Kurohanayome - A Noiva de Negro escrita por Min Lunera


Capítulo 6
Fogo Cruzado


Notas iniciais do capítulo

Oláaaa, galerinha animada! *---* -rs
Desculpem não ter postado este capítulo ontem, mas sexta-feira passada foi a maior correria para mim: foi a apresentação do meu TCC e toda a minha dedicação foi posta nele. No final das contas, cheguei em casa quase morta. xD
Boa leitura a todos e não se preocupem que próxima sexta eu posto o sétimo sem falta. :3



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-Agradeço pela presença de todos. – a rainha disse solenemente. Sua voz mansa ecoou pelas paredes do silencioso salão, sinal de respeito dos convidados presentes. Ela disse graciosa: - Que essa seja uma grande festa graças ao carinho e lealdade de cada um de vocês para conosco e toda a Inglaterra. Vamos festejar! – ela ergueu os braços e todos bateram palmas.

            Entretanto, eu e Elizabeth continuávamos parados no mesmo lugar e ela apertava a minha mão com força, revelando o nervosismo:

            -Ciel...

            -Calma, vai dar tudo certo. – eu disse sereno.

            Ela me encarou com aquele par de olhos brilhantes e perguntou hesitante:

            -Será que vai ser fácil?

            Inclinei a cabeça de lado e disse sarcástico com um meio sorriso:

            -Fácil ou não, tanto faz.

            Ela demonstrou espanto. Afaguei o lado do penteado dela que tinha a rosa e murmurei:

            -Apenas faça o que eu disse. Deixe o resto comigo e Sebastian, my lady.

            Lizzy tornou-se rubra e gaguejou:

            -Dá para você maneirar um pouco?

            Eu arregalei os olhos e perguntei atônito:

            -Como assim?

            Ela me encarou com os olhos semi-cerrados e respondeu:

            -Sei que faz muito tempo que não nos vemos, mas eu não sou como a maioria das mulheres que se rende facilmente ao charme dos demônios.

            Senti que aquilo foi um blefe – bem confuso, por sinal -, mas respondi da mesma forma:

            -Me perdoe.

            Ela tossiu e disse séria:

            -Vamos logo com o plano.

            A verdade era que tanto os anjos quanto os demônios – e, até mesmo, os shinigamis – eram dotados de carisma. Porém, era uma quantidade de carisma tão grande que chamava extremamente a atenção dos mortais. Acabávamos fazendo gestos e ações por nossos mestres ou não, que davam a entender que estávamos apaixonados ou extremamente cautelosos com eles. Afinal, humanos para nós podem ser nossos bichinhos de estimação até o dia que cansamos de brincar com o jantar e o devoramos.

            Porém, eu ainda não via Elizabeth como gado. Aliás, eu ainda via ninguém como um prato de comida, embora já tivesse devorado algumas almas uns tempos antes. Acredito que isso se deva ao fato de que meu lado humano ainda era o “dominador” de minha personalidade e ele sumiria com o tempo. Quando ele desaparecesse, eu ficaria como Sebastian.

            Falando em meu mordomo, ele estava socializando com um grupo de empregados de outros nobres que vieram para a festa. Fiquei o encarando por um bom tempo, pensando na possibilidade de ficar idêntico a ele e isso me abateu secretamente: ele era apenas um rosto bonito com uma alma totalmente corrompida. Seus atos de gentileza se deviam ao fato de que eu ainda exigia isso, pois, na verdade, ele era nada mais que um bicho papão mal-humorado.

            -Boa noite! Desejam experimentar alguma iguaria vinda diretamente da Áustria, senhores? – de repente, fomos abordados pelo próprio Charlie, que carregava uma bandeja de prata.

            O anjo era da mesma altura que Sebastian e tinha o cabelo acinzentado. O rosto era pálido e nem magro ou gordo. Seus olhos eram esverdeados e o simples terno que usava lhe caía muito bem. As mãos eram grandes e os dedos compridos, porém tinham um aspecto macio.

            -Não, obrigado. – eu respondi.

            Ele inclinou a bandeja para Elizabeth e perguntou:

            -E a senhorita? São doces muito bons.

            Elizabeth ficou hesitante:

            -Bem...

            Fui direto ao ponto, sentindo a aura sobrenatural dele:

            -Achei que você apenas fazia companhia à Sua Majestade e não trabalhasse como garçom.

            Charlie percebeu o que eu quis dizer. Olhou para trás e, depois, virou-se para nós dizendo com um meio sorriso:

            -Sua Majestade deseja que eu trabalhe com os outros servos e eu apenas o obedeço. Fiquem felizes que hoje não estou desocupado o suficiente para dar um trato em vocês. – ele terminou olhando para minha prima, que deu um passo para trás, porém aquilo não foi sinônimo de temor.

            Eu ri sarcástico:

            -Que engraçado, hoje eu vim aqui somente por estar desocupado e querer trocar umas palavrinhas com você.

            Neste momento, Sebastian apareceu e dizendo em tom simpático:

            -Senhores, não vamos falar sobre isso na frente dos convidados. Isso não faz parte da ética dos demônios... – os olhos vermelhos dele prenderam-se nos esverdeados -... E acho que nem faz parte da sua também.

            O mordomo real sorriu discreto e suspirou:

            -Ai, ai... Acham que podem fazer alguma coisa contra mim? Venham, venham! – ele fez um gesto com a mão e logo avisou: - Porém, a humana fica.

            Elizabeth fez uma carranca:

            -Agora eu não tenho importância, mas aquela vez parecia que você estava fugindo com um saco de ouro!

            Ele deu os ombros:

            -Um saco de ouro muito tagarela por sinal.

            -Lizzy, fique aqui com os outros. – eu a soltei.

            Ela me segurou pelo ombro, apreensiva:

            -Ciel!

            Eu não respondi. Apenas a encarei friamente e me livrei de suas mãos, acompanhando Sebastian e Charlie para um lugar afastado dali.

            Desculpe, minha prima, mas isso vai ser arriscado até para nós mesmos.

            Ao chegarmos num salão menor e paralelo ao que estava sendo usado para a festa, Sebastian perguntou:

            -Quando foi que isso tudo começou?

            Charlie, que estava bem à nossa frente, virou-se e perguntou risonho:

            -Começou o quê?

            Sebastian apenas emitiu automaticamente:

            -O rei.

            Charlie suspirou e disse com indiferença:

            -Ele é apenas um humano idiota achando que os súditos são bonequinhos que podem ser guardados numa caixa quando ele bem entender.

            Sebastian cruzou os braços:

            -E você o ajuda a “guardar”, não é?

            Charlie, que estava de costas para nós observando um quadro da rainha Victoria e de seu filho no campo, virou-se com um sorriso malicioso e respondeu:

            -Não é toa eu estar aqui. – aproximou-se devagar: - E se, por acaso, vocês pensam em fazer algo contra, acho melhor ficarem longe. Sua Majestade não pode ter sua palavra contrariada e ambos não são páreos para mim.

            Eu tomei a palavra, cansado da ardilosa lábia do anjo:

            -Já te confrontamos outra vez e conseguimos recuperar minha antiga noiva. Depois, falando assim até parece que o rei Edward VII está fazendo algo pelo bem da nação. Ele está trocando vidas inocentes por jogadas idiotas como se isso realmente fosse um jogo de xadrez.

            Charlie pendeu as mãos para os lados na altura dos ombros e disse calmo:

            -O que foi que eu acabei de falar?

            -Sim, você falou algo parecido, mas como se matar fosse algo relacionado ao amor à pátria.  – eu fechei a cara.

            O anjo da morte murmurou com aquele sorriso frio e ameaçador:

            -Uma nova era se aproxima da Inglaterra e, dessa vez, ninguém irá nos impedir. As guerras podem ter levado tudo, mas não o nosso poder.

            -Como se eu não soubesse que quem levou a pior nessa última foi a Alemanha! – eu apontei. Tirei meu tapa-olho e o encarei com os dois olhos: - Não importa o que você diga ou faça, eu irei lhe impedir.

            -Você nem é mais humano, me poupe. Vá viver sua vidinha corrompida em trevas e deixe esse reino para lá. Sem contar que vocês dois têm moral nenhuma para falar sobre matar, seus devoradores de alma clichês. – ele disse ríspido.

            Eu sorri de lado:

            -Eu diria a mesma coisa para você, meu caro colega devorador de almas barato. Você é apenas mais um anjo da morte rebelado que perderá seus poderes em breve quando o Ser Superior souber de tudo, mas eu... – neste momento, Sebastian se postou ao meu lado, retirando as luvas. -... Serei o eterno cão de guarda da rainha.

            -Sua dona já virou pó. – Charlie passou a mão por dentro do terno e tirou uma espada.

            -O cão só para de vigiar a casa quando morre. Venha passar sobre o meu cadáver obscuro, então... Se puder. – eu fiz um sinal com a mão o desafiando para que se aproximasse.

            O anjo da morte finalmente abriu suas gigantescas asas e avançou contra mim, empunhando sua espada:

            -VOCÊ FALA DEMAIS! A VONTADE DE SUA MAJESTADE NÃO SERÁ CONTRARIADA POR CAUSA DE UM RELES DEMÔNIO!

            Eu tirei dois revólveres, que estavam dispostos um em cada lado de minha cintura, e atirei contra ele. Charlie desviou-se dos tiros, voando para um lado diferente.

            -Sebastian! – eu gritei pelo meu mordomo.

            -Sim, mestre. – ele apenas respondeu e avançou contra Charlie.

            No mesmo momento que o anjo ergueu a espada na direção do crânio do demônio, Sebastian agarrou a lâmina com as duas mãos dispostas lado a lado dela e deu um chute no queixo dele.

            Quando ele perdeu altitude, eu dei mais dois tiros. Um deles acertou a asa esquerda e Charlie caiu com tudo no chão.

            -Malditos! – ele gritou. Quando tentou se levantar, um espasmo de dor o fez cair novamente e derrubar um candelabro perto da cortina.

            A princípio, achamos que seria nada, porém um incêndio teve início ali.

            Charlie viu o estrago feito e olhou para nós:

            -Próxima vez, isso não ficará assim.

            Sebastian aproximou-se dele e retrucou:

            -Cale a boca, não haverá próxima vez.

            -Sim, haverá mais uma e será a última. – os olhos esverdeados fixaram-se violentamente em mim e ele disse entre dentes: - Guarde as minhas palavras, Conde Phantomhive. – de repente, ele desapareceu.

            Sebastian virou-se para mim:

            -Devemos ir atrás dele?

            Eu vi o fogo se alastrar pelo salão e a fumaça começar a escapar por todas as janelas e indo para o corredor principal. Suspirei impaciente e disse:

            -Com essa confusão, fica impossível ir atrás dele hoje. Vamos, temos que tirar todos daqui. – eu corri entre as chamas e ele veio logo atrás.

~ Elizabeth ~

            Eu estava nervosa e andando de um lado para o outro. Aquilo começou a irritar mamãe:

            -Menina, será que dá para você se sentar um pouco, pelo menos? Depois não quero ouvir você reclamando que esses sapatos machucaram seus pés!

            Pior que meus pés doíam e, com certeza, no dia seguinte eu reclamaria, mas eu estava preocupada e ansiosa demais para saber o que Ciel estava fazendo, se havia conseguido e se estava bem.

            De repente, Finny chegou com um prato de canapés e me ofereceu:

            -Senhorita Elizabeth não comeu nada até agora. Coma um pouco.

            Meu estômago roncou baixinho. Finalmente, eu cedi. Peguei o prato e me sentei:

            -Obrigada, Finny.

            -O chão estava até afundando. – mamãe brincou comigo.

            Meu pai perguntou:

            -Aonde foi Ciel?

            Eu respondi tentando disfarçar a preocupação:

            -Eu não sei.

            -Hm, entendi. – papai riu.

            Tornei-me rubra e tentei disfarçar falhamente outra vez:

            -Que foi? Apenas não sei!

            Ele me olhou com um grande sorriso e disse:

            -Por isso que você está com esse ar de abandono.

            Mamãe me deu uma bronca em forma de indireta:

            -Será que o filho do barão ficará satisfeito em saber que sua noiva está se preocupando demais com outro rapaz?

            -Ciel é meu primo. Crescemos juntos. Não seria natural eu me preocupar com ele? – eu consegui manter a calma e meus olhos no prato de canapés. Porém, essa não era a resposta completa: outro motivo que me levava a ficar daquela forma é que eu o amava ainda.

            Finny ficou ao meu lado até avistar Meirin e Bard em outro canto do salão. Me disse:

            -Vou ali conversar com os outros.

            -Espere, eu vou com você. – me levantei e o acompanhei.

            Entre nós quatro se iniciou então a conversa e desabafo:

            -Estou preocupada com o mestre. – Meirin revelou. – Faz tempo que ele entrou num salão paralelo a esse com Sebastian e o outro mordomo e ainda não voltaram.

            Bard cruzou os braços:

            -Devem estar torturando o mordomo do rei para saber a verdade.

            Finny analisou inocente:

            -Ou sendo torturados.

            -Finny! – Meirin e Bard ficaram indignados com aquela hipótese.

            O garoto ficou sem jeito:

            -Mas... Mas... Pode ser verdade!

            -Espero que você esteja bem errado. – Meirin pôs a mão sobre o coração e suspirou.

            Eu concordava com ela. Sem contar que eu acreditava fielmente que aquilo podia ser utópico, pois eram dois contra um. Pelo menos, entre os humanos, a união fazia a força, certo?

            Bard passou a mão na nuca e olhou para o teto:

            -Estou começando a suspeitar que hoje não tenhamos “ação”.

            Meirin pôs as mãos na cintura e o censurou:

            -Dá para parar de querer agito?

            Ele gesticulou freneticamente:

            -Mas, você lembra que a gente até fez um plano de ataque e tudo mais antes?

            -Me recordo plenamente, porém acredito que isso será usado apenas em caso de emergência. – ela respondeu.

            Tanaka apareceu e se envolveu diretamente na conversa:

            -Com certeza, o mestre não quer nos envolver diretamente nisso. Apenas precisa de nosso apoio e compreensão.

            Eu e Bard ficamos igualmente inconformados com aquilo.

            De repente, começou uma gritaria no salão. A princípio, foi algo sem sentido até surgir um misterioso cheiro de fumaça.

            -Você explodiu alguma coisa hoje, Bard? – Finny perguntou indiscreto.

            Bard ficou pensativo:

            -Não... Que eu me lembre.

            Eu pasmei:

            -Incêndio!

            Ninguém sabia explicar como havia se iniciado um incêndio no salão próximo ao que estava havendo a festa, porém as chamas avançavam enfurecidas para lá. Houve um grande tumulto de pessoas assustadas correndo. Enquanto todos iam à saída, eu ia contra eles querendo encontrar Ciel: algo me dizia que ele tinha a ver com aquilo.

            Ainda consegui escutar a voz de minha mãe e de Meirin me chamando para sairmos também, porém eu não respondi e continuei me espremendo contra a multidão e quase sendo arrastada.

            Não demorou muito para o salão ficar em puras chamas. Algumas partes do teto começaram a cair e tentavam apagar o fogo inutilmente. Logo me convenci de que eu não acharia Ciel e deveria correr para ficar sã e salva também.

            Pensei assim até chegar numa parte do lugar e ver uma mulher sendo impedida de voltar para trás. Ela chorava impulsivamente e não parava de repetir:

            -Meu filho! Meu filho! Meu Paul está lá dentro!

            Eu parei e me afastei da multidão outra vez. Olhei para o cenário que ardia no fogo e senti meu coração se apertar. Com um pouco de dificuldade, tirei a espada que eu havia escondido estrategicamente sob um dos tules de meu vestido e me livrei de parte do tecido da saia para poder me movimentar melhor. Voltei correndo para a parte do salão onde Suas Majestades estavam assentadas e olhei ao redor, tampando o nariz com um pedaço de pano que pertencia à minha roupa.

            Quando olhei para cima, vi uma criança ruiva segurando firmemente a parte de baixo do corrimão da escada e chorando muito. Os degraus estavam rachando e queimando.

            -Eu estou indo! – gritei para o pequeno. Quando avancei na direção da escada, vi um vulto passar diante de mim, que lembrava uma pessoa ruiva de cabelos compridos, porém eu ignorei.

            Tentei subir pela escada, mas um dos degraus já estava frágil e eu pisei em falso. Segurei-me nos da frente, batendo o peito e o queixo, porém ignorei a dor e continuei subindo.

            Comecei a inalar muita fumaça. A princípio, foi possível ignorar, entretanto logo senti meu peito pesar e eu não parava de tossir.

            Faltando alguns degraus para chegar até o menino, eu ergui a cabeça e o enxerguei naquela grande fornalha. Ele me olhava com os olhos assustados. No momento que estendi a mão com a intenção de alcançá-lo, o corrimão que ele tanto se segurava se partiu e ele ficou com a metade do corpo pendurada.

            -Espere! – eu tentei gritar, mas a tosse rigorosa sufocou minha voz.

            Aproximando-me um pouco mais, cheguei a tocar com as pontas dos dedos no braço dele, mas eu senti que não conseguiria, pois já estava perdendo os meus sentidos. Fiquei desesperada e senti meus olhos se encherem de lágrimas, porém eu me arrastei mais um pouco até chegar o momento que deitei de vez nos degraus e vi tudo ficar escuro.

            Antes de ficar inconsciente, ainda escutei uma voz fraca dizer:

            -Infelizmente, eu terei que leva-lo e você fica para a próxima...

            Senti meu corpo se arrepiar.


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