Eyes On Fire escrita por Carol M


Capítulo 3
Capítulo 3




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Ivy não dormira, então fingiu enquanto todos os campistas se levantavam e saíam para seus treinos. Quando apenas sobrara ela e mais alguns filhos de Hermes, correu para o banheiro e vomitou tudo o que comera no dia anterior. Sentia-se doente, estúpida e impotente por não poder fazer nada contra o pedido de Éris. Não sabia como iria encarar o garoto naquele dia.

Mas, pensando bem, Ivy não tinha nada com ele. Não eram amigos, apenas conhecidos distantes. Ela precisava fazer algo naquele caso. Não podia vacilar com Éris, pois sabia que as consequências seriam grotescas e inevitáveis. Não haveria acordo.

Engolindo o desprezo, Ivy saiu do banheiro e resolveu que seguiria o pedido da deusa. Tinha que fingir, seduzir o garoto até a toca do leão e dar um último empurrão para que ele fosse completamente engolido. Dirigiu-se até o Refeitório, aonde todos se encontravam e teve a primeira refeição do dia, rindo como nos outros dois dias que estava ali. Precisava mascarar tudo o que sentia dentro de si e apenas transparecer o que Éris queria – felicidade, carinho, compreensão e amor. Muito amor.

A mesa de Hefesto não ficava muito longe, portando sorrateiramente Ivy checava como estava Andrew, que basicamente ria e comia de forma serena. Se ele fosse tão calmo quanto parecia, o bote não seria tão difícil assim. Após a refeição, o chalé 11 tinha a Arena para si e foi para onde todos foram. Chris logo se aproximou de Ivy e ambos começaram a rir e a fazer piadas uns dos outros. Quando chegaram à Arena, Chris ajudou a garota com a luta de espadas. Parecia fácil, mas requeria muita agilidade, flexibilidade e atenção. Logo, Ivy pegou o jeito, mas não o necessário para derrubar Chris.

- Nada mal... Sabe que tem muito potencial, certo?

- É o que eu espero. – respondeu Ivy, saindo da Arena depois de um exaustivo treino. Os outros campistas foram para a Parede de Escaladas, praia ou até mesmo treinar com o próximo turno na Arena, chalé de Atena. Ivy, não. Ela foi para Artes e Ofícios.

Pensou que morreria de nojo de si quando visse Andrew novamente, frente a frente, mas não o fez. Viu o garoto, para sua surpresa, como uma presa fácil e ela era uma caçadora ágil e precisa. Nunca tentara seduzir ninguém, tinha que admitir, porém vira sua mãe contar histórias consistentes de suas antigas relações, como conquistava os homens. Porém, Ivy decidiu usar tais dicas apenas no último dos casos.

- Sempre tenho esse horário livre, portanto acostume-se com minha presença – brincou ela, assim que Andrew adentrou a mata. Revirando os olhos, ele riu e sentou-se na mesma pedra do dia anterior.

- Nenhuma objeção. – Ivy riu um pouco mais – Odeio ficar aqui sozinho, é simplesmente aterrorizante.

- Sério? Por quê? Tem medo?

- Não, só não gosto muito do silêncio. É embaraçoso. Por isso, adoro brincar e contar piadas. Isso mantém o ambiente com uma boa energia. Se eu risse sozinho, a coisa seria completamente diferente.

- Entendo – Ivy concordou, ajeitando-se em sua pedra – Adoro ficar na floresta. É libertador.

- Você daria uma ótima filha de Deméter, então. Todos os filhos dela amam se embrenhar na mata, quase toda hora esbarramos com algum cheio de folhas pelo corpo. – riu Andrew, mostrando um lindo par de covinhas. Ivy não pôde deixar de imaginá-lo quando criança, correndo por todos os cantos da casa aonde provavelmente vivia com sua família. Parecia tão angelical nos devaneios da garota, tão quebrável. Diferente desse garoto cheio de ferimentos que ela via à sua frente.

- Creio que sim.  – concluiu a garota, partindo para uma pergunta que estava deixando-a louca. – Escute... O que Quíron dizia ontem na fogueira? Eu simplesmente dormi durante a história, o final pareceu bem interessante.

Andrew franziu o cenho e depois, abriu um pequeno sorriso. Ivy imaginava quantas vezes todos aqueles campistas teriam ouvido aquela mesma história, provavelmente toda semana. Retribuiu o gesto quando percebeu que Andrew estava realmente disposto a passá-la adiante.

- Bom, é a história de Percy Jackson, o único filho de Poseidon. Quer ouvir desde o início?

- Por favor. Se não for incômodo, é claro.

- Não é. Apenas... Ouvimos a mesma história quase todos os dias, sem tirar nem por vírgulas. É cansativo, mas vou contar mesmo assim.

Ivy ouviu com atenção a todos os detalhes da história que Andrew lhe dizia, cheia de monstros mitológicos e cenas aterrorizantes que a deixaram louca e se remoendo, mesmo sabendo que Percy Jackson estava vivo e são. Andrew lhe contava todos os detalhes da vida do filho de Poseidon e de como vivera todos aqueles longos anos no Acampamento Meio-Sangue, anos que Ivy pretendia passar ali também.

Quando a história se cessou, Ivy decidiu voltar para o chalé 11 para descansar um pouco e deixou o filho de Hefesto com seus irmãos e irmãs, pronto para mais uma sessão de criação de armas. A garota não sabia como ele conseguia permanecer naquele Inferno na Terra. Era simplesmente muito quente para qualquer pessoa no mundo.

Encalorada apenas por seus pensamentos, Ivy acelerou o passo e chegou até o chalé vazio, pois todos estavam treinando na Arena. Sabia que receberia um belo castigo se fosse pega por Quíron ou por algum líder dos chalés, mas não ligava muito. Naquele momento, queria apenas descansar e ter uma noite, ou dia no caso, de sono decente, sem interrupções. Tirou seus sapatos e jogou-se em sua cama, fechando seus olhos e rendendo-se ao mundo dos sonhos e pesadelos, consequentemente.

A cena era vívida e muito real, até no quesito de sonoridade. Ivy conseguia ouvir o canto dos pássaros pela manhã e o farfalhar das folhas das árvores do lado de fora de sua antiga casa. De alguma maneira, sabia que, em apenas segundos, sua irmã pularia em seu colo e as duas começariam a brincar do que a menor quisesse. April gostava de correr pelos corredores com arco e flechas de mentira, atirando em todos os lugares que podia enxergar. As flechas eram de ventosas e, na medida que se andava pelos cômodos, podia-se traçar o caminho pelo qual a garota andara. E Ivy adorava isso nela.

Como de praxe, April começou a pular em sua irmã mais velha apenas segundos depois que a cena começara. Ivy assustou-se e April começou sua corrida matinal pela casa, fazendo com que a mais velha abrisse um sorriso encantador. Logo, Ivy perseguia a menor como um caçador e sua presa. As duas gritavam pelos cômodos e qualquer mãe comum brigaria com as duas por atrapalharem os vizinhos ou o seu próprio sono. Mas a Sra. Monroe era diferente. Ela estava dormindo, sim, mas não acordaria tão cedo.

Quando a mais velha cansou-se, jogou-se no sofá de dois lugares e começou a rir loucamente. April caminhou até ela e sentou-se ao seu lado. Passou a mão em seus cabelos e disse, calmamente:

- Ei, Ivy, acorde! Está na hora do jantar. – Então, a garota abriu os olhos. Quem a chacoalhava era Chris, rindo um pouco de Ivy, que mantinha seus olhos arregalados pelo susto que tomara ao acordar daquele sonho. – Te assustei, sonhadora?

- Não... – respondeu Ivy, colocando sua cabeça entre suas pernas, respirando lentamente – Acho que não. Estou apenas um pouco tonta.

- Certo. Bem, vamos! É hora do jantar! – exclamou Chris, animado. Ivy tentou dar um leve sorriso, porém pareceu apenas uma careta um pouco medonha demais para o garoto, que franziu o cenho – Tem certeza que está bem?

- Tenho, não se preocupe. Só estou um pouco cansada... Meu corpo dói um pouco. – disse a menina, esperando que sua desculpa passasse despercebida.

- Tudo bem, consegue ir jantar ou prefere alguma coisa que Travis e Connor trouxeram em seu novo “carregamento”? Temos alguns salgadinhos e diet Cokes.

- Seria bom, acho que não daria conta de um batalhão de pessoas gritando e comendo ao mesmo tempo. Não hoje.

Chris assentiu e caminhou até a cama de um dos gêmeos, retirando dois pacotes de salgadinhos crocantes e duas latinhas de coca. Deu de ombros e sussurrou: “caso seja necessário, nunca se sabe” e bateu em retirada para o refeitório, deixando a garota para trás, presa em seus próprios devaneios.

Ivy pensava em sua irmã, April, pulando em seu colo no sofá de seu sonho. Parecia uma realidade tão diferente da que vivia, presa a um Acampamento cheio de pessoas mal encaradas que nem lhe davam “bom dia” antes de começarem a fofocar pelos cantos. Ivy odiava aquilo, a pouca discrição. Não ligava para a opinião alheia, mas também não a queria ouvir de tão perto.

Apenas abriu o primeiro pacote de salgadinhos quando seu estômago reclamou de fome. Logo, o saco estava completamente vazio e a garota abriu a latinha de refrigerante, ainda pensando na superficialidade das pessoas, principalmente adolescentes. Quando terminou o segundo saco de petiscos e abria a segunda latinha de coca, resolveu levar a mesma até a praia.

Assim que saiu do chalé, olhou para a direção do Refeitório, procurando pela enorme fogueira, vendo-a em seguida. Todos estavam sentados provavelmente ouvindo mais uma longa história de Quíron ou de Sr. D. Revirando os olhos, Ivy começou a caminhar até praia e, quando lá chegou, lembrou-se de sua irmã. April amava ir até a praia, onde fazia vários anjos de areia, espalhados pela área onde elas ficavam. Muitas vezes, Ivy a acompanhava e muitos turistas achavam engraçado, porém elas nem ligavam. Era algo especial para as duas.

Ivy equilibrou sua latinha de coca em uma rocha e, quando olhou a si mesma, está completamente banhada em areia, agora em um tom escuro pela pouca iluminação da lua. Seu anjo de neve estava longe de ser tão completo e bonito como era quando April a acompanhava, mas Ivy sorriu mesmo assim, pois sabia que aquilo lhe fazia algum sentido. Fechou seus olhos e continuou mexendo os braços e pernas até que ouviu um pigarro. Franzindo o cenho, olhou para cima e reprimiu um grito quando viu os irmãos Travis e Connor acompanhados de Chris que sorria de orelha a orelha.

- Acho que alguém quer relembrar a infância, pessoal! – comentou Chris, rindo com os colegas. Ivy ouviu uma risada diferente também, feminina. Reprimiu o instinto de revirar os olhos quando avistou Clarisse copiando os garotos. Mas ela, por outro lado, caçoava de Ivy de uma forma maléfica.

- Muito engraçado! – exaltou-se a garota, balançado os cabelos repletos de areia. – Façam piada, podem rir, mas um dia... Serão vocês e aí eu vou rir. E muito!

- Está chateada, Ivy? Não fique, todos já passamos por situações constrangedoras no Acampamento, faz parte da arte de Iniciação.

- Tanto faz... O que estão fazendo aqui, afinal? – perguntou Ivy, com um tom brincalhão. – Não deveriam estar lutando contra dragões com Quíron ou coisa parecida?

- Pois é... Os dragões morreram e nós voltamos a nossas vidas miseráveis. São quase onze horas, temos que voltar para os chalés. – avisou Connor, virando-se para a direção dos chalés.

- Certo... Vamos. – disse Ivy, livrando seu corpo da areia.

A ida até o chalé foi maçante par Ivy. Sentia-se suja demais e apenas queria tomar um longo banho, porém sabia que estava fora de cogitação, uma vez que muitos campistas não conseguiriam dormir e reclamariam. E arranjar brigas era a última coisa que um camaleão como ela queria. Portanto, engolindo o nojo de si, deitou-se em sua cama e tentou dormir normalmente, não obtendo sucesso. Ao invés, encarou o teto e começou a imaginar como faria para seduzir o filho de Hefesto.

Andrew era muito amigável e nunca lhe faltava assunto, o que era ótimo para Ivy. Filhos de Hefesto pareciam ser muito reservados, mas ele era diferente. Talvez tivesse herdado a personalidade de sua mãe ou algo parecido. Ivy sabia que deveria pensar em Andrew como um objeto, algo descartável. Não sabia o que as deusas fariam e muito menos poderia ser curiosa para perguntar. Discrição era preciso.

Quando olhou para fora pela janela, Ivy já podia observar alguns raios de sol no horizonte e perguntou-se por quanto tempo aguentaria aquela rotina. Treinar e nunca dormir. Porém, não podia evitar. Sentia-se pressionada demais, sem tempo. Os primeiros campistas começaram a levantar e a garota entrou no banheiro, pronta para retirar o restante da areia de seu corpo e roupas. Acabou levando dois tombos dolorosos, pois dormira no meio do banho. Sabia que os hematomas logo apareceriam.

Logo, Travis até a garota, contando piadas e dizendo toda a rotina daquele dia. Treino com espadas, com facas ou arco e flecha; Escalada; e depois um jogo na Quadra. Ivy reprimiu o instinto de se atirar na cama e nunca mais levantar e simplesmente engoliu o choro e abriu um lindo sorriso para o garoto. Todos se encaminharam até o refeitório e tiveram a primeira refeição do dia. Ivy nada comeu, pois sabia que se concentrasse em levar a comida até a boca e depois mastigar em silêncio acabaria desmaiando em cima do prato, então continuou conversando e usando o resto de energia que ainda lhe sobrava.

Com o estômago roncando e olhos semiabertos, a garota caminhou com o chalé 11 até a Arena, onde agarrou uma espada e começou a treinar com um boneco de pano. Alguns minutos se passaram e Ivy já não sabia onde estava ou com quem estava. Piscando seus olhos com força, acertou o boneco bem no coração, sentindo uma pontada no peito. Connor e Travis anunciaram a mudança de atividade para o treinamento corpo a corpo e Chris logo juntou-se a Ivy.

Os dois começaram a lutar fraco, aumentando o nível pouco a pouco. Quando Ivy já não conseguia ver nada, apenas borrões, sentiu uma forte dor em seu braço e tentou focar e voltar a lutar.

- Me desculpe, Ivy! Foi fundo? – Chris perguntou, chegando perto da garota.

- Não, estou bem, vamos continuar. – respondeu, cambaleando e apenas parando quando atingiu uma parede, caindo pesadamente.

- Ivy? – ela ouvia uma voz, mas não sabia de quem era. – Você... está fria. Você comeu hoje, não é?

 Nada respondeu, apenas lutava para manter seus olhos abertos.

- Travis! Travis! – a voz gritava, enquanto Ivy sentia braços a sua volta. – Ivy, consegue apoiar em mim?

E a garota foi retirada do chão frio, relutando em ir. Queria ficar e dormir. Por que não podia? Lágrimas brotaram em seus olhos enquanto sentia o ar falhar e as pernas tremerem. Seu corpo cedeu nos braços de Chris e ela abriu seus olhos por alguns segundos, encarando-o.

- Preciso levá-la a Enfermaria! Acho que ela se esforçou demais...

- Claro, leve-a agora! – disse Travis, com um tom de voz preocupado.

Sentindo sua cabeça latejar, Ivy reclamou de dor e deixou-se chorar. Chris a apertou em seus braços e começou a dizer coisas reconfortantes enquanto a levava para a Enfermaria do Acampamento. Ela já não sentia suas pernas, apenas formigamentos que aumentavam gradativamente. Era estranho se sentir tão frágil quando enfrentara tantos desafios em sua vida, mas sabia que tinha feito a coisa errada. Deixara que Éris tomasse conta de sua mente, de seus devaneios, suas tarefas. Se deixasse que aquilo acontecesse novamente, as consequências seriam desastrosas e sabia que não conseguiria tomar a rédea da situação e dependeria de outra pessoa como fazia naquele momento.

Arriscou abrir seus olhos, mas suas pálpebras pareciam pesar toneladas, forçando-a apenas a escutar toda a situação pelos próximos segundos. Escutara algo sobre ter treinado demais e que precisaria de muito repouso pelos próximos dias. Queria reclamar, e muito. Não poderia ficar de cama por tanto tempo, tinha um trato com as deusas e precisava cumpri-lo o mais rápido possível. Tentou abrir sua boca, mas nada saiu da mesma.

- Ivy? – Chris chamou-a. – Olha, sinto muito se não posso ficar aqui com você, mas preciso voltar para a Arena. Será bem cuidada, eu prometo.

E o sono se alastrou pela garota, deixando-a em um estado de completa inércia. Rendeu-se finalmente.


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Notas finais do capítulo

Pois é, gente, obrigada pelos reviews :) A história está ficando cada vez mais eletrizante <--- Eu filosofando estilo sessão da tarde, mas foda-se! >.



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