O Fantasma Do Armário De Vassouras escrita por Min Lunera


Capítulo 1
Capítulo Único




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Azusa havia chegado um pouco mais tarde ao ensaio diário do Clube de Música. Naquele dia, ela estava com os pensamentos bagunçados e quase que não conseguia se concentrar em nada, fosse as aulas ou a conversa entre Ui e suas amigas.

Quando ela pôs a mão na maçaneta e levantou a cabeça perante a porta de madeira, escutou a conversa de suas senpais dentro da sala:

-Alguém aí sabe que dia é hoje? – Ritsu perguntou em seu conhecido tom frenético.

Tsumugi pôs o dedo indicador sobre os lábios e fez uma expressão de pensativa. Murmurou uma resposta:

-31 de outubro?

-Sim! – Ritsu afirmou, porém queria algo mais objetivo: - Mas, vocês sabem o que isso significa, certo?

Mio fez uma expressão de reprovação e disse um pouco rude:

-Por favor, Ritsu, já estamos muito... Crescidas para sair por aí com fantasias de monstro e dizendo “doces ou travessuras” de porta em porta.

-Ah, Mio-chan, eu sei que você gosta dos chocolates de Halloween tanto quanto eu! – Ritsu debruçou sobre a mesa, ficando com seu rosto bem próximo da garota de cabelos longos. Murmurou com ar travesso: - Você ainda tem medo do fantasma do armário de vassouras, é?

Mio emudeceu e, prontamente, se esquivou trêmula de Ritsu, com uma expressão de espanto.

Yui ignorou as duas e, apoiando o queixo nas mãos postas sobre a mesa, comentou:

-Em dia de Halloween, eu e minha irmã costumamos ver todos os tipos de filme de terror possíveis. Depois, dormimos juntas.

Tsumugi sorriu delicada e disse admirada:

-Que lindo, Yui! Vocês passam o dia de Halloween completamente juntas, não?

-Na verdade... – Yui corou e sorriu sem graça. -... Eu assisto os filmes por pura curiosidade e depois eu não consigo dormir, então... Entendeu, né? – riu forçado e fraco.

Sawako, que apenas observava a conversa, suspirou e deixou sua xícara de chá sobre a mesa. Disse:

-Tivemos tantas provas e trabalhos a fazer que nem deu tempo de planejarmos algo decente para esse ano.

Ritsu riu, foi para o outro lado da mesa, passou um braço sobre o ombro de Mio e disse:

-Não se preocupe, Sawa-chan! Pelo menos aqui, nós iremos nos divertir muito saindo por aí com lençóis desenhados e falando “doces ou travessuras”. Certo, Mio-chan? – olhou para a amiga e novamente murmurou: - Ou você ainda tem medo do fantasma do...

-NÃO! – Mio se livrou dos braços de Ritsu e correu para a porta. Entretanto, acabou esbarrando em Azusa.

Ambas caíram de uma vez no chão e foram socorridas pelas amigas.

-Azu-nyan! – Yui ficou desesperada.

Depois de um bom tempo, ambas – Nakano e Akiyama – sentaram-se no sofá e Azusa murmurou:

-Desculpe por ser tão distraída, Mio-senpai.

-T-tudo bem! A culpa é minha! – Mio sorriu sem graça. Parou repentinamente e corrigiu: - Na verdade, a culpa... – deu um cascudo no meio da testa de Ritsu. –... É SUA!

-Ai! – Ritsu foi surpreendida e caiu no chão.

-Desculpe, mas que história é essa do fantasma do armário de vassouras? – Azusa demonstrou que havia escutado a conversa.

Mio olhou para o chão e pôs as mãos sobre o colo. Murmurou temerosa:

-Vocês querem saber mesmo? – vendo que todas prestavam atenção nela, ela continuou: - Quando eu estava no ginasial, ouvi falar que, nessa escola, vivia um fantasma assombrando a todos que passassem pelo corredor do subsolo, onde guardam os materiais de limpeza. E me contaram que ele vive dentro do armário de vassouras.

Azusa inclinou a cabeça de lado e perguntou:

-Mas, só isso?

Mio sentiu-se ofendida e exclamou:

-Como assim “só isso”? Eu o vi!

-Você já desceu no subsolo? – Sawako demonstrou surpresa e desaprovação, pois as alunas não podiam ter acesso a essa parte da escola.

-Sim. – Mio admitiu. – Mas... – apontou para Ritsu, que rastejava na direção da porta: - Foi ela que me levou lá!

Ritsu sentiu os olhos de Sawako fuzilarem suas costas, assim como das outras meninas.

-Mas, a pior parte não foi essa! – Mio revelou. Inclinou-se para frente e murmurou: - Quando eu estava passando pelo corredor, eu escutei alguma coisa...

Yui arregalou os olhos. Azusa encarava Mio com mais intensidade e Sawako deixou a boca abrir um pouco. A jovem Akiyama continuou sua narração:

-... E quando me virei, vi o fantasma e ele começou a correr atrás de mim! Foi horrível! – ela pôs as mãos na frente do rosto e começou a chorar.

-Tenho uma pergunta! – Tsumugi levantou a mão inutilmente.

Sawako a encarou:

-Qual?

-Ritsu estava com você nessa hora? – a loira foi direta ao ponto.

Azusa encarou a baterista do clube e deduziu o que aconteceu na verdade e era algo que Mio era inocente o suficiente para não entender: armação “a La” Tainaka.

“Droga!” Ritsu exclamou internamente ao reparar que Azu-nyan a encarava com desconfiança. Antes que Mio falasse algo, ela tentou se safar:

-Bem, eu tinha esquecido meu... Meu... O que era mesmo, Mio? Ah, sim! Meu caderno! Então, eu subi para buscá-lo, mas quando eu voltei para o subsolo a Mio-chan não estava mais lá, porquê...

Mio não esperou ela terminar. Levantou-se do sofá mais uma vez e saiu da sala. Sawako encarou Ritsu friamente e disse:

-Temos que conversar, mocinha.

-Agora? – Ritsu sorriu amarelo.

-Agora... – Sawako se aproximou lentamente e disse naquele tom de tsundere virada à agressiva.

Ritsu engoliu a seco. Ela confessou que tinha pregado uma peça em Mio, mas não imaginava que ela levaria aquela história tão a sério.

-Eu suspeitei desde o começo. – Azusa cruzou os braços com indiferença.

-É, mas Mio-chan ainda acredita que é verdade e isso é ruim! – Yui pôs a mão no queixo. Inclinou-se para frente e propôs: - Temos que fazê-la vencer esse medo já!

-Mas, como? – Tsumugi inclinou a cabeça de lado.

Ritsu pôs as mãos atrás da cabeça e olhou para o teto:

-Realmente, é uma boa pergunta. Eu até tentei levá-la lá outra vez para provar que era fruto da imaginação dela, mas ela nem...

Azusa suspirou:

-Não seria mais fácil você admitir que o “fantasma” era você com um lençol?

Ritsu fez bico:

-Se eu falar assim, realmente será o fim de Ritsu Tainaka.

-Então, nem devia ter feito. – Azusa suspirou mais decepcionada ainda e se levantou.

Yui e Tsumugi se encararam, pensando numa solução. Azusa encarou Ton-chan, que nadou em seu ritmo calmo de tartaruga até a extremidade do aquário onde a menina aparecia.

De repente, a Nakano teve uma grande ideia para um pequeno membro do Clube de Música Leve.

~♥~

Mais tarde, Yui encontrou Mio sentada nos degraus da escada, que levavam à biblioteca. Sentou-se ao lado dela e perguntou:

-Como você está se sentindo?

Mio balançou a cabeça afirmando que estava bem. Yui sorriu e disse:

-Mio-chan, eu já sei o que podemos fazer para quebrar a maldição do fantasma do armário de vassouras!

-Como assim? – ao mesmo tempo em que os olhos de Mio brilharam por sentir que sua redenção estava próxima, ela sentiu medo em tentar mexer com algo tão perigoso.

-Venha. – Yui se levantou e a ajudou a se levantar. – Achei um livro na biblioteca que fala sobre isso.

Na biblioteca, Mio estranhou o livro que Yui havia encontrado: ele parecia que havia sido colado com figurinhas e as palavras estavam rabiscadas, mas nem se importou muito, afinal, ele seria útil para deter o fantasma.

-Bem... – Yui procurou compenetrada pelo trecho que havia despertado seu interesse. -... “No dia 31 de outubro, excepcionalmente nesse dia, deve-se descer ao subsolo, com um rolo de macarrão e um pão doce. Depois, quando se aproximar do armário tem que dizer: ‘Fantasma, não tenha medo de você’”...

-“Não ‘tenha’”? – Mio estranhou. Corrigiu: - Não seria “não tenho”?

Yui corou um pouco e gaguejou:

-Ah, bem... Bem, se aqui está escrito assim, é bom falar desse modo, né?

Mio cruzou os braços, olhou para Yui e depois para o livro. Ficou os encarando intercaladamente por um bom tempo com ar de quem desconfiava de ambos. Por fim, cedeu:

-Certo, mas nós nem temos um rolo de mac... – quase deixou um rolo de macarrão e um pão doce caírem no chão quando Tsumugi jogou em cima dela.

-Vamos lá, estamos com você! – Tsumugi sorriu gentil.

Mio estremeceu por alguns segundos, mas logo respirou fundo e concordou:

-Certo.

O sol já havia se escondido atrás dos prédios, mas as três corajosas meninas continuaram descendo as escadas. Sem querer, Yui acabou chutando uma pedrinha, que acabou quicando pelos degraus e bateu em alguma coisa metálica perdida no escuro do andar inferior.

Mio agarrou-se firmemente ao corrimão, nesse momento. Seu coração bateu mais forte e ela pensou em voltar atrás, mas com Tsumugi em suas costas isso era impossível.

Sawako espiava tudo no final do corredor. Murmurou o mais baixo que pode:

-Já fiquem a postos.

Yui parou repentinamente. Mio e Tsumugi acabaram trombando em suas costas.

-Desculpe. – ela murmurou. Acendeu uma lanterna e entregou para Mio: - Agora, é com você.

-Mas, o quê? – Mio começou a se desesperar. – Achei que vocês iam comigo... Eu não posso... Eu...

-Calma, estamos com você. – Tsumugi afirmou.

Mio respirou fundo e fez o possível para acreditar nas palavras da adorável loira. Pé ante pé, caminhou até o armário de vassouras, onde, um dia, jurou ter visto uma assombração saindo de dentro dele e correndo atrás dela. Entretanto, a cada cinco passos para frente, Mio retrocedia três. Demorou bastante até que ela chegasse perto o suficiente para escutar uma voz de alma penada detrás da porta:

-Quem vem aí?

Mio gritou e acabou arremessando a lanterna para o alto. Trêmula, gritou sacudindo o rolo de macarrão e o pão:

-FANTASMA, NÃO TENHO... MEDO DE VOCÊ! – quase não conseguiu falar. Pausou e choramingou: - Oh, meu Deus, eu ainda falei errado! Estou morta!

A porta do armário se abriu lentamente e um suposto fantasma saltou para fora. Yui pegou a lanterna e iluminou à frente. Mas, antes de continuarmos, vamos ser objetivos agora.

O suposto espírito, na verdade, era Ritsu e Azusa, sendo que a última estava sentada sobre os ombros de Ritsu e mexia os braços e orelhas de gato do fantasma de lençol retalhado. Fazendo esforço para continuar atuando bem – pelo menos, tentando atuar bem -, ela disse:

-O que vocês querem?

-Eu... Não tenho medo de você! – Mio pensava em arremessar o rolo de macarrão, mas não tinha forças para outra coisa, a não ser gritar.

Enquanto isso, Ritsu espiava por um rasgo no lençol velho e torcia em pensamentos:

“Tomara que ela não arremesse o rolo de macarrão. Aliás, nem sei por que raios voadores entregaram esse rolo para ela! Isso seria uma maneira delas se vingarem de mim?” imaginou vagamente ofendida.

Yui gritou para Mio:

-Mio-chan, você tem que oferecer o pão doce para ele!

-O quê? – Mio choramingava.

“Acho que isso está sendo mais traumatizante do que antes...” Azusa concluiu e sentiu pena de sua senpai. Tentou ajudar:

-Me dê esse pão doce ou você sofrerá as consequências!

-Mas... Mas... – Mio abraçou o pãozinho enrolado em papel manteiga. -... Achei que era para mim!

Sawako deslizou a mão sobre a face com vergonha alheia.

“E eu achando que a Yui era a única gulosa do clube...”

Yui fez um pequeno bico:

-Eu te entendo, Mio-chan. Mas, é para o seu bem. Isso estava escrito no livro. Apesar de que... – olhou para o pão e murmurou: -... Acho que o fantasma se importaria caso o pãozinho fosse muito calórico que nem esse que é recheado de chocolate.

Tsumugi murmurou:

-Será que devíamos ter comprado um de creme?

-Não, senão eu teria ficado sem o de creme! Era o único que tinha! – Yui protestou.

“Vamos acabar logo com isso!” Ritsu se irritou e começou a marchar para perto delas. Azusa se assustou com a velocidade e, desequilibrando-se um pouco, continuou:

-Me deem o pão de doce! Ai de vocês se não me entregarem! Eu...

Nesse momento, tudo foi quase sincronizado: Ritsu acabou pisando na ponta do lençol e tropeçou; Mio arremessou equivocadamente o pão no lugar do rolo de macarrão no fantasma de mentira; Azusa caiu em cima de Mio com as orelhas de gato; Yui choramingou pelo pão de doce amassado e Tsumugi e Sawako conseguiram permanecer distantes da grande colisão.

Mio se desesperou quando viu o lençol branco caindo sobre ela. Debatia-se para se livrar dele:

-Me solte, fantasma cretino! Lute como um vivo! Me solte, vamos! E... – por fim, quando saiu debaixo dele, viu Ritsu iluminando o próprio rosto com a lanterna e, sorrindo de um modo psicopata, disse:

-Boa noite, senhoritas! Hoje, começaremos mais uma sessão de histórias de terror...

-Ritsu, sua idiota! – Mio gritou e bateu nela.

Depois de um bom tempo, tudo foi explicado. Primeiramente, Mio ficou confusa, depois brava e, por fim, perguntou corada com uma ponta de surpresa:

-Vocês fizeram isso tudo para eu superar meu medo?

-Claro que sim, Mio-chan! – Ritsu sorriu.

Mio fechou a cara para ela:

-Você não tem moral aqui.

Ritsu fez bico e disse com voz manhosa:

-Mio... Você sabe que eu te amo! Reconheço que eu errei em te assustar daquela maneira e em não ter contado a verdade, mas eu estive aqui correndo o risco de levar um rolo de macarrão no meio da testa por sua causa!

Mio ficou pensativa. Depois, balançou a cabeça. Azusa corrigiu Ritsu:

-Quem correu risco de levar um rolo de macarrão na cabeça fui eu. Você era “as pernas”, lembra?

Ritsu coçou a cabeça sem jeito:

-Bem... Verdade... Foi mal.

-Muito bem, espero que todas tenham aprendido a lição agora. – Sawako pôs as mãos na cintura. Relembrou a Tainaka: – E, Ritsu, maneire nas suas brincadeiras de hoje em diante, okay?

-Sim, Sawa-chan! – Ritsu sorriu.

Nesse momento, todas escutaram as coisas do armário caindo. E os olhares se voltaram para Ritsu.

-Eu juro que dessa vez não fui eu. – ela fez uma expressão de inocente.

-Ta bom... E quem mais poderia ser? – Azusa pôs as mãos na cintura. – O “fantasma” do armário de vassour...

Nesse momento, elas escutaram algo arrastando um balde de metal com lentidão. Isso era muito estranho: não havia mais ninguém na escola àquela hora. Azusa pegou a lanterna de Mio e mirou a luz para a direção do barulho. Todas gritaram ao reparar que era um balde sendo empurrado por alguma coisa invisível.

Mesmo com a maioria desesperada em subir as escadas, a jovem Nakano teve coragem em se aproximar do balde e erguê-lo. Reparou num gato preto assustado, que havia entrado pelo vidro quebrado de uma das janelas.

Azu-nyan pegou o animalzinho no colo e olhou para a paisagem noturna da cidade pelas vidraças. Imaginou o provável fato de que, se ela não contasse a verdade, suas amigas e sua professora ficariam sem dormir por um longo prazo.

Ela riu e disse para o pequeno felino:

-Doces ou travessuras, gatinho?

Ele ronronou.


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