Kurohanayome - A Noiva de Negro escrita por Min Lunera


Capítulo 23
Um Pequeno Sacrifício


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal, tudo bem?
Eu estou morrendo de sono, então nem irei falar muito, apenas desejo boa leitura e se preparem que o grande final está a caminho. Obrigada por acompanharem por todos esses meses (não posso deixar de agradecer desde já, mesmo que nem todos demonstrem suas opiniões sobre a história ^^).

Boa leitura. ~



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-Droga... – Grell resmungou. Olhou para o que sobrou do anjo e disse: - No estado que me encontro, não poderei dançar sobre os restos daquela vadia de asas.

            William suspirou impaciente:

            -Você realmente ia fazer isso?

            O shinigami ruivo franziu as sobrancelhas:

            -É o mínimo que eu queria fazer. Não formei aquela frase de impacto à toa!

            Ronald riu:

            -Acho melhor você não se mover, senpai.

            Sorri diante daquela cena: parecia que tudo estava bem. Olhei para Ciel ao meu lado e ele também sorria discretamente. Ao reparar que eu o fitava, ele olhou para mim e seu sorriso ficou mais evidente. Eu disse aliviada:

            -Acho que agora podemos voltar para casa.

            Ciel apenas meneou um “sim” com a cabeça e me estendeu a mão. Quando a segurei, reparei que ele cambaleou para o lado. Estranhei:

            -Você está bem?

            Ele pareceu desnorteado. Sem expressar uma palavra, o demônio de cabelos acinzentados olhou para a roupa e reparou numa pequena mancha vermelha na região esquerda do peito. Ciel puxou a lateral do paletó e tivemos uma surpresa desagradável: a pequena mancha era, na verdade, um ferimento muito grande.

            -O que aquela maldita fez comigo? – ele murmurou confuso e seu corpo começou a inclinar para trás.

            Eu avancei para tentar segurá-lo e não deixá-lo cair violentamente no chão. Quando ele se deitou sobre a neve, segurei em suas mãos e gritei:

            -Socorro!

            Os shinigamis olharam para nós e não demorou que se aproximassem e ficassem ao redor de Ciel. Undertaker perguntou boquiaberto:

            -Como foi que ela te feriu deste jeito?

            Ciel arfava:

            -Eu não faço ideia...

            William analisou:

            -Deve ter sido um daqueles golpes rápidos o suficiente para nem nós, que temos um olhar tão preciso, notarmos.

            Olhei para eles, preocupada:

            -Do que aquela espada era feita?

            William olhou para mim e respondeu:

            -Espadas de anjos da morte fazem jus ao título de seus proprietários; elas dissipam qualquer tipo de vida em apenas um golpe e também afetam demônios. Pelo visto, como Ciel não era um demônio por completo, foi pior, pois agora ele está sofrendo em dobro.

            -Eu nunca serei um por completo. – Com uma expressão de dor, Ciel resmungou entre dentes, pondo as mãos sobre o ferimento. - Hannah me contou isso hoje.

            Aquele nome não me era estranho, porém não consegui associá-lo a algum rosto conhecido. Reparei que Undertaker olhou para Grell com um ar preocupado. Perguntei aflita:

            -O que isso quer dizer?

            William suspirou e olhou para Ciel:

            -Você sabia durante este tempo todo que não tinha condições perfeitas para enfrentar um anjo da morte sozinho e, mesmo assim, foi em frente? Não sei se lhe chamo de corajoso ou imbecil.

            Corei ao reparar que Luna havia dito a mesma coisa para mim, mas em outras palavras. Ciel franziu as sobrancelhas:

            -Eu não poderia deixá-la passar por mim e fazer o que bem entendesse. Este corpo maldito sempre me deixou impossibilitado de fazer muitas coisas, mas, desta vez, eu tinha algo a mais comigo, então fui em frente. Não foi algo tão grave assim.

            William grunhiu:

            -Você irá morrer agora, está feliz?

            Morrer? Como assim? – pensei com o coração aos pulos. Virei para Undertaker e perguntei:

            -Não há nada que vocês possam fazer?

            Undertaker respondeu:

            -Isto é um ferimento profundo. O pior de tudo é que foi bem no coração. Pelo visto, aquele anjo o calculou perfeitamente para ninguém reparar de imediato.

            Voltei a olhar para Ciel, que começou a fechar os olhos. Respirei fundo, sentindo as lágrimas virem e pedi com a voz quebrada:

            -Não durma, por favor. Não durma, Ciel.

~ Ciel ~

            Eu me sentia sendo puxado para as profundezas de um vasto oceano. Por mais que eu tentasse atender aos pedidos desesperados de Elizabeth, meus olhos pesavam e meu peito parava de queimar lentamente. Aquela sensação de alívio me deixava agoniado, pois ela dizia indiretamente que meu fim estava próximo.

            William poderia estar certo sobre eu ter feito a pior besteira de minha vida em relação a ter me arriscado daquela forma, mas eu nunca me perdoaria se Luna tivesse matado Lizzy. Minha prima ainda tinha muitos anos de vida pela frente – se ela não se precipitasse e cometesse suicídio após minha partida, pelo menos –, enquanto eu era apenas um ser estranho vagando entre o mundo real e o sobrenatural.

            Maldito corpo fraco! Se você tivesse resistido, eu não estaria sendo puxado para as profundezas daquele oceano escuro. Aquela sensação me lembrava o dia que me transformei naquela aberração. Eu tentava me mover e nadar para a superfície, mas era inútil.

            Perdoe-me, Elizabeth, eu não poderei mais viver com você...

~ Elizabeth ~

            -CIEL! – as lágrimas teimosas transbordaram de olhos e bati nos ombros dele. – NÃO DURMA, SEU IDIOTA! – afundei a cabeça em seu peito sem me importar com o sangue. – POR FAVOR!

            Escutei os shinigamis cochicharem entre si. Ergui a cabeça com a visão embaçada e pedi desesperada:

            -Grell, por favor, me mate!

            Todos se espantaram com aquele pedido. Ele gaguejou:

            -Mas, como assim te matar?

            -Eu não quero viver sozinha! Eu quero ir com ele! – gritei furiosa e confusa.

            Ele me respondeu calmo e com uma ponta de melancolia:

            -Elizabeth, isto é inviável. Mesmo que vocês dois morram agora, irão para lugares diferentes após a morte. Sem contar que ainda não está no tempo de sua partida desta vida. Desculpe. – ele se aproximou cautelosamente e pôs a mão sobre meu ombro. Olhou para Ciel e murmurou: - Ele foi um garoto incrível, apesar de ter roubado toda atenção de Sebast... É... Deixe quieto. Desculpe. – ele se calou ao reparar que quase abordou um assunto fútil para aquele momento e desrespeitaria meu estado de espírito.

            Eu estava inconformada. Sacudi meus ombros e voltei a deitar sobre Ciel, segurando sua camisa com firmeza. Ergui a cabeça e encarei seu rosto pálido: suas feições eram tão tranquilas que parecia que ele dormia.

            Olhei para seu ferimento, que tinha nossas mãos sobre ele: ele atingiu seu coração que, mesmo sem pulsar a anos, ainda estava lá, silencioso e guardando várias memórias e sentimentos comuns dos mortais. Por mais que Ciel foi criado com o foco de ser um demônio “de categoria”, ele sempre foi humano. Infelizmente, após reparar que esse seu lado não seria um estorvo, aquele golpe de azar nos atingiu e matou o que sobrou de meu noivo.

            Encostei minha testa na dele e respirei fundo. Murmurei:

            -Desculpe por toda a minha infantilidade, mas aprendi a lição e serei alguém melhor de agora em diante. Não importa o que aconteça, eu vou me dedicar a ser uma boa filha, amiga, mãe e... – suspirei novamente. -... Independente de quanto o tempo passe, eu sempre vou te amar. Apesar de ter te reencontrado num momento agitado, confuso e assustador... – encarei suas pálpebras cerradas e duas lágrimas pingaram de minha face quente sobre a sua pele gélida. -... Eu também não me arrependo de ter ficado ao seu lado e faria tudo de novo se fosse preciso. Obrigada por ter ficado ao meu lado nestes últimos meses, Ciel...

            Meu adorado Conde... Não consegui proferir aquelas palavras. Eu choraria mais ainda e fiquei com vergonha de falá-las diante de um grupo de deuses da morte que, mais do que provavelmente, não se importavam em assistir aquilo com indiferença.

            De repente, escutei vozes:

            -Eles estão aqui! – era Meirin.

            Finny gritou:

            -Lady Elizabeth, está tudo bem?

            Eu emudeci e me imobilizei ao lado de Ciel. Sebastian aproximou-se de nós e os shinigamis afastaram-se com a chegada dele ali, até mesmo Grell. O mordomo agachou-se ao lado do corpo inerte de seu mestre e me fuzilou com o olhar:

            -O que você fez?

            Meneei negativamente com a cabeça, segurando o choro:

            -Não fui eu...

            Os olhos dele tornaram-se vermelhos:

            -Se não fosse por sua causa, ele não teria morrido!

            Não demorou em que Grell se intrometeu em nossa conversa, porém me defendendo:

            -Sebastian, não foi culpa de Elizabeth. Ciel teve o azar de encontrar Luna antes de nós nos reunirmos a ele, mas a eliminamos em conjunto. Só que, de alguma forma, ela conseguiu nos enganar...

            -E meu mestre, como fica? – ele gritou ríspido com o shinigami.

            Bati os punhos na neve e, me sentindo exausta, gritei com ele:

            -Acho que você que sempre considerou Ciel como um bichinho de estimação, não é?

            -Como? – ele estreitou os olhos.

            Respirei fundo e sequei os vestígios de lágrimas de meu rosto:

            -Vestir, dar banho, vigiar, brincar... Um animalzinho que fica sempre ao seu lado até mesmo quando todos se esquecem de você. Você temia que o tirassem de você, afinal ficou impossibilitado de devorar a alma dele, então teve que se contentar com a companhia e o suave aroma. Agora que ele morreu, quer por a culpa em alguém e não admitir que parte disso foi negligência sua!

            -E você quer por a culpa em mim também? – ele ficou na defensiva. – Eu estava cumprindo ordens dele e não é porque ele queria se casar com você, uma grande besteira, diga-se de passagem, que eu vou te obedecer também!

            Por alguns segundos, me esqueci que ele era um demônio e me inclinei para frente com ar agressivo:

            -ORA, SEU...

            -Por favor, acalmem-se. – uma voz feminina transbordando serenidade nos pediu ordem.

            Ergui o olhar e me calei ao reconhecer uma mulher morena, dona de cabelos sutilmente azulados. Logo associei aquela figura com o nome “Hannah”: era a empregada de Alois. Mas, o que ela fazia ali?

            -Olá, lady Elizabeth. – ela me cumprimentou. Aproximou-se de nós e perguntou: - O que houve?

            Emudeci novamente e apenas lancei um olhar melancólico para Ciel. Hannah tocou no ombro de Sebastian e ele se moveu para o lado a fim de permiti-la se acomodar melhor ao lado do corpo do Phantomhive também. Alisou a têmpora dele com o dorso da mão e disse:

            -Que triste... Ele era um garoto tão bonito. – olhou para mim e deu um meio sorriso: - Não se preocupe, não tenho interesse algum nele.

            Apenas observei. Por fim, a escutei dizer:

            -Eu tenho uma proposta para você e ela só será feita porque Alois e Luca me permitiram. – pôs a mão sobre o peito.

            A encarei curiosa e com uma ponta de esperança:

            -O que preciso fazer?

            Ela sorriu:

            -Um pequeno sacrifício.

            Sebastian ergueu os olhos para ela e perguntou:

            -É o que eu estou imaginando que é?

            Ela inclinou a cabeça de lado e olhou para ele:

            -Provavelmente, sim. – lançou um olhar sério para mim e propôs: - Eu trago Ciel de volta a vida, porém você tem que me oferecer algo em troca e é um algo que você ainda não tem.

            -O quê? – meu coração acelerou. Balbuciei: - Eu... Acho que sou capaz de fazer tudo. Por favor, me diga o que.

            Ela estreitou os olhos e sorriu de modo divertido:

            -Acha que é disposta ou tem certeza que é?

            Oscilei:

            -Eu não sei.

            Hannah suspirou:

            -Enfim... Trago Ciel de volta a vida, mas você tem que me oferecer seu primeiro filho com ele. Depois vocês podem ter quantas crianças quiserem. Os Phantomhive têm que continuar com sua existência na Inglaterra de um jeito ou de outro, não é? – apoiou o rosto numa das mãos e me encarou intensamente.

            -Meu primeiro filho que nem nasceu? – aquilo me fez estremecer e, embora eu ainda não tivesse o psicológico preparado para ter uma criança, me senti ameaçada.

            A mulher encolheu os ombros:

            -A escolha é sua e, diga-se de passagem, enquanto estamos conversando aqui, ele está afundando cada vez mais no oceano do esquecimento e indo para o mesmo limbo de onde fui tirada. – olhou para Sebastian. – Falando nisso, eu tenho que voltar logo para lá.

            Segurei uma das mãos de Ciel e o encarei. Pensei no que ele diria quando soubesse daquilo. Olhei para Hannah e perguntei:

            -Só há esta maneira?

           

~ Ciel ~

            -Ciel, meu querido... – Victoria apareceu diante de mim naquela escuridão. – O que está acontecendo?

            -Vossa Majestade? – fiquei em dúvida se era ela mesma ou uma alucinação.

            A rainha tinha uma aparência jovem. Ela sorriu amável e respondeu:

            -Sim, sou eu. Eu soube o que aconteceu com você e sinto muito pelo o que meu filho acabou lhe causando. Meu pequeno Edward sempre teve problemas na infância, mas nunca imaginei que ele atingiria outras pessoas daquela forma. – ela se lamentou envergonhada.

            Suspirei e respondi:

            -Tudo bem, já foi. O reino está são e salvo agora e eu... Bem, eu ia chegar ao meu limite a qualquer hora.

            Ela se aproximou a mim e estendeu suas mãos:

            -Sim, compreendo, mas ainda não é o seu fim. O Criador previu uma coisa em seu futuro e pediu para eu te encontrar aqui. Você irá voltar, mas, antes que você acorde no Mundo real, quero lhe pedir algumas coisas e espero que você as cumpra. Apesar de tudo, eu ainda sou a rainha da Inglaterra.

            Respondi submisso:

            -E eu ainda sou seu fiel cão de guarda.

            -Ciel, não maltrate Elizabeth ou qualquer outro. – ela me pediu. – Sua noiva fará algo para o seu próprio bem. A princípio, parecerá que não terá sentido, mas, quando chegar o tempo certo, vocês encontrarão a solução. Permaneça firme em suas funções e não se deixe abater. Eu confio em você.

            -Sim, Vossa Majestade. – de repente, meu corpo tornou-se leve outra vez e me curvei diante dela.

            Então, Victoria abriu suas grandes e alvas asas:

            -Coragem, meu cão de guarda.

            De repente, fui puxado com força para o alto: aos poucos, surgiu uma luz prateada sobre a minha cabeça e ela tornou-se intensa rapidamente até, finalmente, eu sentir ar entrando por meus pulmões e abri os olhos.

            No começo, apenas vi vultos e as vozes ao meu redor não eram nada além de um som incompreensível. Aos poucos, reconheci as pessoas que estavam ao meu redor e reparei que Elizabeth segurava minha mão. Levantei do chão e todos ao meu redor me olharam surpresos. Lizzy tentava abafar seus soluços de tanto chorar. Quando me viu sentado, tentou falar:

            -Ciel... Eu...

            Aproximei a palma de minha mão à sua boca e disse:

            -Eu não sei o que você fez, Lizzy, mas, de qualquer forma... – sorri de modo astuto: - Eles não vão ter o que querem.

            Fitando seus olhos avermelhados de tanto chorar, li em sua mente o que Hannah a fez prometer. Suspirei:

            -Aonde ela foi?

            Ronald quem respondeu:

            -Ela retornou para o limbo logo após te trazer de volta à vida.

            Grunhi:

            -Maldita. Não sei o que é pior... Ela ou Alois... Ou os dois juntos!

            Grell me encarava de braços cruzados. Olhei para o outro lado e vi meus servos estáticos. Perguntei mal-humorado:

            -O que vocês estão fazendo parados aí? Voltem para o salão e acalmem os ânimos das pessoas lá!

            Sebastian me ofereceu a mão para me levantar. Apenas o encarei e apontei seco:

            -Você também não fez nada, não é? Só porque eu não virei seu lanchinho você quer que meu filho se torne uma isca de demônio? É o que veremos, Sebastian! Você caiu em meu conceito! – me levantei sozinho e Elizabeth ficou ao meu lado, tentando, de um jeito desengonçado, me apoiar em seu ombro.

            Meu mordomo disse nada: apenas me olhou de modo desolado, porém eu sabia que aquilo era apenas uma forma de tentar me fazer suavizar o modo de tratá-lo.

            De qualquer forma, eu prometi a minha rainha que não descontaria a raiva nas pessoas ou seres errados. Eu estava de volta e iria corrigir os erros. Respirei fundo e anunciei:

            -Muito bem, senhores, nossa missão acabou aqui. Todos dispensados até a próxima emergência. – sorri e olhei para Elizabeth. – Bom trabalho!


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