Ella - A Verdade Por Trás Da História escrita por Ayelli


Capítulo 30
Capítulo 29


Notas iniciais do capítulo

O passado pode nos assombrar de muitas maneiras, principalmente quando percebemos que não sabíamos tudo sobre ele como imaginávamos...



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Como de praxe, Alexsander tocou a campainha, a diferença é que desta vez ele não esperou que viessem recebê-lo, transformando toda a sua raiva em força, colocou a porta abaixo no segundo pontapé.

Amaril, que já vinha de encontro a porta por já saber de quem se tratava, assustou-se com a entrada brutal de Alexsander que, depois de haver derrubado a porta, entrou andando tranquilamente enquanto seus homens se dispersavam pela casa averiguando todos os cômodos, então, com a cara mais “deslavada”, a cumprimentou normalmente.

- Minha querida! Como tem passado? – disse enquanto caminhava na direção de Amaril batendo o pó das roupas.

- É impressionante o que as pessoas não fazem para chamar a atenção depois de certa idade, não é?!

- Oh, está se referindo à porta? Desculpe-me por isso querida, mas hoje eu estou um pouco apressado, além de não estar com humor para dissimulações, temos um assunto a tratar e só sairei daqui depois que me disser o que quero saber!

- Realmente eu não sei o que...

- Cale-se – disse segurando-a pelo braço sem nenhuma delicadeza e da mesma maneira a conduziu até o sofá – Você pode até não acreditar, mas me sinto muito mal tratando uma senhora de sua idade de forma pouco gentil, eu reconheço que é uma parte contraditória da minha personalidade em se tratando do meu ofício!

- Jura? A mim parece que você desempenha essa função com naturalidade e até com certa satisfação! Eu já disse que não sei o que você pode estar querendo em minha casa, não tem nada aqui para você!

- Tem certeza? Engraçado, não notei a presença de sua “adotada”, o que é estranho para alguém que jamais saiu do seu lado, não? Nem mesmo seu mordomo apareceu quando a porta veio abaixo, não me lembro de uma única visita que eu tenha feito a você em todos esses anos em que essa casa estivesse tão... vazia.

- Lamento muito! Évenice foi fazer um intercâmbio no Japão, estou expandindo os negócios e...

- Amaril, Amaril... – disse Alexsander rindo e sentando-se em uma poltrona que puxara de forma a ficar de frente para a mulher. - Eu lamento muito o destino de seu pobre Francis, mas pode apostar que vou lamentar ainda mais o seu se tivermos que chegar a esse ponto tão cedo...

- Tão cedo? Nesse caso nossa visão de “tempo” difere bastante, meu caro! Uma mulher na minha idade já viu e viveu muitas coisas para ter medo de uma ameaça que visa abreviar a tortura de viver recebendo uma visita desagradável como a sua.

Nesse momento, os sete homens que vieram acompanhando Alexsander chegavam à sala ao mesmo tempo.

- Parece que não há mais ninguém na casa, senhor! – disse um deles e então, Alexsander chegou seu rosto bem próximo de Amaril e vociferou soletradamente:

- On-de es-tão eles? – Amaril olhou bem no fundo dos olhos dele, podia ver todo o ódio que carregavam, ele realmente mataria qualquer um que cruzasse o seu caminho, imagina se soubesse que Haig ainda estava vivo! Ele levantou-se e chutou uma das poltronas ao lado.

- Sabe, – Amaril começou corajosamente a falar – eu entendo o porquê da agência querer caçá-los, não concordo, mas entendo, mas sinceramente você não está atrás deles só para atender a agência. Não é só uma questão de trabalho, melhor ainda, o “trabalho” é apenas uma desculpa, na verdade é perfeito! O seu trabalho te dá o amparo e a cobertura necessária para realizar uma vontade pessoal, não é?!

- Cala a boca, sua velha maldita! Você não sabe nada sobre a minha vida, sobre minhas vontades, você não sabe nada a meu respeito! – ele urrava.

- Chequem tudo novamente! – ordenou aos homens na sala. – Quero dois de vocês aqui dentro checando absolutamente tudo, atrás das cortinas, embaixo dos tapetes e até dentro das privadas se for preciso! Os demais vão para a rua e não se esqueçam dos bueiros e as copas das árvores que geralmente é onde encontramos morcegos! Se eu encontrar indícios de qualquer tipo de monstro por aqui, você irá encontrar seu marido ainda hoje!

- Monstro... é engraçado você dizer isso porque mesmo sendo humano tenho visto você cometer muitas monstruosidades ao longo desses anos. Sabe, você pode chutar portas e poltronas, pode derrubar a casa toda, pode matar a mim e a todos que encontrar pelo caminho que nada disso vai mudar quem você é ou o passado da sua família e muito menos o seu destino. Tanto não muda que nem o fato de você ter ameaçado e abandonado Emmanuelle evitou que seu destino se cumprisse.

Ele estava tão vermelho de raiva, tão furioso que Amaril achou que ele fosse explodir e começou a lamentar o futuro incerto e perigoso daqueles a quem amava, tendo Alexsander como inimigo incansável.

- Emma? – e então, por uma breve fração de segundos, pareceu que havia algo de humano naquela voz, mas assim como surgiu, desapareceu. - O que você sabe sobre ela? Onde ela está? Diga sua velha, diga! – a essa altura sua pistola Colt 45 prata toda trabalhada com tribais estava tão próxima ao rosto de Amaril, que ela teve medo que sua respiração ofegante provocasse um disparo, mas manteve-se firme.

Percebendo que estava prestes a perder a cabeça, Alexsander ergueu a arma e respirou fundo, em seguida começou a andar pela sala como se isso fosse capaz de devolver seu autocontrole. Em sua cabeça, pensamentos desordenados misturavam-se a sentimentos há muito sufocados por ele, como o amor que sentia por Emma e a revolta pelo fato de haver Is entre os antepassados de sua família, podendo ser ele mesmo um responsável por passar esse tipo de genes para frente.

Ninguém até hoje soubera de Emma, ele nunca havia tocado nesse assunto com ninguém, como ela podia saber a respeito? Como? A simples ideia de que pudesse vê-la novamente o abalara completamente, mas ele não podia se deixar levar por sentimentos, tinha uma missão e precisava cumpri-la.

- Não há nada na ala esquerda, senhor! – anunciou o soldado que voltava à sala.

- Muito bem, fique de olho nessa senhora, eu já volto! Por favor, querida, não tente fugir, pois acho que eu não teria dificuldades em alcançá-la – disse ele em tom maldoso dirigindo-se à cozinha.

Alexsander abriu a geladeira e pegou a garrafa d’água bebendo no próprio gargalo, depois molhou uma das mãos e passou pela testa, na nuca e enfim por todo o rosto. Precisava retomar o controle da situação, precisava pensar de maneira racional, decidir como faria Amaril falar, precisava saber de seus inimigos, quem eram eles, quantos e para onde haviam ido, mas agora ele também queria saber sobre outra coisa. Emma.

Quando retornou à sala, estava acompanhado de dois dos três homens que conseguiram atirar o Z42 em Angus.

- Muito bem – dois soldados carregavam Angus, ele não estava totalmente apagado, parecia mais com alguém que havia bebido demais e outro trazia Affonso que encontraram escondido em uma espécie de “casamata” no quintal, perto do portão dos fundos. – Para que pressa, não é mesmo? – e olhou no relógio – Temos tempo até que o efeito dessa droga “mágica” comece a passar e eu tenha que cortar a cabeça do seu amiguinho aqui. E de brinde olha só o que encontraram escondido num buraco lá no seu quintal, mas se não é nosso velho amigo Affonso!

Angus foi amarrado a uma cadeira com correntes grossas e cadeados, mesmo sob o efeito do Z42 Alexsander não daria “sopa” para o azar dessa vez.

- Angus! Oh, meu Deus! Affonso, querido, me desculpe!

- Ah, já temos um nome, Angus! Eu ouvi falar de você, Angus. Então é você o dentuço solitário que vigia fronteiras e promove investigações particulares nas cidades seguindo nossos passos e avisando os outros dentuços que, consequentemente, sempre conseguem escapar a tempo. É, acho que a vida deles vai ficar mais difícil agora!

- Por favor, Alexsander, nada disso é necessário! Eles não oferecem risco a ninguém!

- Eu já mandei você ficar calada, querida. Só abra a boca se tiver alguma coisa realmente interessante a me dizer.

Os outros homens que haviam saído para realizar buscas pelo quarteirão retornaram.

- Senhor, havia mais um com ele, mas infelizmente não conseguimos pegá-lo, ele era rápido demais, mais do que geralmente costumam ser.

- Mais um? – perguntou Alexsander olhando para Amaril que engoliu seco – Mas o que é isso, minha querida? Hotel cinco estrelas para chupadores de sangue? Há quanto tempo você está abrigando essas coisas aqui novamente?

- Não sei, diga você! Essa casa não era tão bem vigiada? – ele riu.

- Realmente era! Mas a agência desviou um pouco os olhares depois de um longo tempo sem atividades, acreditando que você realmente havia se aposentado desse tipo de “caridade”, claro que eu não aprovei isso!

- Sabe, eu olho para você e fico pensando como alguém consegue abrir mão da própria vida, do amor e de um filho. Como você conseguiu fazer isso e viver sua vida, seguir sua carreira e sair por aí matando pessoas?

Alexander riu, pegou uma garrafa de vodka que havia em um pequeno bar na sala onde estavam, tomou um gole direto da garrafa e sentou-se de frente para ela dizendo:

- Sabe, quando eu olho para trás, a única coisa da qual me arrependo foi de ter deixado Emma ir, sim, porque se eu quisesse de verdade, eu a teria encontrado e você sabe disso!

- E teria feito o quê?

Ele pensou por um instante e ela jura que chegou a ver seus olhos marejarem.

- A única coisa que poderia ter feito, seria menos uma aberração sobre a face dessa terra.

- Você está enganado! Você podia ter feito outra escolha e poderia ser mais alguém para amá-lo na face dessa terra. Sempre haveria alguém para ajudá-los, você poderia ter sido feliz, poderia ter criado sua filha e...

- Você fala como se soubesse muito a meu respeito, que tal me dizer o que sabe e como sabe? Sim, porque eu estou aqui tentando manter a calma, tendo muita paciência em consideração à sua idade avançada e... aos velhos tempos.

- Ou será que não é outra coisa?! De repente ainda pode haver um ser humano aí dentro dessa carapaça, lutando para se libertar, hein?

- Fale agora, ou eu vou cortar a cabeça do seu amigo aqui – o soldado que o acompanhava lhe entregou a espada que ele desembainhou admirando-a. – E depois talvez eu corte a sua, é mais rápido e não exige esforço da minha parte.

- Pois bem, eu sei que vai matar a mim e a ele de qualquer jeito e é só por isso que vou dizer “algumas” coisas, mas mesmo que queira fazer picadinho da minha pessoa não direi nada além do que acho que você precisa ouvir.

- Muito bem, estou esperando.

- Sabe, a pobre Emma não teve uma vida muito fácil depois que precisou fugir, mas não há nada nesse mundo que possa algo contra os caprichos da natureza e, às vezes, as coisas acontecem de forma inexplicável. Eu aposto que posso surpreender você com algumas revelações.

- Vamos lá, minha querida, estou louco para ver isso!

Amaril contou a ele que na noite em que Emma fugiu havia duas pessoas que também estavam fugindo da agência, um velho agente e seu filho que iriam se encontrar com uma terceira pessoa, a qual era, por sinal, inimigo de Alexsander.

Rudolph Brovinvisky e seu filho Theodoro estavam a caminho das florestas da Kalunga para encontrar-se com Haig Sznandercov, filho de Zirgov, um agente vampiro que havia sido morto anteriormente pela agência.

- Claro que me lembro! Minha prova de fogo para ser admitido definitivamente como um agente especial foi terminar o serviço matando o filho dele, o que pode ser conferido e constatado a vista das inúmeras honrarias internas que recebi por isso. Portanto, seria impossível que eles estivessem indo encontrar-se com essa pessoa, o que já torna sua história uma inverdade. Então é melhor que você pare de querer ganhar tempo e vamos direto ao que interessa.

- Você realmente acredita nisso? Acredita que realmente conseguiu matá-lo? Nunca se perguntou sobre o paradeiro de Emma ou como ela pode ter conseguido desaparecer sem deixar rastros? Você é tão ingênuo, meu caro!

Diante do silêncio dele, ela continuou.  Contou-lhe que foi durante uma parada num autoposto, numa loja de conveniência, que Theo encontrou Emma. Ela não estava passando muito bem depois de haver caminhado por duas horas pela madrugada gelada. Depois de muita insistência por parte dela, eles concordaram em levá-la com eles, mas iriam deixá-la no caminho. Foi somente quando ela contou a Theo sobre o namorado militar e disse seu nome que ele percebeu a gravidade da situação daquela pobre moça e, vendo que ela não escaparia sozinha da agência, decidiu ajudá-la.

Claro que ele sabia que se contasse a seu pai “toda” a verdade, talvez ele se recusasse a ajudá-la. O que o jovem ainda não havia se dado conta era que estava apaixonado por ela, e como resistir diante daqueles olhos verdes assustados. Então, sem saber que dizia a mais pura verdade, disse ao pai que estava apaixonado por ela, que havia encontrado a mulher de sua vida.

Já o pai, que fora preterido pelo grande amor de sua vida e tivera que criar o filho sozinho, não teve como rejeitar os apelos do filho e acabaram levando-a junto com eles, depois de explicar a ela todos os perigos que ela estaria correndo. Emma respondeu que de qualquer forma teria que fugir a vida toda e que entre amigos seria melhor do que sozinha.

- O velho Rud nunca soube que a filha de Emma não era sua neta legítima. Já Theo, conseguiu amar a filha de Emma como se fosse sua e cuidou dela com todo amor e zelo de que dispunha. Por outro lado, não foi difícil para Emma vir a amar Theo depois de tamanha prova de amor que ele lhe dera. Enfim, como pode ver, nem tudo caminhou como a agência queria. Ah, claro, e não dá pra deixar de citar como Emma sentiu-se quando soube que seus pais morreram num acidente de carro, muito suspeito, diga-se de passagem, provavelmente enquanto procuravam pela filha.

Alexsander levantou-se. Ele não se sentia muito bem. Então Emma levara a cabo aquela gravidez e seu filho, ou filha na pior das hipóteses, havia sido criada por seus inimigos. Emma...  Theo... naufrágio... Não! Ele soube que haviam conseguido matar o filho de Rud, a mulher e uma jovem que viajava junto deles, provavelmente a filha, num dos naufrágios programados, então... a mulher...

Ele sentia o mundo todo girar à sua volta, precisava sair dali, deixou a sala abruptamente indo em direção à rua onde se deixou cair de joelhos e chorou como nunca havia chorado antes. Emma havia sido o grande amor de sua vida, a única mulher a ocupar seus pensamentos todos os dias desde o momento em que se conheceram até hoje. Sim, ele ainda pensava nela.

Não soube enumerar quantas vezes teve vontade de abandonar a agência e sair à sua procura. Mas não conseguiu ser a mesma pessoa, pois, um dia depois de haver tido acesso ao “Dossiê Vermelho”, seu pai lhe falou que a família era amaldiçoada e contou sobre seus antepassados, que descendiam de uma família que tivera uma mulher que era “diferente”, e que todas as mulheres que nasciam na família serviam para gerar “demônios”. Claro que seu pai não sabia “exatamente” o que aquilo significava, mas Alexsander já sabia.

Hoje, ele chorava sua covardia, a mesma covardia que o fizera abandonar a cama ainda quente na única noite em que havia sido de fato feliz, na noite em que tomara para si o corpo da única mulher que havia amado de verdade. A mesma covardia que o impedira de olhar nos olhos de Emma no dia em que disse a ela que não poderiam ficar juntos e, por fim, a mesma covardia que a havia matado naquele naufrágio, ordenado por ele.

Ele podia sentir seu ódio por aquela espécie fervilhando em seu interior, se eles não existissem, ele não teria que ter passado por nada daquilo, o “dossiê vermelho” não existiria e ele poderia ter tido uma vida, filhos, poderia estar agora nos braços de Emma e não teria que ter passado a vida matando, porque agora ele via que não passava de um assassino.

“Chega, Alexsander!” disse a si me smo levantando-se do chão. Havia desperdiçado sua vida por um ideal, se o abandonasse agora não lhe restaria mais nada, enxugou as lágrimas na própria camiseta e foi para a sala. Chegando lá, desembainhou a espada e olhou demoradamente para Amaril. Angus estava amarrado na cadeira ao lado, sem dizer uma palavra, Alexsander cortou-lhe a cabeça diante do grito desesperado da mulher e da expressão de horror no rosto de Affonso.

- Enquanto eu conseguir segurar essa espada irei cortar todas as cabeças que passarem por mim e, se eu tiver a chance, vou acabar com essa espécie maldita! -  Amaril estendeu a mão e lhe entregou uma carta, uma carta de Emmanuelle, uma carta que ela escrevera na esperança de tentar convencê-lo e que deveria ser entregue se as coisas chegassem exatamente ao ponto em que estavam.

Ele a pegou e enquanto lia seu nome no envelope reconheceu a caligrafia dela, mas ficou apenas olhando para o papel como se tivesse saído do ar.

- Vai matar sua filha também? – perguntou Amaril e, de repente, houve apenas o barulho de alguma coisa caindo e rolando pelo chão, finalmente ela encontraria o descanso e poderia encontrar também seu amado Francis. Ele havia cortado sua cabeça também.

Olhando para a cabeça dela que rolava até um móvel próximo, Alexsander amassou o envelope entre os dedos. Affonso entrou em estado de choque.

- Levem esse idiota para o furgão, duvido que ele não nos leve até os outros agora. Quanto aos demais, queimem tudo e façam parecer um acidente doméstico – ordenou aos homens. - Estou esperando no meu carro.


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Notas finais do capítulo

So tired that I couldn't even sleep
So many secrets I couldn't keep
Promised myself I wouldn't weep
One more promise I couldn't keep
Runaway Train



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