– Bem vindos a incrivel mansão Hades! – uma voz estridente gritou de algum lugar. Parecia um locutor, daqueles que apresentam as pessoas, só que ninguém sabe quem é ou onde está.

Ouvimos um barulho estrondoso, nuvens de fumaça preta cercaram o nosso grupo, purpurina preta caiu em cima de nos, como se estivesse chovendo, e balões com caveiras desenhadas surgiram do chão voando até o teto.

– O que foi isso? Nico! – eu tentei despistar a fumaça a minha frente, balançando os meus braços freneticamente no ar – Eu pensei que pelo menos a sua casa fosse normal!

– Normal? – Nico repetiu parecendo incrédulo, a fumaça já estava mais fraca, então eu podia ver o seu rosto mais claramente – Eu fui uma criança emocionalmente abalada, como minha casa seria normal?

– Normal tipo... Melhor que a minha, talvez? – reformulei a minha frase. A fumaça já havia se dissipado então eu consegui apreciar melhor a sala da incrível mansão Hades, como disse a voz misteriosa.

– Esse lugar é aterrorizante! – resmungou Percy tossindo um pouco.

– E sem classe! – comentou Zeus – Aposto que tudo isso veio do cabaré mais próximo, que lugar teria essa decoração?

As paredes eram de veludo vermelho, grandes candelabros brotavam das paredes e um magnifico lustre de ouro se prendia ao teto, toda a iluminação parecia ser à base de velas, exceto por alguns pontos onde uma luz amarela cegava os meus olhos. O fogo crepitava em uma incrível lareira no meio da sala, cuja bordas eram de bronze.

Ao lado da lareira duas escadas tinham o seu fim, uma do lado direito e a outra do lado esquerdo, o corrimão era de ouro e ou degraus cobertos por um tecido vermelho. Havia também dois sofás vinho e uma poltrona grande e marrom, que estavam em cima de um belíssimo tapete persa, o chão de madeira escura rugia em alguns pontos, porem era muito bonito.

A decoração se consistia, principalmente, em estatuas de um cão com varias cabeças. Aquele cachorro estava em qualquer lugar que você olhasse, sendo nos detalhes de algum móvel ou em cima de uma mesa de estar.

A sala era bonita, um pouco macabra demais para o meu gosto, mas bonita.

Então começou a tocar uma musica esquisita, vultos começaram a descer das escadas e alguém começou a cantar. E não, não era o narrador esquisito que nos tinha dado um bem vindos a casa.

Era... Hades?

Sim, era o meu querido e assustador sogro.

Ele estava cantado Sympathy of the Devil, The rolling Stones.

Não era a musica mais amistosa que eu já tinha escutado, com total certeza não era. Eu me agarrei ao braço de Nico e sussurrei próxima ao seu ouvido:

–Ninguém gosta da morte aqui mesmo, certo?

Ele riu parecendo estar um pouco assustado com a apresentação do pai. Eu realmente não o culpo, aquilo era aterrorizante.

Meu sogro maravilhoso estava descendo a escada gradativamente, provavelmente, quando ele terminasse de descer a escada a musica acabaria. Eu estava morrendo por esperar que isso acontecesse, ele era muito desafinado! Por Apolo!

Hades não conseguia atingir uma nota sequer, e parecia estar fazendo um mini strip tease, tirando o roupão que vestia a cada degrau que descia. Pelo menos ele estava vestindo um terno preto por baixo do roupão igualmente preto.

A musica acabou, Hades se aproximou e sorriu um pouco desapontado me observando. Ele era assustador, branco e com um cabelo escuríssimo – igual a Nico, só que sem o fator gostosura.

O cabelo era lambido e partido ao meio, o que o deixava mais feio ainda. Mas eu realmente não quero ofende-lo, o bolso dele sustentará a minha família até a quinta geração.

Ok... Terceira geração, no máximo. Eu gasto muito dinheiro e isso deve ser hereditário, então, se ninguém produz mais a grana vai acabar algum dia. Sem contar a parte da divisão de bens, a esposa dele vai querer muito dinheiro e meu pai vai pegar 10% do que será meu e de Nico.

Do que sobrar 50% é meu e o resto do meu querido esposo.

Ok... Só vai dar para me sustentar. Mas fazer o que? Meus netos que ganhem na loteria.

– Minha querida Nora! – Hades me abraçou. Com certeza ele não era igual ao filho, seu toque era frio e arrepiante. Ok, Nico é arrepiante também, mas não dessa forma.

Ele observou Percy dos pés a cabeça, como se ele fosse um intruso. O garoto se retraiu um pouco e se forçou a sorrir para o tio. Enquanto isso Zeus se segurava para não rir. Ok... Ver o seu irmão descer uma escada cantando e tirando a roupa é algo um pouco constrangedor.

Mas ele não poderia elogiar Hades? Qual é? Ainda quero ter um sogro feliz e rico, e que, de preferencia, permita e abençoe o meu casamento.

– Olá? – respondi um pouco tonta. – Adorei o seu show!

– Eu sabia, eu sou fantástico, não? – ele sorriu de satisfação. – O melhor, não, meu filho?

– Claro... Senhor! – respondeu Nico rapidamente. – E o jantar?

– Você só pensa em comer? – perguntou Hades um pouco irritado.

– Assumo que depois do seu show, comida é o melhor em que posso pensar! – disse meu pai rapidamente. Sua voz saiu abafada, com sorte Hades não tinha o escutado, porem, levando em consideração a expressão do meu sogro, ele decidiu ignorar o elogio.

– Não... Pai! Claro que não! – respondeu Nico um pouco constrangido. – Eu não penso só em comer...

A porta da casa se abriu e um homem entrou na sala.

– Comer? – o homem riu – Espero que seja só comida, porque senão Zeus não vai ficar nada feliz de ter a filha como prato principal!

– O que você está insinuando, Poseidon? – rugiu meu pai se jogando um pouco contra o recém chegado irmão.

– Ué? Você tá aqui Zeus? – perguntou Poseidon cínico – Pensei que não fosse bem vindo!

– Nem você!

– Ai... Meus deuses! Poseidon! – Hades rugiu se dirigindo ao irmão. Zeus balançou a cabeça num grito mudo de comemoração nessa hora, como se dissesse não falei? Não é bem vindo! – O que faz em minha casa?

– Não vai ter rango? – perguntou Poseidon alisando a sua barriga. Ele vestia uma bermuda florida, uma regata branca e calçava sandálias de couro. – O prato não vai ser você, querida! – ele disse isso se referindo a mim. – Só depois do casamento. Fale isso para Percy. Atena me obrigou a transmitir esse pensamento.

Eu ri concordando. Que tipo de hospício é esse?

– Por que você não fala você mesmo? – perguntou meu pai irritado. – Seu filho cabeça de plâncton está bem aqui do meu lado!

Porem Percy tinha sumido. Ele desapareceu no meio da conversa, onde será que ele foi?

– Porque eu não gosto de falar sobre isso com meu filho! – se defendeu Poseidon irritado. – E não me olhem assim, os filhos de vocês se agarram por ai desde... Desde que a vovó era viva!

– Thalia é virgem! – disse Zeus.

Nico riu, tentando abafar o riso. Zeus olhou para ele com os olhos arregalados, uma veia começou a pulsar na sua cabeça e seu rosto ficou completamente vermelho. Realmente, Nico é muito discreto.

– Não é, Thalia? – perguntou meu pai se controlando para não gritar.

– Claro, papai! – respondi olhando para o chão – Que nem titio Poseidon falou, só depois do casamento! – nesse momento olhei para Nico, ele me encarava tentando me decifrar.

Eu já falei e vou repeti. Sem mais brincadeiras à noite até o casamento. Qual é? Nico vai aprender quem manda aqui na base da abstinência. A mão direita dele tá com saudades, ele que vá vista-la.

– E Nico não se agarra com piranhas por aí! – disse Hades confiante das suas palavras. – Ele é um bom garoto!

– E aquele vídeo que vazou na internet... – Poseidon começou a falar. Meus olhos arregalaram, minha mão começou a suar freneticamente e meu vestido parecia ter encolhido uns dois números. Olhei para Nico, ele não estava muito melhor.

Pelo amor de Gaia! Que tipo de sites Poseidon acessa para ter visto aquilo?

– Eu vou falar para Percy! Sem sexo!– eu disse a Poseidon, cortando o assunto. Ele assentiu com a cabeça, como se netos não estivessem nos planos deles. – Então? Onde estão os outros?

– Os outros quem, minha querida? – Hades falou de forma aterrorizante. – Virá mais alguém além destes indivíduos? – ele perguntou apontando para os irmãos com desprezo.

– Só Atena e Annabeth. E Dionísio, talvez, ele não confirmou! – disse Nico – Ah... Afrodite falou que viria mais chegaria atrasada. Ela tem um encontro extracurricular com Ares, então irá se atrasar!

Assentimos com a cabeça. Hades sorriu – ele fica mais aterrorizante mostrando as gengivas - e abriu os braços como se fosse dar um abraço grupal em nós, porém eu acho isso muito pouco provável.

– Então vamos à sala de jantar!

(...)

Seguimos por alguns corredores até chegar numa sala gigante, uma mesa de madeira enorme se estendia de um canto a outro, ela já estava posta e havia duas mulheres sentadas á mesa. Atena e Perséfone, como pude ver.

Hades deu um beijo na testa da sua esposa e se sentou na cabeceira da mesa. Zeus e Poseidon se sentaram próximos ao irmão, um de frente ao outro. Poseidon ao lado de Atena e Zeus de Perséfone

Eu me sentei ao lado de Atena e Nico ao meu. Por alguns minutos um silencio constrangedor se instalou entre o grupo, porem Poseidon decidiu quebrar o clima perguntando ao meu pai:

– E a prisão, como é?

– Pequena! – resmungou Zeus – E a sobrinha, como é?

– Pequena também! – disse Poseidon. Atena corou, ficando vermelha, e resmungou um papai! abafado.

– O que? – perguntou o meu pai um pouco irritado. – Fico detido por alguns meses e minha esposa foge, minha filha preferida se envolve com um peixeiro e... bem... – ele olhou para mim – A outra criança fica noiva do Zé Caveirinha!

– Só duas filhas? – perguntou Poseidon se fazendo de assustado – A prole não é maior?

– Vamos parar? – pediu Hades – Quem está noiva de quem?

– Pois é... Papai! – disse Nico. Ele segurou a minha mão e olhou profundamente para os olhos de Hades – Eu e Thalia estamos noivo! Pensei que você soubesse... Chamou-a de nora!

– Claro que chamou de nora. Você pega tantas que ele é obrigado a chamar qualquer rabo de saia que entre nessa casa de nora! – observou Poseidon.

– Poseidon! – repreendeu Atena – Nico é um bom rapaz, e ele está com a minha irmã... Então temos que aceita-lo!

– Eu já era seu parente, você sabe, né, titia Atena! – falou Nico contrariado.

– Prima! – corrigiu Atena – E não me lembre do meu parentesco com Hades!

– Atena! – gritou Perséfone – Ele é o meu marido, mais respeito, por favor!

– Você se casou por dinheiro, todo mundo sabe disso! – falou Atena.

– Dinheiro? Pelo menos a minha filha não está se agarrando com um plâncton no armário da cozinha!

– Epâ! – gritou Poseidon – Só depois do casamento!

Agora que eu percebi. Percy continua desaparecido... E se Annabeth está aqui, alguém fez as passes com a namorada! Oba! Menos coisas para eu fazer! Não queria bancar o cupido hoje.

– Voltando aqui! – gritou Nico segurando as minhas mãos. – Estamos noivos, Jenny foi para o Canada com a Luiza e... Cadê a comida?

Tão sutil e romântico. Ele bateu a minha expectativa no quesito romance durante o anuncio do meu casamento. Ai... Ai... Nico!

Hades revirou os olhos.

– Já está vindo! Vou chamar o chefe! Chefe! – repetiu Hades com orgulho – Porque eu tenho dinheiro para pagar alguém para cozinhar para mim! – disse olhando para Zeus.

– Eu estou feliz com miojo! – comentou o meu pai – Tem o que para comer na sua casa, Thalia? Vou morar com você!

– O que? –eu quase engasguei com a minha própria saliva – Eu tô morando com Nico, pai!

– Num apartamento bem pequeno, diga-se de passagem! – comentou meu noivo com veemência – Que só tem um banheiro e uma cama!

– Já entendi... Já entendi! – falou Zeus um pouco contrariado – Estou feliz em acompanhar Atena até a mansão Poseidon!

– O que? Não mesmo! – gritou Poseidon. Atena beliscou o seu braço de uma maneira bem sutil, o fazendo gritar. – Ok. Seja bem vindo, maninho!

Zeus sorriu.

– Chame logo o seu chefe, Hades! – pediu o meu pai enfatizando a palavra chefe – Ele vai trazer suco Ades? Entendeu? Hades... Ades... Muito engraçado!

Ninguém exceto ele riu.

– Não é engraçado? Ok.

Hades levantou um sininho e estava preste a balança-lo, provavelmente para chamar o chefe, porem não foi necessário.

Um homem baixinho, de meia idade, narigudo e com cabelo encaracolado entrou na sala de jantar gritando xingamentos em francês:

– Inadmissível! – o homem gritava.

– O que aconteceu? – perguntou Hades um pouco irritado – A comida já está pronta?

– Quase... Quase! Eu fui ao armário buscar um molho e... Inadmissível, só na América!

– O que aconteceu? – perguntou Perséfone – Volte para a cozinha!

– Não, não! – brandiu o homem – Fui ao armário e me deparei com uma cena horrível!

– Qual cena?

– Um casal se agarrando, aos beijos na minha cozinha! No meu armário! – explicou o homem revoltado – E sem roupa! Só na América, só na América!

– Então eu acho que não era só uns beijos! – comentou Nico maliciosamente.

– Só depois do casamento! – Poseidon gritou.

O homem andava de um lado para o outro freneticamente, ele balançava as mãos no ar ao xingar e gritar. Sua roupa era branca e um chapéu de cozinheiro caia da sua cabeça a cada dois segundos.

Percy e Annabeth entraram na sala sorrateiramente. O cabelo de ambos estava bagunçado, o terno de Percy estava todo amassado e a blusa de Annabeth mal abotoada. Sem contar a gigante mancha de batom no rosto dos dois... Nos braços e... Uh... Pescoços.

– Foram eles! – gritou o homem apontando para o casal – Americanos sem vergonha! – o homem jogou o chapéu no chão e o pisando diversas vezes – Para mim já deu, ME DEMITO!

– O que? E O JANTAR? – gritou Poseidon. Depois ele olhou para o filho e balançou a cabeça em negativa – Só depois do casamento! Eu falei para ele, Atena, não me culpe se formos ter netos!

– O que? Sem netos! – gritou a mãe de Annabeth raivosa – O que falei para você?

– Parem! – pediu Hades – Como vamos jantar? O meu chefe... O meu chefe... – ele se lamentava.

– Foi embora, graças! – disse Perséfone – Você gostava mais dele do que de mim!

– Não é verdade! – defendeu-se Hades. – Eu nem sei o nome dele.

– Hades é da turma de Nico... E Clovis! – gritou o meu pai – Deve ser de família!

Nico respirou fundo. Ele já estava começando a ficar vermelho.

A confusão começou a se a alastrar pela mesa. Zeus duvidava da sexualidade do irmão e sobrinho – Clovis pegava pai e filho -, Poseidon e Atena discutiam com os seus filhos – Só depois do casamento - e Annabeth perguntava como os netos deles iriam reagir se soubessem que os avós namoravam.

– Idosos sexualmente ativos! – explicou Zeus – Igual à Hades com Clovis!

– VAMOS PARAR? – Eu gritei irritada – É O MEU NOIVADO E VAMOS JANTAR!

Eles não pararam para me ouvir. Olhei para Nico suplicante.

– Vamos para uma pizzaria! – sugeriu o meu noivo. Poseidon aceitou na hora, ele estava realmente com muita fome. Percy e Annabeth comemoraram o fato de Atena ter parado de brigar com eles e ter começado a brigar com Poseidon por ele se dispersar de um assunto tão serio tão facilmente, e aceitaram na hora.

Perséfone concordou:

– Não aguento mais comida francesa!

– Então vamos! – concordou Zeus. Hades assentiu logo em seguida. Deve ser um milagre dos deuses eles estarem concordando com isso juntos.

– Hades paga! – gritou Poseidon.

– Não mesmo! – negou o meu sogro – O pai da noiva que paga!

– Vocês não preferem um cachorro quente na esquina? – perguntou o meu pai alisando os bolsos.

– Parem com isso! – pediu Nico – Eu pago! Agora levantem esses trazeiros cabeludos dessas cadeiras e venham!

Ele estendeu a mão, me ajudando a me levantar, passou o braço por volta do meu corpo e sussurrou próximo do meu ouvido:

– Depois dessa você vai desconsiderar o negocio de só depois do casamento?

Revirei os olhos.

Cafajestes. Eles parecem nunca mudar.