O Deus Sem Nome e o Galho de Álamo escrita por Luiza


Capítulo 20
Precisamos de uma mortalha


Notas iniciais do capítulo

Antepenúltimo capitulooo (sim, eu sei que eu tinha dito isso capítulo passado, mas eu tive que dividir ele em dois, que tava com mais de 4 mil palavras. Pois é).
Para começar, vou fazer uma pequena chantagem emocional: Eu queria fechar a fic com 100 reviews pelo menos, e 5 recomendações, mas parece que a parte dos reviews não vai rolar, já que alguns leitores me abandonaram, ou pararam de comentar por razões indefinidas. Então eu vou fazer o seguinte: O último capitulo vai ser postado quando a fic tiver 85 comentários, no mínimo.
Se estiver demorando muito para atingir esse objetivo, é claro que eu vou postar, se não seria mita sacanagem.
Esse capítulo me deu muita dor no coração enquanto eu escrevia, e eu espero que vocês gostem...



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Ah, mas que droga!”. Foi tudo o que eu consegui pensar antes de puxar a varinha. Àquela altura o Ministério deveria estar querendo me dar uma passagem só de ida para Azkaban por usar magia fora da escola, sei lá, umas cinquenta vezes? Talvez cem.

-Aresto Momentum!

Cara, como eu amo esse feitiço. É extremamente útil! Como o esperado, paramos a alguns centímetros do chão antes de batermos nele de fato, mas da altura de que pulamos, nem isso funcionou. Tyler recomeçara a chorar desesperadamente, e Will caiu de mal jeito sobre seu braço e gritava de dor. Minha varinha também não teve muita sorte, fora partida bem no meio. Mais um motivo para querer me esticar no chão e chorar exatamente como Tyler estava fazendo.

Entenda: Para um bruxo, a varinha é praticamente tudo. Tem um valor sentimental muito grande.

Will grunhiu. Tanner estava ao seu lado, tentando esticar o braço do sátiro, que se contorcia e gritava, as lágrimas de dor escorrendo pelo rosto.

-Está quebrado- murmurou Tan.

Ele abriu a mochila e tirou de lá a camiseta laranja reserva e alguns quadradinhos de ambrosia, dando um para Will.

-Humm, tá bom, eu vou ver o que posso fazer, ok?- então tirou a camisa que vestia para fazer uma tipoia.

Um péssimo momento para esse tipo de pensamento, mas que tipo de garoto com quatorze ano tem... Quer saber? Vou ficar quieta.

Depois que imobilizou o braço de Will, Tanner vestiu a outra camiseta e virou-se para mim.

-Porque mesmo que eu que estou tratando um ferido? A filha de Apolo aqui é você.

Concordei com a cabeça.

-Tem razão, desculpe.

-Rose,- chamou Will, sentado na grama verde- Você pode dar um jeito nisso? Tipo, um feitiço de cura, ou sei lá- levantei a varinha quebrada para mostra-lo- Oh... Sinto muito.

-É, eu também.

Olhei para cima, para o céu que já escurecia. Mas aquilo era impossível! Não havíamos demorado tanto assim, certo?

-Perdi alguma coisa?-perguntei, confusa.

-Não sei o que quer dizer- comentou Will.

-Como pode estar escurecendo?

Tanner pigarreou.

-Quando você acordou já eram três da tarde, Rose. Nós demoramos umas duas horas para achar o esconderijo, e você e Dárion lutaram por uns quarenta minutos. Também é possível que os cortes, ahn... os cortes no seu rosto tenham deixado sua mente embaralhada. Tyler lutou por algum tempo antes de... Vocês sabem.

Um minuto de silêncio se seguiu, em que Tyler apenas soluçava. Will contorcia o rosto de dor, e eu acho que Tanner estava evitando me olhar.

-Está tão ruim assim?- perguntei para ele- Meu rosto?

Não que eu me importasse tanto com minha aparência, mas eu podia sentir o sangue seco em minha testa, minhas bochechas e em meu queixo. Os cortes também doíam tão intensamente que eu estava procurando não abrir tanto a boca para falar.

Com um certa relutância, ele examinou meu rosto.

-Não- respondeu- Não está tão ruim. Talvez nem deixe cicatriz e então vai... Vai ficar perfeito, como sempre.

Espero que o sangue não o tenha deixado perceber o quão corada fiquei. Tanner era muito legal, e eu havia aprendido a gostar da companhia dele, de verdade. Mas não desse jeito, pegando emprestado o vocabulário das pré-adolescentes chatinhas que passam o tempo todo falando de meninos. Ugh!

Resolvi fingir que não tinha ouvido seu comentário e me levantei.

-Melhor sairmos daqui antes que Dárion...- olhei para cima, na direção da Ilha, para me certificar de que não estávamos sendo seguidos, mas ela havia desaparecido completamente, como se nunca tivesse existido- Ah, graças aos Deuses!

Uma onda de alívio tomou conta de mim. Tan ajudou Will a se levantar e me ofereceu um dos quadradinhos de ambrosia, que eu coloquei na boca. Mais alívio. A dor começara a evaporar de meu rosto, mas a mão de pedra ainda apertava meu coração.

Olhei para o chão, onde o menino loiro, agora já mais calmo, dormia como se estivesse na cama mais macia do mundo. Aquilo fez com que eu me perguntasse quando fora a última vez que ele dormira em uma cama, em uma casa, com cobertores e tudo o mais. Acho que fazia muito tempo.

Novamente, o peguei no colo, fazendo o melhor que podia para mantê-lo confortável e dormindo.

-Posso carrega-lo, se quiser- Ofereceu Tanner, mas eu neguei.

Pode parecer ridículo, mas se não fosse por Tyler, seria eu que precisaria ser carregada. Ele salvou a minha vida, e eu não poderia retribuir. O mínimo que poderia fazer seria carrega-lo.

-Não, está tudo bem. Você pode ajudar o Will.

-Não preciso de ajuda!- exclamou Will, tirando de dentro da mochila uma de suas muletas- Mas você pode carregar o Galho. Eu queria mesmo era saber como vamos chegar em Nove York.

-E eu queria saber como vamos sair daqui- falei- O horário de visitação já deve ter terminado. Duvido que o portão esteja aberto.

Não estava.

Se acha que foi difícil pular a cerca com um menino sem memória adormecido e outro com o braço quebrado sem acionar o alarme, preciso que saiba que foi muito, muito mais do que isso. E nós acionamos o alarme, a propósito, mas conseguimos correr, mancar, nos arrastar ou ser carregados por uns três quarteirões antes de resolvermos parar para passar a noite.

Nos acomodamos, um ao lado do outro e escorados na parede lateral de uma escola qualquer, com apenas nossas mochilas nos dividindo. Dessa vez, Tanner foi o primeiro a pegar no sono e se juntar a Tyler. Eu, mais uma vez, não estava com sono. Provavelmente porque eu havia dormido até o meio da tarde, ou porque estava com a cabeça completamente cheia.

Will, por outro lado, não conseguia dormir por causa da dor que estava sentindo no braço. Acho que mais um pedaço de ambrosia, ou um pouco de néctar o faria se sentir melhor, mas não queríamos correr o risco de ele virar pó.

-Eu sou muito grata a você, Will- murmurei depois de um silêncio quase interminável.

Ele franziu o cenho.

-Por quê?

-Porque você me protegeu, mesmo que isso lhe custasse aquele monte de imbecis pegando no seu pé, dizendo que você era um aborto.

-Não tem nada de mais nisso, Rose. Eu só estava fazendo meu trabalho.

-Não tem nada de mais? Talvez para você não tenha, mas significa tudo para mim. Você não é apenas o meu protetor, é meu melhor amigo também, seu grande bode estúpido!

Ele revirou os olhos, mas estava sorrindo.

-Grande maneira de demonstrar- nós dois rimos, de depois de um tempo ele voltou a falar- Você também é minha melhor amiga, Rosie. O que é muito bom, porque se você fosse uma idiota como os outros, eu teria deixado você morrer nas mãos do Sr. Espinosos.

Ergui uma sobrancelha, em dúvida.

-O professor de Defesa Contra as Artes Das Trevas do primeiro ano?

-É isso aí. Ele era um monstro. Um manticore, para ser mais exato. Acabei com ele no final do ano, antes que tivesse a chance de te atacar.

Aquilo me surpreendeu bastante. Não o fato do Sr. Espinosos ser um monstro, isso se encaixava perfeitamente no perfil dele. Aquele cara me odiava com todas as suas forças. Mas o fato de Will tê-lo matado só para garantir minha segurança, era completamente... Legal!

-Não sei o que vou fazer sem você ano que vem- comentei, mais para mim mesma do que para ele.

-Rose, é só um braço quebrado, eu não vou morrer!

-Eu sei que não! Sua cabeça está cheia de pelos, ou o que? Estou dizendo que agora que me resgatou e eu sei que sou uma semideusa, você não vai mais ter que ficar me vigiando.

Will soltou um riso abafado, mas que soou alto em meio a todo aquele silêncio da rua vazia.

-Não vais se livrar de mim tão fácil, Melrose! Você é um caso especial, e precisa de vigio em tempo integral. Ainda vai ter que me aturar até sua formatura.

Não pude deixar de abrir um grande sorriso com aquilo. Pode parecer egoísmo, e talvez seja mesmo, mas eu passava mais tempo pensando em como seria meu próximo ano, sem Will lá para me fazer companhia, do que na própria missão. Agora, com uma coisa a menos para me preocupar, minhas pálpebras começavam a ficar pesadas. A última coisa que consegui murmurar antes de cair num sono profundo foi:

-Eu pretendo aturar você durante muito mais tempo depois da formatura, menino cabra.

_____________

O cheiro de amaciante, livros e canela adentrou minhas narinas, despertando-me de minha primeira noite sem sonhos desde o início da missão.

-Rose? Temos que ir. Temos que voltar para Nova York.

-Tanner, se quando eu abrir os olhos, sua jaqueta estiver sobre mim, eu juro que você...

-Eu estou vestindo a jaqueta, Rose!- disse ele, me cortando- Não se preocupe.

Abri os olhos e levantei-me. As ruas de Washington já estavam movimentadas.

-Que horas são?

-Oito da manhã- murmurou Will, examinando o céu- Temos bastante tempo. Querem comer?

Tomamos café em uma padaria ali por perto. Não, na verdade, nós compramos comida na padaria e comemos na calçada, já que nos proibiram de sentar lá dentro. Resolvemos que o próximo passo seria comprar passagens de trem de volta para Manhattan na estação, do outro lado da cidade. É claro que teríamos que ir a pé até lá. Eu carreguei Tyler numa boa na primeira hora de caminhada, mas algum tempo depois meus braços começaram a se cansar, e a tremer.

Tan ofereceu-se para carrega-lo umas sete vezes, mas eu sempre recusava. Precisava carrega-lo. Era como se eu estivesse testando a mim mesma, se eu não passasse, ficaria com uma divida eterna com o garoto.

Andamos duas horas. Duas exaustivas horas para chegar à estação, só para descobrir que nem o Chefe, nem o Gerente e nem a Subgerente nos deixariam entrar no trem no estado em que estávamos. Eu sabia que, provavelmente, eu devia ter limpado o sangue de meu rosto, mas era impossível toca-lo sem causar uma dor tão angustiante.

Mais meia hora até a rodoviária. Novamente, a resposta não foi boa. “Não vamos deixar quatro mendigos subirem no ônibus!”, disse a vendedora gordinha da bilheteria. “Não somos mendigos”, falei, tentando convencê-la. “Nem pensar, garota vermelha! Só porque está suja de sangue e carregando um garoto demente não significa que vou me apiedar de você!”

Aquilo me deixou com tanta raiva que não pude conter o olhar de ódio para a mulher. Depois de três segundos comigo encarando-a, ela já suava feito um porco, sua pele cheia de acne começando a ficar vermelha, como se tivesse passado muito tempo na praia e esquecido o protetor solar. Will botou a mão que não segurava a muleta em meu ombro e me puxou para longe dali.

-O que foi aquilo?- perguntou quando já estávamos nos dirigindo ao ponto de táxi mais próximo.

-Eu não sei! Eu só estou com muita raiva mesmo. Demente... Ela vai ver quem é demente quando eu a jogar nas profundezas do Tár—

-Rose!- interrompeu Tanner- Vamos, você é melhor do que isso. Não se estresse.

Revirei os olhos e apressei o passo, sentando-me no banco de espera da parada com raiva. Nesse ponto da história já era hora do almoço, e minha barriga roncava de dois em dois minutos. Eu, Will e Tanner nos revezávamos entre dar ambrosia e néctar para Tyler, descansar e tentar convencer algum motorista a nos levar até Nova York. Alguns diziam que não podiam nos levar até lá porque acabaríamos sujando o carro, outros porque não tínhamos dinheiro o suficiente e outros que nem sequer paravam para nos ouvir. Os pedestres também preferiam manter distância e ir pegar um táxi em outro lugar.

Ficamos nesse auê até as três horas da tarde quando, finalmente, um senhor, que devia ter lá pelos seus sessenta anos parou. Minha vez de tentar convencê-lo. Andei até o carro, e ele abaixou a janela.

-Senhor, eu e mais aqueles três outros meninos precisamos ir até Manhattan.

Ele olhou por cima de meu ombro para enxerga-los e franziu o cenho.

-E o que aconteceu o pequeno?-perguntou.

Não foi difícil para mim fazer as lágrimas aparecerem. Elas já estavam lá, era só permitir que rolassem.

-Não quero falar sobre isso, senhor, por favor. Só precisamos ir até Manhattan encontrar nossos pais!

O senhor abriu a boca, provavelmente para perguntar porque estávamos em Washington se nossos pais estavam em NY, mas mudou de ideia.

-Vocês têm o dinheiro?- indagou ele, ao invés disso.

Tirei da mochila em minhas costas todo o dinheiro que nos sobrava.

-Temos cento e dez dólares.

-Cento e dez? Mas isso não paga nem a metade da viagem, menina- exclamou, tentando parecer o mais calmo possível.

-Eu sei, mas é todo seu se nos levar até lá... Por favor.

O velho relutou, mas concordou e nós embarcamos. Se nada desse errado, chegaríamos lá em quatro ou cinco horas, bem a tempo do Conselho dos Deuses.

-Empire State, por favor.

Ele estranhou, mas assentiu e deu a partida. Logo, estávamos deixando a cidade de Washington em direção à Nova York.

_______________

-Não se preocupe, senhorita, chagaremos lá em menos de uma hora- disse o motorista olhando pelo espelho retrovisor, provavelmente porque eu estava chorando sem parar a uns cinco minutos.

Eu queria parar, realmente queria, mas depois de quatro dias (eu nem tinha mais certeza se foram mesmo quatro. Parecia uma eternidade) em que quase fui morta um milhão de vezes, quebrar minha varinha, e ter presenciado meu amigo perder completamente a memória, acho que eu precisava daquele tempo chorando.

Além do quê, as lágrimas faziam os cortes em meu rosto arderem ainda mais, e isso também me dava vontade de chorar.

-Eu sei- falei entre as lágrimas- Obrigada, senhor.

-Me chame de Albert, senhorita.

Forcei um sorriso.

-Rose. Me chame de Rose.

Tanner estava sentado logo atrás do assento do motorista, e eu estava ao seu lado, Tyler deitava-se encolhido com a cabeça em meu colo, enquanto eu acariciava seus cabelos loiros. Will, sentado no banco da frente também derramava algumas lágrimas. Talvez por causa da dor, talvez por causa do choque de realidade que estávamos tomando.

Mas Tanner não chorava. Cerrava os dentes e voltava os olhos para cima, esforçando-se para que as lágrimas não rolassem. Segurei sua mão, assim como ele havia feito quando eu estava prestes a enfrentar Dárion.

-Não tem nada de errado em chorar ás vezes, sabia?- sussurrei, para que só ele pudesse me ouvir.

-Pra você, talvez- sussurrou ele de volta- Mas essa é a regra número um no meu chalé. Filhos de Ares não choram. Por nada.

-Mas eles não estão aqui.

-Eu sei. Mas eu estou, e se eu chorar vou ser sempre o molenga, o fracote, o saco de pancadas e o alvo de dardos de todos os meus irmãos.

Agora sim ele parecia prestes a chorar. Apertei sua mão com mais força.

-Você não é como os outros filhos de Ares.

Ele conseguiu abrir um leve sorriso e me olhou pelo canto do olho.

-Qual foi sua primeira pista?

-Bom, eu já disse que você tem cérebro- ele riu- Mas, sério, não é só por isso. Você é doce, e simpático, e é muito agradável conversar com você. E você não espanca inocentes, isso conta muitos pontos para o seu lado.

-Obrigada- disse ele- E eu sei disso.

Revirei os olhos.

-Você é um bocó, Adams!

-É, mas eu sou um bocó doce, e simpático...

Nó dois começamos a rir, e Will se virou para trás, botando sua mão sobre as nossas.

-Os três bocós?- perguntou ele.

-Os três bocós- concordamos mutuamente.

Quando chegamos em Nova York eram quase oito horas da noite, e o Conselho já devia ter começado.

Entreguei o dinheiro para o motorista.

-Muito obrigada, Albert. Você não sabe o quanto somos gratos.

-Sempre que precisarem- disse ele com um sorriso.

Preparei-me para pegar Tyler novamente, mas Tan segurou meu braço, fazendo-me parar.

-Eu carrego ele agora- falou- Você carrega o galho.

Eu discordaria, mas meus braços estavam tão cansados que permiti. Saímos do carro e entramos no Empire State Building. O chão de mármore fazia nossos passos ecoarem no local vazio. Andei até o porteiro, que parecia entretido de mais com um livro vermelho, com dois meninos e olhos de coruja na capa.

-Seiscentésimo andar, por favor?- pedi.

O cara gordinho e careca nem desgrudou os olhos do livro.

-Esse andar não existe, garota.

Revirei os olhos.

-Pode fazer o favor de olhar para o meu rosto?- Ele parecia contrafeito, mas fez o que eu pedia.

Claro que depois de ver o meu estado ele entenderia o que estava se passando. Tirou de uma das gavetas um cartão verde, de plástico e me entregou.

-Boa sorte- murmurou, e enfiou a cara no livro novamente.

Entramos no elevador, onde tocava uma musica qualquer do Kaiser Chiefs, e eu coloquei o cartão em uma fenda abaixo dos números. Acho que nunca na minha vida cinco minutos pareceram tão compridos.

As portas se abriram, e deixamos a pressa de lado por um instante só para apreciar a vista. A cidade Olimpiana era a visão mais encantadora do universo, eu tinha certeza. Os templos, palácios e casas eram lindos e bem-cuidados, as estátuas dos Deuses eram imponentes, e as pessoas (ou ninfas e criaturas, que seja) pareciam tão felizes que eu quase me contagiei. As nove musas faziam um pequeno concerto na praça central, tocando harpa e cantando.

Nos encaminhamos para a construção principal, a maior e mais bonita de todas, com pesadas portas de bronze, que precisaram de nós três para serem abertas. Meu coração batia tão forte que fiquei com medo de que meu peito explodisse. Os Doze Olimpianos estavam sentados em seus respectivos tronos. Eu esperava que eles tivesse, tipo, dois metros de altura, mas pareciam adultos normais para mim. Com uma incrível aura de poder, é claro, mas não pareciam ter nada de realmente inumano.

Will e Tanner estavam logo atrás de mim, e eu segurava o Galho com tanta força que os nós de meus dedos estavam brancos.

Os Deuses nos encararam. Alguns incrédulos, outros orgulhosos, outros trocavam dracmas entre si, mas quem quebrou o silêncio fui eu.

-Eu acho que isso pertence à vocês- falei, olhando nos olhos azuis elétricos do homem sentado bem ao meio. Zeus.

Ele levantou-se e andou até mim, tomou o Galho de minhas mãos e assentiu com a cabeça. Contemplou o Setro mor alguns momentos, depois examinou nosso grupo e se virou para voltar para o trono.

Antes que pudesse chegar lá, falei:

-Não há de quê.

Ele virou-se para mim, com uma sobrancelha erguida.

-O que disse?-perguntou, como se não acreditasse em seus ouvidos.

-Não há de quê- repeti- Nós quase morremos para recuperar isso, uma coisa que vocês, Deuses, não tiveram competência o suficiente para proteger. O mínimo que pode fazer é agradecer.

Zeus pareceu tão irritado que eu achei que viraria cinzas, mas sua mulher levantou-se e colocou a mão em seu ombro.

-Nós agradecemos a bravura e coragem de vocês- disse Hera- O Galho de Álamo não teria sido recuperado sem a sua ajuda.

-É claro que não- respondi. Eu sabia que era arriscado falar assim com os imortais, mas eu havia lutado com um, e ganhado. Me sentia capaz de fazer qualquer coisa- Se perderem algo mais, é só chamar.

Um dos deuses reprimiu uma gargalhada. Estava sentado ao lado do Sr. D, e tinha feições de fuinha e um rosto divertido.

-Essa garota é hilária- comentou, sem conseguir se conter- Fez bem, Apolo!

Um garoto loiro de uns dezenove anos sorriu e assentiu, duas cadeiras ao seu lado. Eu tinha dito que Dárion era o homem mais bonito que já vira na vida? Pois é, parece que eu me enganara. O garoto parecia um astro de cinema, mas dez vezes mais belo.

-Obrigada, Hermes- ele respondeu- Estou muito orgulhoso.

Seus olhos encontraram os meus. O mesmo tom de azul que eu via toda a vez que me olhava no espelho. O garoto era meu pai.

-Eu acho- comentou o homem logo ao lado de Apolo, que parecia um soldado, com corte militar e óculos escuros- que estão esquecendo meu filho! Sem ele essa missão teria sido um fracasso completo.

Sorri para Tanner. Era verdade, é claro. Mas então olhei para seus braços, onde Tyler ainda dormia. Meu queixo tremeu.

-Antes- falei, alto o bastante para que todos na sala ouvissem- eu preciso que me escutem- olhei na direção de uma mulher de cabelos escuros e olhos tempestuosos- Atena, reconhece esse menino?

Ela não parecia ter reparado no garoto antes, mas agora levou as mãos ao rosto e correu em nossa direção.

-Tyler?- perguntou ela, os olhos enchendo-se de lágrimas- Ele... Dárion?

Assenti.

-Ele salvou minha vida. Queríamos leva-lo até o Acampamento, mas sua memória...- minha voz falhou.

Atena tirou-o delicadamente dos braços de Tanner e se sentou no chão, no centro do salão, com a cabeça do filho em seu colo. Ela sorriu, como se uma doce lembrança tomasse conta dela.

-Ás vezes- falou, acariciando os cabelos de Tyler- nem mesmo as pessoas mais sábias tomam as decisões corretas. Eu devia tê-lo levado até um lugar seguro, Tyler, mas eu queria tanto que você conseguisse sozinho. Que ganhasse mérito por seus esforços. Me desculpe, mas eu falhei como mãe, e me arrependo.

Meus olhos inundaram-se com as palavras da Deusa. Ela prosseguiu.

-Mas você foi um herói, mesmo sem a minha ajuda. Você foi o meu pequeno herói- o garoto magricela parecia acalmar-se ao som da voz da mãe, como se fosse uma canção de ninar- Descanse, meu pequeno. Descanse até que outra oportunidade venha, e então será o seu momento. Por enquanto, é o momento desses três heróis, mas o seu vai chegar, e vai ser grande.

Atena passou a mão suavemente pelos olhos de Tyler, e seu peito não mais inflou-se.

-Bons sonhos, Tyler- disse ela por fim, selando a testa do filho com um beijo, e três velhas senhoras apareceram com uma maca antiquada de madeira, colocando nela o corpo inerte do filho de Atena e cobrindo-o com uma mortalha prateada que parecia passar um vídeo, que tremeluzia no tecido. Duas das velhas seguraram um curto fio de lã, e a outra, com uma enorme tesoura dourada, o cortou bem no meio.

Tyler foi levado embora, e apenas o clima pesado e as palavras de Atena ficaram pairando no ar.

Uma das deusas levantou-se de seu trono, também com lágrimas nos olhos e ajudou Atena a erguer-se do chão, onde chorava desolada.

-Está tudo bem, Atena. Ele vai ficar bem.

A outra apenas assentiu, secando as lágrimas.

-Obrigada, Afrodite. Eu sei que vai.

Ao mesmo tempo em que as duas voltavam para seus respectivos tronos, algo emergiu da grande lareira da sala, saindo de chamas verde-esmeralda.


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Notas finais do capítulo

LEMBREM DA CHANTAGEM EMOCIONAL! Comentem! hahahaha