Eyes On Fire escrita por Carol M


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Sinto muito meeeeesmo pela demora de meses e nem sei se alguém realmente vai ler esse capítulo, mas decidi postar, porque... Vai saber, né? Bom, a história continua!



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Era estranho viver debaixo do mesmo teto que Clarisse, a mesma garota que parecia atormentar Ivy todos os dias. Ela sabia que tudo agora seria mais difícil, pois não tinha nenhum amigo no chalé de Ares como tinha no de Hermes e todos pareciam muito distantes e reservados, até mais do que os filhos de Hefesto. Não conseguira ver Andrew desde que fora proclamada filha do deus da guerra e teve que se mudar para aquele lugar cheio de regras e horários estipulados. Ivy queria voltar para o chalé 11 desde o momento em que pôs o primeiro pé dentro daquele cômodo cheio de armas. Parecia que a guerra seria ali dentro.

Em seu segundo dia como filha de Ares, Ivy acordou mais cedo do que todos e se embrenhou na mata, próximo ao chalé de Hefesto. Assim que Andrew saísse, ela saberia e então eles poderiam conversar com calma. Sentava-se na pedra por alguns minutos, porém logo se levantava e olhava para fora da mata, analisando cada centímetro do chalé, procurando movimento. Quando a porta se abriu e as duas garotas saíram, Ivy já começou a voltar para sua pedra quando ouviu uma risada característica e familiar. Cheia de esperança, assobiou e Andrew virou-se no mesmo momento, abrindo um lindo sorriso para ela e se despedindo das meninas que o acompanhavam. Logo, ele a enlaçou pela cintura e Ivy o apertou contra seu corpo, feliz em sentir alguma coisa que não fosse distância.

A garota tentou conter as lágrimas, mas as mesmas já rolavam por suas bochechas livremente. Ivy sentia-se derrotada, mas já não ligava, apenas queria que aquela aflição saísse de seu peito o mais rápido possível. Andrew caminhou com Ivy presa a seu peito até a árvore sob a qual haviam se beijado apenas dias atrás e sentou-se, levando a garota consigo.

- Você está bem? – perguntou, passando a mão nos cabelos negros da filha de Ares. Ivy fechou seus olhos e puxou Andrew para mais perto, olhando no interior de seus olhos escuros, querendo descobrir se ele realmente se importava ou se era apenas uma pergunta casual.

- Acho que sim... Obrigada por perguntar. – respondeu a garota, abrindo um pequeno sorriso. – Você foi a primeira pessoa que se importou nesses últimos dias, sabia? Todos no chalé de Ares são estranhos e troncudos.

Ivy pegou a mão calejada de Andrew e beijou-a, passando seus dedos pelo ferimento que ela prometera que cuidaria. O garoto de repente virou a cabeça de Ivy e encostou seus lábios nos dela, enlaçando-a pela cintura. Ivy sorriu quando se separaram e continuou presa ao garoto, apenas apreciando o momento.

- Sabe... Poderíamos fazer algo hoje, que tal? – perguntou Andrew, fazendo pequenos círculos no braço de Ivy.

- O que você sugere? – Ivy disse, brincalhona. Queria muito fugir da rotina do chalé de Ares por, pelo menos, algumas horas. Queria sentir o gosto da liberdade, algo que desconhecia desde que entrara no Acampamento.

- A praia é bem bonita. E conheço alguns pontos que ninguém nos achará... – completou Andrew, olhando para a garota, tentando imaginar o que ela achava da ideia.

- Acho que uma escapadinha não fará nenhum mal. – Ivy riu e levantou-se, estendendo sua mão para que o garoto a agarrasse. – Vamos?

Ambos caminharam por atalhos cheios de obstáculos e de pouca chance de locomoção, mas tudo valeu a pena para Ivy quando avistou o mar tão próximo de si, sem ninguém para incomodá-la. Tirou seu sapato e correu até a água, rindo escandalosamente enquanto sentia o frio em suas pernas, aumentando enquanto caminhava dentro do oceano. Sentiu algo a puxando para baixo e começou a bater em Andrew quando percebeu que ele ainda tinha coragem de fazer uma brincadeira daquele tipo com ela.

- Seu idiota! – gritou ela, rindo enquanto ele nadava para longe de sua fúria. Poucos segundos, sentiu braços a sua volta e sorriu, virando-se e enlaçando o pescoço de Andrew com força, sentindo sua respiração contra a boca dela. Quando a distância foi quebrada, nada mais fazia sentido. Ivy apenas deixou que aquele momento lhe levasse a um novo patamar, diferente do que se encontrava nos últimos meses. Ela nunca vira sorriso tão brilhante como o do filho de Hefesto e aquilo a deixou encabulada. Ivy não merecia isso, aquela felicidade toda. De repente, fingir não estava em seus planos e sua expressão murchou rapidamente.

- O que foi? Aconteceu alguma coisa? – perguntou Andrew, encarando-a fervorosamente. Ivy tinha que inventar algo, e rápido.

- Nada... Coisas bobas apenas. – uma rajada de vento a atingiu em cheio e colou seu corpo no de Andrew. – Podemos sair agora? Estou congelando.

O filho de Hefesto puxou-a para fora da água e ambos se sentaram em um tronco próximo a margem do mar. Ainda segurando a mão de Ivy, Andrew encarava o céu com uma serenidade de se espantar. Parecia tão feliz.

- Esse azul... Me lembra minha família, sabe? – ele começou a falar e Ivy não ousou interromper. Queria muito saber de onde aquele garoto teria vindo. – Minha mãe adorava essa cor. Nunca me disse o porque, mas sempre achei que tinha algo a ver com o meu padrasto. Seus olhos eram tão azuis, que o próprio oceano teria inveja, se pudesse.

Ivy riu e apertou um pouco mais a mão de Andrew, dando o sinal que ele precisava para continuar sua história. Ele parecia ter uma vida boa fora daquele acampamento, poderia viver em paz. Assim como ela pôde um dia.

- Quando minha mãe conheceu Hefesto, achou que ele era o homem mais esperto e interessante do mundo, porque ele sempre contava suas peripécias com armas e outras coisas. Ela trabalha para o exército, então criar armas era a melhor qualidade que um par poderia ter e ela então tinha achado alguém que compartilhava sua afeição. Porém, logo, ela teve que voltar a se alistar e Hefesto se afastou dela, sabendo apenas meses depois que ela estava grávida, quando ela voltou para casa em recesso. Após meu nascimento, eles nunca se viam, então ela acabou encontrando meu padrasto, com quem teve meu irmão mais novo. Agradeço que ele se livrou do Inferno que é a vida de um semideus, sabe? – Andrew apenas olhava para a areia e, quando terminou, olhou no fundo dos olhos de Ivy. – Mas, chega de falar de mim. Conte-me mais sobre você, Ivy.

A garota sabia que aquela hora chegaria, mais cedo ou mais tarde. Ainda assim, estava despreparada e realmente não sabia o que dizer para Andrew, o que inventar. Desviou o olhar para o oceano e encantou-se com o brilho do mesmo. A água estava quase translúcida, as ondas quebrando às margens com uma leveza impressionável. Respirou fundo e chegou ainda mais perto de Andrew.

- Eu nunca fui uma daquelas pessoas com histórias impressionantes, sabe? Eu tenho uma mãe, uma irmã e uma gata vira-lata. Meu pai nos abandonou quando eu era ainda pequena, não me recordo muito bem de seu rosto, mas sei que tinha a voz firme. Parecia até a de um militar... Eu achava que ele era isso desde criança. Minha irmã é mais nova, chama-se April. É a voz da casa, sempre mandando e desmandando em mim e em minha mãe. – Ivy riu sozinha naquela praia, fuzilando o mar com o olhar. – Quando eu vim para cá, vim sozinha. Fazia um treino especial para um acampamento de férias e meu instrutor me orientou a tentar passar um dia dentro da floresta. E acabei chegando ao Acampamento Meio-Sangue. Às vezes, eu acho que é alguma piada de mau gosto, que logo acordarei desse sonho.

Andrew observou enquanto uma lágrima descia pela bochecha iluminada de Ivy e a limpou antes que chegasse ao queixo da garota. Ela sorriu e virou-se, admirando a beleza do garoto que estava à sua frente. O filho de Hefesto beijou o topo de sua cabeça e riu da idiotice dos dois, enquanto caminhava pela praia sem rumo. Ainda não era noite, mas não tardaria a ser. Ivy sabia que deveriam voltar, mas aquele momento, mesmo sem nenhuma emissão de palavras, não deveria ser acabado de forma tão brusca.

- Eu acho que deveríamos ir ao refeitório... Já está na hora do jantar e creio que Quíron não iria gostar de nos ver perambulando até tarde na praia. – disse Andrew, segurando a mão de Ivy. A garota assentiu e ambos começaram a andar até o refeitório, cheio de semideuses loucos por uma refeição depois de um longo dia de treino. Ivy se despediu de Andrew com um simples roçar de lábios e foi na direção da mesa do chalé de Ares. Agradeceu por não ter que encarar Chris, porém podia sentir o olhar do garoto sobre si e passou a refeição toda de cabeça baixa. Provavelmente, ele vira toda a cena e talvez quisesse tirar satisfações com ela. Nervosa, mal tocou em sua comida e dirigiu-se ao chalé de número cinco, sentindo-se mal. Não sabia o que pensar e apenas jogou-se em sua cama afastada da dos outros, olhando para o teto como se o mesmo fosse lhe dar todas as respostas que queria.

Bateram à porta. Ela não quis atender, mas, após ouvir a voz de Andrew, levantou-se e correu até a mesma, puxando o garoto para um abraço demorado. Andrew a arrastou até sua cama e deitou-se junta a ela, acariciando seus cabelos cacheados.

- Eu odeio esse lugar, sabia? Tudo aqui é frio, estranho e... – Ivy parou de falar de repente, estremecendo da cabeça aos pés. Agarrou-se ao peito de Andrew e suspirou pesadamente. – Queria poder ficar com você no chalé de Hefesto... Me sentiria muito melhor.

- Bem, posso dizer que eu me sentiria muito bem em tê-la como minha convidada em meu chalé. – respondeu Andrew, olhando diretamente nos olhos castanhos da garota. Rindo, Ivy bagunçou seu cabelo marrom e brincou com a gola da camiseta do garoto. – E eu também me sentiria muito bem com muitas outras coisas que poderíamos fazer juntos, só eu e você...

Ivy parou e encarou Andrew com fervor, medindo se o que ele havia dito era verdade. Quando percebeu que sim, seu sorriso aumentou consideravelmente e ela sentou-se, puxando o garoto para um longo beijo. Andrew colocou seu peso sobre o corpo de Ivy e voltou a tocar os lábios da mesma com os seus, torcendo para que aquele momento não acabasse nunca. Ivy não sabia o que estava fazendo, e, mesmo sabendo que iria se arrepender depois, continuou ali, mordendo o pescoço de Andrew levemente pelos próximos minutos. Foi então que a porta rangeu e Clarisse entrou, fechando a porta atrás de si. O barulho surpreendeu Andrew que pulou e só parou de se remexer quando chegou ao chão de madeira do chalé de Ares. A meia-irmã de Ivy arregalou os olhos e encarou o garoto por vários segundos, até que fez um pequeno gesto, indicando que ele deveria sair. E rápido.

Ele nada mais falou. Caminhou até a porta e nem sequer olhou para trás, sabendo que qualquer movimento brusco poderia ser uma chicotada a mais no castigo de Ivy. Clarisse nada disse, apenas se trancou no pequeno banheiro enquanto Ivy ponderava sobre o que fazia em seguida. Não sabia se apenas agia como sempre, ignorando Clarisse, ou se lhe dizia alguma coisa, como implorar para não contar para ninguém. Porém, quando a menina saiu do banho com os cabelos pingando pelo chão, a coragem de Ivy fugiu e não deixou nem um bilhete de retorno. E ela sabia. Não havia como dizer nada a Clarisse, pois a mesma simplesmente não se importava. Havia feito o mesmo com Chris e havia sido pega, é verdade. Por que acabaria com a raça de Ivy então? Não fazia sentido! Ela não rebaixaria ao ponto de ser o sujo falando do mal lavado. Seria pura confusão de adolescentes mimadas. E Clarisse não era isso.

Dando de ombros, Ivy trocou de roupa e deitou-se em sua cama, pensando no que faria no outro dia. Teria que treinar, pois faltara muitos treinos desde que fora proclamada filha de Ares e não queria que Quíron tivesse qualquer motivo para castigá-la por não cumprir suas funções. Suspirou e fechou seus olhos, torcendo para que logo o sol raiasse do lado de fora para que fizesse seus afazeres e, em seguida, falasse com Andrew sobre aquele momento constrangedor.

Seu pedido foi atendido, finalmente, e assim que os filhos de Ares levantavam aos poucos de suas camas, Ivy abriu seus olhos e reclamou de frio. O Acampamento nunca fora tão congelante, nem mesmo nas madrugadas em que caminhava até a janela do chalé e a abria para sentir a brisa e ouvir o farfalhar das folhas escuras das árvores. Parecia que aquele dia seria bem difícil.

Pegou uma nova muda de roupas do Acampamento e dirigiu-se até o banheiro, trancando a porta atrás de si. Olhou-se no espelho, para aquela garota de enormes olhos castanhos e bagunçados cabelos enrolados. Será que algum dia seria capaz de ter a vida que tanto sonhava? Piscou com força e molhou o rosto com a água mais fria que já havia tocado, parecendo que o mesmo estivesse sendo cortado por zilhões de pequenas e pontiagudas facas. Reprimiu um grito de dor e apenas trocou-se, a cor laranja berrante chamando a atenção no cenário branco dos azulejos sem nenhuma decoração. Com o coração saindo pela boca, deixou o cômodo e caminhou até a porta do chalé, fechando-se atrás de si. Sentiu o ar entrar em seu organismo e demorar para deixá-lo, como se Ivy o saboreasse. Sorrindo, a garota andou até o refeitório, esperando que Andrew tivesse chegado mais cedo ao mesmo para que pudessem conversar sobre o que ocorrera na noite anterior. Nada do garoto.

Ivy sentou-se em sua mesa e comeu silenciosamente, como sempre. Não havia nada a acrescentar a nenhuma conversa sobre armas que os filhos de Ares geralmente tinham. Com a cabeça baixa, deixou o Pavilhão e dirigiu-se à Arena, pronta para mais uma sessão de tortura. Felizmente, Clarisse escolhera exercícios individuais e Ivy escolheu seu boneco de treino, logo o fuzilando de golpes de espadas e lançando facas em sua direção, acertando precisamente seu coração e cabeça. Sorrindo, olhou para a arquibancada, onde avistou Andrew batendo palmas para seu trabalho, mostrando suas covinhas em um lindo gesto de alegria.

- Vejo que tornou-se meu novo perseguidor, estou certa? – Ivy perguntou quando o treino se encerrou. Andrew riu e concordou com a cabeça.

- Parece certo para mim. – disse o garoto, fazendo uma pequena pausa – Escute, sobre ontem à noite...

- Não seu preocupe, nada acontecerá com você. Ou com ela. – uma voz parou Andrew no meio de sua fala e Ivy arregalou seus olhos, encarando Clarisse. Sua meia-irmã apenas deu um pequeno sorriso e desapareceu na pequena multidão de meninos e meninas. Pasma, Ivy emudeceu.

- Bem... Isso responde a minha pergunta. – Andrew brincou, passando seu braço pela cintura de Ivy. – Parece que ela não é tão tirana quanto parece, Ivy.

- É... Parece. – respondeu a garota, dando uma bela risada de toda aquela situação juntamente com Andrew. Parecia brincadeira.


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