Há essa altura, todos ocupavam seus devidos lugares. O evento havia começado às 17:30, e já se encontrava em seu fim. Excelsior e Isabela, torciam para que tudo ocorresse conforme o planejado. Agora, apenas Lia e Dinho encarnavam seus personagens. O Final da peça se aproximava com velocidade, e todos continuavam apreensivos. Ju exibia o nervosismo em seu rosto, mas tentava controlá-lo a todo custo. Ela observava dos bastidores a última cena de Ceci e Peri, e temia pelo que iria ter de acontecer.

– Minha senhora não suportou tanta emoção, e desfaleceu... Não há de ser nada, pois Peri é forte, e minha donzela Ceci, é leve como uma pluma. - Falou Dinho, fazendo com que ela se aconchegasse à cama feita de palha. - Agora repousa minha senhora, Peri velará pelo seu sono.

– Óh, volto a consciência. Tudo ainda está envolto às brumas do desmaio, mas... Quem é este que está em minha ancova? - Perguntou ela se reerguendo. Assim que olhou em sua direção, percebeu que ele a encarava. O olhar fora sustentado por ambos durante um longo tempo. Dinho não conseguia tirar seus olhos de Lia, e vice-versa. Quando se deu conta de que era sua vez de se pronunciar, deu um sorriso tímido para ela, e sem quebrar o que os unia naquele momento, falou.

– Não temais minha donzela, sou Peri seu criado.

– Peri? És tú bravo guerreiro? - Perguntou Lia, ainda seguindo o roteiro. Mas sem quebrar o contato visual que mantinham. Ela não sabia se Dinho estava apenas representando Peri, ou se era ele que naquele momento, lhe olhava de uma forma que a fazia ficar envergonhada. Lia logo notou que Dinho mantinha o olhar fixo à sua boca, o que a fez ficar ainda mais desconfortável. Ou ele era muito bom ator. Ou ele estava apaixo... Não, era melhor nem pensar nessa outra hipótese. Ele não havia se entendido com a Ju novamente? Ele não estava "com ela"?

"Ele não sente nada por você Lia, se toca! Você só pensa besteira..." - Disse ela em seus pensamentos. Se soubesse como estava errada... Ele não sabia como e nem o porquê, mas não parava de pensar nela... Ambos viviam brigando e se desentendendo, mas parecia que era disso que ele gostava.

Uma coisa que eu nunca vou enternder, é como eles tinham um certo poder sobre o outro. Eles poderiam falar que se odiavam, e até mesmo demonstrar isso... Mas os dois sabiam que não era bem assim. Ela mexia com Dinho, e ele mexia com ela. Sem explicações.

Eu acho que é aquele velho ditado sabe? O Amor e o ódio são as duas faces da mesma moeda.

Lia estava tão absorta em seus pensamentos, que nem notara sua aproximação. Ele estava tão perto dela, que era inevitável não sentir o seu perfume. Ele a olhava de uma forma... Carinhosa? Eu não sei, mas... Era esse olhar que Dinho possuia na noite que passaram juntos naquela mata. O mesmo olhar.

Ambos estavam tão próximos, que suas respirações descompassadas passaram a se misturar. Ele carinhosamente, colocou uma mecha loira de Lia atrás de sua orelha... A rockeira se arrepiou com o seu toque, mas ela não deixaria se envolver por aquela cena... Por aquele beijo. Existem tantos atores e atrizes que se beijam em novelas, e depois seguem suas vidas... Por quê ela não poderia fazer o mesmo? Daria certo.

Ou talvez não... Ela não tinha tantas forças para isso. Não tinha mesmo. Certamente, ela não seria uma boa atriz. Lia não conseguiria separar as coisas. Assim como não estava conseguindo naquele momento.

Assim que ele tocou sua pele, ambos sentiram um choque percorrer seus corpos. Dinho puxou sua cintura com força, fazendo com que ela não pudesse fugir dali. Eles se olhavam de uma forma tão intensa, que grande parte da platéia poderia imaginar que aquele romance, também acontecia fora do espetáculo.

Ele se aproximou ainda mais dela, agora suas mãos seguravam seu rosto. Devido a proximidade, ambos passaram a ficar ofegantes. Eles desejavam tanto o que estava prestes a acontecer, que... Não parecia real.

Sem ter como ignorar a vontade que tinha de beijá-la, Dinho pressionou seus lábios contra os dela, quebrando a maldita distância que os separava . Lia não conseguiu mais resistir à ele. Ela havia tentado de tudo. Tudo. Mas, era praticamente impossível.

Dinho a beijava com carinho, com amor... E Ela não demorou nem meio segundo para correspondê-lo. O beijo foi se aprofundando cada vez mais, e ao sentir sua língua pedindo passagem, foi o suficiente para ela agarrar os cabelos cacheados de Dinho, e acariciar sua nuca. Suas línguas se envolviam em uma dança sensual. Elas travavam uma guerra. Naquele momento, o mundo havia sumido. Só havia ele e ela. Ela e ele.

Realmente, eu acho brilhante as pessoas que conseguem esconder seus sentimentos até deles prórios. Dinho e Lia merecem um Prêmio.

A cortina lentamente se fechou, mas eles não notaram. Estavam absolutamente entretidos. Fatinha observava a cena com um sorriso no rosto. Ela sabia que aquilo iria acontecer mais cedo ou mais tarde.

Lia e Dinho estava tão envolvidos que nem ouviram os aplausos. Ele a pressionava com força contra seu corpo, e ela continuava a acariciar sua nuca, fazendo com que seus pelos ficassem eriçados. Era uma confusão de braços, que nem podemos imaginar. Ninguém o havia feito se sentir desse jeito. Nem Ju, nem Fatinha... Só ela. Só ela tinha esse poder de enlouquecê-lo. Ambos apenas voltaram à realidade, quando o ar lhes faltou... Eles se encararam de forma intensa, sem desviar o olhar em nenhum momento...

Ninguém nunca iria entendê-los. Nem eles mesmos se entendiam.

Ju, que assistia a tudo, não pôde conter as lágrimas... Há muito tempo, ela desconfiava que aquilo um dia poderia acontecer. Mas, não queria acreditar que estava certa. Milhões de coisas passavam pela sua cabeça. O que realmente havia acontecido naquele acampamento quando ela não esteve por perto?Imediatamente correu para a saída mais próxima. E só então, nesse momento, os dois "traíras" notaram a sua presença...