No dia do passeio a Hogsmeade eu me encontrava na biblioteca, pois Tom estava em uma reunião com o diretor e Eillen fora se encontrar com Tobias, o que significava que eu não tinha nenhuma companhia para o passeio e além do mais estando ali era muito mais fácil criar um álibi para a minha amiga, visto que depois de sete anos frequentando essa biblioteca diariamente a bibliotecária simplesmente me amava e faria qualquer coisa que eu pedisse. Então eu estava aproveitando um dos meus raros momentos de paz para colocar a minha leitura em dia quando a porta se abriu violentamente revelando Eillen.

- Eillen? O que houve? – Perguntei preocupada enquanto ela se sentava ao meu lado.

- Mira, Tobias... Tobias, ele...

- O que aconteceu? O que ele fez com você? – Perguntei dessa vez um pouco irritada principalmente porque percebi que ela estava chorando.

- Nada! Ele não fez nada comigo, Mira, você entendeu errado. Ele me pediu em casamento.

- E o que você respondeu?

- Disse que precisava pensar e vim para cá. O que eu faço Mirach?

- Eillen eu não posso te ajudar dessa vez, precisa tomar essa decisão por sua própria conta, na verdade já deveria ter feito isso há muito tempo.

- Eu sei, mas ao mesmo tempo eu não sei o que fazer, por um lado eu o amo, mas por outro eu preciso da minha família para me manter. – Ela falou escondendo o rosto com os braços.

- Se escolher Tobias, estará renegando todas as mordomias com as quais está acostumada e terá uma vida difícil pela frente, afinal pelo que me contou ele não vem de uma família rica. – Eu falei levantando a cabeça para que me encarasse. – Por outro lado se você ficar, mais dia menos dia, será obrigada a entrar em um casamento arranjado que pode ou não dar certo embora seja uma garantia de que terá dinheiro.

- Já é tarde para isso, meus pais escreveram em sua última carta que querem que eu me case com o Crable, esse será o meu futuro se eu ficar. Mas e seu eu estiver errada sobre tudo, se eu fizer a escolha errada?

- Não há nenhum caminho seguro pelo qual possamos seguir nessa vida, tudo o que fizemos ou viremos a fazer representa um risco, infelizmente eu não tenho o poder de prever o futuro para saber qual risco vale mais apena.

- Você tem sorte Mira, sempre soube o que queria da vida e nunca se importou de passar por cima de qualquer tradição que se colocasse em seu caminho, mas eu não tenho a sua coragem, nunca a tive e provavelmente nunca a terei. Não sei se serei capaz de enfrentar os meus pais mesmo que queira.

- Eillen olha para mim, tudo que disse sobre mim é verdade, mas você, assim como Othy uma vez, cometeu um erro em seu julgamento. Para ser quem eu sou hoje eu paguei o preço pelos meus atos, pessoas que eu amava me foram tiradas, o amor da minha família me foi renegado, me tornei uma pária diante a sociedade apenas por ser diferente. Isso me tornou uma pessoa desconfiada e com dificuldade de expressar qualquer tipo de emoção. – Falei encarando o nada, não estava sendo particularmente fácil revelar isso, mas Eillen merecia e precisava saber. – Caso me pergunte hoje se me arrependo, se mudaria alguma das minhas decisões, serei obrigada a dizer que não porque por mais que eu tenha sofrido eu escolhi pagar esse preço para alcançar meus sonhos. Entretanto só cabe a cada um de nós decidir qual é o sonho que queremos realizar e quanto estamos dispostos a sacrificar para alcançá-los, e isso independe de quanta coragem nós temos.

Ela apenas me encarava sem emitir qualquer som então lhe dei mais algum tempo antes de acrescentar:

- Como você acha que será mais feliz Eillen? Qual sonho você quer seguir?

- Tobias, nos últimos anos é com ele que tenho me sentido feliz, é com ele que tenho me sentido completa.

Eu sorri em sua direção, muito embora eu soubesse que talvez, apenas talvez eu não devesse tê-la encorajado, principalmente porque eu conhecia melhor do que ninguém as provações que ela enfrentaria.

- Uma boa amiga diria para você desistir dele e se manter com que tem hoje, se manter em uma vida segura que não lhe apresentasse chances de se magoar, mas sei que essa segurança não existe, mas temo que eu não seja uma boa amiga. Não direi para seguir o seu coração porque esse pode enganá-la, mas siga a sua consciência e o que ela dizer que é o melhor para você.

- Eu irei lhe dar minha resposta e quando o ano terminar enfrentarei os meus pais. – Ela falou enxugando as lágrimas e já se levantando. – Ah! E Mirach, você é uma boa amiga, talvez a melhor que eu poderia ter e sabe por quê? Porque você me ouve e me compreende embora eu saiba que várias vezes discordou das minhas decisões, mas a cima de tudo porque você se importa de verdade comigo.

Ela saiu correndo, os cabelos negros e lisos batendo contra as suas costas, e eu fiquei observando o livro sem realmente lê-lo. Eu realmente esperava que Eillen encontrasse a felicidade porque ela estava certa, eu me preocupava com ela da mesma maneira com que me preocupava com apenas mais quatro pessoas: Othy, Liandan, Ink e Tom, uma lista pequena para alguém que já passara dos 17, mas pelo menos se tratava de uma lista verdadeira.

Quando finalmente conseguir voltar a minha atenção para a leitura a porta se abriu novamente revelando Tom dessa vez e ele não parecia estar muito feliz.

- O que aconteceu? – Eu perguntei quando ele se jogou na cadeira do lado da minha que até alguns minutos atrás estava sendo ocupada por Eillen.

- Dippet não me aceitou.

- O quê?

- Disse que eu era muito novo para assumir um cargo como professor, principalmente de Defesa Contra as Artes das Trevas, disse que eu era inexperiente. – Ele falou furioso parecendo até que queria matar o nosso diretor. – Eu tenho as melhores notas e mais experiência do que essa idiota que nos da aula.

- Não creio que você possa falar de sua experiência para alguém sem acabar parando em Azkaban. – Eu sussurrei, mas é claro que ele me escutou.

- De que lado você está?

- Do seu Tom, só estou dizendo que Dippet talvez não tenha feito por mal e além do mais pelo que você me contou ela não lhe recusou completamente o cargo. Faça algum curso ou sei lá, alguma coisa que lhe de a experiência que Dippet quer e volte para conseguir o emprego.

- Eu vou trabalhar na Borgin & Burkes

- Você o quê? Não escutou nada do que eu falei? – Perguntei arqueando uma sobrancelha.

- Pelo contrário, minha cara, eu escutei muito bem, você é que não entendeu os meus planos, a Borgin & Burkes trabalha com objetos das trevas, uma vez lá dentro poderei estudá-los detalhadamente.

- Se é o que você quer fazes, mas realmente não acho que essa seja a sua melhor opção.

- Eu sei o que estou fazendo, não precisa se preocupar tudo vai acontecer de acordo com o meu plano. – Ele falou agora bem mais animado do que quando entrara e com um beijo me deixou novamente sozinha.

- Por que será que toda a vez que você me diz para não me preocupar é exatamente quando eu sei que preciso me preocupar? – Perguntei para o nada, mas para ser sincera adoraria ter uma resposta para isso.