Volta ao Mundo Em 80 Dias escrita por Nic


Capítulo 2
Capítulo 2




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A professora de literatura se chamava Marisa. Ela estava arrumando a casa para receber seus convidados. Em volta do sofá colocou puffs espalhados pelo chão. Sua casa era pequena, mas aconchegante. O livro da noite era Volta ao Mundo em 80 dias, ela estava muito empolgada, pois esse era um de seus livros favoritos.

Estava tirando a assadeira de muffins do forno quando a campainha tocou.

                                                                      ***

Após levar seus três livros gigantes para casa, Coraline sentou-se em sua cadeira de balanço para descansar. Como sua mãe tinha um problema de saúde raro, ela mal podia se ausentar que logo sua mãe já arrumava problemas, ela sofria de perda de memória recente, esquecia-se de tudo que acontecia. Coraline pensava no que fazer com sua mãe nesta noite para poder ir ao clube do livro. Foi então que lembrou-se de uma amiga da família, louca, porém poderia cuidar de sua mãe por algumas horas.

Após deixar sua mãe na casa de Dona Hona Mona, coraline foi correndo para a casa da Professora Marisa, ao chegar na porta, ajeitou seu vestido florido, limpou suas sapatilhas e escondeu seu ratinho de estimação por entre seus cabelos, que eram sufucientemente compridos a ponto de servirem de esconderijo, e enfim tocou a campainha.

Ao ver abrir a porta, notou que havia um cheiro delicioso na casa e logo se animou, ela tinha que ser extremamente educada para não passar uma má impressão. “Pelo menos eu li a introdução desse livro, espero não passar vergonha. Será que vão me achar estranha?’’Pensou consigo mesma. Coraline estava ansiosa, nunca havia ido a um clube de leitura e muito menos se relacionado com pessoa alguma. Mas segurou seu nervosismo, grudou um sorriso no rosto e enfim disse:

-Olá!

-Coraline! – Disse a professora entusiasmada – Entre, fique a vontade, acabei de assar muffins. Você foi a primeira a chegar!

- Hmm! Pelo cheiro que estou sentindo, esses muffins devem estar maravilhosos! Sabe, me apressei tanto, achei que estava atrasada. Bem, quantas pessoas vão vir?

-Ah, não muitas. Somos um grupo de três, quatro agora que você está aqui. Sente-se e sirva-se...

A professora foi interrompida pela campainha. Quem tinha chegado era um menino, parecia ter a idade de Coraline, porém se vestia como um adulto. Usava óculos grossos, um chapéu, calças sociais, camisa e paletó. Realmente dava a impressão de ser uma adulto em miniatura – Olá, Leonardo, como está? – Disse a professora com um sorriso.

- Estou muito bem, obrigado. – Ele respondeu enquanto entrava.

- Quero te apresentar Coraline, ela vai fazer parte do nosso grupo.

-Muito prazer em conhece-lo Leonardo. Você me parece familiar, já nos vimos antes? Oh- Disse ela pensando alto- que indelicadeza a minha, não se pergunta uma coisa dessas a alguém que acabamos de conhecer, a não ser que já nos conhecessemos antes, aí não seria indelicadeza se só estou querendo lembrar algo que esqueci, pois então eu...- Parou, percebendo que seu nervosismo a estava fazendo falar demais outra vez - Me desculpe, muito prazer.

Leonardo sorriu, parecia envergonhado. Eles apertaram as mãos e ele se sentou. Mais uma vez a campainha tocou. Marisa abriu a porta com a mesma empolgação de sempre. Dessa vez era um homem que demonstrava já ter uma certa idade. Seus cabelos eram bagunçados e brancos como nuvens, usava óculos na ponta do nariz e era rechonchudo – Eu vejo que você fez seus muffins! – Disse ele, quase como uma criança.

Assim que ele entrou Marisa o apresentou – Arthur, essa é Coraline, nossa nova companheira.

-Olá Sr. Arthur, muito prazer.

Believe, o ratinho de estimação de Coraline, começou a gritar de fome. Coraline percebeu os olhares estranhos olhando para ela e começou a imitar o barulho dizendo que era uma mania fazer esse barulho quando está com fome:

-Vamos comer, então?- Disse desfarçando, mas com as bochechas vermelhas e cheia de vergonha.

-Claro! – Disse Marisa juntando as palmas da mão – Podem começar, Coraline o que você quer beber? O Leo sempre bebe limonada suiça e o Arthur vinho,  dessa vez acho que comprei o vinho certo e eu adoro um bom chocolate quente. O que você vai querer, só não pode escolher o vinho, mas se nenhuma das opções te agradarem posso preparar outra coisa para você.

-Olha, eu amo de paixão suco de maracujá natural, mas se for muito incomodo eu posso beber chocolate quente mesmo.

-Imagina! Em um minuto eu trago o seu suco – Marisa foi para a cozinha deixando o grupo.

Um silêncio pairou no ar por alguns segundos que pareceram horas, mas Arthur logo se ocupou de iniciar uma conversa – Então mocinha, de onde você conhece a Marisa?

- Ah, ela é uma professora da minha escola. Encontramo-nos na biblioteca e ela me convidou para o clube. E você?

- Pois veja que coincidência, eu fui professor da Marisa. Então o que achou do livro?

Ao ouvir a pergunta de Arthur, o coração de Coraline acelerou.

‘‘Será que vão me achar boba de vir para um clube de leitura sem ler o livro que vai ser comentado?’’

- Ah, sabe de uma coisa engraçada?- Perguntou com um pouco de medo – É que não deu tempo de ler o livro. Marisa me convidou hoje mesmo para vir, e a única coisa que eu sei é a sinopse, pois eu não queria vir sem saber absolutamente nada do livro que iriam comentar.

Enquanto eles conversavam Leonardo acompanhava a conversa com os olhos. Arthur sorriu gentilmente – É uma pena, não conheço ninguém que não queira viver dentro desse livro. Se você quiser eu te empresto o meu...

Neste momento Marisa voltou com uma bandeja e as bebidas de cada um. Ela colocou a bandeja na mesa de centro e se sentou – Então, vamos começar.

- Eu estava justamente falando para nossa nova amiga que não existe ninguém que não gostaria de viver dentro deste livro.

- Ah! Isso é verdade! Aliás, eu acho que o Sr. Fogg se parece muito com o Leonardo - Leonardo sorriu timidamente e ela continuou – Eu tive uma ideia, eu sei que a Coraline não teve tempo de ler o livro e se nós três fizéssemos uma pequena encenação do livro, vai ser divertido.

- Eu aprovo essa ideia.

Leonardo engoliu seco. Mas Marisa o acalmou – Você é perfeito para o papel!

Os três se colocaram em pé e logo já estavam fazendo imitações dos personagens, tinham que parar toda hora para relembrar os fatos na ordem certa, mas mesmo assim eles riam e se divertiam principalmente Arthur e Marisa, Leonardo também estava gostando, embora fosse muito tímido para rir alto como os outros dois. Até que em um momento, Marisa disse – Precisamos de alguém para interpretar Aoda, venha Coraline. Não se preocupe tudo o que você deve fazer é fingir que está para ser queimada pelos índios e depois nós vamos te salvar e você vai se apaixonar pelo Sr. Fogg, que é o Leonardo.

- Ah, sabe eu acho que... Não sei... – Coraline olhou para Leonardo, procurando saber se aceitava ou não encenar. Estava vermelha e não sabia o que dizer. Então, num surto de desespero disse com a voz finíssima e dando um pouco de risada:

-Ah, claro! Acho que vou adorar...

A encenação durou por uma hora, Leonardo guiava Coraline todo o tempo, visto que o seu personagem ficava quase sempre ao lado de Aoda. Quando estavam chegando ao final, Marisa interrompeu – Vamos parar por aqui, não quero estragar o final para Coraline, caso ela leia o livro um dia.

Eles voltaram a se sentar e todos beberam suas respectivas bebidas, o “teatro” acabou sendo cansativo. Em meio a uma bocada e outra, Arthur falou para Coraline – Você deve estar achando que esse é um grupo de leitura um tanto maluco, não?

Ela olhou para Arthur, depois para Leonardo e depois para Marisa. Após alguns segundos caiu na gargalhada:

– Acho sim, mas, com certeza, é o mais legal que existe.

Todos riram, inclusive Leonardo, enquanto comiam continuaram a conversar sobre o livro e como seria fantástico se eles pudessem viajar  da maneira como o protagonista do livro viajou – Hoje em dia é mais fácil viajar, não seria uma aventura. – Disse Leonardo.

- Nesse caso, nós poderíamos esquecer os meios modernos e nos comprometer a usar apenas os meios de transporte que ele usou – Disse Arthur.

- Você está falando sério? – Perguntou Marisa.

- Claro que eu estou! Sempre quis fazer isso, mas nunca tive ninguém que quisesse ir comigo. O que vocês acham?

Eles se entreolharam por um momento até que Marisa falou – Mas eles são crianças, não podem viajar assim... E pode ser perigoso... E eu tenho meu trabalho.

- Ora, que bobagem. Podemos pedir permissão para os pais deles e quanto ao seu trabalho, tire férias!

Marisa não sabia o que responder, tinha vontade de dizer “sim” e sair correndo fazer as malas, mas por outro lado tinha responsabilidades.

- Eu quero ir! – Disse Leonardo. – Posso pedir para os meus pais... Talvez fosse melhor que vocês fossem à minha casa...

- Esse é o espírito meu garoto! E quanto a você, mocinha?

-Ah! Eu adoraria muito mes... – Parou, pensando em sua mãe. - hum, creio que há apenas um problema... Minha mãe não é bem uma pessoa muito normal, ela tem um problema muito sério de cabeça, não posso deixá-la sozinha.

Após alguns segundos de silêncio Coraline deixou escapar algumas lágrimas tímidas e silenciosas. ‘‘ Por que nunca posso fazer o que quero? Por que vivo sempre tão presa?’’

- Eu sinto muito gente, não tenho certeza se poderei ir. Eu sinto muito.

Ninguém soube o que dizer por um tempo, mas então Arthur, fingindo não ter escutado nada demais, continuou falando – Vamos fazer o seguinte. Marisa vai ver quando ela pode tirar férias na escola, eu vou falar com os pais do Leo e...depois vou conhecer a sua mãe e veremos o que podemos fazer.

- Quando ele coloca uma coisa na cabeça é muito improvável que ele esqueça. – Disse Marisa para Coraline.

Alguns minutos depois a campainha tocou e Leonardo se levantou imediatamente – É o motorista, tenho que ir, nos falamos depois.- Ele se despediu de todos e foi embora.

Arthur aproveitou que já estava em pé e também se foi – Não pensem que isso fica por aqui, eu estou falando sério Marisa, se você não olhar quando pode tirar férias, eu mesmo vou lá na escola.

- Eu tenho certeza disso. – Disse ela sorrindo.

Então as duas ficaram sozinhas  e sem dizer nada por um tempo – Eu não sabia da sua mãe... Como você vai embora? Quer que eu te leve?

- Tudo bem, não precisa. Sou acostumada a cuidar de mim e da minha mãe sozinha desde os seis anos de idade. Hoje eu deixei ela na casa de uma amiga da família. Aliás, está ficando tarde. Muito obrigada de coração por esta noite, não vejo a hora de nos encontrarmos de novo.

Marisa ficou de boca aberta por um tempo sem saber exatamente o que dizer, a menina parecia bem confiante, quase como um adulto, mas ela não podia deixar uma criança voltar para casa assim – Vamos  fazer assim, eu vou colocar os pratos sujos na pia e te dou uma carona. Não me custa nada. Vamos buscar sua mãe na casa da sua amiga e depois deixo vocês duas na sua casa. Assim vou ficar mais tranquila.

- Tudo bem então. – Disse  Coraline olhando para Marisa e sorrindo. Believe apareceu no seu ombro e olhou para ela. – Ótima noite, não é mesmo Believe? Vamos para casa.


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