que ela voltasse e fazer de uma vez o que vinha tentando evitar?


Continua...



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Notas finais do capítulo

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