Hoje completa o terceiro mês que voltei para Londres. Mas também completa o tempo em que estou... Noivo.

                Me pego repetindo essa palavra na minha mente. Noivo. Uma coisa que nunca imaginei na vida, com todo o tempo que tive, foi que ficaria noivo.

                Bem, depois daquela visita e daquele pedido inesperados, Alfred decidiu ficar comigo. Ele disse que já havia planejado a mudança ao mesmo tempo em que a aliança, antes mesmo de vir para cá. Não sei como ainda me surpreendo... Ele é um idiota, mas um idiota muito inteligente.

                Enfim, ele está estudando comigo, então não temos problema se sentirmos aquela falta de antes, pois estamos um ao lado do outro... E agora, aquele anel na minha mão esquerda era a prova desse relacionamento. Só que por falta de tempo – e também por sensatez – iremos oficializar o casamento depois da universidade. Até lá, ainda teremos muito tempo pra planejar tudo que quisermos, para onde iremos... E aproveitar essa fase assim como todas as outras.

                No dia seguinte ao pedido, ele me contou tudo: Sobre Gilbert, sobre o plano, o anel, e também – para a minha surpresa - que ele já sabia que eu estava no telefone. Fiquei um pouco chateado (afinal, minha voz tinha sido convincente, não?), mas depois acabamos caindo na risada... Arthur F. Kirkland... Como eu não percebi?

                Igualmente, eu o falei sobre tudo que eu passei, sem ele. Falei do que eu sofri, falei da rotina, e dos cortes. De como eu me cortava de novo e de novo, no mesmo lugar. E ele quase me matou quando ouviu falar dos cortes. “Arthur, que idiotice, por que nunca me contou isso?”, e entre outros sermões. Acabei me revoltando de novo, e acabamos brigando... Aquele foi um dia um tanto difícil. Mas já tivemos tantos dias assim, que nem tem mais importância. Afinal, sempre acabamos juntos...

                Um outro dia, não me lembro, talvez duas semanas depois, encontramos por acaso aquele francês que havia me maltratado. Agora ele trabalhava numa floricultura ali em Londres - para a minha surpresa – e ao mesmo tempo cursava Culinária. É claro que Alfred ficou do mesmo jeito quando reencontrei Gilbert, mas depois de uns puxões de orelha consegui fazê-lo mostrar-se decente... Ou queríamos que acontecesse tudo de novo?

                Apesar de tudo, Francis é muito gente boa – embora tenha um histórico de piadas sobre britânicos um pouco irritantes -, e marcou presença no casamento logo que soube da notícia. “É claro que eu sabia que vocês estavam juntos, desde o colégio. Quem nunca? Mas nunca imaginei que um dia... Ohnohnohn...”, foi a citação dele. Fiquei morto de vergonha; nossa, será que estava tudo tão claro assim?

                De um modo, voltei a minha rotina. Mas agora, ela era diferente. Todos os dias ao acordar, ao invés de um silêncio hesitante, eu ouvia um “Bom dia”. Toda vez que eu saía, ao invés de um vazio, eu era acompanhado de mãos dadas. Todas as noites que ficávamos juntos – de qualquer forma – eu ouvia um “Eu te amo”. Todos os momentos dessa rotina que antes eu tentava evitar, agora eu queria que se estendesse até o infinito. Que nunca acabasse.

                Só sei que agora, eu não tenho mais nada a pedir. Nem mais nenhum motivo para me cortar, pensar em suicídio ou qualquer uma dessas outras coisas daquela época. Mas se não fosse por ele, eu teria continuado aquele mesmo Arthur de antes. Aquele Arthur que nem acreditava em si mesmo. E é por isso que eu tenho que agradecer. Agradecer todos os dias a ele, que foi quem me fez levantar, e foi quem me fez feliz.

                Como estou hoje.