Ella - A Verdade Por Trás Da História escrita por Ayelli


Capítulo 39
Capítulo 38


Notas iniciais do capítulo

All your life, all your life, all you`ve asked when's your daddy gonna talk to you
she was living in an other world
Tryin' to get her message through

No-one heard a single word you said
they should have seen it in your eyes
What was going round your head

Runaway - Bon Jovi



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I

Évenice observava o automóvel se afastar. Até aquele momento não havia se pronunciado sobre o assunto e nem sequer deixara transparecer o que ia em seu íntimo, mas no fundo tomara a esperança de Haig para si depois que percebeu que amava Kuzma e de ele ter, enfim, declarado a ela seus sentimentos.

Quando Haig decidiu dar um tempo nas viagens até o nascimento do filho, Doroty organizou uma pequena festa de casamento para os dois casais, uma vez que Kuzma e Évenice assumiram seu relacionamento e decidiram viver juntos. A festa contou apenas com a presença dos que moravam na casa e dos dois casais. Foi uma linda comemoração.

Ao contrário de Haig, Kuzma tomou todas as precauções para que Évenice não engravidasse, ele já havia perdido uma esposa antes e não queria passar por isso novamente, além de que, no fundo, assim como Évenice, alimentava uma ponta de esperança de que Haig estivesse certo.

II

Mesmo não acreditando que essa viagem e todo o sacrifício imposto por ela fossem trazer as respostas e as soluções que Haig e Aleh desejavam, Ella decidiu que faria o possível para tornar aquela vida de nômades mais alegre e suportável enquanto ela durasse.

Chegando à Rússia, Haig decidiu fazer o caminho inverso e começaram pelas regiões polares. Se houvesse algo a ser escondido ou protegido por tanto tempo, certamente estaria em regiões remotas e difíceis.

Às vezes pareciam ter encontrado alguma informação relevante, mas quando chegavam até onde a informação conduzia, ou ela não se sustentava ou parecia que alguém havia saído às pressas.

Ella estava exausta e podia notar que Doroty também estava e, prestando um pouco mais de atenção, notava-se que George também não acreditava na tal bruxa milagrosa, ou em qualquer tipo de coisa que pudesse reverter o destino de uma I. Porém, ninguém tinha coragem de dizer isso à Haig, que estava obstinado e com isso influenciava o filho a não perder a esperança.

Após cinco anos de buscas, percorrendo cada cidade, caverna e beira de lago, após visitar todas as pessoas tidas como estranhas nas aldeias e vilas e até alguns eremitas, Haig começava a demonstrar sinais de desânimo e tristeza e começava a pensar se sua mulher não tinha razão, se toda aquela busca não havia sido uma loucura e uma perda de tempo. Um tempo precioso que poderiam estar aproveitando naquela maravilhosa propriedade a qual ele cuidara com tanto amor e tanto zelo enquanto esperava por sua amada.

Eles haviam ido visitar uma senhora "suspeita" que morava à beira de um bosque e que, claro, não passava de mais uma história contada por pessoas que consideravam estranho tudo o que fugia à pasmaceira da vila. Na volta, quando passavam por um bosque já todo decorado pelo branco dos primeiros flocos de neve, quase não notaram um pequeno lago em uma depressão que ainda não se congelara por completo.

Aleh percebeu que havia um homem aparentemente idoso que colocava água em um odre, um cantil antigo feito de pele de animais, e que tinha muita dificuldade para levantar-se e então correu em seu auxílio.

Tratava-se realmente de um homem velho, cabelos brancos e compridos divididos em duas tranças que passavam de sua cintura, ele também tinha um cavanhaque igualmente comprido e trançado. Suas roupas lembravam as que os antigos mongóis usavam no inverno, com um chapéu de couro forrado com pele de algum animal.

Enquanto Aleh o ajudava a subir a pequena depressão, ele disse que se chamava Tamerlán, era descendente de mongóis e contou que, quando jovem, havia percorrido toda a região da Mongólia e quase toda a região da Rússia. Desde cedo fora adepto a lugares mais reservados, longe do alvoroço e das confusões causadas pelas pessoas. Tornava a vida mais difícil com certeza, mas não voltaria a viver entre outras pessoas.

Quando hegaram até onde os outros estavam, o homem parou e ficou olhando demoradamente para Haig e George, depois para Ella e Doroty. Para quebrar o silêncio, Aleh começou a apresentá-los quando o velho o interrompeu:

–Vocês não são daqui - não se soube se aquilo era uma pergunta ou uma afirmação, então Haig tentou responder.

–Não, nós...

–Eu não estava falando de vocês, falei com elas - disse o velho.

–Não, senhor! Somos da Suécia!

–E suponho que não estejam aqui a passeio - houve um longo silêncio. - Foi o que pensei - completou o velho, que começou a caminhar em direção a umas pedras que ladeavam o bosque pela esquerda.

Ella não sabia exatamente o porquê, mas pela primeira vez teve a sensação de que alguém ali poderia saber de alguma coisa importante.

–Senhor? Senhor? - chamou enquanto ia atrás do velho que continuou a andar no mesmo ritmo, apoiado em uma espécie de bengala que parecia ser feita de ossos e talhada de inscrições aparentemente tão antigas quanto ele e que... parecia quebrada. - Por favor, senhor! Estamos na Rússia há anos, estamos cansados, tristes e desanimados e o senhor parece ao menos ter histórias interessantes para contar - nesse momento o velho parou e virou-se para Ella.

–Realmente tenho muitas histórias! Já vi coisas que as pessoas nem sonham existir! Na verdade, há tempos que eu não via um deles, três ao mesmo tempo então... - virou-se e continuou seu caminho.

Ella fez sinal para que os demais os seguissem e, como se soubesse o que se passava às suas costas, o velho prosseguiu:

– Venham, vamos tomar um caldo quente e ver se tenho a história que vocês querem - então ele parou. - Mas saibam que faço isso pelo garoto, dos três é o que tem o coração mais puro.

Andaram um bom pedaço do caminho entre o bosque e as rochas que surgiam nas laterais. Em alguns momentos, Ella pensou que o velho estivesse perdido, tentando achar a própria casa. De repente, ele se virou, atravessaram alguns arbustos congelados e bem à sua frente surgiu a entrada de uma gruta.

Havia uma espécie de "porta" feita com os galhos de árvores, uns mais grossos que outros, amarrados entre si com retalhos do que parecia ser couro. O velho a empurrou. A caverna, ou gruta não era muito extensa, mas parecia aconchegante apesar de tudo. Havia uma pequena mesa de madeira rústica e no papel de bancos troncos de árvores cerradas. Ao fundo, uma armação, certamente de madeira, em cima dela um colchão que Tamerlán revelou ter sido costurado por ele próprio e que era feito de pele de urso e seu enchimento era de pena de grou branco, por cima estendia-se um cobertor também feito de pele de urso. Alguns bancos também eram forrados com peles dos mais variados tons e tamanhos e ele tinha pendurados na parede mais alguns casacos.

Notando a expressão de Ella enquanto olhava toda aquela... pele como forro e pendurada, o velho sorriu e disse, parecendo satisfeito em poder esclarecer:

–Não se assustem com as peles, eu sigo a tradição de meus ancestrais, jamais assassinamos qualquer animal. Matamos quando temos fome e somente o necessário! As peles na maioria das vezes são conseguidas de animais que já foram caçados por outros animais ou que estejam doentes ou feridos, quando os encontramos apenas abreviamos seu sofrimento. Na verdade, esses cobertores já têm uns bons anos!

O velho então colocou um pouco mais de lenha em uma pequena fogueira que parecia manter acesa constantemente, a fim de não perder o fogo. Em seguida, colocou sobre ela um caldeirão e despejou dentro a água que Aleh havia ajudado a trazer em um tacho de barro que carregava além do odre.

–É melhor que gostem de peixe, outro dia encontrei uns pescadores na beira do rio e eles me deram um pedaço de esturjão. Vou fazer uma sopa com cogumelos que achei embaixo da neve. É impressionante o que se pode achar sob a neve depois de a primeira tempestade de inverno!

Estavam todos sentados observando enquanto o velho colocava os ingredientes na água que já estava borbulhando. A ansiedade de todos era clara, mas tinham receio de começar a falar e deixar o velho assustado, por outro lado, aquele senhor parecia saber quem eram os homens daquele grupo, ou melhor, o que eram.


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Notas finais do capítulo



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