Era o começo do outono, 1o de setembro para ser mais precisa, e eu estava na estação de King's Cross onde eu pegaria o trem para a escola de magia e bruxaria de Hogwarts onde iniciaria meu primeiro ano. Meu nome é Mirach Prewet, como já devem ter presumido tenho onze anos, e venho de uma longa linhagem de sangues puros. Não que ache que isso seja algo muito importante, mas também não sou louca de expressar essa opinião na frente da minha família uma vez que isso seria uma verdadeira tentativa de suicídio e por falar na minha família eu creio que deva falar sobre eles agora.

   Meu pai trabalha no Ministério como o “braço direito” do ministro, minha mãe é uma dama da alta sociedade e é também uma das maiores estilistas do mundo bruxo, não que as pessoas saibam disso uma vez que meu pai a obriga a assinar as peças com um nome falso e há também meus três irmãos. Argos de 16 anos, Ignatio de 14, ambos graças a Merlin e Morgana estudam em Durmstrang, e o caçula da família o pequeno Othy de apenas 9 anos que ainda não cursa nenhuma escola de magia.

   Mas como eu estava falando graças a Hogwarts poderei deixar minha família maluca para trás, ao menos por um tempo. Atravessei a plataforma na direção do trem sozinha, pois meus pais são pessoas tão ocupadas que não podem nem trazer a própria filha e se despedirem dela, mas talvez eu esteja exagerando um pouco já que tecnicamente não estou sozinha, Ink, nosso elfo doméstico, veio comigo. Ele é um criatura simpática e uma das poucas pessoas com quem eu consigo conversar em casa, não que o resto da família saiba sobre essa dessa amizade entre classes, mas como meus irmão são perfeitos trasgos que só sabem falar de quadribol e meus pais não tem tempo para nenhum de nós, que dirá para mim, digamos que eu adquiri uma espécie de liberdade.

   - Ink vai sentir falta da senhorita. – Ele sussurrou quando abaixei para me despedir dele.

   - Também vou sentir saudades, mas vou estar de volta para o Natal e você verá o tempo passará voando. – Comentei e apesar de todo o barulho diminui minha voz para acrescentar. – Pode vir me visitar em Hogwarts quando quiser.

   - A senhorita Mirach é muito boa para Ink e Ink lhe deseja sorte embora a senhorita não precise. – Ele completou antes de aparatar de volta para a mansão.

   - Obrigada. – Eu murmurei para o nada.

   Assim coloquei minha mochila nos ombros e me mantendo séria, afinal milhares de crianças se despedindo dos pais ao meu lado não ajudavam muito o meu ego principalmente agora que estou definitivamente sozinha, caminhei no meio dessas famílias felizes até o trem onde comecei a buscar por uma cabine que me agradasse. Acabei por me decidir por uma quase no fim do trem com apenas um menino dentro que parecia ter a minha idade, para ser sincera nunca gostei de locais cheios de gente.

   - Posso me sentar? – Perguntei abrindo a porta de vidro.

   Como o garoto não me respondeu nada considerei seu silêncio como um sim e entrei na cabine me sentando no banco de frente para ele, retirei um livro da bolsa e retomei minha leitura, se ele não queria conversar comigo ótimo, eu não perderia meu tempo. O trem já havia deixado a estação a muito tempo quando ele finalmente falou alguma coisa e ao levantar meu olhar para encará-lo notei que ele assim como eu também trazia um livro.

   - Sou Tom Riddle.

   - Mirach Prewet. – Respondi de forma distraída tentando imaginar o motivo para que ele tivesse iniciado uma conversa apenas agora.

   - Um nome bastante diferente.

   - É comum nas famílias bruxas que os filhos recebam o nome de estrelas ou constelações.  – Respondi de maneira seca coisa que ele percebeu.

   - Não era minha intenção ser indelicado, senhorita. – Ele comentou e não sei se foi apenas minha imaginação, mas me pareceu que ele estava sendo sarcástico.

   -Não foi nenhuma indelicadeza senhor Riddle, apenas não gosto que meu nome seja criticado.

   - Sinto que isso tenha lhe parecido uma critica. – Ele falou com um sorriso no rosto. – Mas percebo que a senhorita também aprecia a leitura.

   - Um comentário muito esclarecedor tendo em vista que ambos possuímos livros em nossas mãos. – Essa foi a minha vez de ser sarcástica.

   - Eu estava apenas tentando manter uma conversa. – Ele argumentou na defensiva.

- Perdoe-me se essa foi realmente sua intenção, mas aparentemente somos parecidos nesse aspecto.

   - De fato devo concordar que os livros são uma das poucas coisas que me atraem nesse mundo.

   - Talvez sejamos ainda mais parecidos do que eu pensei a principio.

   Foram momentos agradáveis os que passei em sua companhia durante o resto da viajem conversando sobre diversos livros. Mas devo admitir que o jovem Tom não era apenas um rapaz curioso como também muito bonito com seus cabelos negros e olhos também dessa cor, além disso também percebi um grande mistério em sua personalidade e talvez por esse último fator que eu tenha gostado tanto dele.

   - Com todo o respeito preciso me retirar agora. – Falei me levantando, pelos meus cálculos estaríamos chegando em Hogwarts em breve. – Tendo em vista que preciso trocar minhas vestes, mas espero encontrá-lo em Hogwarts senhor Riddle.

   - Também desejo isso senhorita Prewet.

   Me encaminhei até o banheiro do trem que eu esperava encontrar vazio, mas para minha completa infelicidade ele ainda estava cheio de garotas fofoqueiras entretanto como não havia outra alternativa entrei e me troquei da maneira mais rápida possível demorando apenas um pouco para arrumar meus cabelos castanhos escuros e ondulados que na minha humilde opinião faziam uma combinação bem bonita com meus olhos cinzas. Podem até me chamar de egocêntrica, mas sempre me considerei uma pessoa bonita.

   Quando finalmente consegui deixar aquele banheiro claustrofóbico o trem já parava na plataforma e eu seguia a massa de alunos para fora dele, muito embora eu só tenha encontrado novamente com Tom depois de atravessarmos o lago e sermos recebidos pelo vice-diretos e professor de Transfiguração Dumbledore. Ele nos guiou até o grande salão onde ocorreria a seleção para nossas futuras casas e até eu tenho que admitir que o lugar era simplesmente deslumbrante e imponente.

   Depois que a seleção foi explicada os alunos começaram a ser chamados um por um, alguns pareciam morrer de medo, outros tentavam esconder esse medo por trás de uma mascara de orgulho, esnobismo ou palhaçada, mas eram poucos que realmente sabiam esconder ou então não tinham medo como era o meu caso. Tom também se encaixava em uma dessas duas últimas categorias embora eu não possa ter certeza de qual, e por falar nele devo comentar que foi selecionado para a Sonserina.

   - Prewet, Mirach. – Dumbledore me chamou.

   Com segurança caminhei até o pequeno banco e colocaram o chapéu seletor na minha cabeça.

   - Interessante muito interessante. – Escutei a voz dentro da minha mente.

   - O que é interessante? - Rebati mentalmente.

   - Tem uma mente perspicaz para uma menina de apenas onze anos, é orgulhosa, astuta e não mede esforços para conseguir o que quer, mas vejo também um forte senso de justiça e apesar da vontade de se mostrar superior há em você um desejo de ajudar os outros. Sabe ser humilde e gentil ao mesmo tempo em que é venenosa e perigosa.

   - Isso é bom?

   - Minha cara, você é o maior poço de contradições que já encontrei em toda a minha existência. Você tem um grande futuro pela frente e sei que poderemos esperar grandes feitos de você principalmente se a sua casa for a... SONSERINA.

   Com calma retirei o chapéu da minha cabeça devolvendo-o ao professor e me encaminhei para a mesa cujas cores eram verde e prata, todos batiam palmas cordialmente pela a minha entrada e tive a impressão de ter visto Tom sorrir quando me sentei ao seu lado.

   - Parece que nos encontramos novamente, senhor Riddle. –Brinquei.

   - Sim é o que parece.

   Como Tom não parecia ser uma pessoa de muitas palavras decidi não me importar com sua falta de interesse e comecei a conversar com as meninas que estavam sentadas ao meu lado. Não sei por que, mas tenho a sensação de que vou me sair bem aqui.