Anjo Guardião. escrita por Danisse


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! :3



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         Eu estava atrasada. Muito atrasada. Poucas vezes eu já tinha estado tão atrasada. Eu corria velozmente escada abaixo, feito uma louca. Nas minhas costas, minha mochila abarrotada de livros pesava, impedindo-me de correr mais rápido. Como um escudo de vento. Amaldiçoei minhas seis aulas e todos os livros e cadernos que usariam lá. Ninguém mandou ficar até tarde vendo MTV, não é? É. Bufei, infeliz.

         Estavam lavando as escadas, havia água por todo lado, em todos os degraus. Embora eu soubesse que um belo tombo não me ajudaria em nada a chegar mais rápido, eu não estava com paciência para esperar o elevador. A sorte que me ajudasse outra vez.

         E então, antes que eu pudesse perceber, a sola de meu All Star escorregou sob a tensão superficial da água e eu me vi caindo. Não de um jeito que me faria ficar com a calça jeans toda molhada; de um jeito que me faria bater a nuca num dos degraus e me faria perder a consciência por horas.

***

         - Ai... – babulciei ainda de olhos fechados. Assim que prestei atenção em meu olfato, um cheiro forte de álcool misto com outras substâncias que não tinham nome para mim invadiu meus pulmões. Um hospital. Ah, então a queda tinha sido realmente feia. Palmas para Mariana!

         Abri meus olhos caramelados lentamente. Diferente do que achei que fosse encontrar – os olhos assustados e esbugalhados de minha mãe – encontrei somente as paredes brancas do quarto. Bom sinal. A queda não tinha sido tão feia assim e minha mãe não se achou na obrigação de ficar comigo. Sorri, mais a vontade, dirigindo meu olhar para a janela.

         O que vi me assustou imensamente.

         Um garoto – não muito mais velho que eu, uns 20 anos, talvez – estava sentado no portal da janela, cantarolando uma melodia alegre e balançando os pés, enquanto olhava para o céu. Mas isso não era o mais assustador – eu podia sobreviver com um moreno daqueles – o assustador é que ele possuía asas. Isso, asas. Desde quando eu havia ficado louca? Não, louca eu sempre fui. Melhorando: desde quando eu havia começado a ver coisas?

         Fitei-o assustada durante alguns segundos, até que ele percebeu minha aflição e começou a procurar o que me afligia. Seus olhos rodearam a janela várias vezes, como também o chão e o teto. Quando, por fim, não encontrou nada, perguntou-me com a voz curiosa e os olhos divertidos:

         - O que foi, Mari?

         Ele sabia meu nome? Consegui fazer com que meus olhos se esbugalhassem mais ainda.

         - O que... O que você... – tentei dizer, mas nada saía.

         - Você? Quem? – seus olhos procuravam novamente a quem eu me referia, aparentemente sem serem capazes de perceber que era a ele que eu me referia.

         - Você – ganhei coragem para falar – Quem é você? Ou melhor, o quê é você? O que você faz sentado aí? E por que motivo desconhecido da ciência você tem asas?

         Sim, se eu estou com medo, eu começo a tagarelar.

O garoto piscou, aturdido.

         - Você consegue me ver? – seu tom de voz mudou completamente. Agora estava espantado.

         - Por que não conseguiria? – foi a minha vez de piscar. Aquela não era a pergunta que eu esperava que ele fizesse.

         - Porque... eu não sou para ser visto por mortais – ele desceu da janela, caminhando na minha direção.

         - Eu estou ficando louca – murmurei para mim mesma, fechando os olhos novamente e colocando os dedos nas têmporas. – Só pode ser isso!

         Ouvi uma gargalhada divertida do ser ao meu lado.

         - Sério, Mari, você é a humana mais divertida pela qual já fui designado.

         - Eu estou imaginando um ser de asas que não é um pássaro. E esse ser de asas que não é um pássaro acaba de rir da minha cara! – continuei com meu lamento.

         - Ei, fique calma, está tudo bem – ouvi sua voz soar perto de mim.
         - Está tudo bem?! – guinchei, abrindo os olhos para encará-lo. – O que é você?

         - Sou seu anjo da guarda – ele deu de ombros.

         - Anjo? Você? Conta outra!

         - Eu tenho asas, sabe?

- Eu posso ver isso.

- Então!

- Então...

- Asas, anjo. Isso não te diz alguma coisa?

- Diz, sim. Que eu estou ficando louca.

Ele riu novamente.

- Você é hilária. De verdade.

- E você é um doido! Eu não acredito nem em Deus, quanto mais em anjo!

Então ele pareceu um pouco triste.

- É, eu já vi isso... Não acredita em mim, mesmo que agora possa me ver?

- Não! Ok, isso é uma pegadinha. Cadê as câmeras me filmando?

- Não tem câmeras, Mari.

- Como assim “não tem câmeras”? Onde você está gravando a pegadinha?

- Que pegadinha?

- Essa que você está fazendo comigo! Se vestindo de anjo e vindo aqui! Você é o que? Um enfermeiro? Aliás, qual o nome desse hospital? Eu vou processá-lo! Eu deveria estar descansando agora, não discutindo com um idiota que diz ser meu anjo!

- Mariana, se acalme – ele falou calmamente. – Você falou certo. Precisa descansar.

Cruzei meus braços na frente do corpo e bufei.

Ele aguardou alguns segundos. Ao ver que eu realmente me calei, voltou a falar:

- Agora, vejamos... Como posso convencer você que estou falando a verdade? – ele pareceu pensar. – Ah, sim! Se eu falar algo que eu supostamente não deveria saber, você acreditará, certo?

Assenti. Curiosa demais para saber o que ele falaria para negar.

- Hmmm... Na quinta série, você queimou a sua mão enquanto queimava uma prova de matemática em que havia perdido média. E quando sua mãe perguntou o que havia acontecido com sua mão, você disse que havia queimado em uma das panelas quentes que estavam em cima do fogão.

- C-Como você sabe disso?

- Eu estava lá – ele deu de ombros.

- Você está me assustando...

- Não é minha intensão te assustar, Mari. Só estou tentando te convencer de que...

- Que você é meu anjo? Já convenceu.

Vi um sorriso sincero surgir em seus lábios.

- Que bom.

- Mas isso não faz sentido! Anjos não deveriam existir!

- A maioria das coisas não faz sentido, sabe?


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam? >< Eu já tinha escrito isso há algum tempo. Ontem de madrugada, enquanto fuçava nas shortfics que eu sempre escrevo, vi essa e resolvi postar. Não que isso seja interessante, mas... Enfim, se gostaram, digam alguma coisa, mortais! n
Até mais, gente. :D