Um Sonho Inesperado escrita por Miss Swen


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Me desculpem pela parte do caso, eu só achei necessário para ''empurrar" a Jane até o necrotério mas enfim, prometo tentar não focar tanto nisso no próximo capítulo.
Ah e também a parte sobre o laboratório... Não sei se faz muito sentido, mas eu tentei.
Enjoy!



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O barulho da porta batendo, essa foi a última coisa que eu ouvi antes do silêncio se estabelecer no meu apartamento.

Apoiei as mãos no balcão da cozinha e fechei os olhos.

Sim, eu sabia o que havia feito, só errei em achar que estava preparada para ver Maura sair daquele jeito.

A dor nos olhos dela, a preocupação evidente em tentar concertar algo que pudesse ter feito para me irritar.

Depois de tudo ela ainda se preocupava.

Eu tinha pensado sobre o que fazer o dia todo, aquele sonho roubou meu sossego, tentei encontrar outras maneiras para lidar com esse novo sentimento tão confuso, mas não consegui.

Como podia olhar para ela depois de fantasiar como seria beijá-la?

Como poderia conviver com ela tão perto sem pensar em como seria fazer tudo aquilo que eu imaginei?

Descartei essa possibilidade, já que algo assim nunca aconteceria de fato.

Maura e eu éramos amigas, boas amigas, melhores amigas. Nada além disso.

Então por que essa conclusão me deu um aperto no peito?

Seja o que for, era tarde demais para pensar, já estava feito.

Eu a tinha ofendido e magoado, e pelo modo como saiu, provavelmente muito mais do que o planejado.

Eu só queria manter uma certa distância, queria poder pensar melhor e seguir adiante, mas aquele novo caso não me deixou espaço para mais nada.

Ao longo do dia ela me chamou várias vezes para falar sobre a investigação, mas eu simplesmente não podia olhá-la nos olhos, então sempre mandei Frost no meu lugar.

Devia saber que ela ia reparar e tentar descobrir o que tinha acontecido, mas não esperava vê-la em frente a mim naquela noite.

Tudo aconteceu tão rápido, na minha cabeça eu precisava afastá-la para que assim pudesse manter nossa amizade em segurança, sem os riscos de ela descobrir sobre o sonho, mas acabou sendo pior do que eu pensava.

Eu disse coisas terríveis, coisas que ela jamais mereceu escutar.

Me senti a pior pessoa do mundo ao fazer aquilo, mas no calor do momento apenas aconteceu.

Tudo estava silencioso, eu caminhei até a porta e a tranquei.

Dei cada passo automaticamente, sem emoção.

Sentei com calma no sofá, puxei uma almofada até o meu colo, e me permiti chorar.


******************************************

Acordei no mesmo horário de sempre, fiz as mesmas coisas de sempre. Até poderia dizer que tudo foi exatamente igual, a não ser pela enorme sensação de vazio que preenchia meu peito.

Durante todo o trajeto até o trabalho minha mente viajou em inúmeras hipóteses de como seria encarar Maura, e em todas elas as coisas não terminavam bem.

Sinceramente eu não me surpreendi ao me deparar com isso, afinal, não esperaria nada diferente depois de tudo que foi dito na noite anterior.

Ela deveria estar arrasada, mas conhecendo-a como conhecia eu sabia que não demonstraria, que aparentaria estar ótima.

Mas quanto a mim?

Como eu deveria agir?

Pedir desculpas?

Bom, se fizesse isso certamente teria que explicar o motivo do meu comportamento estranho, e dizer a verdade estava completamente fora de questão.

Não havia outro jeito, eu tinha ido muito além do que pretendia e agora enfrentaria as consequências das minhas palavras.

Estacionei meu carro em frente ao prédio e desci, como de costume chequei meu celular, mas não havia nada.

Suspirei, subi os degraus e abri a porta.

Cumprimentei alguns colegas e me dirigi até a lanchonete para pegar o meu café de todos os dias e desejar bom dia para minha mãe.

Estava tão distraída que deixei passar a possibilidade de que Maura estivesse lá, mas me dei conta disso tarde demais.

Eu a vi sentada em uma das cadeiras tomando seu café perfeitamente selecionado.

Meu coração acelerou, eu não fazia ideia do que iria encontrar.

Mas antes que qualquer enfretamento fosse iniciado, senti alguém me puxando pelo braço, era minha mãe.

– Certo, será que você pode me dizer o que está havendo?

– Bom dia pra você também mãe.

– Não me venha com essa, eu quero saber!

Tentei formular algumas palavras mas fui interrompida por uma voz:

– Obrigada pelo café Angela, tenha um bom dia. - Maura desejou ao sorrir para minha mãe e passar por mim.

Nenhum contato visual, nada. Era como se eu não estivesse ali, e isso me machucou de um jeito que eu não sabia que era possível.

– É disso que eu estou falando! Primeiro ela chega em casa ontem a noite com uma cara péssima, cara de quem chorou aliás. Eu perguntei o que tinha acontecido, mas ela fugiu do assunto e alegou estar com dor de cabeça. Hoje aparece aqui toda calada, e agora isso! Passa por você sem dizer nada.

– Mãe, eu...

– E eu quero a verdade! Seja lá o que for que você fez pra ela, me diga.

– É complicado.

– Não, não é! Basta pedir desculpas.

– E se eu não puder?

– Você sempre pode querida, o único risco é de ela não aceitar, mas você e Maura são amigas há muito tempo, não importa o que aconteça vocês sempre ficam bem no final.

Eu olhei para o chão.

– Meu medo é de que seja diferente dessa vez.

– Tão grave assim? - eu assenti – Não vai mesmo me contar não é?

– Quanto menos gente souber disso, melhor.

– Está bem, não vou forçar.

Estranhei por um momento, mas já tinha coisas demais na minha cabeça, não precisava ficar analisando cada atitude da minha mãe, se ela disse que não forçaria, não seria eu que iria reclamar.

– Obrigada.

Me virei em direção a maquina de café, pensei que talvez um pouco de açúcar pudesse me fazer bem.

Depois de obter meu copo com o liquido quente, decidi perguntar algo que me incomodava.

– Mãe... - disse me aproximando dela, que se virou para olhar para mim – Ela chorou mesmo?

Eu tinha que saber, por algum motivo que ainda não entendia, mas eu tinha que saber.

– Sim, estava arrasada.

– Eu nunca quis fazer isso.

E realmente não queria, minhas intenções nunca foram aquelas. Eu só precisava de um pouco de tempo, mas quando me dei conta não podia voltar atrás.

– Eu sei.

– Tenho que ir agora, ver como vão as coisas com o caso. Até logo mãe.

– Até Jane.

Ao chegar no bullpen me deparei com Frost em frente ao computador, mas ele parecia agitado.

– Hey Frost, bom dia! - disse ao colocar o café na minha mesa.

– Bom dia.

– Novidades?

– Eu pensei que tivéssemos resolvido isso Jane. O resultado do sêmen bateu com o ex-namorado, mas ele tem um álibi.

– Espera, sêmen? Como assim?

– Ah é, eu me esqueci. Ontem quando você me mandou até o necrotério pra ver o que a Dra. Isles tinha encontrado, ela me apresentou os exames do teste de estupro. Disse que tinha achado algumas lacerações.

– Certo, e o resultado bateu com o ex-namorado da vítima?

– Isso. Só que ele tem um álibi e quando eu mencionei o possível estupro ele alegou que tudo foi consensual.

– Então... Maura se enganou?

– Eu também pensei nisso num primeiro momento, mas depois ele explicou...

– Explicou o que?

– Disse que a vítima era praticante de um tipo diferente de sexo... Algo mais violento.

– Ok, eu já entendi. E então?

– E então que nós voltamos à estaca zero.

– Isso não é bom...

Eu teria terminado minha frase, mas o celular de Frost tocou, e me calei.

Ele olhou para a tela e colocou de volta no bolso, se levantou e disse:

– Dra. Isles tem algo novo, eu vou lá.

Maura mandou uma mensagem para ele ao invés de mim?

Certo, por essa eu não esperava.

– Como ela conseguiu o seu número?

– Bom, ela me viu hoje mais cedo lá em baixo e me pediu. Algum problema?

– Não, eu só estranhei.

– Está tudo bem entre vocês Jane?

– Por que a pergunta?

– É que ontem ela me perguntou se você estava com algum problema, me pareceu realmente preocupada, e hoje pediu o meu número pra notificar alguma novidade, quando geralmente ela faz isso pra você, então...

– É incomum, eu sei.

– Quem sabe você não deveria ir no meu lugar. - ele sugeriu

– Ela chamou você.

– Sim e isso por algum motivo que eu ainda não conheço, e provavelmente não é da minha conta, mas seja lá o que for você tem que resolver.

– Olha, eu agradeço a preocupação, mas acho que posso lidar com isso sem precisar de ajuda, e eu sei que da última vez meio que deu certo já que você e o Korsak armaram pra nos aproximar, mas agora é diferente.

– E é por isso que eu estou te dando a chance de fazer isso sozinha.

– O que quer dizer?

– Quer que eu me intrometa?

– Não!

– Então já sabe o que tem que fazer.

– Mas...

– Vai! Eu fico aqui e te mantenho informada.

Falar com Maura?

Eu estava pronta para isso?

Eu conseguiria olhar nos olhos dela e me desviar da mágoa que eles transbordariam?

Só havia uma forma de descobrir.

– Ok. - liberei um fraco sorriso ao passar por ele.

– Boa sorte! – ele disse quando eu já estava um pouco longe, mais ainda sendo capaz de ouvi-lo.

Mais um suspiro e murmurei para mim mesma enquanto caminhava em direção aos elevadores:

– Eu vou precisar.

Passei pela porta que dava passagem para o necrotério, pelo vidro consegui ver Maura andando pela sala.

Ela estava linda e eu a via com outros olhos agora.

Queria mais dela, e meu medo de encarar isso fez com que eu a magoasse.

Por pura e simples ironia eu havia conseguido fazer a última coisa que queria: afastá-la de mim.

Sim, porque eu nunca pensei em manter uma distância longa.

Eu nunca quis destruir nossa amizade.

Mas como poderia lidar com essa coisa nova que crescia dentro de mim?

Esse novo sentimento que ia além dos limites entre amigos.

Talvez sempre estivesse lá, mas só agora eu podia ver.

Abri a porta com certo cuidado, foram poucos segundos até ela se virar para mim, e pela expressão em seu rosto, vi que definitivamente não esperava me ver ali.

– O que está fazendo aqui?

– Eu vim ver o que você encontrou.

– Por quê?

– Porque você chamou.

– Sim, mas eu me lembro de ter chamado o Det. Frost, não você.

Ok, admito, doeu.

– Eu sei, mas ele teve que checar uma pista e então me pediu pra vir.

– Claro, porque você nunca se ofereceria. - disse virando as costas e se inclinando sobre o corpo para verificar algo.

– Maura... - eu tentei, mas ela foi mais rápida.

– Eu encontrei um tipo distinto de substância no sangue dela, algo que não foi possível detectar, pois só aparece nos exames depois de um determinado tempo.

– Certo, e o que é?

– Aqui. – me entregou alguns papéis.

Não reconheci o nome, era novo pra mim.

– Eu nunca ouvi falar disso antes.

– Provavelmente porque não é muito comum, não são muitas pessoas que tem acesso a esse tipo de substância.

– E quem geralmente tem?

– Tendo em vista a combinação química, eu diria que é uma área muito extensa para que eu classifique pra você, e não quero te entediar.

Eu a olhei e ela desviou o olhar e se voltou para o corpo.

Entendi o que quis dizer.

Me lembrava de ter criticado as coisas que ela dizia, quando na verdade era a característica mais encantadora que possuía.

– Na verdade não, eu adoraria saber.

Percebi uma leve surpresa pelo olhar dela.

– Em todo caso pra não correr riscos, vou tentar resumir: é uma substância presente em laboratórios industriais, que lidam com testes em cosméticos.

– Bem, o pai dela trabalha em um laboratório como esse. - peguei meu celular e liguei para Frost – Hey Frost, Maura encontrou uma coisa no sangue da vítima, é complicado pra explicar agora, mas é usado em laboratórios de cosméticos... Sim, como aquele em que o pai dela trabalha... Isso, traga-o pra cá! Certo, obrigada.

Coloquei o aparelho de volta no bolso e procurei por Maura, que estava retirando as luvas.

– O que ainda está fazendo aqui? Não deveria ir falar com o pai da vítima? – perguntou sem me olhar.

– Você me ouviu, eu pedi pro Frost trazê-lo até aqui. Isso nos dá algum tempo. - arrisquei uma aproximação, mas ela foi em direção a pia para lavar as mãos.

– Tempo pra que?

– Vamos Maura, olhe pra mim!

E ela se virou com uma expressão vazia, eu senti um nó na garganta.

Nem mesmo quando houve aquele tiroteio no galpão em que eu atirei em Doyle ela me olhou daquele jeito. Nem mesmo naquele momento em que eu acreditei que nossa amizade tinha acabado ela demonstrou tanta mágoa.

Aquilo seria pior do que eu pensava.

– Vai dizer algo ou pretende ficar só me olhando?

– Eu nem sei por onde começar, mas posso tentar...

– Jane, não...

– Me deixa falar, depois se você quiser eu posso sair, ok? - ela assentiu – Eu sei que disse coisas horríveis ontem...

– É, você disse.

– Eu sei, e realmente sinto muito por isso Maura, você não merecia ouvir nada daquilo, eu só... Não estava muito bem.

– E ainda não está.

– O que te faz pensar assim?

– Eu não sei, mas tem algo de diferente no modo como você olha para mim, e no jeito como se comporta quando eu estou por perto. Eu não sei ao certo quando começou, mas sei que o problema gira em torno disso.

– É complicado. - sim eu sabia que essas duas palavras estavam se tornando um hábito no meu vocabulário ultimamente, mas não podia evitar.

– Não vai mesmo me dizer?

– Eu ainda não posso.

– Sabe se algum dia vai poder?

– Espero sinceramente que sim.

– E até lá? Como nós ficamos?

– Eu quero que fiquemos bem, como sempre estivemos.

Ela liberou um suspiro profundo e olhou para o chão.

– O que foi? – perguntei.

– É só que... - o que poderia estar errado, eu nunca tinha visto ela hesitar assim antes – Não sei se consigo fingir que aquilo não aconteceu. Sabe, simplesmente esquecer as palavras que você usou e...

Mais nada, ela não terminou a frase e eu pude perceber sem muito esforço que seus olhos estavam marejados.

– Eu entendo, e não estou te pedindo pra seguir adiante como se não tivesse acontecido, porque eu sei que é impossível, só quero que você me dê mais uma chance, ok? Só isso.

– Está bem. - liberou um fraco sorriso – Mas fale comigo daquele jeito de novo e você vai ver o que é fúria de verdade! - disse com um olhar desafiador.

– Ok Dra. Isles, estou avisada!

Nós rimos e eu senti uma ponta de esperança, algo como a chance de talvez conseguir seguir em frente com sucesso, apenas como boas amigas.

Me deixei animar pela possibilidade de que aquele sentimento desaparecesse com o tempo, aquele mesmo sentimento para o qual eu ainda não conseguia dar um nome.

Tinha minhas leves suspeitas, mas não me arriscava a admitir em voz alta, seria perigoso demais.

Sim, eu achei que conseguiria conviver com ela sem tocá-la como naquele sonho, e me permiti sorrir ao acreditar nisso.

Mas então aquilo aconteceu, eu a vi se aproximar de mim com um lindo sorriso nos lábios e não tive mais do que dois segundos para processar minhas próximas atitudes, pois quando me dei conta os braços de Maura já estavam ao redor do meu corpo, me puxando para um abraço apertado. Um abraço com o qual normalmente eu me sentiria bem, mas que naquele momento só serviu para fornecer a confirmação que eu tanto precisava, e que trouxe a resposta que ainda me recusava a aceitar que pudesse ser verdade.

Ali, com ela tão perto, com seu perfume tão suave e ao mesmo tempo tão marcante que provocava um efeito inebriante em mim, eu entendi algo que me fez sorrir, ainda sem saber se de medo ou de alegria.

No meu coração ela não era mais uma simples amiga que eu considerava como irmã, eu a desejava agora, e senti minhas pernas fraquejarem com o contato tão inesperado, me confirmando o medo de que nunca seríamos mais do que amigas.

Eu tinha que conviver com isso, deveria respeitar os limites para poder mantê-la perto de mim, pelo menos eu a teria de alguma forma.

Isso precisava ser o suficiente, eu acreditei com todas as minhas forças que seria, e então ao nos separarmos e nossos olhos se encontrarem eu estremeci por dentro.

Eu queria mais, eu queria muito mais.

Como conviver com isso?

Como mantê-la por perto, mas não do jeito que eu desejava?

Como controlar meus impulsos e não magoá-la em outro ataque de desespero para fugir de tudo aquilo?

Sim, eu decidi ao menos tentar e confiar que meu novo sentimento em relação a ela não desse as caras em público, eu me controlaria, eu seria forte.

Pelo menos havia tido um progresso, pelo menos consegui encontrar um nome para aquilo, mas a definição me assustou no momento em que a única palavra que se formou na minha cabeça e no meu coração foi, amor.

De todas as formas, puras e ardentes, o mais legítimo que eu já havia sentido.

Naquele instante eu não tive a menor dúvida de que cada segundo na companhia de Maura seria um novo desafio, o qual eu desejava vencer da melhor maneira possível.

E sim, eu tentaria e conseguiria, certo?

Continua...


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Notas finais do capítulo

Fiquei meio insegura em relação a esse capítulo, preciso que me digam o que pensam!
Reviews??



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