Da última vez que se enfrentaram, há trinta anos, Alexsander ainda era um garoto recém-agenciado, acabara de atingir a maioridade e já possuía habilidades que superavam alguns dos mais experientes. Desde cedo mostrava o valor que teria para a agência quando não deixara que Haig saísse ileso. Em uma perseguição ele o acertara com o z42 e após acertar-lhe com a velha estaca de madeira, acreditava que o havia conseguido matar, mas a ânsia pelo reconhecimento, a vaidade, lhe fizera cometer um grande erro. Mesmo assim, acreditou que tivesse finalmente cumprido sua missão, pelo que fora condecorado e festejado como o melhor de todos os tempos por ter eliminado o último inimigo declarado da agência, os demais seriam apenas detalhes.

 Haig acordou três dias depois, em uma caverna. Estava acompanhado de uma velha curandeira.

- Onde estou? – questionou Pedro meio tonto, olhos cerrados, tentando identificar o lugar e terminando por fitar uma velha senhora em sua cadeira de balanço que pitava um velho cachimbo – Ah, não! Não me diga que caí no conto do “boa noite cinderela”! Já vou avisando, não gosto de mulheres mais velhas nem das que fumam! – prosseguiu em seu habitual tom irônico enquanto tentava se levantar entre um gemido e outro.

- Você tem muita sorte meu rapaz, muita sorte... Em San Fernando, no México! E não se preocupe, eu gosto de rapazes mais... vivos! E de preferência mais espertos também!

- San Fernando? Como? Como é que eu vim parar aqui? Ai, ai... gemia ele. – Mas que droga de lugar é esse? Uma caverna? Fala sério!

- Tenho uma ideia melhor meu jovem, por que não fica quietinho e descansa? Quando puder voar com as próprias asas pode ir buscar suas respostas! Hi hi hi hi – riu a velha senhora enquanto caminhava para fora.

-  Olha só... uma velhinha malcriada! Que feio! Uh! Por isso que eu não gosto dos contos de fadas! As bruxas nunca têm nome! E essa nem tem a verruga na ponta do nariz!

Agora pensava que o único motivo pelo qual Alexsander não havia mais procurado por ele era o fato de realmente acreditar que Haig estava morto. Durante todos esses anos havia ouvido falar de seus feitos, de como havia caçado e matado muitos vampiros e acreditava-se que as “i” estavam à beira da extinção devido ao seu empenho em descobri-las e eliminá-las.

Muitas vezes sentiu vontade de interferir, sair à procura de seu inimigo e tentar freá-lo, mas Pedro não estava mais sozinho. Desde que havia se estabelecido em Mora, outras vidas passaram a depender dele e de todo um trabalho em equipe a fim de que pudessem se manter discretos e garantir a sobrevivência.

Mas o que Alexsander estaria fazendo por aqui? Kuzma tinha razão, não era só uma sondagem, estava atrás de algo específico, mas o quê? Será que sabia que nem todos haviam morrido na explosão do navio em que Ana se encontrava? Será que soube da sua chegada a Mora? Não! Isso era impossível, Haig havia se certificado de que tudo fosse feito da maneira mais discreta possível.

Angus estava presente no dia da partida da família de Ana, acompanhou tudo discretamente, mantendo Haig informado sobre o embarque na Letônia com destino a Gävle, o que aconteceu logo depois que Haig aconselhou Theodoro a mudar-se, pois exterminadores haviam sido identificados na região de Balozi, próximo a Riga, cidade onde a família de Ana se instalara após a fuga da Rússia.

Alguns navios de porte menor, como o que Ana estava, começaram a ser destruídos então, era claro que a agência não tinha certeza do que ou de quem estavam procurando e decidiram explodir alguns como garantia. Claro que tudo isso sob a proteção do governo dos países da Europa Setentrional, do norte da Europa e parte da Ásia, que, em conjunto, davam um jeito de fazer a “faxina” e com o empenho de tanta gente poderosa para encobrir essas atrocidades, tudo parecia não passar de coincidências. Assim como tem sido nos tempos atuais quando aviões começam a cair em intervalos muito curtos e o que se ouve nas ruas é: “caiu um avião, pode esperar que agora começa um atrás do outro”, mal sabem os cidadãos comuns o que está por trás disso.

  Agora, a dúvida e o medo que o assolavam era se a agência havia descoberto Ana e, se não, de quem estariam atrás? Independentemente da resposta, o fato era que seja quem ou o que for estava trazendo o perigo para muito perto deles e ele não iria permitir que nada de ruim acontecesse a Ana.