Ella - A Verdade Por Trás Da História escrita por Ayelli


Capítulo 15
Capítulo 14 - Visita Indesejada


Notas iniciais do capítulo

Aí está queridos leitores, espero que gostem! Bjokas!♥



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Ainda em Sandivken, Alexsander parecia ter evaporado, Haig e Kuzma vasculharam cada canto daquela cidade e, definitivamente, ele não estava mais por lá e nem o estúpido de seu parceiro.

Em Gavlë, finalmente fazia um dia lindo. Ana e Amaril terminavam seu café da manhã para sair em “tour” pela cidade, quando Évenice praticamente invadiu o terraço e, naquele momento, nada em sua expressão lembrava a moça de olhos azuis impassíveis e expressão indecifrável. Num olhar mais atento, era até mesmo possível observar alguns fios de cabelo que, admiravelmente, haviam conseguido escapar do coque sempre bem elaborado no alto da cabeça, provavelmente durante uma corrida desabalada escadaria acima rumo ao terraço.

Ao contrário daquele momento, conseguiu se controlar muito bem quando, ao abrir a porta no hall de entrada após o soar da campainha, se deparou com Alexsander Rhandorvick. Ele era um homem alto, de porte atlético, do tipo que inquestionavelmente vivia se exercitando, tinha uma expressão marcante com sobrancelhas espessas e olhos amendoados que ele apertava levemente quando parecia analisar alguma coisa ou alguém. Com o rosto levemente quadrado, o queixo proeminente e a barba por fazer, devia estar em torno dos quarenta e cinco ou cinqüenta anos, mas, seu magnetismo era algo difícil de ignorar, ainda assim. Évenice manteve o mesmo olhar inexpressivo de sempre, nem uma mínima alteração no tom de sua voz ou em seus movimentos para denunciar o que se passava em seu interior. Claro, apesar de todo esse charme, não dava pra ignorar sua origem. Alexsander podia sentir a hostilidade contida, embora nada demonstrasse isso claramente, mas, algo lhe dizia que ela sabia muito bem quem era ele.

Assim que chegou ao terraço cochichou ao ouvido de Amaril que empalideceu instantaneamente e, quando olhou para Ana, era como se tivesse visto um fantasma. Por um breve momento, sentiu reviver os horrores das perseguições sofridas no passado. Levantou-se e disse em voz firme, como que voltando a si naquele momento.

- Évenice, leve Ana para o andar inferior, coloque Affonso de sobreaviso e chame também George, mas não use os telefones comuns, pegue o celular de emergência e seja breve, peça a ele que não se deixe notar. Quanto a você, continue seus afazeres de rotina como se nada tivesse se alterado.

- Amaril, o que está acontecendo? – perguntou Ana.

- Se quer viver para saber mais sobre si mesma, é melhor que não me questione nesse momento.

Desencorajada a qualquer pergunta ou a hesitar diante do olhar e da voz firme de Amaril, Ana obedeceu e seguiu Évenice pelo lado de fora da mansão, até chegarem ao que parecia e entrada de um quarto através da sacada. Évenice empurrou a cama e abriu um alçapão e elas desceram umas escadas que pareciam não ter fim. Enquanto descia, lembrava-se das inúmeras histórias que havia lido e filmes que havia assistido, onde os castelos estavam cheios dessas passagens e esconderijos secretos, geralmente histórias de vampiros e coisas sobrenaturais que eram as que Ana mais gostava.

 Lá embaixo, havia um cômodo que cheirava a mofo, mas parecia limpo e era amplo, com uma poltrona, uma cama com dossel, que pela aparência e o tipo de madeira certamente tratava-se de uma peça antiquíssima, e uma escrivaninha. Quase que simultaneamente, Affonso chegou meio ofegante trazendo uma cesta grande com pães, bolachas e frutas. Na outra mão, uma sacola com algumas garrafas individuais de água. Évenice pela primeira vez parecia ter tirado a máscara de porcelana da face e Ana pôde ver a expressão de medo quando ela lhe deu as seguintes instruções:

- Ana, preste muita atenção! Você só sairá daqui quando eu,
Amaril, George ou Affonso viermos te buscar, não tente sair, não faça barulho, muito menos grite. Ouça, não somos seus inimigos, você precisa ficar aqui até que o perigo tenha passado. Se levar alguns dias, se algo nos acontecer, não se preocupe, Pedro encontrara você!

Sem dar tempo para que Ana esboçasse qualquer reação, ambos desapareceram pela escada fechando o alçapão, o que mergulhou o cômodo subterrâneo no mais profundo breu. Claro que isso gerou certo pânico, mas, lembrando-se do que Évenice disse, Ana procurou manter-se calma, lembrou-se da escrivaninha e suas gavetas, se alguém tivesse a intenção de utilizar aquele local para qualquer coisa, certamente haveria velas, fósforos ou lanternas por ali.

Com cuidado para não fazer barulho, Ana tateou as paredes, encontrou a poltrona e passando por ela chegou até a escrivaninha, abriu a primeira gaveta e conseguiu sentir o que definiu como lápis, canetas, folhas e blocos, uma borracha, um par de óculos, mas nada de fósforos, velas e muito menos lanternas. Passou para a segunda gaveta e tocou algo que poderia ser uma lanterna que, por sorte, estava com pilhas. Acendeu-a ansiosa, mas, as pilhas deviam estar fracas pois a iluminação foi mínima. O quarto, sob aquela pouca luz, pareceu feito para um filme de terror, balançou a cabeça como que querendo afastar esses pensamentos e olhou para a gaveta novamente, precisava encontrar novas pilhas ou qualquer coisa que emanasse luz e viu que havia mais duas lanternas, um maço de velas e duas caixas de fósforos. Acendeu duas velas e deixou uma em cada canto do quarto depois apagou a lanterna, esperava que aquela situação não demorasse a se resolver, pois, não seria agradável ficar ali no escuro.

Como não havia nada que pudesse fazer além de esperar, tentou não entrar em pânico, sua cabeça dava voltas, o que será que estava acontecendo? E, se Pedro a encontraria era porque certamente conhecia Amaril melhor do que ela havia suposto e também sabia daquele “quarto secreto”, mas, por quê? Quem eram realmente todas aquelas pessoas: Amaril, Évenice, Affonso e Pedro? Sentou-se à escrivaninha para dar uma olhada na última gaveta, mas esta estava vazia e, quando já ia fechá-la, percebeu que havia um fundo falso. Ficou em dúvida se deveria mexer em algo que não lhe pertencia e fechou a gaveta rapidamente. A escrivaninha em madeira cor mogno possuía à sua direita uma pequena prateleira onde estavam alguns livros, Drácula de Bram Stoker, Madame Bovary de Gustave Flaubert, O Morro dos Ventos Uivantes de Emily Brontë e alguns livros científicos que falavam sobre DNA e reprodução humana, clonagem, transplantes... “Gosto literário bem eclético”, pensou Ana.

Pegou Drácula e jogou-se na cama, tentava concentrar-se na leitura, mas a curiosidade não lhe dava tréguas e seus olhos de repente pareciam ter vida própria quando, sem que percebesse, se pegava olhando em direção à gaveta. Depois de um tempo, desistiu de tentar fingir que “a gaveta” não existia, sentou-se novamente à escrivaninha e a abriu, com cuidado retirou o fundo falso e pôde observar uma pasta de papelão meio manchada com papéis soltos dentro e sob ela, retirou-a com cuidado e a abriu. Nela, havia muitas anotações, como se fossem partes de um diário só que as anotações se espalhavam por vários pedaços de papéis.

Sua curiosidade só fazia aumentar, e começou a lê-los. Partiu de um pequeno pedaço onde se lia um texto curto, nada revelador, porém, só vinha acrescer mais fogo à lenha de sua curiosidade.

Hoje pude confirmar sua existência! É fantástico! Angus parece uma espécie de cavalheiro solitário, não sei bem, não tivemos muito tempo para conversar, acredito que ele ainda esteja inseguro quanto a confiar em mim. Ele disse que voltará a me procurar, me adiantou que não se trata de uma espécie hostil como se prega desde o início dos tempos. Mas, em sua grande maioria, são pacíficos e precisam de nossa ajuda. Parece que o governo, ou parte dele, sabe sobre sua existência e se entendi bem, estão sendo perseguidos”

Claro! Quem quer que seja que tenha frequentado aquele lugar deveria ser um escritor construindo mais um livro de suspense. Interessante! Como ela já havia lido Drácula, pensou que seria uma boa oportunidade de ler um novo livro que, provavelmente, nem havia sido concluído ou publicado, pegou mais uma página:

“Hoje fui procurado por um agente da KGB, ele disse estar em missão e sob disfarce, não sei bem, parecia confuso, agitado, citou o nome de Angus. Trata-se de um jovem que está preocupado com o filho de seu companheiro de trabalho. Eles descobriram alguma coisa muito ruim dentro da agência e querem proteger o rapaz antes de prosseguirem com as investigações. Como eu posso negar ajuda? Rudolph Brovinskvys perguntou se pode contar comigo, claro que a resposta foi positiva. Amaril não vai gostar nada disso!”

Como assim, Rudolph Brovinskvys? Esse era o nome de seu avô!

No caminho até a sala de estar, Amaril respirou várias vezes, tentando se recompor do impacto causado pela surpresa, o que aquele crápula assassino poderia estar querendo em sua casa? Será que havia descoberto sobre Ana? “Descoberto o que, Amaril? Nem mesmo você tem a certeza disso! Acalme-se!” Dizia para si mesma que ele devia ter vindo apenas para verificar se havia tido contato ou se soubera mais alguma coisa sobre novos vampiros, afinal, entre eles não era segredo que seu marido fora um grande simpatizante e defensor da espécie.

- Querido Alexsander! Quanto tempo! A que devo a honra? – perguntou esforçando-se para não deixá-lo perceber que seu coração batia mais rápido que as asas de um beija-flor. Ele se aproximou dela, segurou sua mão, levando aos lábios em um cumprimento cortês.

- Amaril, vejo que a idade não lhe tem afetado muito nos últimos anos, continua vigorosa, corada, diria que quase tão bela quanto da última vez em que nos vimos!

- Vigorosa e corada! – Amaril riu - Não me lembro de ter recebido esse tipo de elogio antes! Ah, você! Se não soubesse realmente o que esta por trás de sua visita, diria que está quase conseguindo se portar como um cavalheiro!

Nesse momento, Évenice chega perguntando se desejam algo, Amaril pediu vodka e dois copos.

- Bebendo logo cedo, Amaril? Precisando acalmar os nervos? – deu um riso irônico de canto, em seguida apertou um pouco os olhos e os fixou em Évenice, que já tinha recolocado sua máscara de porcelana e nada transmitia através de expressões ou no olhar – Para mim, sem gelo, por favor! – rapidamente ela desapareceu pelo corredor, sua vontade era envenená-lo, mas sabia que isso não acabaria com o problema, mas provavelmente aumentaria o tamanho deles. Quem veio servir-lhes foi Affonso – Sabe essa sua... bem, essa moça, sempre tão intrigante, há quanto tempo mesmo ela trabalha para você?

- Évenice? Já tem um bom tempo! Pobrezinha! Eu a resgatei das ruas ainda bem pequena, seu pai nunca se soube quem era e sua mãe acabou jogada na rua pela família quando engravidou, viveram como podiam por um tempo até que a mãe adoeceu e não pôde mais trabalhar. Perderam o cômodo onde moravam e passaram a viver aqui e acolá. Quando a encontrei, o carro funerário levava o corpo da mãe que falecera durante a madrugada e ela corria aos prantos atrás. Não pude ignorar aquela cena horrível, parei o carro e a trouxe para cá, enterrei sua mãe com dignidade e a matriculei numa boa escola, onde recebeu educação e lições de boas maneiras, além de aprender a falar francês, inglês e, por razões óbvias, o russo.

- Sempre caridosa! – o tom irônico obviamente se referia ao passado quando ela e seu marido ajudavam vampiros e Is a fugirem ou a se esconderem – Por acaso você sabe alguma coisa sobre a “velha raposa” ou sua família? Dizem que o velho está morto, eu particularmente duvido, aliás, só acredito na morte de um deles e sabe por quê? Porque eu mesmo o eliminei, com minhas próprias mãos. Mas você sabe, existem boatos de que o filho, como era mesmo o nome dele? Theodoro? Ouvi rumores de que ele teve um filho, se for isso tudo bem, mas, procuro saber se era mesmo um menino.  A última vez que chegamos perto, estavam embarcando para a Suécia. Não lhe parece coincidência que estivessem vindo justamente para cá?

Amaril estava gelada, mas, manteve suas emoções sob controle a fim de que não as externasse.

- Acho que sim, é bem provável, e caso não fosse uma coincidência, não julga que eu poderia ter algo a ver com isso, julga? Sabe tão bem quanto eu que meus telefones são grampeados, minha caixa de correio é verificada muito antes de mim e eu quase não viajo mais a lugar algum. As pessoas que recebo em minha casa são pessoas da sociedade, bem conhecidas, públicas... Infelizmente, meu caro, dessa vez não pode me ligar a esses fatos. Desde a morte de Francis que não me envolvo mais nesses assuntos.

- Você julga mesmo ser tão bem vigiada assim? – Alexsander não tinha certeza se ela falava a verdade ou se jogava, ela era muito boa nisso – Bem, sinto decepcioná-la, mas, é verdade, você está sob constante e total vigilância, afinal, seu passado a condena, mas, se me permite, seria bom que algo acontecesse. O único motivo de permanecer viva é a esperança que a agência ainda tem de conseguir alguma coisa através de você. – de repente todo o cavalheirismo se evaporara, sua voz era firme e ameaçadora e transmitia um recado claro – A propósito, verificação de rotina nunca é demais, mas, explodimos o barco em que a família do velho viajava, não temos notícia de que alguém tenha escapado o que não significa que dormiremos com os dois olhos fechados!

- Bom, meu caro, também espero conseguir a garantia de viver um pouco mais ficando de boca fechada e mantendo-me longe desses problemas, mas, caso ocorra algo de estranho ou diferente, você será imediatamente avisado, pelos urubus que costumam sobrevoar meu telhado.- Barco, explosão, naufrágio! Amaril não podia acreditar, estava com a neta de Rudolph escondida no subterrâneo de sua casa!

Alexsander riu, apesar de tudo adorava o sarcasmo inerente àquela mulher, certamente a teria cortejado em algum momento no passado. Quando a conheceu, ela tinha quase quarenta anos e era uma mulher linda. Princípios morais como respeito às pessoas casadas nunca foram um impedimento para que ele conquistasse qualquer mulher que viesse a desejar, mas ela escapou-lhe às garras, pois na ocasião estava muito ocupado tentando matar Haig.

Por seu lado, Amaril o obsevava pensando que aos cinqüenta e três anos ainda possuía um charme quase irresistível e um corpo e uma disposição de fazer inveja a muito garoto por aí. Não fosse o fato de estar no auge dos setenta anos, se sentindo muito cansada e, no momento, preocupada demais, além do lado negro que ele escolhera...

“Amaril, Amaril...” pensou ela.

- Ah, sim! Não poderia deixar de avisar que também estamos de olho em sua tutelada, essa garota me parece muito estranha, sabe, tudo que foge ao comum deve ser observado com cuidado! E estarei por perto nos próximos dias, se precisar de alguma coisa... – dizendo isso caminhou em direção à saída e fechou a porta atrás de si.

Amaril estava ilhada em sua própria casa, tinha receio de avisar Pedro, não podia sair com Ana, mas, se estavam de olho da forma como Alexsander dissera, como ele não sabia de sua hóspede? Ou será que sabia? Bom, de qualquer forma, só lhe restava esperar, pensar com muita calma em uma maneira de entrar em contato com Pedro e manter Ana protegida.

- Madame ? – aproximou-se Évenice quando a visita indesejada deixou a casa – Estamos em apuros?

- Minha cara! Vamos à saleta! Traga a garrafa de vodka, esqueça o gelo! Começo a crer que você deve ter muitas coisas a me dizer e, sinceramente, desejo estar bem embriagada quando você terminar, na esperança de acordar amanhã e tudo isso não ter passado de delírio de bêbada.

- E quanto a Ana?

- Deixa-a lá por segurança e talvez não seja a hora de ela ouvir essa conversa!

Sentadas à saleta, Évenice contou como se sentira diferente na noite em que completou vinte e um anos... 


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